A. Vieira da Silva
(7.° ano)
NÃO. Ele não podia matar. Não lera no Evangelho
a frase de Cristo «Não matarás»? Não fora ainda nessa Sagrada Escritura que aprendera a
perdoar e mesmo até a orar pelos seus inimigos?
Sim. Tudo isso lera e aprendera. E eram agora os próprios
chefes (os que se diziam católicos) que o encorajavam a
matar os inimigos. Era verdade que a sua Pátria estava em
perigo, mas também era verdade que só a Deus competia
pôr termo à vida humana.
Não. Ele jamais mataria.
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Caminhava agora ao lado de seus companheiros,
espingarda na mão. Castelos de nuvens negras toldavam o céu.
Estava iminente uma tempestade. Mas algo mais estava iminente: o combate. E ele deu-se por fim.
Todos lutavam. Só ele
fingia...
Ao ver, porém, um seu amigo tombando para sempre,
uma profunda ruga vinca-se-lhe na face. Olha o céu enevoado. Pela primeira vez o ódio se lhe entranhara no coração. E
então luta como os outros. Mata. Ele que jurara não matar,
fá-lo agora saciando a sede de vingança.
Após breves momentos, porém, sente uma dor aguda no
peito. As mãos deixam cair a espingarda e apertam desesperadamente a ferida. Dobra-se sobre si mesmo. Cambaleia.
Tomba por fim sem forças. Exala o último suspiro.
O sangue corre agora lentamente, regando o solo. Um
clarão rasga o céu. Ouve-se o ribombar dum trovão. Desaba
enfim a tempestade. |