Álvaro José Seiça Neves, Poesia, 2001.

Pacientes mudos

Pressinto o leve toque do seu gemer!
Embalado num rasgo fusco de prisão,
É este o seu esmorecer,
O contínuo abalo que me toca o coração…

Frondosa forma… Ai! Anos em Ramos,
Gritos sem pasmo,
Fofa e delicada nuvem verde para onde nos tentamos,
Ocos sentidos de entusiasmo.

Destruição constante,
Percorre e corre seiva gelada de Inverno;
(Pensamento humano iriado distante),
Vês o teu fim no Averno…

Maquinismo envolto de mistério,
Rápidos os motores da civilização.
Preocupa-me esse andamento sério,
Acusma em leque de escuridão…

Um eco de erosão indagou-me…
Apelava à imediata destruição!
Propunha a total devastação…

Este escutar da natureza assustou-me…
Encontrei-o à beira dum riacho!
Vens? Não, deixo passar o tempo, é o que acho…

Mas este ser ancestral,
Com histórias e horas de folia,
Caminha… caminha e torna o todo jovial,
Neste perpétuo reinado de rara alegria!

És cúmplice do vento vibrador,
Viajam por aí os teus ramos…
Árvore, paciente mudo, espectador,
Diz-me, ser, para onde vamos?


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