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Entre Sono e Abandono


Recordo Abril

 

Recordo um silêncio
por onde a noite
se escoava lentamente
longa solidão
que rumorosos rios
povoavam por entre a dúvida
e o sono

recordo o contorno
das primeiras vozes amanhecendo
rente às casas
palavras sem sombra
que em luz se abriam
sobre as águas

e também rostos
cuja claridade se acendia
entre lágrimas

cobertos de espanto
os recordo
agora que o tempo
os vai dissolvendo
pouco a pouco

que distância os perde
que neblina os apaga?

que de Abril resta
senão recriá-lo
com algumas palavras
pequenos sinais submersos
nos arquivos desencantados
da memória?

                                      Outubro, 1983

 


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