Cartas de Rainer Maria Rilke: «Apaixonadamente» |
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«Amiga, acredita em mim, é a única coisa que quero. E com o mesmo sopro que peço a Deus que me deixe amar-te totalmente, peço-lhe, suplico-lhe que fortifique em mim a potência, a vontade, o desejo das mais guerreiras das solidões, porque não há em mim um só lugar que não lhe esteja consagrado»[1] I «Apaixonadamente» é o título atribuído por Rainer Maria Rilke a um conjunto de cartas dirigidas a Magda Von Hattingberg, a sua estimada “Benvenuta”. Assim a apelida. Assim celebra o especial carinho que nutre por tão nobre dama. Amiga carinhosa, “querida criança”, Magda é a irmã perfeita e fiel, portadora de toda a felicidade passível de ser alcançada. Advogada do futuro do Poeta, a seus pés rendido. Também “Jubilosa”, “radiosa” e “transparente”. Um “belo coração”, sem dúvida. Uma alma prezada e irresistível, alvo perfeito do seu solitário e doloroso amor, da sua paixão e do seu desejo, à distância próxima do sentir. Implora-lhe que o deixe amá-la, do fundo das raízes do seu coração. Todos os dias, todas as noites, todos os momentos «postos a salvo das suas próprias hesitações pela voz surda do trabalho»[2]. Deseja, tão-só, poder oscilar entre a obscuridade que as mãos da amada lhe trariam. Deliciar-se com o espaço de luz eterna que ela expira, pela música, que do seu peito brota por todos os poros e em todas as sonoridades possíveis. No coração do Poeta não habita, porém, um amor inconsciente, arrebatador, sem limites, que possa rondar os domínios da embriaguez dionisíaca. Nem, jamais, um amor egoísta ou obsessivo, meramente carnal ou irrazoável. Rilke esclarece a especificidade do seu amor por “Benvenuta” na sexta carta, datada de 8 de Fevereiro, de 1914: «agora peço-lhe que me deixe amara-te (…) para que este amor te faça bem, belo coração, alimente a tua alegria, se torne o jardim da maravilhosa estação com que tu me assaltas, alegria imortal, que seja um jardim – porque, vê tu, para um jardim florescer não é um labor, mas um prazer, na mais pequena flor ele encontra um profundo repouso; ó irmã, que terei eu feito para que o amor tivesse sido sempre um trabalho para mim, que eu nunca tenha tido em mim seus frutos solares»[3]. Por isso, se encontra trancado, por detrás da porta, sem se mexer. Está ali, postado, sozinho, nos vales profundos do amor. Sente «no seu rosto o que é ter de afrontar o mundo infinito e de compor numa superfície tão restrita, pela transfiguração de algumas das suas feições, um equilíbrio adequado» à sua aparição total. O contorno do rosto de Madga imprime-se sob a escuta do Poeta, «tornado perfeitamente límpido por horas seguidas de silêncio nocturno.»[4] Entre ambos existe um claro júbilo, onde os sinos tocam, atravessando a acolhedora atmosfera que paira nos seus inconsoláveis corações. As mãos da amada deseja tomar nas suas, como num impulso infinito de pura dádiva divina. «Apaixonadamente» é uma antologia de cartas de amor – escritas por Rainer Maria Rilke durante o mês de Fevereiro de 1914 – seguramente incompleta, certamente inacabada, onde tudo cintila e nada acontece. São cartas de um amor sem a enfermidade do ridículo, de que falava o Poeta português dos múltiplos heterónimos, Fernando Pessoa, na pele de Álvaro dos Campos[5], sempre que se referia a esse estado do ser de cada ente, abalado e embalado por tal sentimento, jamais esdrúxulo, para o Poeta de Praga. Toda a obra denota um intenso sentimento amoroso. Sem dúvida. Mas, também, um desejo erótico, em crescendo, com o qual o Poeta não sabe lidar propriamente. Vê-se envolvido numa dimensão assaz frágil. Colocado no topos do in-habitual. Quiçá, por isso, transcenda essas franjas do ridículo de todas as cartas de amor de que fala Pessoa. É tudo tão novo para o Rilke…! Tão súbito que, ao mesmo tempo que o apaixona e impressiona, também o surpreende e assusta. Formula, com alguma dificuldade, esse sentir, esse desejo, repletos de um prazer luminoso, mediados por uma espécie de esperança, sempre adiada. Nas noites de Lua cheia, descobre o verdadeiro espaço do Mundo, por onde o frio intra-mundano se precipita, para congelar os corações aflitos. Pela janela do seu quarto nocturno, lê, observa, escuta, todas essas noites imensuráveis, longas, muito longas, talhadas num tempo redondo, marcadas num espaço sem limites possíveis. No entanto, não sabe mais pintá-las. O cansaço abate-se sobre o seu corpo ensandecido. Esgota a sua mente. Finalmente, confia no sono, mesmo não querendo entregar-se ao adormecimento do seu espírito que, em frenesi se move, a cada instante. De leve, vê a sua «natureza, em tantos sítios estragada ou murcha». E, só então, «reencontra uma frescura, uma inocência profunda e escondida»[6], há muito, não vislumbrava dentro de si. Tenta vencer o que há de mau, de feio, de falso, ou de mesquinho. Qualquer espécie de vulgaridade que na sua alma precinta. Escuta uma voz ansiosa, que desde a mais tenra infância, lhe soa como um aviso, como uma apelo, como um grito de alerta: «Tu, René, tu que surpreendeste que, por vezes, captas o mais subtil, o mais leve, o mais inapreensível, como pudeste tu…?»[7] Sabe que, até entre os objectos que lhe são mais familiares, alguns o acusam do seu definhamento, como se as pequenas raízes que haviam sido lançadas no seu coração tivessem acabado por esbarrar nos limiares da indiferença, ou se tivessem estiolado na silenciosa acusação da sua retirada, sem aviso prévio. Rilke move-se nos labirínticos estados desse “fogo que arde”, num aparente turbilhão de jogos de linguagem que deambulam entre a pergunta e a resposta. E sempre declara o desejo de uma relação física, gravado nesse seu coração fascinado, “cheio em demasia”. É explícito o apelo ao prazer dos corpos, tomados na sua materialidade libidinal, na sua vibração sensitiva mas, quiçá paradoxalmente, inter-seccionados no contexto de uma relação entre crianças. Aí reina o “pólen de todo o amor” possível. A presença do Sol, numa infinita emoção que perpassa as montanhas do coração. A crescente ostentação do céu claro, transparente, luminoso, translúcido. Escuta, em plena Primavera, o suplemento de emoção do chilrear dos pássaros, em tons puros, sob o mais flexível dos silêncios: «os passaritos nos carvalhos-verdes, abandonando a prosa, abeiram-se da poesia. O coração de um deles marulha como uma água leve. De onde vem a interioridade da criatura?»[8] Encontra-se com a Terra pesada, laboriosa, que alimenta as amendoeiras em flor, as rosas que desabrocham durante a noite, por entre as árvores. Um verdadeiro milagre para o olhar enternecedor dos amantes. Algures, permanecem com as crianças, de quem guardamos o viso, no âmbito de uma conexão de quase irmãos que não teriam, propriamente, o corpo sexuado, esse corpo sensual de moldagem erótica dos amantes. Tão-só, mãos e face. Estes simbólicos elementos do corpo, bastam-lhe. São a base, o fundamento matricial a partir do qual edificará, com a mulher amada, em igualdade de circunstâncias e partilhando exactamente da mesma inocência, um corpo-outro. Um corpo necessariamente perfeito, acabado, completo. Sempre, em estado de união. Um corpo, único, é sinal de amputação, de incompletude, de in-acabamento. Só a comunhão dos corpos é capaz de produzir essa aura redonda, onde repousa toda a perfeição e unicidade possível, nos arrebatadores enlevos da sensualidade. Rilke sabe que o sensual não “pré-existe”. Que, neste campo, não há harmonia pré-estabelecida, tal como Leibniz a havia determinado aquando da cogitação da organização monadológica do Universo. O sensual não é a substância da relação entre os amantes, embora dela desponte, sempre que se dá o entrelaçamento dos seus corpos. Toda a relação amorosa sensual é a fímbria desses mesmos corpos, quando inter-seccionados. O sensual é, a limite, o resultado final dessa relação. A expressão suprema desse sentimento, cada vez mais raro: a estima magnificente entre dois corpos amigos. O amor que nutrem, Rilke e Magda, «vem do fundo dos tempos pré-terrestres, se origina em todas as infâncias da existência, tem as suas raízes no ser original; tal como os astros se amariam uns aos outros, se conhecessem o seu próprio esplendor», escreve o Poeta, na décima carta[9], enquanto recorda, a “Benvenuta”, os sentimentos da sua “infância mais espontânea”, onde ainda ausculta os puros raios do seu coração em arrebatamento irresistível, somente para ela reservados.
II Ler «Apaixonadamente» é assistir ao “Aberto” de um espírito iluminado, exposto dialogicamente, sempre pronto a manifestar o mais ínfimo pormenor de cada pedaço de si, a conduzir o leitor a rever-se em múltiplos dos seus estados anímicos, nunca antes meditados. É escutar o pulsar, cada vez mais vivo e intenso, de uma interioridade dada na inquietante estranheza do ser, do pensar, do estar, do sentir. Aliás, confessa o Poeta, nada é pensado antes de ser sentido. É o coração que sente. É o coração que pensa e expõe, pelas palavras que a linguagem lhe disponibiliza, mesmo que de modo insuficiente, o que no seu íntimo aflora. A ideia comummente perfilhada de que a razão é o “capitão do corpo”, jamais se enquadra no universo conceptual rilkeano que eleva, aos mais altos picos, as margens do sentir. Assim o escreve. Assim lê e vê o Mundo, qual espaço tão vasto que o rodeia e que sempre o atrofia. O Mundo é claustrofóbico para os espíritos mais sensíveis, para os seres puros. Já o havia afirmado Sófocles, pela boca de “Antígona”. Também ela um ente atopos, sem lugar, sem casa, sem pátria. Um ente inquietante, diria Heidegger, que vê na morte – esse outro lado da vida que não se encontra virado ou iluminado para nós – a sua autêntica morada, depois do abandono do Mundo e dos Homens. Extravasando este horizonte restrito da mundaneidade, num ápice, emerge um “amor indizível” que os corpos, em caloroso sentir, em feliz re-união, desejam manter eterno. Este amor «tornar-se-ia semelhante ao que se tem pelos mortos. Porque acontece que quando um homem conhece a sua felicidade e quer ficar com ela, ela morre, e ei-lo que se transforma como uma mosca em âmbar, um pequenino ponto negro e morto no bonito azul da sua felicidade morta.»[10] Resta a evasão. Subsiste o silêncio. Reina o indizível, o inefável, quando as palavras já não amolecem mais o coração dos homens; quando as palavras deixam de possuir essa poção mágica da Lira de Orfeu, eterno amante dos dois reinos, o da vida e o da morte, que até Hades foi capaz de comover. Em «Apaixonadamente» reúnem-se as confissões da alma de Rilke, em ininterrupto desassossego. Sempre na ânsia de comunicar com esse outro que realmente ama e que, tão-só por isso, pode compreender, com a clareza adequada, os seus estados de solidão, as suas angústias, o seu sofrimento e, até mesmo, o seu silêncio. O silêncio sente-se, pressente-se, nas entrelinhas. Emerge no vazio presentificado pelas pausas da escrita, pelos hiatos frásicos, onde tudo se torna manifesto, sobrenaturalmente presente, pelas fendas das palavras, cuja plenitude faz nascer «todas as angústias e aflições da vida». Tudo o que é vida, existência e mundo, situam-se «sobre uma cena mais elevada, onde uma constelação e um deus se encontravam frente a frente, silenciosos.»[11] Rilke experimenta essa fragilidade da linguagem e do dizer do seu silêncio. A potencialidade que a habita e habilita a exprimir, de um modo mais autêntico, fidedigno ou simplesmente encantador, o seu sentir impaciente, fatigado, esgotado, que atravessa as montanhas do seu coração. Nelas ecoam todos os sons. São os lugares miraculosos de todas as escutas. Por elas caminhou, em constante sobressalto. Foi salvo pelos Anjos, captadores dos vários graus de angústia, das «ultra-radicações de felicidade que escapam aos humanos»[12]. Mesmo limitando-se a exprimir tudo o que lhe vem de cima, o seu sentir ferve no colo das suas próprias contradições. Só Deus pode saber se consegue fazer entender-se, quando o sentido do conjunto lhe escapa.[13] Mantém a sua “alma solitária”, no seio da imensidão do universo linguístico. Um “impulso infinito de dádiva”, abraça, do mesmo modo que um “sobressalto fatal”, vagueando no abandono sem limites, traçado pelo “pressentimento do estuário infinito”. Rilke é tanto um escritor de poemas como um escritor de cartas. Também estas enlaçadas na mesma sensibilidade poética que caracteriza o espírito deste eterno viajante, pelas múltiplas paragens deste Mundo imenso, que nem sempre o acarinhou. Mesmo tendo aberto, por toda a parte, a sua alma aos mais poderosos espectáculos da Natureza e dos Homens, o seu íntimo permanece impregnado de “culpabilidade e de tormento”. Perdeu “todo o controlo, toda a segurança própria”, inclusivamente nesse recôndito lugar do seu coração que sempre havia sido, mesmo até nas piores vicissitudes, a sua Pátria. Uma inquietante estranheza vive dentro de si, em todos os amargurados dias da sua vida. Sente-se tocar-se com as mãos de um outro. Sente-se permanecente numa “habitação miserável”. As belas arcadas edificadas pelo seu espírito “assentam sobre a mais precária das bases”. Em frágeis alicerces de madeira se apoiam, tão-só compostos por “duas ou três pranchas”. Talvez sejam estes in-sólidos fundamentos que o impeçam de construir uma nave, ou uma torre, «onde devia ser içado o peso dos grandes sinos (pelos anjos…)»[14] Rainer Maria Rilke, qual Zaratustra, sempre portador de uma mensagem, tão pensada quanto sentida. Acarreta consigo uma mundivisão determinada, reflectora dos interstícios do Ser, capaz de penetrar na interioridade das coisas, de as des-velar, de as trazer à luz, de as manifestar no “Aberto”. «Apaixonadamente» manifesta, a um tempo, a essência do homem e do artista, alicerçada em múltiplas inquietações existenciais. Esta obra não é um mero relato epistolar dos estados de alma do Poeta, ou do seu sentir íntimo do Mundo e das coisas. Epifaniza, sobretudo, o nascer da sua escrita, os momentos que vive em estado de graça, sempre que é assaltado pela lucidez das palavras. A sua arte não se enraíza, em essência, no profundamente humano. Por isso se auto-interroga: «devo manter-me afastado dele (do humano), ignorá-lo? Nunca vir a conhecer a simples e inocente misericórdia, a serenidade e a energia íntima que ele tem para me dar?». A resposta do Poeta é tão clara e tão contraditória quanto as interrogações que ao seu espírito assomam: «sim, enquanto o humano não me disser respeito, tenho para com ele uma compreensão amigável, é-me, mesmo no seu horror, tão familiar que tenho a impressão que seria capaz de o retomar, de o amar». Porém, de cada vez que esteve comprometido com o humano, ligado a ele, ficou paralisado, falhou, fugiu, com pavor, sem saber qual o rumo da sua evasão. Por fim, recusou tudo. Absolutamente tudo o que é humano. [15] Ir ao encontro dos homens, confessa, exige um esforço suplementar, que o seu espírito não suporta mais. Caminhou para Deus, que esforço algum requer à essência sã da sua alma. Amou-o, silenciosamente, como assim o determinou a direcção imperante da sua natureza. Esta obra incomoda, assim como todas as outras escritas por Rilke, autênticos telescópios, agora dirigidos a uma pianista desconhecida, Magda Hattingberg. Quem se aproximar para a ver, observará inúmeras coisas que na sua direcção se encaminham: «céus, nuvens, objectos, fenómenos (…) tudo aquilo flutuante num espaço aberto, audacioso, profundo, tudo coisas mais intensas, mais distintas, mais válidas do que habitualmente são, muito belas, perfeitas…»[16] Rilke é um poeta que desaloja os seus leitores, assim que abre a sua aura, quando a alastra às coisas humanas, tão fúteis, tão comezinhas, aquém do sentir autêntico dos espíritos despertos. Escuta os infra-sons, sempre que remove as entranhes da Terra, silente, à espera de acolhimento no seu coração, tão amplo quanto o espaço indeterminado do Mundo. Ama o “Aberto”, os Anjos, as Fontes e as Rosas. Percorre os «caminhos que não conduzem a parte alguma», no seio das florestas, desertas, abandonadas pelas mãos dos homens, jamais salvaguardadas dos perigos castradores que aniquilam o seu ser originário. Está aí, em todos os lugares, apesar de ter escolhido ser “um guerreiro solitário do poema”, tal como se auto-retrata, em «Querida Lou». Escreveu estas cartas, em catadupa, cartas sobre cartas, a uma mulher que jamais vira. Mas a quem pede socorro, ao mesmo tempo que a previne dos riscos que correrá se, algum dia, se vier a encontrar com ele. Imagina o seu primeiro e derradeiro encontro com Magda. Nele revê toda a sua vida, a sua concepção de amor não vivido, num paradoxo, quase, infinito. São cartas-confissões, onde vemos nascer a indelével possibilidade de uma outra forma de amar, quiçá inaudível, quiçá inconcebível, quiçá inexplicável e incompreensível. Um amor que ultrapassa os limiares do humano. Um amor outro, que só o Poeta sabe sentir, nessa relação distante que é tudo e nada, em simultâneo.
Isabel
Rosete |
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[1] Rilke, «Apaixonadamente», p. 35 [2] Rilke, Idem, p.45 [3] Rilke, Idem, p.34 [4] Rilke, pp. 20 e 22. [5] «Todas as cartas de amor são / Ridículas. / Não seriam cartas de amor se não fossem / Ridículas. / Também escrevi em meu tempo cartas de amor, / Como as outras, / Ridículas. / As cartas de amor, se há amor, / Têm de ser / Ridículas. / Mas, afinal, / Só as criaturas que nunca escreveram / Cartas de amor / É que são / Ridículas. / Quem me dera no tempo em que escrevia / Sem dar por isso / Cartas de amor / Ridículas. / A verdade é que hoje / As minhas memórias / Dessas cartas de amor / É que são / Ridículas. / (Todas as palavras esdrúxulas, / Como os sentimentos esdrúxulos, / São naturalmente / Ridículas.)», Álvaro de Campos, 21-10-1935. [6] Rilke, p. 45 [7] Rilke, p. 46. [9] Rilke, p. 70. [10] Rilke, p 23 [11] Rilke, p. 21. [12] Rilke, p. 26 [13] Cf., Rilke, p.28 [14] Rilke, pp. 38-39. [15] Rilke, pp. 34-1/32 [16] Rilke, p.42. |
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