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                        COMISSÃO DE HONRA 
                        
                        Doutor 
                        António Luís Gomes 
                        Escritor Ferreira de Castro 
                        Prof. Dr. Rodrigues Lapa 
                        Prof. Dr. Barbosa de Magalhães 
                        Coronel Cunha e Costa 
                        Dr. Ângelo Miranda 
                        Dr. José Lopes de Oliveira  
                        Dr. Eugénio Ribeiro 
                        Dr. Elísio Sucena 
                        Dr. João Salema  
                        Armando Castela 
                        Dr. Manuel Rodrigues da Cruz  
                        Dr. Manuel das Neves 
                        Dr. Vergílio Pereira da Silva 
                        Capitão Joaquim José de Santana  
                        Dr. Ferreira da Costa 
                        Manuel Lavrador 
                        Tiago Ribeiro.  | 
                        
                         
                        
                        COMISSÃO PROMOTORA 
                        
                        Dr. Arala 
                        Chaves 
                        Dr. José Rodrigues 
                        Dr. Oliveira e Silva 
                        Dr. Dionísio Vidal 
                        Eng. João Seiça Neves 
                        Dr.ª Eduarda Senos 
                        Arq. Aristeu Gonçalves 
                        Dr. Alcides Strecht Monteiro 
                        Dr. Joaquim Pinheiro de Morais 
                        Dr. Francisco Rendeiro 
                        Dr. Mário Duque 
                        Firmino Brito da Costa 
                        António Osório 
                        Joaquim Dias Baptista 
                        Diamantino Pereira da Cruz 
                        Manuel Reis Pedreiras 
                        Sérgio Pinheiro de Aguiar 
                        Manuel de Pinho e Melo 
                        Dr. Manuel Pato  | 
                        
                         
                        
                        COMISSÃO EXECUTIVA 
                        
                        Dr. 
                        Álvaro de Seiça Neves 
                        João Sarabando  
                        Dr. Júlio Calisto 
                        Dr. Manuel da Costa e Melo  
                        Dr. Mário Sacramento 
                           | 
                       
                     
                     
                    
                    
                    O 31 de Janeiro 
                    
                    Com o Ultimatum que a 
                    Inglaterra dirigiu a Portugal, todos os sinceros patriotas 
                    vibraram, com alma confrangida, em protesto contra esse 
                    inesperado gesto, e em revolta contra a inércia do governo 
                    que então presidia aos destinos da Nação. E deste vibrar 
                    convulsivo adveio a revolução de 31 de Janeiro de 1891, essa 
                    prometedora alvorada que os portugueses acolheram com 
                    estridentes vivas e calorosos aplausos quando as tropas 
                    revolucionárias desciam a rua do Amada em direcção à Praça 
                    Nova, hoje Praça da Liberdade. A revolta, porém, baqueou 
                    pela excessiva confiança que o chefe militar depositou no 
                    comandante de Infantaria 18, que atraiçoou o seu juramento 
                    de fidelidade ao movimento; pelo facto de os revolucionários 
                    não terem providenciado no sentido de que da Serra do Pilar 
                    saísse, como estava combinado, o regimento de artilharia; e, 
                    sobretudo, pelas divergências existentes entre os 
                    republicanos. Foi esta última causa o factor dominante da 
                    derrota, o qual converteu as esperançosas alegrias do 
                    alvorecer em lágrimas e sangue. 
                    
                    Se existisse, de facto, a 
                    Unidade Republicana, a revolução do 31 de Janeiro teria sido 
                    vitoriosa, a República teria sido proclamada e a Pátria 
                    seria libertada da exploração, da opressão e do vexame com 
                    que a monarquia a vinha supliciando e continuou a supliciar. 
                    
                    Que foi a inexistência da 
                    Unidade Republicana que mais contribuiu para a derrota, 
                    confirmam-no os seguintes factos históricos: a revolução de 
                    5 de Outubro de 1910, as incursões monárquicas na fronteira 
                    norte do País, a escalada do Monsanto e a Traulitânia. 
                    
                    Todas essas vitórias se 
                    devem à Unidade Republicana. É pois impreterível necessidade 
                    a sólida existência desta Unidade, para que a República 
                    Portuguesa seja uma palpável realidade e desempenhe 
                    cabalmente a sua alta missão patriótica, sempre exposta na 
                    propaganda republicana por homens cujo aprumo, dignidade, 
                    valor e competência eram e são incontestáveis. 
                    
                    Infelizmente, há 
                    republicanos que contrariam a Unidade Republicana (embora 
                    conheçam perfeitamente a verdade dos factos aqui apontados), 
                    quando, à face do imperativo dever, todos os republicanos 
                    devem congraçar os seus esforços na defesa dos princípios 
                    fundamentais da República e da Democracia, princípios 
                    sintetizados na trilogia Liberdade, Igualdade e 
                    Fraternidade. Se desta trilogia for Amputada a Fraternidade, 
                    isso equivale à sua completa destruição, visto que uma 
                    família não pode viver em paz e activra o seu progresso, 
                    material e social, se os seus componentes não conjugarem, 
                    com igualdade de sacrifícios, os seus esforços a bem do lar. 
                    
                    É erro gravíssimo e 
                    imperdoável o procedimento de tais republicanos, pois 
                    transformam-se em auxiliares dos inimigos da República e da 
                    Democracia. 
                    
                    Os republicanos que não 
                    cooperam na Unidade Republicana ou a contrariam, com nitidez 
                    revelam que a sua alma não sente o acrisolado amor à 
                    República e à Democracia e provam sem dúvida que são 
                    injustos e cruéis com o Directório do velho Partido 
                    Republicano Português, o qual, solidificando a Unidade 
                    Republicana, organizou a revolução do 5 de Outubro e, como 
                    lógica consequência, combatem as conquistas do 5 de Outubro 
                    e do 31 de Janeiro, factos heróicos que entatecem [sic] a 
                    beleza da alma lusa. 
                    
                    Os heróis e mártires destas 
                    duas revoluções merecem a todos os republicanos a maior 
                    veneração, e não o seu repúdio. 
                    
                    Comemorar, UNIDOS, a 
                    gloriosa data de 31 de Janeiro de 1891, é portanto um 
                    sacrossanto dever de todos os indefectíveis republicanos e 
                    de todos os verdadeiros patriotas. 
                    
                    Janeiro de 1956 
                    Dr. José Lopes de Oliveira 
                     
                    
                    
                    A 
                    minha homenagem aos Combatentes de 31 de Janeiro de 1891 
                    
                    O único título com que posso 
                    condecorar-me é o de ter sido sempre fiel à causa da 
                    República, não havendo concorrido até aqui para perturbar a 
                    sua marcha pela influência de qualquer ambição pessoal. 
                    
                    Tenho tido tremendas 
                    desilusões com os homens, mas nunca descri dos princípios 
                    republicanos, à roda dos quais constitui a minha formação 
                    moral e jurídica, e sinto que nada há mais belo no mundo que 
                    a verdadeira democracia. O que é difícil é servi-Ia com 
                    desassombro e desinteresse, lutando sempre para defender os 
                    fracos e oprimidos pelos grandes da terra, que com as suas 
                    torpezas e violências são os maiores culpados dos 
                    infortúnios e desgraças dos povos que suportam o peso das 
                    suas tiranias! 
                    
                    Esta comemoração de 31 de 
                    Janeiro deve servir para despertar na consciência dos 
                    verdadeiros democratas portugueses a obrigação de 
                    trabalharem denodadamente para não deixar perder as 
                    liberdades fundamentais que uma vez perdidas muito custa a 
                    reconquistar aos inimigos da liberdade e da justiça. 
                    
                    Os povos que deixam 
                    escravizar o seu pensamento desonram-se por si e quase 
                    sempre recebem o castigo da sua servidão política. É por aí 
                    que começa a decadência das nações! 
                    
                    Doutor 
                    António Luís Gomes 
                     
                    
                    
                    Para o 31 de 
                    Janeiro 
                    
                    Aviso a todos os tiranos, 
                    que supõem jugular com o uso da força bruta os grandes 
                    movimentos libertadores. Só aparentemente se domina uma 
                    revolução que tem as suas raízes nos profundos anseios da 
                    alma popular. A Monarquia em 1891 atraiçoara o País e tinha 
                    os seus dias contados. Parasita da Nação, arrastou durante 
                    20 anos uma vida miserável, até que sucumbiu em 1910. O 
                    sangue dos mártires do 31 de Janeiro de 1891 tinha feito 
                    reflorir a terra generosa. Era a vitória dos vencidos. 
                    Valera a pena lutar, valera a pena morrer. 
                    
                    
                    Prof. Dr. Manuel Rodrigues Lapa 
                     
                    
                    
                    Actualidade do 31 de 
                    Janeiro 
                    
                    Os homens do movimento do 
                    Porto queriam salvar o País da derrocada; lutar contra um 
                    regime corrompido e incapaz; protestar, patrioticamente, 
                    contra a submissão ao imperialismo estrangeiro; fundar novas 
                    instituições políticas de raiz popular; impulsionar 
                    audaciosamente o País no caminho do Progresso, da Paz, da 
                    Cultura e da Independência Nacional. 
                    
                    O seu gesto e a sua luta não 
                    podiam ser mais actuais e os democratas modernos, ao 
                    comemorá-los, pagam apenas, e em pequena parte, aos 
                    antepassados, um alto exemplo e uma nobre lição de 
                    verdadeiro amor da Pátria. 
                    
                    Dr. 
                    Humberto Lopes 
                     
                    
                    
                    Relembrando... 
                    
                    O 31 de Janeiro não foi uma 
                    simples revolta militar, com o intuito de apoiar uma 
                    reivindicação política. Foi, sim, um consciente e abnegado 
                    sacrifício por uma ideia, revelador da profundidade que 
                    tinha atingido o movimento de emancipação cívica iniciado 
                    uns vinte anos atrás, o qual já ultrapassava as aspirações 
                    expressas no programa do Partido Republicano, de 1876, que 
                    se limitavam «ao desenvolvimento gradual e benéfico das 
                    ideias democráticas nas instituições do País», mercê duma 
                    doutrinação elevada e generosa. 
                    
                    Acontecimentos políticos 
                    vários tinham criado, em 91, um estado de espírito público 
                    que forçava aquele movimento a passar, bruscamente, da fase 
                    de evolução lenta para outra de acção imediata, 
                    revolucionária. O forte choque emotivo do ultimatum inglês 
                    de 1890, que a todos os portugueses unira na ânsia de 
                    rasgarem novos horizontes à vida da Nação, só não fora 
                    sentido pelos governantes. 
                    
                    A separação entre o País e a 
                    Realeza — único sustentáculo dos governos — era total e 
                    irremediável. 
                    
                    A Monarquia constituía o 
                    estorvo fundamental a remover, para se poder conseguir o 
                    ressurgimento nacional. 
                    
                    Os homens de 31 de Janeiro 
                    tiveram a coragem de pôr este grave problema ao País, em 
                    toda a sua rude nudez. 
                    
                    A República recebeu em 31 de 
                    Janeiro o seu baptismo de fogo: por ela portugueses morreram 
                    ou sofreram prisões, o degredo, o exílio. 
                    
                    Vinte anos depois — em 1910 
                    — a República irrompeu, pura, fulgurante! 
                    
                    Os precursores da República 
                    bateram-se com galhardia, e souberam ser vencidos com 
                    dignidade e altivez. 
                    
                    Não os esqueceu nunca a alma 
                    popular e, de geração a geração, se vai transmitindo o 
                    respeito com que é consagrada a sua memória. 
                    
                    Em 1902, a geração académica 
                    a que pertenceu o insigne e malogrado escritor Manuel 
                    Laranjeira comemorou a data de 31 de Janeiro, gravando, em 
                    placa de bronze, maravilhosas e proféticas palavras, que 
                    aquele brilhante espírito ditou, e que neste momento não 
                    quero deixar de relembrar, por elas, na sua transcendência, 
                    serem de firme esperança em novos e melhores dias: 
                    
                    «SANGUE DE VENCIDOS, 
                    
                                SEMENTE DE LUZ! 
                    
                                      
                    — GERMINA!» 
                    
                    Janeiro de 1956 
                    Dr. Eduardo F. dos Santos Silva 
                     
                    
                    
                    Uma ideia-força 
                    
                    O «31 de Janeiro» é um 
                    exemplo de coragem e devoção cívica. Como tal, um incentivo 
                    para os vindouros, uma ideia-força. 
                    
                    Foi mais do que um grito de 
                    revolta abafado pela força; foi antes uma sementeira de 
                    ideias que germinaram e frutificaram. Custou lágrimas, 
                    sacrifícios e sangue. Todas as ideias salvadoras partem do 
                    sofrimento e de uma crise. 
                    
                    Mas uma das virtudes daquela 
                    Revolução foi ter despertado, pelo sobressalto que provocou, 
                    o espírito de Liberdade na vida nacional, permitindo-lhe 
                    tomar consciência da sua própria consciência, do seu 
                    verdadeiro destino e das suas possibilidades. 
                    
                    Os heróis do «31 de Janeiro» 
                    demonstraram assim, pelo seu exemplo, que não há impossíveis 
                    na vida dos povos, nem dificuldades insuperáveis e que a 
                    resignação a uma vida de mediocridade, sem horizontes e sem 
                    esperanças, é a mais desoladora atitude que o homem pode 
                    tomar. 
                    
                    Após a crise que o medo 
                    origina, vem sempre a hora da compreensão em que o homem 
                    sente a sua dignidade abastardada e recupera a consciência 
                    dos seus direitos e dos seus deveres. 
                    
                    A libertação é o fruto desse 
                    despertar de consciências. 
                    
                    
                    Dr. José Domingues dos Santos 
                     
                    
                    
                    A Revolução de 31 de 
                    Janeiro 
                    
                    Para compreender o 31 de 
                    Janeiro e todo o valor de libertação que esse movimento 
                    popular ainda hoje encerra, basta ter presente que a luta 
                    pela independência nacional se desenvolve actualmente, na 
                    Europa, na Ásia, na África e na América, a partir de 
                    princípios idênticos aos de 1891. 
                    
                    Agora como então a bandeira 
                    da independência nacional contra o imperialismo é a nossa 
                    bandeira, a bandeira da República! 
                    
                    E se a Revolução de 31 de 
                    Janeiro não triunfou, a explicação deve procurar-se nas 
                    razões circunstanciais que impediram se fizesse a unidade 
                    das forças liberais com a classe operária. 
                    
                    Por isso, ao recordar o 31 
                    de Janeiro de 1891, a nossa palavra de ordem, nas actuais 
                    condições históricas, não pode ser senão a do Directório do 
                    Partido Republicano no célebre manifesto de 11 de Janeiro 
                    daquele ano: 
                    
                    «Uma só vontade nos una...» 
                    
                    Porto, 21 de Janeiro de 1956 
                    Prof. Dr. Ruy Luís Gomes 
                     
                    
                      
                        | 
                         
                          
                    LUÍS SOARES  | 
                        
                     
                    Operário-serralheiro, nasceu 
                    a 29 de Março de 1858 em Rogo, Vale de Cambra. Faleceu a 2 
                    de Maio de 1954 em Ínsua, Carregosa, Oliveira de Azeméis, 
                    com 96 anos e no pleno gozo das suas faculdades. Fez parte 
                    do grupo que primeiro ocupou o edifício da Câmara Municipal. 
                    A ele recorreu Basílio Teles (como conta no seu livro «Do 
                    Ultimatum ao 31 de Janeiro») numa derradeira tentativa de 
                    salvar o movimento revolucionário pela mobilização da classe 
                    operária. 
                    
                    Gravura obsequiosamente 
                    cedida pela redacção do Jornal “República”. 
                         | 
                       
                     
                     
                    
                    
                    Janeiro de 1891  
                    - Janeiro de 1956 
                    
                    A Revolução do «31 de 
                    Janeiro» foi, então, a arrancada patriótica e heróica de um 
                    punhado de Portugueses que se sacrificou pelo seu ideal, 
                    pela sua consciência amarfanhada de cidadãos indefectíveis, 
                    pela compreensão clara dos seus deveres de cidadania. 
                    
                    Solidários e leais, todos 
                    imolaram, à devoção pela Pátria, a pureza das suas 
                    convicções e a honestidade das suas afirmações cívicas. 
                    
                    A jornada foi o preciso 
                    abalo, que devia acordar do entorpecimento em que vivia, um 
                    País absolutamente seguro do seu destino, e, então como 
                    hoje, pleno de energia latente. 
                    
                    Janeiro de 1956 
                    Dr. Joaquim de Araújo Cotta 
                     
                    
                    
                    31 de Janeiro 
                    de 1956 
                    
                    Quando a minha geração, na 
                    idade juvenil, assistiu entusiasmada ao advento da Primeira 
                    República, já então para nós o «31 de Janeiro», perdida a 
                    vibração própria, figurava quase apenas de curto episódio, 
                    arrumado nos arquivos da história pátria. Como haverão de 
                    considerá-lo os novos de hoje, a geração que por sua vez aí 
                    desperta para a vida pública e equivale àquela mocidade 
                    brava de 1910? Todavia, existe um episódio distante, a 
                    dar-lhe carácter de merecida perenidade na lembrança dos 
                    portugueses, qualquer coisa que, através dos tempos e numa 
                    continuidade fácil de encontrar-se perante outros passos da 
                    história, tem a força educativa na formação dos jovens, pois 
                    revela uma das melhores facetas do carácter deste povo. Essa 
                    qualquer coisa que se transmite, constitui norma constante 
                    de vida e direito nacional que se não discute, é que: querem 
                    os portugueses mandar, eles só, em sua própria casa, não 
                    toleram as intervenções estranhas e batem-se onde for 
                    preciso pela independência total. Todas as formas de 
                    condomínio, de influência directiva na vida interna vinda 
                    donde quer, na ideologia como na materialidade, por mais 
                    disfarçados e por mais hábeis, são-nos hostis e provocam 
                    reacções com que é preciso, sempre, contar. 
                    
                    Entendido que a 
                    independência total a que se alude implica, antes de mais, 
                    que a vida interna se organize na base democrática, num 
                    pleno ajustamento de direitos e deveres ao pensamento 
                    soberano de que não distingue a Pátria una entre os seus 
                    filhos, e assim os não devem distinguir nem o poder, nem a 
                    lei. 
                    
                    Prof. Dr. 
                    Mário de Azevedo Gomes 
                     
                    
                    
                    Eu estou contente de haver 
                    nascido no distrito de Aveiro, porque o distrito de Aveiro 
                    ama a Liberdade. Portugal inteiro ama a Liberdade e não são 
                    poucos os sacrifícios que ele lhe tem devotado; mas, entre 
                    as regiões que a amam mais fervorosamente, o distrito de 
                    Aveiro ocupa sempre um dos primeiros lugares. Sabemo-lo nós 
                    e sabem-no até os inimigos da Liberdade. Muitas vezes tenho 
                    perguntado a mim próprio porque os habitantes destas aldeias 
                    do distrito, perdidas nas suas montanhas ou nas suas 
                    várzeas, gente humilde, em grande parte analfabeta, que 
                    trabalha de sol a sol e cuja única preocupação parece ser, 
                    pela própria força da sua miséria, o pão de cada dia, ama 
                    tanto a liberdade, ela que não escreve, ela que não exerce 
                    actividade política, ela que não pensou jamais chegar à 
                    glória ou ao governo? 
                    
                    Muitas vezes tenho 
                    perguntado isto a mim próprio e a resposta é sempre a mesma. 
                    Há, na história humana, muitos homens que sacrificaram os 
                    seus bens, a sua situação social, a sua própria vida pela 
                    liberdade; mas a liberdade é, sobretudo, um sentimento 
                    daqueles que não têm grandes bens a perder, que não exploram 
                    o seu semelhante, que vivem à margem das grandes operações 
                    financeiras, dos grandes negócios, das grandes transacções 
                    com o sangue e com o trabalho de outros homens. 
                    
                    Foi na terra em que nasci 
                    que esse sentimento, fundamental na minha vida, se inoculou 
                    em mim. Foi lá também, no vale alacre e inesquecível, que eu 
                    aprendi, desde os primeiros dias da minha existência, a 
                    conhecer o que é a vida do povo português que ama a 
                    liberdade, o que é a sua pobreza que se herda e lega como 
                    uma tara. Foi lá que se expôs aos meus olhos, pela primeira 
                    vez, este grande problema do mundo contemporâneo, esta 
                    imensa injustiça social que pesa sobre a maioria dos homens 
                    e que é necessário que finde. 
                    
                    Ferreira 
                    de Castro 
                     
                    
                    
                    TRINTA E UM DE 
                    JANEIRO, primeiro brado indignado de protesto, altivo e 
                    solene da ALMA PORTUGUESA contra um regime político que 
                    conduzia a Nação para o abismo e não soube evitar a grande 
                    afronta do «ultimatum» inglês. 
                    
                    Devem, portanto, o Movimento 
                    Revolucionário que essa data representa e a Memória dos que 
                    nele heroicamente intervieram, merecer a admiração e o 
                    reconhecimento eternos de todos os bons Portugueses, 
                    
                    Almirante 
                    Tito de Morais 
                     
                    
                    
                    O 31 de Janeiro 
                    
                    Jamais um nobre Ideal 
                    triunfou sem que lágrimas e sangue tenham fertilizado o 
                    campo sagrado, donde brotam as flores do Sentimento. 
                    
                    A Vida nasce da Dor. O 31 de 
                    Janeiro, epopeia de martírio, era, pois, necessário para o 
                    triunfo da Causa Republicana. 
                    
                    O ultimatum vibrara na Alma 
                    Nacional como a dor duma vergastada forte nas carnes em 
                    ferida. No Porto, cidade escrínio do instinto de conservação 
                    e independência do Povo Português, a indignação passou à 
                    Revolta. 
                    
                    Foram vencidos os 
                    revoltosos. Os vencidos, porém, quando lutaram pela 
                    Liberdade e pela Justiça sempre venceram, mais tarde. Nada 
                    poderá evitar tal triunfo. 
                    
                    Os vencidos de 31 de Janeiro 
                    foram os vencedores de 5 de Outubro. 
                    
                    Professor 
                    César Anjo 
                     
                    
                    
                    Mais do que a primeira 
                    tentativa para a proclamação da República em Portugal, o 31 
                    de Janeiro de 1891 representa a primeira manifestação 
                    estruturada da consciência republicana do país e da 
                    participação activa do povo nos interesses que tem o direito 
                    e o dever de defender. 
                    
                    Dr. 
                    Fernando Namora 
                     
                    
                    
                    A gloriosa jornada do 31 de Janeiro de 1891 simboliza 
                    para os democratas a justeza dos belos princípios que 
                    defendem, enraizados na mais profunda tradição liberal da 
                    nossa História. 
                    
                    Lembrar esta data, e 
                    comemorá-la, é prestar uma homenagem aos denodados patriotas 
                    de 91, ao mesmo tempo que proclamar os nossos mais veementes 
                    propósitos de conquistar a Felicidade e o Bem-Estar para o 
                    Povo Português, lutando contra a Arbitrariedade, a Censura e 
                    a Instabilidade. 
                    
                    Manifestamos ainda, desse 
                    modo, os nossos desejos de Paz, de Intercâmbio Cultural e 
                    Coexistência Pacífica com todos os Povos do Mundo. 
                    
                    Alexandre 
                    Cabral  
                   
                  
                    
                    
                    A Revolta do Porto de 1891 é o primeiro clarão da República 
                    Portuguesa. Tantos anos passados, não são apenas os vultos 
                    do Alves da Veiga, do Sampaio Bruno, do Basílio Teles, do 
                    sargento Abílio, do João Chagas e do tenente Coelho que 
                    persistem na sua lição exemplar. Não são só os acordes de «A 
                    Portuguesa» e pouco tempo depois a estrofes admiráveis da 
                    «Pátria» do Junqueiro... É a soberba legião dos emigrados 
                    que fugiram para Espanha e para França, dos degredados da 
                    África, é a longa lista dos bons homens condenados — os 
                    cidadãos anónimos, os soldados, os cabos e os sargentos da 
                    insurreição —, e aqueles rapazes de Coimbra, muitos dos 
                    quais haviam de implantar a República em Outubro de 1910. 
                    
                    Nesta aliança e no quadro 
                    dos sacrifícios, é que nós nos queremos ver como num 
                    espelho. 
                    
                    Manuel 
                    Mendes 
                     
                    
                    
                    O sonho ardente dos patriotas de 31 de Janeiro não 
                    morreu ainda no coração do Povo Português. 
                    
                    Para além da derrota e do 
                    cárcere, a luz que nessa madrugada se acendeu nas ruas do 
                    Porto continua viva e indestrutível na alma popular. 
                    
                    O Povo Português «sabe» que 
                    só realizando a República e a Democracia encontrará o 
                    caminho da sua completa emancipação. 
                    
                    Papiniano 
                    Carlos 
                     
                    
                    
                    O sonho dos de «31 de 
                    Janeiro» não esquece nem se esgota: é o sinal último do 
                    homem vivo — a Esperança. Força elementar de uma aspiração 
                    eterna, reviverá sempre depois do que à sua imagem recriar. 
                    Assim nós descobrimos a exaltadora certeza de que a 
                    dignidade do homem não morre. 
                    
                    Dr. 
                    Vergílio Ferreira  
                   
                  
                    
                    
                    Em homenagem à memória dos 
                    Mártires de 31 de Janeiro 
                    
                    A velha monarquia chegara ao 
                    ponto de não poder já manter elevado ao devido nível o 
                    expoente da honra, do prestígio e da dignidade nacional. 
                    
                      
                     
                    José Sampaio (Bruno) 
                    
                    Os desregramentos da 
                    dinastia brigantina e os acumulados erros de administração 
                    ameaçavam precipitar o País nos abismos da bancarrota. 
                    
                    Longa e desastrosa prova 
                    levara, na verdade, à conclusão de que a monarquia se 
                    tornara impotente para redimir a Pátria das afrontas e 
                    vexames que a macularam e de realizar a obra de renovação 
                    política, económica e social que se impunha e a Nação 
                    reclamava. 
                    
                    No entanto os partidários do 
                    velho regime, na ânsia louca de se conservarem senhores do 
                    poder, impediam o exercício das fundamentais liberdades 
                    públicas, ao mesmo tempo que usavam dos mais brutais 
                    processos de violência. 
                    
                    Tomaram pelo pior caminho, 
                    pelo que a sua queda se tornou inevitável. 
                    
                    Foi a nobre cidade do Porto 
                    que atirou o primeiro golpe sério contra um regime cuja 
                    falência era já manifesta. 
                    
                    Não triunfou o movimento de 
                    31 de Janeiro, porque não actuaram em perfeita conjunção de 
                    esforços todas as forças contrárias à monarquia. Despertou, 
                    porém, tão vivamente a consciência nacional que deixou, 
                    desde logo, o trono dos Braganças em situação insustentável. 
                    
                    Aos homens de 1891 cabe, por 
                    isso, a honra e a glória de terem sido eles, com o seu 
                    sacrifício e o seu altivo e patriótico brado de protesto e 
                    de desagravo, que atearam o rastilho da fogueira que aqueceu 
                    a alma nacional e a impeliu para a triunfante jornada de 5 
                    de Outubro de 1910, que sob a égide da liberdade implantou a 
                    República em Portugal. 
                    
                    Desde longe se proclama, e 
                    com razão, que nenhum povo protesta ou se revolta quando se 
                    sente feliz e honrado. 
                    
                    Ora os portugueses de 1891 
                    bateram-se exactamente pela felicidade e pela honra da 
                    Nação. Tantos caíram abatidos pelos tiros da monarquia, ao 
                    mesmo tempo que muitos outros suportaram e sofreram os duros 
                    tormentos da prisão, do degredo ou do exílio. 
                    
                    Nada esmoreceu, no entanto, 
                    a sua ardorosa fé nos altos destinos da Pátria e no triunfo 
                    próximo da República. Com o seu sacrifício prefaciaram, 
                    assim, a obra imortal que, levou à conquista definitiva da 
                    honra e da liberdade. 
                    
                    Como preito de homenagem à 
                    memória dos portugueses de 1891 hoje como sempre, façamos 
                    repetir por todos os recantos da nossa terra o eco vibrante 
                    e patriótico do brado com que eles se atiraram para o 
                    glorioso movimento de 31 de Janeiro: 
                    
                    Viva Portugal! 
                    Viva a República! 
                    Viva a Liberdade! 
                    
                    Carvalhão 
                    Duarte 
                     
                    
                    
                    A Revolução 
                    republicana e democrática de 31 de Janeiro de 1891 foi 
                    fundamentalmente a luta dum Povo pela sua emancipação, pela 
                    sua liberdade e pelo seu direito à vida. E o facto de 
                    passados 65 anos se comemorar este grande acontecimento 
                    histórico, apesar das limitações impostas aos democratas 
                    portugueses, é a prova indesmentível de que o Povo Português 
                    continua decidido a bater-se pelos mesmos ideais que os 
                    revolucionários de 31 de Janeiro tão corajosamente afirmaram 
                    nessa madrugada heróica do ano de 1891. 
                    
                    Ao recordarmos essa data, 
                    desejamos associar-lhe a admirável lição de dignidade e de 
                    consciência política que nos deram os combatentes quando se 
                    encontraram perante os tribunais da Monarquia. Não tivessem, 
                    eles próprios, conquistado já a admiração do Povo Português 
                    pela maneira como se bateram nos ruas desta Invicta cidade, 
                    e bastariam as suas declarações no tribunal para merecerem 
                    da Pátria, pelo alto e corajoso exemplo que nos legaram. 
                    Como símbolo dessa atitude, em frente dum tribunal que 
                    representava naquele momento a máquina repressiva do poder 
                    despótico da Monarquia, apontamos o exemplo daquele simples 
                    soldado que interrogado  com insistência férrea do medíocre 
                    culto que envolve na tenaz a alma ingénua do simples 
                    declarou: «Eu não sei o que é a República, mas não pode 
                    deixar de ser uma cousa santa. Nunca na Igreja senti um 
                    calafrio assim. Perdi a cabeça então, como todos os outros 
                    todos. Todos a perdemos. Tiramos as barretinas ao ar. 
                    Gritamos então todos: Viva, viva, viva a República!» (do 
                    Manifesto dos Emigrados da Revolução Republicana Portuguesa 
                    de 31 de Janeiro.) 
                    
                    Foi assim que todos 
                    responderam. E é essa mesma atitude de UNIDADE que hoje nos 
                    cumpre seguir, para dar continuidade ao pensamento e à acção 
                    dos Homens de 31 de Janeiro de 1891. 
                    
                    Porto, Janeiro de 1956 
                    Eng.ª Virgínia Moura 
                    Arq. António Lobão Vital 
                     
                    
                    
                    31 de Janeiro 
                    
                    A Revolução Republicana de 
                    31 de Janeiro de 1891 deve ser comemorada por todos os 
                    democratas portugueses, não como uma simples efeméride 
                    passageira e banal, mas como um acontecimento histórico na 
                    emancipação da sociedade portuguesa, que culminou em 5 de 
                    Outubro de 1910 com a Implantação da República. 
                    
                    Mais de um século durou 
                    entre nós a luta pelas liberdades públicas, iniciada com a 
                    resistência popular contra os invasores franceses (1808) e 
                    somente terminada quando a Monarquia, já sem forças para 
                    vigorar e se manter, foi obrigada a capitular. 
                    
                    Foi uma arrancada tão 
                    magnífica como persistente, onde muitos tombaram como 
                    mártires ou como heróis e ainda outros por terem tão 
                    simplesmente cumprido o seu dever de súbditos que queriam 
                    ser cidadãos. 
                    
                    O 31 de Janeiro foi uma 
                    etapa intermediária dessa caminhada que, por jugulada pela 
                    força às ordens do poder, nem por isso deixou de contribuir 
                    para o triunfo final. 
                    
                    O exemplo do 31 de Janeiro 
                    deve estar bem presente no ânimo de todos os democratas que, 
                    através das circunstâncias mais difíceis e das emergências 
                    mais dolorosas, jamais desistiram de lutar pelos direitos 
                    fundamentais do povo português, que tanto custaram a 
                    conquistar aos nossos antepassados de ideais e de convicção. 
                    
                    Ontem, como Hoje, como 
                    Amanhã, as perspectivas do futuro pertencem-nos sempre, 
                    desde que saibamos querer, unidos nos interesses do Povo, a 
                    única personagem verdadeiramente imortal da História, até 
                    porque diante da sua grandeza logo os tiranos não passam de 
                    pigmeus e é da sua presença sempre renovada que se faz a 
                    perenidade das Nações. 
                    
                    
                    Dr. Ramos de Almeida 
                     
                    
                    
                    O 31 de Janeiro foi um 
                    elo na longa cadeia das lutas do Povo Português pela 
                    Liberdade e pela Independência Nacional. Sessenta e cinco 
                    anos depois, os democratas, recordando o sacrifício heróico 
                    daqueles combatentes, e fiéis aos mesmos objectivos, 
                    adquirem a certeza histórica de que, unidos na luta, 
                    alcançarão a vitória. 
                    
                    Dr. 
                    Augusto César Anjo 
                     
                    
                    
                    O «31 de 
                    Janeiro» permanecerá na história de Portugal como lição de 
                    profundo e valioso significado político. A dignidade e a 
                    independência da Pátria exigem a dignificação dos seus 
                    filhos e esta só pode alcançar-se pelo exercício efectivo de 
                    direitos democráticos. 
                    
                    Os homens de «31 de Janeiro» 
                    compreenderam-no e, reivindicando com coragem e sacrifício 
                    esses direitos, legaram-nos altíssimo exemplo de patriotismo 
                    e de civismo. 
                    
                    Lisboa, Janeiro 1956 
                    Dr.ª Maria Isabel d’Aboim Inglez 
                     
                   
                  
                    
                    
                    Assim foi...  -  
                    Assim será... 
                    
                    Quando, com o ultimatum 
                    enviado em 1890 à sua mais antiga aliada, o Governo de Sua 
                    Majestade Britânica nos usurpou os territórios do Chire e 
                    dos macololos, da colónia de Moçambique, nem o Rei de 
                    Portugal nem o seu Governo conseguiram encontrar as razões e 
                    os meios de repudiar esta afronta, aliás atitude diplomática 
                    sem qualquer justificação que não fosse a mais ignora e 
                    cúpida ambição imperialista... 
                    
                    Tendo como único objectivo 
                    político (com raros períodos de excepção, desde 1640), a 
                    conservação da sua posição de domínio e privilégio na 
                    sociedade portuguesa, pela administração das riquezas 
                    nacionais, metropolitanas e ultramarinas, a Monarquia, 
                    apoiada 
                    
                    numa oligarquia 
                    aristocrática, latifundiária e teocrática, onde recrutava os 
                    quadros burocráticos para os altos órgãos do Estado e os 
                    seus Governos, demonstrou ser absolutamente incapaz, não só 
                    de defender os interesses nacionais dessa época, mas até, 
                    mesmo, de os compreender e sentir. 
                    
                    Porque, nessa ocasião, se 
                    tornou insofismável o divórcio entre os interesses dos 
                    dirigentes e os interesses da nação, foi irreprimível a 
                    indignação popular. 
                    
                    Assim surgiu em 1891 o «31 
                    de Janeiro». 
                    
                    Foi o primeiro e indignado 
                    sobressalto de um Povo que compreendera a necessidade de 
                    derrubar as instituições que já o não serviam, apenas 
                    garantindo a uns tantos a perpetuação de privilégios 
                    injustificáveis e anacrónicos. 
                    
                    Os seus promotores foram, 
                    fora de toda a dúvida, os mais inteligentes, heróicos e 
                    patriotas de todos os portugueses de então. 
                    
                    O seu sacrifício e insucesso 
                    necessitaram, ainda, cerca de 20 anos para serem compensados 
                    e corrigidos na revolução triunfante do «5 de Outubro», em 
                    1910. 
                    
                      
                     
                    Basílio Teles 
                     
                    (Medalha do escultor Euclides Vaz, 
                    obsequiosamente cedido  
                    para as Comemorações pelo Senhor Prof. Dr. Ruy Luís Gomes. 
                    
                     
                    Mas foram-no, finalmente! 
                    
                    Quando as instituições 
                    políticas, — isto é, o país legal —, deixam de se adaptar 
                    aos autênticos interesses nacionais, o Povo, isto é, o país 
                    real — , por acordo cívico, democrático, promove a sua 
                    transformação, segundo as suas legítimas necessidades. 
                    
                    Porém, se as instituições 
                    políticas, por anacronismo ou perversão do poder, lho não 
                    consentem, facilitando antes a traição aos autênticos 
                    interesses nacionais, então o Povo, vilipendiado e 
                    explorado, num repelão, derruba-as! 
                    
                    Foi assim, e assim 
                    continuará. 
                    
                    Porto, Janeiro de 1956 
                    Dr. Armando Cotta 
                     
                    
                      
                    
                    IMAGEM 
                    
                    
                    Ontem como amanhã... 
                    
                    ...A revolução do 31 de 
                    Janeiro representou, na ronda da nossa História Pátria, mais 
                    um veemente impulso patriótico, como determinante 
                    característica dum Povo que desde sempre se bateu pela 
                    liberdade e pela democracia contra as violências e os 
                    desmandos do poder. 
                    
                    Dr. 
                    António Macedo 
                     
                    
                    
                    Os patriotas do «31 
                    de Janeiro» tiveram o mérito de desmascarar a ligação íntima 
                    entre uma política interna anti-popular e uma política 
                    externa de traição nacional. Hoje também nenhum patriota 
                    pode ignorar a relação directa entre a política de blocos 
                    armados e a subjugação militar, territorial, económica e 
                    política a interesses estrangeiros. A unidade de todos os 
                    portugueses reivindicando uma política externa de paz e 
                    independência é o caminho para a recuperação da soberania 
                    nacional, ou seja, para a defesa das nossas matérias primas, 
                    da nossa cultura, da liberdade de comerciar, dos interesses 
                    nacionais dos trabalhadores, industriais e agricultores, da 
                    independência do nosso exército. 
                    
                    A paz entre os povos é o 
                    caminho para o seu futuro livre e feliz! 
                    
                    Porto, 25 de Janeiro de 1956 
                    Silas Coutinho Cerqueira 
                     
                    
                    
                    /.../ Considero 
                    de grande oportunidade, num momento em que, 
                    inexplicavelmente, se procura denegrir o regime e os seus 
                    homens e idealistas, lembrar e fazer justiça àqueles que 
                    foram os precursores da implantação da República em Portugal 
                    e que, com a sua atitude patriótica, o seu idealismo e a sua 
                    isenção, mais contribuíram para que o Ideal republicano se 
                    arreigasse na alma do Povo Português. 
                    
                    Prof. Dr. 
                    Barbosa de Magalhães 
                     
                    
                    
                    — Comemorar o «31 de Janeiro» não tem apenas o 
                    significado de rememorar e homenagear os homens que se 
                    bateram pelas instituições republicanas e democráticas, mas 
                    antes e principalmente o de viver o mesmo anseio, de sentir 
                    os mesmos cruciantes problemas, num confrangedor 
                    reconhecimento de que, 65 anos volvidos, ainda agora nos 
                    falta aquilo que então para eles já tardava. 
                    
                    — Eles foram bem os 
                    pioneiros na luta pela libertação e dignificação da pessoa 
                    humana, que ainda agora nos anima e norteia, e que tão 
                    necessária se mostra hoje como o fora então. 
                    
                    Dr. 
                    Eduardo Ralha 
                     
                    
                    
                    Através do romantismo da sua acção, brilhará sempre, nos 
                    capítulos da História da Revolução de 1891, a grandeza do 
                    patriotismo dos homens que naquela madrugada fria derramaram 
                    o seu sangue, o sacrifício máximo da sua vida, aniquilada 
                    somente em proveito do futuro triunfo da República e da 
                    Democracia. Por ele continuam ainda a sacrificar-se os 
                    republicanos de hoje e sacrificar-se-ão os de amanhã, 
                    animados pelo exemplo e pelo sentimento dos Homens do 31 de 
                    Janeiro. 
                    
                    Entre nós, bons democratas, 
                    não há desânimos nem ingratidões. Temos esperanças e a noção 
                    exacta do dever a cumprir... Ingratos somente são aqueles 
                    indivíduos que teimam em negar justiça às virtudes 
                    admiráveis dos revolucionários de 91. 
                    
                    Para que essa ingratidão não 
                    alastre mais além do meio acanhado dos seus poucos 
                    apaniguados, são indispensáveis comemorações como a de hoje, 
                    em cada ano que passa... A elas se associará sempre todo o 
                    entusiasmo da minha alma, em sincera homenagem aos Mártires 
                    gloriosos do 31 de Janeiro, primeiros obreiros da República 
                    e da Democracia. 
                    
                    Manuel 
                    Lavrador 
                     
                    
                    
                    Incentivo para o presente, 
                    semente para o futuro — eis o que sempre podemos encontrar 
                    nos mais insignificantes acontecimentos do passado. Sabem-no 
                    sobretudo aqueles que, interessados na construção da 
                    felicidade do Homem, com maior consciência se esforçam por 
                    viver e sentir os problemas do seu próprio tempo. 
                    
                    Mas o 31 de Janeiro, 
                    estuando como um grito de revolta e um anseio de libertação 
                    populares, é daquelas datas em que esse significado nos 
                    surge precisamente como nota predominante. E mais: 
                    constituindo, como passo para a República, um passo para a 
                    Democracia, radicando na alma do Povo, a sua memória atinge 
                    as pessoas mais simples e desperta-as para uma luta 
                    inconformista e firmemente unida pela conquista dos direitos 
                    de que têm sido privadas. 
                    
                    Não será isto estranho ao 
                    esquecimento a que se tem pretendido votar o 31 de Janeiro. 
                    A verdade, porém, é que essa privação de direitos persiste. 
                    Tais esquecimentos até a agravam. 
                    
                    Daí a garantia de que o 
                    incentivo e a semente do 31 de Janeiro não morreram nem 
                    morrerão. 
                    
                    Encontra eco. Dá fruto. 
                    
                    Coimbra, 26-1-1956 
                    Dr. Alberto Vilaça 
                     
                   
                  
                  
                  VENCIDOS 
                  
                  
                  (Em memória dos mortos de 31 de Janeiro)  
  
                  
                  Glória aos que morderam, 
                  Derrotados, 
                  O ensanguentado pó das ruas! 
                  Aos que verteram 
                  Seu sangue generoso, 
                  Humildes, ignorados, 
                  Rasgando as pobres carnes nuas 
                  De encontro às baionetas dos soldados! 
                  
                    
                  
                  Glória aos que tombaram 
                  Por um ideal de vida mais humana e sã! 
                  — Em sua trajectória indefinida, 
                  Por mais que a vida tombe, ou que se roje, 
                  A vida é chama eternamente renascida... 
                  
                    
                  
                  — E em seu ansioso, doloroso 
                  afã, 
                  As vidas apagadas de hoje 
                  Podem ser os clarões da vida de amanhã! 
                  
                  Carlos de 
                  Morais 
                   
                  
                  
                  PROGRAMA 
                  
                  Dia 30 — Sessão comemorativa, 
                  às 21 horas, no Cine-Teatro Avenida, sob a presidência do 
                  Excelentíssimo Senhor Doutor ANTÓNIO LUÍS GOMES, em que usarão 
                  da palavra os senhores Dr. Magalhães Godinho, Dr. Heliodoro 
                  Caldeira, Dr. Eduardo Ralha, D. Cibele da Silva Carvalho, Dr. 
                  Carlos Cal Brandão, Dr. Armando Bacelar, Dr. Costa e Melo, Dr. 
                  Óscar Lopes, Dr. Júlio Calisto, Dr. Mário Sacramento, Dr. 
                  Alcides Monteiro e Operário José Ferreira. 
                  
                    
                  
                  Dia 31 —- Às 10 horas, missa 
                  de sufrágio, na Igreja de S. Gonçalo, mandada celebrar por um 
                  grupo de democratas católicos; às 12 horas, romagem de saudade 
                  e preito à memória dos democratas sepultados no Cemitério 
                  Central da cidade, com ponto de partida da Praça da República, 
                  junto ao monumento a José Estêvão; às 19 horas, Jantar de 
                  Confraternização Republicana, no Restaurante Galo d'Ouro.  |