c) –
Resposta do Dr. António Christo.
Senhor
Presidente:
Sinto que
não poderei corresponder, como tanto desejava e importava, à grandeza do
acontecimento que celebramos e
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nos proporcionou o gratíssimo ensejo de ouvir tão encarecidas palavras
de saudação, de simpatia e de aplauso.
Mas
espero me valham alguma indulgência a presteza com que obedeci a quem me
solicitou e a sinceridade com que, em nome dos antigos alunos do Liceu
de Aveiro, tão singularmente honrados com este carinhoso acolhimento,
testemunho a V. Ex.ª a nossa mais extremada gratidão pela sua bondade e
pela sua gentileza.
Porque o
destino o trouxe do magistério das aulas para o da administração pública
e pela mesma voz falaram o actual representante do concelho e o antigo
professor, confessou V. Ex.ª duplicada alegria e redobrada emoção em nos
receber e cumprimentar nesta casa.
Não me
cansarei de festejar esta providencial coincidência. A razão do meu
contentamento está em que, sendo V. Ex.ª modelo vivo de educador,
acabado compêndio das virtudes de tantos outros que triunfantemente
enobreceram o Liceu de Aveiro e enlevada mente evocamos - aqui mesmo
podemos acrescentar ao agradecimento pela afabilidade da recepção o
louvor dos mestres que nos ensinaram algumas verdades e algumas
certezas, reafirmando-lhes a nossa simpatia, o nosso respeito, a nossa
veneração, a muitos deles a nossa profunda e indelével amizade.
Sem
dúvida, a nossa peregrinação é um reverdecer de afectos, pelo regresso
ao convívio das pessoas e das coisas que nos bancos das aulas se nos
apegaram à alma e ai criaram raízes cuja seiva alimenta para além de
todas as adolescências e decrepitudes, elos que prendem para além de
todas as dispersões ou desencontros...
É romagem
de saudade – e a saudade ajunta ao nosso amor todas as delicadezas da
nostalgia que nos sublima a ternura, obrigando-a, irresistivelmente, a
transbordar e a brilhar numa lágrima...
Fujo
deste caminho, porque não saberia traduzir em palavras a unção piedosa
de tão intensos e aprimorados sentimentos.
Mas é
certo que a luzida procissão dos devotos a caminho do santuário
transcende estes esmeros da sensibilidade: pretende ser, principalmente,
a afirmação de uma fé arreigada e esclareci da, a confissão pública de
um amor sadio e fervoroso, o belo canto suavíssimo de uma gratidão
imperecível.
Fé na
ambicionada renovação da nossa mentalidade pela cultura moral e
intelectual; amor pelo sacrário onde piedosamente se guarda e
devotadamente se transmite às gerações o
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depósito sagrado da doutrina; gratidão pelos que rasgada e amorosamente
conceberam e ergueram o templo magnífico e pelos sacerdotes que, tantas
vezes sacrificadamente, nele têm pontificado.
Posso
assegurar a V. Ex.ª que nenhum dos romeiros esquece que no Liceu da
nossa querida terra – cada vez (mais formosa e linda» – lhe ensinaram os
princípios fundamentais de todo o método científico: que foi no Liceu de
Aveiro que todos nós começámos a aprender a dissipar névoas e a ver
claro, a saber orientar-nos por firmes critérios de objectividade, a
sobrepor as certezas às opiniões, a distinguir as realidades das
fantasias, a respeitar e a amar a verdade.
E porque
são essencialmente morais os preceitos que regem toda a cultura
científica, foi ainda ali que, no exemplo formosíssimo de tantos mestres
e no aturado e probo labor do estudo, começaram a desenvolver-se e a
robustecer-se as qualidades de carácter dos que souberam impor-se e
triunfar na vida.
Todos nós
compreendemos a grande honra e sentimos a felicidade invejável de
havermos pertencido e pertencermos ainda, pelas afinidades da
inteligência e do coração, à família de um instituto que em cem anos de
actividade educativa orgulhosamente conta um século de incalculáveis
benemerências.
Romagem
de saudade, de fé, de amor e de gratidão – tudo afinal se consubstancia
e traduz no reconhecimento de quanto Vale e do muito que devemos ao
Liceu que nos instruiu e educou.
Razão de
sobra teve V. Ex.ª para as equilibradas palavras com que se associou a
este acontecimento de tamanho relevo e para as justas felicitações
dirigidas ao ilustre Reitor que 'promoveu as festas comemorativas do
glorioso centenário.
Eu só
lastimo não ter cuidado de aprender mais para saber traduzir melhor o
que nesta hora encantadora de rara beleza espiritual pensam e sentem os
antigos alunos do Liceu de Aveiro aqui reunidos.
Ficaria,
entretanto, contente, se de tudo quanto disse pudesse compreender-se que
a nossa presença é um louvor e o nosso louvor um acto de justiça -
porque, sendo a justiça uma das mais fecundas virtudes, o louvor que
trazemos com a nossa presença há-de estimar-se como um acto
simultaneamente dignificante e útil.
E então
me quedaria por aqui, com os renovados agradecimentos por esta fidalga e
amorável recepção e os melhores votos pelas prosperidades da Câmara e
pelas felicidades pessoais de Vossa Excelência.
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