LIVROS PUBLICADOS
Poemas do Tempo Incerto
(Vértice, Coimbra, 1983),
Entre Sono e Abandono
(Estante Editora, Aveiro, 1990),
As Casas Pressentidas
(Edição de Autor, Aveiro, 1999)
Nas Colinas do Esquecimento
(Campo das Letras, 2004)
Quando se Apagam as Cerejeiras
(Chiado Editora, 2012)
Calavam-se as Estrelas na Mágoa Daquele Inverno
(Chiado Editora, 2017)
Viagem ao Silêncio das Ervas Adormecidas
(Letras Paralelas, 2019)
As Casas Pressentidas
foi um dos quatro livros premiados com o Prémio Nacional Guerra
Junqueiro em 1995.
BIBLIOGRAFIA PASSIVA
Opiniões críticas sobre a obra
As Casas Pressentidas
é o título, belíssimo, deste livro de Luís Serrano, (...). É um
extraordinário livro de maturidade de um notável poeta que acende,
nas casas que lhe habitam o imaginário, um fogo que nos aquece (ou
nelas deixa, por vezes, a suspeita de um frio que nos arrefece...).
Eugénio Lisboa, LER, nº 47, Outubro 1999
Como
Luís Serrano, poucos poetas há que cultivem uma atenta e riquíssima
experiência poética publicando uma obra de visibilidade
aparentemente mínima
Rosa Maria Oliveira, Diário de Aveiro de 02.06.2003
[...]
Um livro [Nas Colinas do Esquecimento] onde a extrema
beleza estilística – admirável em toda a sua interioridade e
contenção – e a melancolia que facilmente se identifica, não são um
estado ou condição, mas sim o próprio acto de consciência
perfazendo-se no mais puro sentido da sua totalidade. Nas quais,
aliás, se tentarmos definir o acto poético (e seja qual for a
definição) encontraremos implícitas a razão aberta e vigilante, o
espírito de comunhão com o mundo e uma chocante e lúcida
fraternidade carregada de tristeza, bem definida no poema sobre a
guerra: “matéria de sombras / que gostaria de esquecer / para
sempre”. [...]
Ascêncio de Freitas, O Ilhavense, de 10.01.2005
Nas Colinas do Esquecimento
é o último livro publicado por Luís Serrano. [...]A poesia
que escreve caracteriza-se pelo equilíbrio, pelo bem conseguido
rigor, pela contenção: Este livro fala do esquecimento (...),
hálito inevitável e nocturno / óxido corrosivo que se instala /
sobre o véu translúcido da lembrança. (...) Não te iludas: / são
apenas palavras.
O
registo dominante corresponde à lisura das coisas, ao espaço aberto
ou, como nos diz, à música ázima. Daí uma visão especial da
realidade, tendendo para uma construção de índole elíptica, nela
parecendo estar ausente qualquer desenvolvimento sentimental. Mas
não é bem assim. Há também uma visão emocionada, embora se revele
como se fosse uma palavra ferida / pelo silêncio.
[...]
Fernando Guimarães, JL nº 907 (19.01 a 01.02.2005)
A
propósito de Quando se apagam as cerejeiras
Na viagem sem termo de LS, neste caminho que os seus poemas
percorrem, é visível o traço daquilo que foi e que permanece –
poeticamente permanece – uma inquietude, uma interrogação, uma
perda, mas também uma alegria, um prazer como o que deriva da
fruição de uma peça musical, um filme, um quadro ou um poema, isto
é, da arte, como se o ponto de partida da viagem poética de
Quando se apagam as cerejeiras se convertesse no seu próprio
ponto de chegada, ou seja, como se a sua verdadeira origem fosse o
seu único objectivo. Por uma razão simples: é que esta é a única
forma de impedir que a viagem termine.
Abílio Hernandez, palavras extraídas da apresentação da obra
na Universidade de Aveiro, 12.06.2012
Ainda a propósito de Quando se apagam as cerejeiras
Na sua poética, […] revela uma perfeita geometria rítmica e a
«projecção metafórica de uma realidade em decomposição, sujeita a um
processo degenerativo, da fragmentação de um mundo do qual nos fica
a memória através da palavra» (como noutro lugar já tive ocasião de
salientar), o discurso inscreve também aqui um tempo balizado por
cicatrizes, pela inquietação e pelo medo […]
Manuel Simões, As Artes Entre as Letras, 11 de Julho 2012
Ainda a propósito de Quando se apagam as cerejeiras
[…] Com efeito, Luís Serrano é sob uma forma implícita que no seu
livro por vezes se refere à morte; o último poema, porém,
intitula-se Escrevi sobre a morte: “escrevi sobre a
morte / sobre as neblinas que a precedem / […]
encostei o ouvido à terra”. O diferimento advém do facto dos poemas
serem […] “uma reflexão sobre a morte filtrada através de grandes
obras de arte […]. E, sendo assim, talvez pudéssemos falar de novo
no “eros produtivo”, isto é, na possibilidade do homem se
metamorfosear nas suas próprias criações…
Fernando Guimarães, JL, nº 1093 de 22.08 a 04.09.2012
A
propósito de Calavam-se as estrelas na mágoa daquele inverno
[...] A primeira referência, porém, que está na base do
desenvolvimento textual da nova colectânea, é constituída por uma
espécie de exegese crítica do grande clássico de Dostoievski,
sobretudo através da figura de Raskólnikov, modelo de "sombra e
penumbra", "ordem e desordem / amor e morte" ("No coração do
eclipse"), com quem o sujeito parece identificar-se ("Raskólnikov
c'est moi"), recusando todavia "a expiação o esquecimento // não se
lembrar / é a forma eufemística / de perdoar o erro / [...] é a
porta / para sempre fechada / no coração do homem" ("Em ti Ródia
convergem"). E aqui se manifestam, quanto a mim, as metáforas da
memória ligadas intrinsecamente às do esquecimento para delas
emergir como memória profunda do "não-esquecer", uma das funções da
arte e, portanto, da literatura. […]
Manuel Simões, As Artes Entre as Letras, nº 204 de 11 de
Outubro de 2017
Ainda a propósito de Calavam-se as estrelas na mágoa daquele
inverno
[...] Ora há na poesia que tem escrito, incluindo a do seu novo
livro, uma característica que está precisamente em consonância com a
dos anos 60, poesia essa muito orientada para uma concisão
expressiva que, por exemplo, se faz sentir agora em poemas como
este:
"É um murmúrio de ervas / um estremecimento de lágrimas / que ouço
/ se a música aflora / ao rés do pântano // talvez a morte / seja
assim serena / quando abraça a terra // as mãos perdidas / no rosto
ambíguo / dos pássaros // o céu distante / os astros dispersos / a
alma cada vez mais diluída / e o sono agora próximo / agora nada".
Há aqui uma voz extremamente contida, em que tudo fica suspenso ou
implícito, porque as palavras apenas afloram o que "seria do
silêncio / senão a folha / perdida"
Fernando Guimarães, JL, nº 1230 de 22.11 a 05.12.2017
Ainda a propósito de Calavam-se as estrelas na mágoa daquele
inverno
[...]Não conhecendo, naturalmente, todas as obras e autores
referenciados pelo poeta, tendo um ouvido musical indiscutivelmente
menos apurado que o de Luís Serrano, uma experiência menos vasta do
que a sua no domínio da geografia e da pintura - eu compreendo, no
entanto, e sou tocado, pela beleza desta poesia. [...] Eu creio que
a cultura é fundamentalmente isto: inter-relacionamento no seio de
um sistema cujos nós progressivamente se multiplicam e avivam.
Densificar essa rede é crescer e evoluir, conhecer o seu lugar no
universo. A poesia de Luís Serrano contribui, e em que medida!, para
essa evolução intelectual e humana.
Cristino Cortes, A Guarda, n.º 5606 de 02.11.2017
Ainda a propósito de Calavam-se as estrelas na mágoa daquele
inverno
[...]É que estes poemas remetem, em elevado número, para outras
obras artísticas, da música e do cinema, da pintura mas sobretudo da
literatura. Muito em particular, neste caso, para o romance Crime
e Castigo, de Dostoievski –
uma vez que vários destes poemas referem-se a personagens desta obra
emblemática do grande mestre russo. E o que eu me interrogo é se a
compreensão desta poesia de Luís Serrano é a mesma por parte de quem
conhece, ou desconhece, o livro acima citado.
Luís Serrano é um poeta contido, de palavra ponderada. [...]
Cristino Cortes, A Poesia na Confluência das Artes in As Artes
Entre as Letras, nº 213 de 28 de Fevereiro de 2017
Ainda a propósito de Calavam-se as estrelas na mágoa daquele
inverno
[...] Esta é uma pequena amostra da temática deste livro, sobre o
qual não sei o que mais admirar, se o engenho poético do Autor, se a
sua vasta cultura, que vem da literatura até à música (Bruckner,
Linz, Brahms, Webern) e à pintura (Matisse, Van Gogh), passando pela
religião (S. João Baptista, S. João Hospitaleiro) e à História
(Joana D'Arc, Dreyfus, Guerra Civil Espanhola, Síria) e ao cinema
(Murnau, Truffaut, Visconti), etc., todos com representação neste
livro.
A
junção destes itens dá-o não só como conhecedor minudente das
grandes obras, tragédias e mitos, mas também como uma espécie de
crítico literário que, ao invés de recensear segundo o paradigma,
recria, através da poesia, as impressões que colhe, até ao ponto de
configurar uma participação na criação das obras sobre as quais se
debruça. E tudo isto o faz de forma extremamente concisa,
condensando até ao limite o poder da palavra e o sentido que ela
transporta.
Ramiro Teixeira, inédito, Abril, 2017
A
propósito de Viagem ao Silêncio das Ervas Adormecidas
Viagem ao silêncio das
ervas adormecidas
não acrescenta apenas mais um belo título a juntar aos anteriores
livros do poeta. Ele é também, juntamente com As casas
pressentidas, um dos marcos mais importantes da obra de Luís
Serrano.
Abílio Hernandez, palavras extraídas da apresentação da obra
na Universidade de Aveiro, 26.11.2019
Um dos poemas do seu novo livro, intitulado
Viagem ao silêncio das
ervas adormecidas,
demarca bem o sentido da sua poesia. Ele é-nos dado nestes termos:
“O escritor / lavra o texto com palavras // agricultura / onde as
sílabas reverdecem / se o arado as quebra / em torrões / e pedra
dura”.
Esta lavra do texto
poético conjuga-se neste livro com o que seria uma secreta procura
de um tempo passado e adormecido. A memória – na primeira parte do
livro – surge como uma grande figura que conduz à tal “viagem ao
silêncio” que no título se anuncia. Nela tanto a criança como o
adulto se encontram para descobrirem “a verdade da vida […] / as
chaves do passado”
Fernando Guimarães,
JL, nº 1289 de 26.02 a 10.03.2020 |