Pensar é ver as estrelas,
Que
um dia,
Desabaram sobre o tecto do Mundo.
Pensar é ler o além, tão esperado,
Como desesperante,
Face ao ministério do mundo,
De
que apenas temos sinais,
Signos e vestígios de signos.
Vem
o martelar da água salgada nas rochas,
Que
habitam as praias desertas;
Essas, onde passam,
De
sobrevoo,
As
gaivotas
E,
por vezes,
Os
homens
Em
busca da serenidade
Outrora perdida.
Deambulam pelas areias movediças,
Autênticos palcos do mundo
Onde constroem e destroem
As
suas próprias moradas.
Uma
linguagem incompreensível
Vocifera das suas próprias bocas,
Com
o sabor amargo
Da
vida não vivida
Em
terreno firme.
A
vida,
O
trampolim,
A
barra olímpica
Onde caminhamos em perplexos des-equilíbrios,
Ao
sabor do vento
Que
bole nossas pernas trôpegas,
Como se mal tivéssemos começado a andar.
Nada se fixa no e sobre o homem.
E
se o mundo é composto de mudança,
A
metamorfose é o traço do viso desta humanidade,
Que
a ritmos triclitantes,
Cresce dentro desse ser cheio de vazio que somos,
Cada um de nós,
Um
dia rotulados de “animais racionais”,
Pretensamente,
Supostamente,
Pensantes,
Inteligentes,
Portadores de um raciocínio lógico-discursivo,
Hipoteticamente emersos do melhor dos mundos possíveis,
E,
afinal,
O
que queremos de nós,
Seres errantes?
E o
que queremos do Mundo
Que
em torno de nós
Se
move
A
uma velocidade incomensurável?
Ou
desfazemos essa aura de entes
Onde fomos depositados,
Um
dia,
Sem
que o nosso querer
Fosse chamado a opinar
Sobre esse modo de existência de caos e de ordem
Que, afinal, nos caracteriza,
De
que somos co-autores e co-produtos
Voluntária ou involuntariamente?
Perdemos o rumo,
O
norte.
Mas
encontrámos o fio de Ariana
Que
comanda o nosso Destino.
Destino?
Mas
que Destino?
O
de sermos uma humanidade emaranhada
Nos
nós da sua própria teia?
Ariana e a aranha
Estão sobre a caução de um certo e mesmo invólucro,
Tão
opaco, como transparente,
Tão
sublime, quanto miserável.
E,
apesar disso,
Ainda podemos falar
Da
harmonia heracliteana dos contrários?
Do
caos criativo que,
Quiçá,
Gera a nossa própria ordem desordenada?
Definitivamente,
Somos viandantes.
Passageiros de múltiplas paragens,
Sem
lugar certo e determinado,
Sem
pátria, sem habitação, sem morada…
Permanecentes metamorfoses de espaços de combustão,
Do
Tempo finitamente infinito,
Que
também nos domina,
Enquanto temos a vã pretensão
De
o controlar pela minuciosa máquina
Que
o nosso pulso suporta,
Sempre voltada
Para os nossos olhos ansiosos
De
um tempo outro,
Onde qualquer ideal possa ser consumado,
De
preferência, “ad eternum”.
Que
ilusão, somos nós,
Homens!
Entes de palpites inconstantes
No
pulsar do mundo
Que
nunca adormece.
Desse mundo inquieto,
Por
vezes,
Turbulento,
Que
gira sobre nós próprios,
Que
nos faz mover
Dentro e fora das nossas órbitas,
No
espaço debilitado da nossa condição
De
estritos seres de passagem,
Em
digressão,
Sabe-se lá para onde…
Os
pratos da balança
Já
não se equilibram mais.
A
medida certa acabou.
A
incerteza,
A
dúvida,
É o
paradeiro do nosso próprio caminhar
Em
terreno
Irremediavelmente movediço,
Ao
mesmo tempo que estanque…
Sempre nos prende as pernas,
Sempre trava o nosso caminhar.
Que
ilusão, a dos homens,
Em
querem ser senhores,
Dominadores do universo,
Físico e humano,
Que
escassamente habitam.
E o
Mundo está aí.
Permanece imutável,
Na
sua essência,
Apesar de todas as investidas de uma humanidade,
Sempre solitária
Que
acompanha o furor
Das
multidões em revolta,
Contra o imposto pelas Instituições,
Pela Natureza;
De
uma humanidade que,
Um
dia,
Alimentou a vã ilusão de Tudo dominar,
De
ser o gestor de um Universo que,
Amiúde,
Gosta de se esconder,
Na
sua mutabilidade camaliónica.
19-01-2001 |