Isto de Brasões...
...ou como uma justa promoção desencadeou uma tempestade de invejas!

 

Ena, pá! O que para aí vai por causa do meu brasão de Conde de Mataduços!

De Lisboa escreve-me o Amigo José Marques Aleixo uma carta, endereçada a D. Bártholo, em que lamenta o facto de não lhe terem posto um acento circunflexo no Marques, pois, se tal tivesse acontecido, poderia usar o título de D. Aleixo, o Marquês de Sarrazola! E afirma, com vaidade, que Marquês é superior a Conde! (Este também queria ser meu chefe!...)  

O próprio director de “O Nosso Jornal”, lá por ser Reis, acusa-me de ter usado no meu brasão a coroa de Rei, muito mais pomposa que a de Conde. E, a propósito, deixa escapar uma ameaça: estive mesmo para não publicar o desenho do seu brasão! Um Rei é superior a um Conde!

Calei-me — que o argumento era forte.

Já o maior desaforo vem de Vítor Lourenço Marques, O MAPUTO, meu vizinho na aldeia turística da Cova do Macho, ali no Fontão. Este indivíduo, minado pela mais acidulada inveja, está a gravar um brasão com todo o requinte artístico.

E como não é Conde — porque é Lourenço — vai de usurpar o título de Duque através da inscrição, no escudo heráldico, de dois duques, o de paus e o de copas,— na mistificação mais descarada que se pode conceber. E por que as ambições aristocráticas deste meu vizinho não têm limites nem decoro, na impossibilidade de usar a coroa ducal, encima o brasão com a figura portentosa de um cavalo de raça!

É um abuso inadmissível, pois a ter de usar uma alimária como símbolo da sua casa ducal, só poderia ser um jerico ou quando muito um macho de carga, que é o transporte mais utilizado pelos moleiros do povoado onde tem um casebre.

Trata-se dum jerical atrevimento!

Do meu venerando Amigo Dr. Orlando de Oliveira recebi uma carta, mas, como é seu timbre, apenas tece duas críticas, das que se podem chamar judiciosas e construtivas: a primeira, refere-se ao facto de no brasão não constar o corte do meu fato à S. João de Loure! A isso contraponho o seguinte: iria fazer propaganda à alfaiataria do Zé Maria, o que não é permitido sem se pagar o respectivo imposto. E quanto a impostos, Sr. Dr. Orlando, já chegam os que temos; a segunda crítica é por causa do nome de Bártholo que este meu ilustre Amigo diz ser uma vaidade da minha parte por trazer à lembrança a figura de D. Bártholo, barbeiro de Sevilha, que disputa ao Conde de Almaviva a posse dos dotes amorosos da sua dama Rosina!

Contesto. Contesto veementemente! Alguma vez me passou pela ideia, agora na frouxidão dos 65 anos, bater-me à Rosina?!

O que eu pretendi foi apenas normalizar uma situação de facto numa situação de direito — tendo em vista que, sendo Conde a sério, posso aspirar a tacho pomposo num futuro e eventual governo monárquico.

E estamos à porta de eleições!... 

Solar de Mataduços 25.02.85    

        

Conde de Mataduços y Fontão   

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