Álvaro José Seiça Neves, Poesia, 2001.

Laranja

Ahhhhh…

Laranja, laranja, laranja…
Larrranja, anja, anja…
Range, range, range…

Ó range que range, laranja que tange…
Tange que tinge, saliva laranja…
Range que tange, tinge a laranja!

Rrrrrrrrr…

Roxo de beterraba escorregadio e grotesco,
Racha de fresco saborear e sabor fresco…

Sumo maculado vital,
Rubro pecado de gula,
Enzima pronunciada, puro mineral,
Gosto natural que sobe e pula!

Ácido rumor de suor vitamínico,
Sei lá! Absorção de todos esses prefixos ingeridos!
Rebentam o leito, num ápice dinâmico,
Chocam com o corpo em aconchegantes latidos!

Vertigem absurda de gosto efémero,
Bruto do confim primitivo encolhido…
Mesmo muito antes de Homero,
Era já esférico contorno mantido.

Ó matinal dourada laranja, como te vejo!
Ouço que “à tarde é prata”…
E "à noite mata”!

Ó range que range, laranja que tange…
Tange que tinge, saliva laranja…
Range que tange, tinge a laranja!

Ahhhhh…

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