Álvaro José Seiça Neves, Poesia, 2001.

Belo fim de tarde

Tufos de imagens pairantes,
Despidas de espaço;
Espectros descampados levitantes,
Recortes humanos dando o laço.

O nocturno estampado
Contra o solene sol encarnado,
Lânguido fácies enluado,
Rosto de máscara descarnado.

A imagem de manteiga arrefece,
A luz condensa-se do derreter genuíno,
A serena invasão que me enlouquece
Dá lugar ao fim, o que imagino!

Contém-te, Sol meloso!
Contornos esbatidos,
Engolidos por esse bafo luminoso;
Sombras imberbes sem maridos…

O trémulo inundar exprime
Semblantes de tom arejado,
Mergulhados num horizonte sublime,
Embebidos num jorrar alaranjado.

Passos loucos que me assaltam,
Simulam firmes que me evitam
Parem a vossa… 
                                 Perseguição!

Largo as rédeas à sociedade
E acabo… Solta-te, Verdade!
Finda o ínfimo largo laço da… 
                       Comunhão!

Vá! Irra! Esconde-te atrás das marés!
Lidera o próximo! Parte!
Pois, por hoje, já não és!


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