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        O VALOR INDUSTRIAL 
        
        
        DO 
        
        
        DISTRITO DE AVEIRO 
         
         
        NÃO 
        receia desmentido a afirmação de ser o Distrito de Aveiro o mais 
        industrial do País. 
        
        Pelo seu factor geográfico? Pelo seu clima? 
        Pelo natural espírito de iniciativa das suas gentes? 
        
        Cremos ser a razão principal da forte 
        industrialização do Distrito, não o seu clima temperado, mas sim o 
        ambiente geográfico resultante das imensas correntes naturais de água e 
        a quase total protecção por serras que se erguem a leste do seu 
        território. 
        
        Há a acrescentar as facilidades propiciadas 
        à indústria por uma vasta rede de comunicações, quer rodoviária, quer 
        ferroviária, que cobre o vasto Distrito – em extensão, o segundo do 
        País. 
        
        São estes os três principais factores que 
        fazem convergir ao Distrito de Aveiro a criação de novas indústrias e o 
        desenvolvimento de outras. 
        
        Assim, de norte a sul e de leste a oeste, 
        percorrendo-se o Distrito de Aveiro, poucos são os concelhos a não 
        sentir os efeitos – benéficos e, paralelamente prejudiciais – do domínio 
        da máquina nos destinos da sua economia. 
        
        E dizemos, paralelamente benéficos e 
        prejudiciais porque, se na maioria dos casos, a indústria não é mais que 
        um passo para o progresso da região e das suas gentes, não pode 
        esquecer-se que ela provoca a ausência de braços no amanho da terra, 
        problema sempre importante em regiões como a de Aveiro, em que a 
        agricultura é fonte primária, diremos, indispensável, para uma das suas 
        maiores riquezas. E, deste modo, seria para desejar que em todos os 
        casos se verificasse o que vamos encontrar no primeiro centro industrial 
        da região, com características próprias e não importadas, estabelecido 
        num centro populacional de fracas características agrícolas – São João 
        da Madeira. 
        
        Sem grandes possibilidades agrícolas, o 
        sanjoanense, com o seu espírito laborioso e irrequieto, insatisfeito por 
        natureza, estabeleceu a compensação e surgiram as indústrias de 
        chapelaria e calçado a que conferem certo carácter local. 
        
        E, com o correr dos tempos, talvez por essa 
        mesma índole insatisfeita e irrequieta, registou-se tal desenvolvimento 
        que, hoje, São João da Madeira apresenta-se, em tempo e em extensão, 
        como o primeiro centro industrial de um Distrito que é também primeiro, 
        no panorama geral da indústria nacional. 
        
        Se as indústrias de feltros – chapelaria – e 
        calçado tiveram a sua origem em São João da Madeira, não é menos certo 
        que este concelho 
        / 29 / 
        – limitado à extensão da vila que lhe dá o nome – é hoje produtor de 
        toda uma gama de produtos que nos honra aquém e além fronteiras. 
        
        
         Aqui se instala a indústria metalomecânica 
        produtora de máquinas de costura e tubos galvanizados, a indústria de 
        colchoaria, aqui se produz cera industrial, camisaria, lápis, 
        esferográficas, se transforma a borracha na manufactura de artefactos, 
        se desenvolvem as indústrias de plásticos e cartonagem, e, muito em 
        breve será sede da indústria automóvel de Portugal, a par das 
        instalações congéneres a radicarem-se em Ovar, já que, tendo criado 
        novas indústrias para complemento das existentes, hoje possui as que são 
        o complemento para esta nova indústria. 
        
        Mas, não é São João da Madeira o exemplo 
        único desta industrialização. 
        
        Emparedando-a, rodeando-a, encontramos 
        Oliveira de Azeméis transformada num fulcro da indústria vidreira 
        nacional – a par da Marinha Grande – e onde a indústria de calçado 
        mantém uma das mais belas tradições; temos Vila da Feira, continuadora 
        das indústrias de calçado e cartonagem; encontramos Vale de Cambra, 
        principal centro nacional na indústria de lacticínios, etc. 
        
        Tudo isto tomando São João da Madeira como 
        centro e num raio de 15 quilómetros ao redor. 
        
        Assim sendo e com base nas indústrias nadas 
        e criadas na região, vamos encontrar ao norte, na entrada deste 
        esplendoroso distrito, as indústrias de fósforos, conservas e 
        tapeçarias, radicadas em Espinho; a tanoaria e cordoaria em Esmoriz e 
        Cortegaça; de papel, cordoaria e ferragens, em Paços de Brandão, S. Paio 
        de Oleiros, Riomeão, tudo nos concelhos de Espinho, Vila da Feira e 
        Ovar, este último com a industrialização e transformação do aço, 
        indústria de motores eléctricos, plásticos e cerâmica. 
        
        Rumamos a este e encontramos a indústria 
        mineira de Pejão e Castelo de Paiva, merecendo-nos especial atenção a 
        doçaria de Arouca, e, para sul, mas na orla este do distrito vamos 
        encontrar, no concelho de Sever do Vouga, as indústrias de massas 
        alimentícias e rações para gado, estabelecidas em Paradela. 
        
        Seguiremos, neste nosso roteiro industrial, 
        caminhando ao sul e para oeste, para encontrarmos Águeda, raiz e centro 
        da indústria metalomecânica de ciclismo, onde a cerâmica, as ferragens e 
        a lã, dão largo contributo para a valorização do concelho. 
        
        
          
        O magnífico aglomerado industrial das 
        Fábricas Metalúrgicas «ALBA», em Albergaria-a-Velha. 
        
        Para sul, planície de solo fértil, vamos 
        encontrar a Bairrada que, com os seus concelhos da Mealhada, Anadia e 
        Oliveira do Bairro, se industrializa na preparação dos seus afamados 
        espumantes, para além da cerâmica e da indústria de madeiras. 
        
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        Estas as indústrias próprias, de certo modo 
        regionais, mas se nos aproximarmos de Aveiro e de, Estarreja, a par das 
        mais tradicionais, vamos encontrar uma concentração de indústrias de 
        expressão perfeitamente nacional, ou mesmo internacional. 
        
        O distrito de Aveiro torna-se centro de 
        produção de celulose e amoníaco – a primeira em Cacia, a três 
        quilómetros da cidade, o segundo, e seus derivados, em Estarreja, 
        qualquer delas elementos fabris únicos no País. 
        
        
          
        
        Vamos prosseguir no roteiro industrial do 
        distrito com uma referência aos concelhos de Vagos e de 
        Albergaria-a-Velha onde, no primeiro, a cerâmica é fonte de riqueza, a 
        par da pesca, e no segundo, encontramos as fundições de ferro e alumínio 
        como principal facto, a par da indústria do papel, devidamente 
        acompanhada por uma fértil agricultura. 
        
        Merece-nos cuidado especial e uma referência 
        muito grata a indústria de fundição de Albergaria-a-Velha porque a ela 
        podemos aliar o desenvolvimento económico, social e assistencial do 
        concelho, com base na indústria mãe e no carácter do seu saudoso 
        fundador – Augusto Martins Pereira. 
        
        Esta referência justifica-se pelo aspecto 
        benéfico da indústria numa zona essencialmente agrícola – contrariamente 
        ao inicialmente apontado, porque dessa indústria irradiou um sem número 
        de actividades, no campo social que vieram beneficiar uma larga 
        percentagem da sua população. 
        
        Foi assim, Augusto Martins Pereira, um 
        verdadeiro precursor de certos movimentos mais tarde verificados na vida 
        portuguesa. 
        
        Surge-nos, agora, a rodear Aveiro, os 
        concelhos do litoral beirão – e apresentamos o concelho de Aveiro com o 
        lugar cimeiro na indústria do sal, a par da cerâmica e da pesca. 
        
        A densidade industrial da região de Aveiro, 
        representando embora uma actividade intensa, nem por isso prejudica o 
        seu interesse turístico. Pelo contrário, são inúmeras as expressões 
        industriais que podem atrair a atenção do turista e constituir pólo de 
        atracção, já pelo seu tipicismo, já pela excelência das instalações, a 
        dar interesse a uma visita que nunca se regateia porque, aquelas gentes 
        portuguesíssimas sentem sempre orgulho em franquear ao visitante a 
        materialização do seu esforço. 
        
        O próprio sal, elemento privilegiado na 
        economia local e nacional é, com as salinas e a sua geométrica 
        disposição, motivo de criação de uma paisagem única e tão de agrado de 
        nacionais e estrangeiros. 
        
        Basta percorrer a estrada que liga Aveiro à 
        Costa Nova para, em dois concelhos – o de Aveiro e o de Ílhavo – 
        encontrar-se esse cenário próprio e inconfundível do amanho salineiro e 
        das alvas e cintilantes pirâmides de sal. 
        
        Surge-nos, em seguida, a cerâmica artística 
        que, nos concelhos de Aveiro, Águeda e Ílhavo tem o seu maior 
        desenvolvimento. 
        / 32 / 
        
        E, por último, sempre presente na bagagem de 
        quem parte, as tradicionais barricas de ovos moles, indústria aveirense, 
        o afamado pão de ló de Ovar e a doçaria de Arouca. 
        
        Assim, para além da paisagem, da irradiante 
        simpatia das suas gentes, mais um motivo surge para tornar Aveiro e o 
        seu distrito elemento de vastos recursos turísticos – a sua Indústria. 
        
        Mas, a par dessa indústria, não esqueçamos o 
        artesanato e, de Sever do Vouga, de Verdemilho, da Murtosa e da 
        Torreira, de tantas outras regiões do litoral beirão, referiremos as 
        tradicionais mantas de trapos, os barros domésticos, os sacos de rede e 
        as miniaturas dos característicos moliceiros, mercantéis e bateiras, 
        deliciosas esculturas de madeira, pequenas maravilhas, que ocupam o 
        tempo do velho pescador, saudoso do passado e que olha a amplidão do mar 
        para dele receber o poder criador que faz de si um artista. 
        
        
        A. FONSECA MARQUES 
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