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Lá diz o povo: a quem quer festa,
— sua-lhe a testa! Pedi a um dos “brasonados” —
O Vice-Rei D. Almeyda da Câmara y Ruas — para prefaciar esta
“brincadeira”; que não, que não, que estava em boa mão... Aqui estou, portanto, perfilado e
em continência, para cumprir, mais uma vez e sempre, ordens superiores! Velho agora, de 80 anos já feitos [1], deu-me para rever o meu passado: as coisas boas
que fiz (e, com estas, as coisas más que também fiz), em postura de
serena auto-reflexão, sem penitências, já que neste comboio-rápido
inter-eternidades, a viagem é curta no tempo e no espaço e só dá para
cumprir actos de contrição: — o que está feito pertence à história,
— e pronto! Numa longa noite desta linda
primavera, pus-me a folhear “O NOSSO JORNAL” [2], a prenda mais bela das abrilinas reivindicações dos trabalhadores da
Celulose de Cacia; e ao reler, naquele nosso mensário, assuntos tão válidos
para a nossa cultura e tão bem tratados por gente que vestia “borla e
capelo” e até por gente de fato-de-ganga, dei com uma brincalhona e
humorística polémica baseada num heráldico silogismo desse ilustre e
saudoso Reitor do Liceu de Aveiro, o Dr. Orlando de Oliveira! E de tal sorte a orlandina
“brincadeira” pegou, que outros — Eng. Vítor Lourenço Marques, Dr.
João de Almeida, Eng. Carlos Valente, Carlos Alberto Reis Dias, Ezequiel
Arteiro, Jeremias Bandarra e Moraes Sarmento... — entraram nesta
contradança de sadio humorismo, glosando o tema “brasões e
brasonados”, a que “O NOSSO JORNAL” deu total cobertura nas suas páginas. Aquele “nosso” mensário,
embora fundado com objectivos de carácter laboral, sempre dedicou a maior
parte do seu espaço à CULTURA DO TRABALHADOR, trazendo à estampa os
mais variados temas: etnografia regional, ecologia, técnicas do fabrico
da pasta e do papel, poluição, problemas florestais, poesia, teatro...
etc. Era uma jornal aberto, sem “coleiras” e sem “cadeados “, onde
qualquer operário poderia expor as suas ideias, liberdade que terá
permitido o aparecimento de alguns valores até então desconhecidos. E de tal forma “O NOSSO JORNAL”
soube cumprir a sua missão cultural, que dele foram compilados textos que
enformaram a publicação de uma boa dezena de livros, uns editados pela Câmara
Municipal de Aveiro, outros pela Junta de Freguesia de Cacia, e outros
ainda pela própria empresa — a Celulose de Cacia. O livrito que começastes a ler —
ISTO DE BRASÕES !... — foi também compilado do mesmo
“nosso” jornal. Que este trabalho alimente e
reforce a velha amizade dos seus autores, e que sirva para gáudio de
todos quantos o lerem. 4 de Maio de 2000
[1] - “Recordas-te quando eras novo e saudável? De quando o sangue te era gostoso a girar e ferver e cachoar, no caminhar, no cavalgar montes, florestas, rios, ventos e neves, no tocar teu alaúde, teu clavicórdio, no comer e no beber, no estrebuchar o desmaio deleitoso de sementar uma mulher?...” in: FERNANDO CAMPOS, A Sala das Perguntas, pág. 313. [2] -
O
nosso jornal teve, ao longo da sua existência, os seguintes directores: |
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