Nota Prévia
O presente trabalho foi realizado no âmbito da Área de Projecto, durante o
ano lectivo de 2008/2009, pelas alunas do 12º K, com a supervisão da Prof.ª
Maria Alice Pinho Silva:
Ana Alves (nº 1)
Mónica Lima (nº 7)
Renata Cambra (nº 8)
Aveiro, Escola Secundária José Estêvão
Introdução ao tema
“O mito é o nada que é tudo”
(Fernando Pessoa, in “Mensagem”)
Acredita-se que a Mitologia Greco-Romana encerra em si as ideias e costumes
do ser humano antigo, pelo que, seguindo esta linha de pensamento, nos é
possível reconstruir o caminho da Humanidade, desde a sua relação primordial
e intrínseca com a Natureza até ao seu estado mais civilizado e afastado de
tudo o que é natural, ao estudarmos desveladamente os mitos que nos foram
legados.
De facto, o mito não é visto como história verídica, mas contém a sua
verdade, uma mensagem própria que se serve de um enredo simultaneamente real
e imaginário, tanto podendo ser uma tentativa de explicação de um qualquer
fenómeno, como uma ilustração de certa verdade moral que deva ser incutida
na sociedade, ou muito simplesmente uma história fantástica contada à volta
de uma fogueira numa noite fria. Assim, a mitologia adquiriu um papel de
grande relevância para as sociedades grega e romana, uma vez que, através
dela, comportamentos e crenças foram moldados e cimentados. Era,
conjuntamente, uma forma de Ciência primitiva e Literatura dos primeiros
tempos, que ia muito além do sentido religioso, dissociando-se dele, ainda
que apresentasse figuras divinas, com o afirmado fim de abranger e explicar
tudo o que existia e acontecia.
Na verdade, a função atribuída aos mitos greco-romanos conferiu-lhes um
carácter versátil, diverso, rico e profundo, dado o número de histórias,
normalmente interligadas, que se foi acumulando com o passar do tempo. A
mitologia serviu as mais diversas situações: abordou questões filosóficas;
apresentou-se como uma leve distorção de factos históricos; constituiu
alegorias de fenómenos naturais; ilustrou verdades morais; explicou costumes
da sociedade; expressou rituais religiosos e estruturas sociais; foi mero
entretenimento. É preciso lembrar que, muito antes de serem escritos, os
mitos eram transmitidos oralmente de geração em geração, apresentando assim
uma componente lúdica bastante forte. Efectivamente, eles fascinavam todos
os que os ouviam com os seus relatos de façanhas de heróis humanos e
divertiam quando punham a nu os comportamentos indignos dos deuses.
É, realmente, uma das características desta mitologia, a humanização das
entidades divinas, o que foi algo de inovador, uma vez que anteriormente
todas as sociedades apresentavam deuses completamente diferentes de tudo o
que existisse na Terra, com um aspecto aterrador, como a esfinge egípcia ou
os deuses animalescos da Mesopotâmia. No entanto, os gregos, na sua procura
pelo que é belo, atribuíram aos seus deuses a beleza no estado mais puro.
Não há deus ou deusa que não tenha um corpo esbelto e proporcional, ainda
que possa ter o pior dos génios e seja capaz da maior das maldades. Com
isto, o Olimpo, morada dos deuses, tornou-se facilmente, para os mortais, um
local fácil de imaginar, familiar como as suas próprias casas. Os seres
divinos, tão humanos, faziam as delícias do povo com atitudes como as de
Zeus, ou Júpiter para os romanos, que se apaixonava constantemente e fazia
tudo o que estava ao seu alcance para ludibriar a esposa Hera, ou Juno, que,
por sua vez, tentava castigar as rivais enquanto tinha violentas crises de
ciúmes. Assim, os deuses eram reconhecidamente mais poderosos que os
humanos, eram respeitados, mas, ao mesmo tempo, eram muito mais acessíveis
do que as divindades pré-gregas. Outro aspecto que contribuía para a sua
amenização era o de os mortais e semi-mortais, ainda que inferiores,
conseguirem superar as adversidades causadas por seres divinos, como foi o
caso de Héracles, ou Hércules, que, condenado por Hera, teve de lutar contra
um vasto número de monstros, por ser fruto de uma traição de Zeus. O que
conferia verosimilhança a todas personagens míticas, incluindo Héracles,
eram os pequenos detalhes que se encontravam nas suas histórias, como o
local de nascimento, que poderia ser uma qualquer cidade grega ou romana, ou
o sítio onde habitualmente repousavam.
Verdadeiro “tratado” da psicologia humana, hoje em dia, a Mitologia
Greco-Romana continua a ser uma fonte de informação, cultura, divertimento e
curiosidade para quem a lê ou ouve, mas o mesmo já acontecia na época dos
clássicos. A única e derradeira diferença reside no facto de este conjunto
de histórias ter sido, no seu início, aceite como verdadeiro e verosímil e
ser agora encarado como irreal e pouco plausível.
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