António Vieira da Cruz
(7.º ano)
COMO é belo na vida ter um dia
Quando formos já velhinhos, saudade!
E, trôpegos, olhando a Mocidade,
Recordarmos doutrora a fantasia.
Que importa as privações então passadas
E as lágrimas rebeldes vertidas?
Que importa essas desilusões sofridas
No meio de lutas desesperadas?
Que importa o mal, sim, que importa afinal
Se só serve p'ra avivar a doçura
Que a Mocidade tão bendita e pura
Possui num eterno e santo ideal?
Que importa o sofrimento recordar
Se tudo foram mágoas já vividas?
Que importa serem mesmo só feridas?
Importa somente o relembrar.
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Doce relembrar, doce refulgir,
No meio dos espinhos há as rosas
E as mágoas infantis espinhosas
Serão depois motivo p'ra sorrir.
Oh! Como os velhinhos serão felizes
Somente por lembrar a tenra
idade
Cheia de ilusão e felicidade,
De sonhos de harmoniosos matizes!
Eu mesmo sinto já certa saudade
Por ter um dia de dizer Adeus
E desprender-me destes belos Céus
Onde voamos sobre a felicidade.
Ah! mas não, nunca direi adeus vão
A esta sagrada idade inocente,
Nunca, pois viverei eternamente
Da sua tão grata recordação. |