Sou
aluna finalista do curso de Direito da Universidade Nova de Lisboa, tenho
22 anos. Fui aluna da Escola Secundária de José Estêvão do 7º ao 12º ano,
optei pelo agrupamento de Humanidades.
Estou
a quatro meses de finalizar o meu percurso académico. Trata-se daquela meta que
durante toda a minha vida me habituei a ver como longínqua e cuja real
proximidade me vai agora dando calafrios e apertos de estômago frequentes. A
minha próxima etapa será o estágio numa sociedade de advogados em Lisboa.
Esperam-me dez horas diárias, sentada à secretária, sem campainha a chamar
para o recreio. Posso considerar que tenho sorte, porque me vão pagar já no
estágio, o que não é ainda a regra actual.
Nestes
meus quase 17 anos dedicados a aprender, a maior fatia foi passada no chamado
“liceu do meio”. Hoje, olhando para trás, acho que devo ao meu liceu um
certo gosto pela exigência, que considero uma característica positiva e cada
vez mais a precisar de ser cultivada, nas escolas e no país. Uma escola
exigente é uma escola boa. Pode não facilitar o ingresso no ensino superior,
mas facilita, e muito, a saída dele com sucesso para o mercado de trabalho.
A
Escola José Estêvão cultivou em mim
o hábito de participar activamente na vida da escola. No liceu, pude fazer
teatro, trabalhos artesanais, participar em jornais de parede, jornais cibernéticos,
revelar fotografias, declamar poemas, participar em debates e conferências,
participar num Conselho Disciplinar, no Conselho Pedagógico e num sem número
de actividades, nas quais considero ter aprendido tanto ou mais do que nas
disciplinas curriculares.
Recordo-me
de quando, num conselho pedagógico, uma professora minha me perguntou, em voz
baixa, a minha opinião sobre determinado assunto que estava a ser discutido.
Respondi-lhe e de seguida, para meu aflito espanto, a professora anunciou às
dezenas de professores presentes que eu tinha algo a dizer. Disse. A minha
nervosa intervenção obteve aprovação e constou da acta .
Hoje,
já menos nervosa, faço parte do Conselho Pedagógico da minha Faculdade e, por
vezes, não sinto a minha opinião ser tida tão em conta como aconteceu no
Conselho Pedagógico do liceu.
Na
minha Faculdade, também já fiz parte da Associação de Estudantes, colaboro
com a Revista da Faculdade e pertenço à Assembleia de Representantes da
Universidade. Uma colega minha, também ex-aluna da Escola José Estêvão, é
igualmente participativa, já foi até presidente da Associação de Estudantes.
Há quem já nos chame, por graça, de “lobby “aveirense.
Não
seremos um “lobby”, mas se calhar temos uma certa maneira de ser que
aprendemos na Escola José Estêvão. Encaramos como natural que a nossa tenra
opinião seja ouvida pelos professores e nos órgãos da escola, temos o hábito
de que a escola não se resuma às aulas e consideramos que a exigência, longe
de ser uma ameaça, constitui um desafio.
Obrigada
por tudo, Escola Secundária de José Estêvão.
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