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farol n.º 4 - mil novecentos e cinquenta e nove ♦ sessenta, págs. 21 a 23

Sobre a constituição da matéria

J. R. (3.º ciclo)

O problema da natureza da matéria sempre preocupou o homem. Já os gregos o debatiam. Seria a matéria divisível? Seria indivisível? As opiniões dividem-se. Por um lado para Aristóteles e os seus discípulos: a matéria é sempre divisível. Por outro lado, para Leucipo e Demócrito: a matéria é formada por partículas indivisíveis – os átomos.

Durante a Idade Média, o prestígio de Aristóteles levou ao abandono das teorias de Demócrito. Passaram-se séculos e Dalton, baseando-se na lei de Proust e na lei das proporções, definida por ele próprio e enunciada, volta a afirmar: a matéria é composta por átomos. Depois, com Avogadro – «E os átomos juntam-se e formam moléculas.» – surge a noção de molécula tanto para as substâncias simples, como para os compostos. Teremos então de distinguir entre átomo e molécula.

Mas a descoberta de novos fenómenos vem revolucionar mais uma vez o conceito do átomo. O átomo agora é divisível.

Elementos (substâncias constituídas só por uma espécie de átomos) dão outros elementos espontaneamente: O urânio por exemplo liberta partículas (que por sua vez se transformam em hélio – outro elemento) e energia.

Saem dele sempre radiações. Ora viu-se que havia 3 espécies de radiações. Duas das espécies eram partículas desviadas por um campo magnético como eléctricas (fig. 1).

O outro tipo de radiação era de natureza ondulatória como a luz. Das primeiras radiações, tinham cinzas, cargas eléctricas negativas (desviavam-se bastante) e umas cargas eléctricas positivas (que se desviavam menos). Assim como numa bala se pode medir a sua massa pelo encurvamento da trajectória (se for mais pesada / 22 / encurva mais a trajectória) semelhantemente se pode determinar a massa das partículas. As partículas de carga negativa Beta, que se chamam electrões têm uma massa pequeníssima (1/1850 da massa do átomo de hidrogénio). As partículas altas (de carga positiva) são 4 vezes mais pesadas que um átomo de hidrogénio.

Mas se o átomo é divisível de que é formado? Fazendo incidir sobre uma folha de alumínio muito fina, partículas α, viu-se que passavam algumas mudando de direcção, outras, continuavam na mesma direcção.

Pelo estudo dessas trajectórias concebeu-se um modelo de átomo: O átomo é essencialmente espaço vazio. No centro dispõem-se as cargas eléctricas positivas (protões). A circular em volta cargas eléctricas negativas (os electrões). Actualmente concebe-se a parte central (núcleo) muito pesada formada por duas espécies de partículas: neutrões e protões. Os neutrões são electricamente neutros (sem carga eléctrica). A carga dos protões é +1. A carga dos electrões é -1. Portanto para o átomo ser electricamente neutro, tem de haver tantos protões como electrões.

O átomo aparece assim (fig. 2) como um sistema solar em miniatura. O sol, o núcleo. Os planetas, os electrões. Mas as «revoluções» ainda não acabaram nem acabarão. O modelo de átomo tão engraçado com os protões ao centro e os electrões a dançarem à volta é muito simplificado e não permite explicar muitos fenómenos conhecidos. Teoricamente chegou-se à conclusão que o electrão na sua viagem, à volta do núcleo devia emitir uma radiação (luz, por exemplo) e à medida que a emitia devia perder energia e velocidade e por fim vinha a cair sobre o núcleo. Bohr, grande cientista e ao mesmo tempo bom desportista (jogador de futebol e esquiador) emitiu as seguintes hipóteses:

1.° Num átomo, em equilíbrio os electrões não emitem radiações e as suas órbitas são estáveis (como se verifica experimentalmente).

2.° Nem todas as órbitas calculadas pela mecânica clássica são possíveis. A maior parte delas são interditas. Por exemplo no átomo de hidrogénio (núcleo formado por um protão e à volta a girar um electrão), o electrão só pode estar numa série descontínua de órbitas (as não interditas). Só emite radiações (luz por exemplo) quando salta duma órbita para outra interior. Absorve radiações quando salta para uma exterior. Portanto sabendo que as radiações correspondentes às diversas cores têm diferentes comprimentos de onda e que também o átomo só emite ou absorve radiações quando o electrão «salta» duma órbita para outra. Então cada átomo (como o seu electrão só pode dar certos saltos) só pode emitir ou absorver luz de determinados comprimentos de onda (cores). A teoria de Bohr não ajudou a ciência a sair / 23 / da posição insustentável em que estava. Da mecânica clássica deduzia-se que os átomos eram instáveis. Mas, na realidade eles eram estáveis e as hipóteses de Bohr depois de bem desenvolvidas deram um resultado maravilhoso. Descobrem-se então novos fenómenos que levam à criação de uma nova teoria: a mecânica ondulatória. O resultado mais importante a que ela chegou foi que qualquer corpúsculo em movimento está associado a uma onda. Portanto os electrões também; e assim deixa-se de se poder dizer duma maneira absoluta:

Um electrão está em determinado instante em determinado ponto do espaço. Só se pode dizer que ele tem uma certa probabilidade de aí estar.

Entretanto foram aparecendo novas partículas. As mais importantes são:

Positrão – partículas com as mesmas propriedades que o electrão mas de carga positiva (encontrou-se nos raios cósmicos).

Antiprotão – partícula com a mesma massa de que o neutrão e o protão, carregada negativamente. Será com o positrão o componente de uma matéria nova negativa.

Mesão – grânulos de energia de coesão internuclear.

Neutrino – sem carga eléctrica, muito pouca massa, grande energia e grande poder de penetração.

 

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05-06-2018