Maria Emília de A.
Santos
(5.º ano)
O
monstro de ferro acaba de partir. É mais uma viagem
que começa. Como eu me sinto bem refrescada pelo vento frio que
entra pela janela! Com o olhar distante vejo desfilar, embevecida,
os campos verdejantes, as casitas brancas, o céu de Outono que o
Sol, já no
ocaso, tinge de tons suaves, rosa-pálido e cor-de-pérola. Tudo me
parece um imenso tapete tecido pela mão da Natureza!...
Uma luz branda afaga docemente as copas das árvores e as flores
principiam a fechar cautelosamente as corolas. Tudo respira paz e
recolhimento, uma paz que me envolve e me faz cerrar os olhos,
agradecida...
Mas o comboio, indiferente e trepidante, continua a correr, continua
a correr, na ânsia de devorar o caminho para atingir o fim da
viagem, que, daí a horas, recomeçará em sentido contrário. A vida
deste «cavalheiro» faz-me meditar. Não nos parecemos todos nós com
os comboios, lançando-nos pelos caminhos, correndo de uma estação
para outra, sempre para a frente?
Dum lado e de outro,
espraia-se o rio, no meio do qual ondulam os canaviais ao sabor de
uma aragem quente. Serenos e curiosos, os meus olhos colhem
recordações...
Por toda a parte, as figuras altas e esguias dos pinheiros assinalam
a sua presença, acompanhando monotonamente o caminho. Nos seus
troncos, não há já o calor vibrante das horas de
calor, mas apenas pálidos clarões dum sol prestes a desaparecer no
horizonte.
E o comboio continua a tragar quilómetros e quilómetros, na
sua marcha inflexível.
A minha viagem está quase
a terminar e a noite serena e majestosa
prepara-se para tudo envolver no seu manto negro e sombrio, enquanto
o Sol se retira lentamente, triste e desolado. Que me importa? Sim,
que me importo que a viagem termine, a noite venha e o Sol se vá?...
Amanhã à mesma hora não tornarei
a abandonar-me à embaladora
serenidade do entardecer e a embriagar-me com o perfume suave de
mais outra adorável tarde de Outono?... |