Acesso à hierarquia superior.

farol n.º 4 - mil novecentos e cinquenta e nove ♦ sessenta, págs. 17 e 18.

Teatro

Domingos Manuel Tavares
7.º ano (3.º ciclo)


, pelo menos hoje e entre nós, o hábito comum de julgar todas as artes por dois processos diferentes de concepção: o clássico e o moderno. Clássico, tudo o que é claro e apreendido ao primeiro golpe de vista, o que é estruturado dentro de regras que têm sido postulados em todas as gerações; o que é confuso, diferente, emaranhado, mostrando pouco, é moderno.

O teatro não foge à regra: uma peça montada com cenários piramidais (em forma de pirâmide), jogo mímico diferente, iluminações em tons dilacerantes e efeitos de todas as cores, estupendo, fantástico, arrebatador, é essa tal maluqueira dos meninos das cidades onde, porventura, ainda há companhias dramáticas. Do outro lado as peçazinhas muito bem ditas e escritas com intuição, dos que se aferram numa pertinaz relutância pelo inovador, discordando dos artifícios e métodos das correntes actuais.

Se, até certo ponto, é possível não atropelar esta diferenciação para não ferir gostos, não o é quando se a toma como base de um processo crítico de qualquer arte.

Houve sempre diferentes correntes teatrais e em todas houve bons e maus valores, tal como o teatro de agora pode ser bom ou mau (e é erro fazer-se juízo por um exemplo).

Claro que como espectáculo será o moderno, o único aceitável, porque, utilizando a experiência de todas as correntes passadas, atinge novos meios de expressão ou técnica, tornando-se mais completo, sendo, além disso, mais de acordo com a sensibilidade com um dos nossos dias.

É por isso que mesmo uma obra de Sófocles ou de Shakespeare, para falar de dois génios de uma expressão humana que ultrapassam o tempo, pode ser representada dentro das novas correntes estéticas com o maior êxito.

O que é diferente no teatro de hoje é a maneira como / 18 / são utilizados e conduzidos os diferentes elementos cénicos. O encenador que respeita o espírito do texto, para ser conforme com a criação artística do autor é, depois disso, um novo artista criador, que utiliza a forma, o movimento, a luz, o som, a cor, para dar vida a uma obra literária e a uma ideia. Secundado pelo actor, que dentro da sua criação de espectáculo dá-lhe a personagem que lhe é inerente, chega ao chamado Teatro Moderno.

Temos pois que o bom Teatro para a nossa sociedade não é mais do que representar um texto de qualquer idade de uma problemática actual para ser compreendido e sentido pelo público a que se destina, utilizando processos para tornar mais completa e perfeita a representação, provocando uma reacção emocional no público que o leve a pensar em si mesmo.

 

página anterior início página seguinte

05-06-2018