pequenos autores

Ausência

O sol invade-me o rosto,
a minha pele respira calor.
Ao fundo, como se dentro de um búzio,
as ondas embatem na areia.

Encontro-me estendida no areal,
embalada pela brisa suave,
que vai brincando com os meus cabelos.

Entreabro os olhos,
a claridade ofusca-me.
Rapidamente os fecho
e tapo a face.
Sento-me na toalha húmida.

Observo agora o horizonte,
interminável e eterno,
o guia do sonho.
Perco-me nos pensamentos,
entre memórias.
De repente, regresso a mim
e à minha consciência.
As ondas ainda embatem ao longe.

A brisa refresca agora o meu sufoco.
Apercebo-me da textura de cada grão.
Rio-me enquanto deslizo os pés,

agora, as mãos.

Este rir soa a mim,
a um outrora simples e seguro,
sem dor, sem a mínima inquietação.

Subitamente, o sorriso desvanece.
A areia vai deslizando por entre os meus dedos,
enquanto levanto o braço.
Repito este movimento
incessantemente,
mas esta sempre me escapa.

Sou assaltada pelo mesmo
pensamento vezes sem conta.

Se as ondas ainda embatem, já não as ouço.
Se o horizonte ainda permanece,
tornou-se numa linha turva.

A areia escapa-me como tu me escapaste.
Deixa-me só e sem vida.
Porquê?
Sinto que o mundo me repele.
Deixo as mãos cair, inanimadas.
Junto a elas o corpo.
Todo ele estremece,
suplicando paz,
estendido à beira-mar.
Contra mim,
contra o mundo,
sem ti…
Levanto-me.
Mergulho.
Vou com o horizonte.
Até já.

Bruna Santos (12.º C)

Preto e Branco

O Preto e o Branco,
opostos são.
O Preto ofuscado é,
pelo Branco.
Desvalorizado é.
O Branco é puro.
Porquê?
O Preto é sujo.
Porquê?
Porque opostos são?
Porque tem de haver comparação?
Por que é que Branco é felicidade
e Preto tristeza?

Por que é que não podem ter o
mesmo nível de beleza?
Para vós Preto poderá ser Branco


E Branco poderá ser Preto.
 

Porque não pode ser sobre
 

INTERPRETAÇÃO?
 

Por que é que ao Preto não dás

uma chance

e ao Branco dás em vão?

Jennifer Afonso (11.º F)

Estrela cadente

Encontrei uma pena branca
Num campo preto
E lembrei-me daquela estória:
Era uma vez um menino
Que vivia numa aldeia.
Corria atrás de um cão, seu amigo,
Rolava na neve,
Brincava na areia.
Os seus olhos eram a alegria da família
E o seu corpo a vida da terra.

Via as minhocas debaixo dela,
Os pássaros acima nas árvores
E sua melodia tão bela.
Queria ser luz para o mundo,
Queria ser médico,
Queria dar vida aos outros.

Um dia, o sol fugiu do vilarejo
E, numa hora, num segundo apenas,
Apareceu uma estrela cadente.
O menino pediu um desejo:
Poder viver sempre.
Não era uma estrela cadente…

Perdeu a sua luz o menino,
Não foi mais vida,
Nem criança foi, quanto mais vida!
Foi para o além divino,
Tornou-se anjo ou arcanjo,
Mas não médico, não homem.

 

 

 


Era uma vez…
Só uma?
Já foi mais do que uma vez.
Mil vezes caíram estrelas do céu,
Milhões de vezes nasceram
Novas estrelas no céu.
Porquê? Porquê?!
Só quero saber porquê!
Foi pulverizado,
Varrido como lixo
Ou formiga insignificante,
Só faltava ser carne para canhão.
Oremos por ele? Não,
Não oremos por estrelas.

Oremos por luzes no mundo.
Oremos pelos vivos,
Pois ainda se podem salvar.
Oremos por quem deve ainda brilhar.
Uma pena branca
Num campo preto.
Amanhã, pomba branca
Num campo cinzento.
Um dia, amor, segurança
E desarmamento.

Gabriel Leitão (12.º C)

 

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