Carolina Rodrigues
(6.º Ano)
O
dia amanheceu radioso e feliz e os primeiros raios de sol
espreitaram, de mansinho, pela janela do quarto.
Acordei.
Pela janela, os meus olhos deslizam através desta
bela paisagem serrana, até se perderem nos cumes dos montes
longínquos, inteiramente banhados pelo Sol nascente.
Era este o dia escolhido para o almejado passeio à quinta, há tanto
tempo planeado. Pouco depois, o rancho começa a juntar-se: eu e meu
irmão, duas primas, três primos. E eis que um bando de jovens
alegres se põe em marcha, à procura de um divertimento que quebre a
monotonia deste plácido viver de aldeia. E que melhor divertimento
do que um belo passeio pele manhã, através destes caminhos agrestes
da Beira? Cantamos e rimos,
despreocupados e, em fila indiana, vamos deixando para trás as
últimas casas do povoado. Fica perto do caminho uma vinha do avô; e
o alegre bando invade a propriedade, iniciando a sua obra de
devastação.
O caminho torna-se um pouco mais difícil à medida que avançamos por
carreiros pedregosos, mas a alegria da jornada não me faz pensar em
tal. Acho divertido que se saltem muros e se atravessem pinhais para encurtar o caminho. Pesados blocos graníticos vão-nos acompanhando
através do percurso. Levanto uma pedra, logo se vêem perigosos
animais. Passa um lavrador para a faina, à frente dos bois; saúda o
grupo. E, por montes cobertos de giestas, descendo encostas pelo caminho tortuoso que vai ter ao vale, divisamos, lá ao longe, a
quinta do tio. As paredes alvejam no fundo verde-negro da paisagem.
Já se ouvem os latidos
/ 16 / do Mondego, majestoso cão de gado. Recebem-nos com efusão, e o
almoço, que nos retempera as forças dispendidas durante o percurso,
compõe-se de leite, queijo de cabra e pão de centeio.
Como é belo este simples viver da aldeia, entre paisagens de sonho!
A quietude do ambiente, somente interrompida pelo ruído de uma
pequena cascata ou pelo cantar de um grilo, convida ao repouso e à
meditação.
Gosto de passar um dia assim, mas acabo por me aborrecer. Necessito
de mais vida, mais bulício. Largo o livro que lia debaixo de uma
árvore. Olho em volta. O resto do grupo está além em
cima, no Carrascal. Encarrapito-me, monte acima. Ao longe, densas
colunas de fumo erguem-se no ar. Estão a queimar árvores para fazer
carvão.
O Sol começa a baixar, tingindo de púrpura os cumes dos montes.
Lentamente, vai desaparecendo no Ocaso. Em correria pelo perigoso
declive da encosta, chegamos a casa. Espera-nos a ceia: caldo verde
e carne da salgadeira que, com a fome que tenho, me sabe como o
melhor dos manjares. Todos estamos cansados. De caneta na mão, quase
adormeço em cima da mesa. O dia foi extenuante. E adormeço... |