Depois
de ter frequentado, no 9º ano de escolaridade, a Área de Saúde, cheguei à
conclusão de que a minha verdadeira vocação não era para a área das Ciências
mas das Humanidades. Deste modo, decidi, no ano seguinte (1988/89),
matricular-me no Curso de Humanidades. Poderia tê-lo feito na escola em que
concluí o 3º Ciclo do Ensino Básico, isto é, na Escola Secundária Homem
Cristo. No entanto, dado que a disciplina de Grego não fazia parte do leque de
disciplinas oferecidas por essa escola, assim que soube que a Secundária José
Estêvão proporcionava a aprendizagem dessa língua aos seus alunos de
Humanidades, não hesitei em inscrever-me. E em boa hora o fiz! De facto, não
querendo de forma alguma diminuir o mérito dos professores e colegas que me
acompanharam na Secundária Homem Cristo, dos quais guardo, aliás, gratas
recordações, não posso deixar de dizer que os três anos durante os quais
frequentei a Escola José Estêvão foram decisivos para a minha formação
pessoal mas, acima de tudo, para o meu percurso profissional.
Nos
anos lectivos de 1988-1990, faziam parte do elenco de disciplinas do 10º e 11º
anos do Curso de Humanidades, entre outras, a História, a Filosofia, o Inglês,
a Literatura Portuguesa, o Grego e o Latim. As minhas preferências, todavia,
recaíram desde logo sobre as últimas três.
As
aulas de Literatura Portuguesa proporcionaram-me o aprofundamento do estudo do
funcionamento da língua materna e acenderam em mim a paixão que hoje sinto
pelos nossos autores. Motivaram-me não apenas para a leitura, mas, sobretudo,
para a escrita. Julgo, aliás, ter sido essa motivação que me levou a
concorrer, durante três anos consecutivos (entre 1990 e 1992), ao Prémio
Literário José Estêvão. Poder-se-á dizer que as aulas de Literatura
deram os seus frutos, já que acabei mesmo por ser contemplada com alguns prémios
e menções honrosas, nas modalidades de Prosa e Poesia. Penso que a minha
participação neste concurso ficou a dever-se quer ao incentivo constante por
parte da professora de Literatura, quer ao facto de, durante aquele período,
ter sido aluna da escola que, todos os anos, promovia, e continua a promover,
esta iniciativa.
Por
sua vez, o estudo do Grego e do Latim permitiu que me apercebesse da importância
da herança cultural que os Gregos e os Romanos nos deixaram: a nossa língua,
os nossos hábitos e costumes e até a forma de perspectivarmos a realidade que
nos rodeia.
O
gosto que sentia pelas aulas de Literatura Portuguesa, de Grego e de Latim levou
a que, no 12º ano, optasse pelo estudo exclusivo destas três disciplinas.
Sentia-me tão motivada que, além de ter continuado a concorrer ao Prémio
Literário José Estêvão, pelo facto de ter sido considerada, no ano
lectivo de 1990/91, a melhor aluna de Latim, fui distinguida, pela escola que
frequentava, com o Prémio José Pereira Tavares. Ao referir estas distinções,
sei que corro o risco de ser considerada uma pessoa imodesta. Julgo, no entanto,
ser minha obrigação dar testemunho do significado que incentivos desta
natureza podem ter para alunos do Curso de Humanidades. Mais escolas
incentivassem desta forma os seus alunos!
Enquanto
aluna do 12º ano da Escola Secundária José Estêvão, tive a oportunidade de
viver outra experiência que guardarei para sempre na minha memória.
Aconselhada pelos professores das três disciplinas, candidatei-me a participar
num concurso internacional destinado a alunos de Latim oriundos de quase toda a
Europa: o célebre Certamen Ciceronianum Arpinas. Juntamente com duas
colegas de outros pontos do país (Alcobaça e Torres Novas), tive a alegria de
ser seleccionada para representar Portugal nesse certame. Jamais esquecerei a
viagem que fiz até Itália, jamais esquecerei os amigos de vários pontos da
Europa que fiz! Estou certa de que esta oportunidade não me teria sido dada se,
desde que decidi enveredar por este curso, não tivesse sido incentivada a dar o
meu melhor enquanto aluna!
Em
1991, ingressei no curso de Licenciatura em Ensino de Português, Latim e
Grego. Dada a boa preparação obtida no Ensino Secundário, não senti
grandes dificuldades enquanto aluna do Ensino Superior. O facto de ter sido
aluna da Escola Secundária José Estêvão marcou de forma tão positiva o meu
percurso que, quando, em 1995, chegou a hora de escolher uma escola para a
realização da Prática Pedagógica, não hesitei em optar por essa instituição.
Poucos serão aqueles que conseguirão imaginar a alegria que senti ao
regressar, já na qualidade de professora-estagiária de Língua Portuguesa e de
Latim, às mesmas salas que, cerca de sete anos antes, me haviam acolhido como
aluna! Muito poucos serão aqueles que conseguirão perceber a emoção que vivi
ao reencontrar como orientadora de Latim (e colega!) aquela que fora durante três
anos consecutivos a minha professora de Literatura Portuguesa! Poucos conseguirão
imaginar a agradável sensação de trabalhar, como eu, lado a lado, com ex-‑professores,
quando trabalhei com os meus antigos mestres de Grego e de Latim!
A
conclusão da Profissionalização coincidiu com a conclusão da minha
Licenciatura. A aptidão para dar aulas de Língua Portuguesa aos alunos do 3º
Ciclo do Ensino Básico, e de Português, de Latim e de Grego aos alunos do
Ensino Secundário, marcou uma nova etapa da minha vida. Entre 1996 e 1999,
exerci a actividade docente em escolas das localidades de Vagos, Oliveira de
Azeméis e Águeda. São muito gratas as recordações que guardo desse período,
sobretudo de alunos com quem ainda hoje mantenho contacto. Entretanto, mais
concretamente em 1997, porque sempre gostei de estudar, matriculei-me no Curso
de Mestrado em Literaturas Clássicas, ministrado na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra. Concluído o ano curricular em 1998, surgiu a
oportunidade de me candidatar a uma bolsa de doutoramento em Literatura Latina,
e, desse modo, regressar, como aluna, à Universidade de Aveiro. Aí permaneci,
com o estatuto de bolseira do Ministério da Ciência e da Tecnologia, ao abrigo
do Programa PRAXIS XXI, durante cerca de dois anos e meio. Esse trabalho de
investigação tinha de ser feito em regime de exclusividade, pelo que estive
afastada durante esse período da actividade docente. Devo dizer que foram
muitas as saudades que então senti do ensino, do contacto com os alunos e com
os colegas. Em 2001, pouco tempo antes de terminar a minha actividade como
bolseira e de regressar ao ensino secundário, surgiu o convite para leccionar
as disciplinas de Língua Grega I e II, no Departamento de Línguas e Culturas
da Universidade de Aveiro, aos alunos do 1º ano da Licenciatura em Ensino de
Português, Latim e Grego. Ansiosa por regressar ao ensino, e porque me era
oferecida a oportunidade de desenvolver, na mesma instituição, e em simultâneo,
a actividade docente e o projecto de investigação que entretanto abraçara, não
hesitei em aceitar a proposta, sendo, pois, na Universidade de Aveiro que hoje
se centra a minha actividade profissional.
Se,
há cerca de quinze anos atrás, não me tivesse matriculado como aluna do Curso
de Humanidades na Escola Secundária José Estêvão, talvez hoje não me
sentisse tão válida e tão realizada profissionalmente!
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