O reitorado de Francisco Regala
Apesar das sucessivas reformas da 2.ª metade do século XIX,
particularmente a Reforma de 1860, que de algum modo reintroduz o ensino
científico, e obriga à contratação de mais docentes, o estado do ensino
liceal em Aveiro não é propriamente o melhor. O liceu, que num aveirismo
certamente excessivo, Marques Gomes considera ser «sem dúvida, n'este
genero, o primeiro de Portugal»(8) estava, com o «primeiro
pavimento occupado, desde 20 de junho de 1864 pelas repartições do
governo civil e fazenda»(9), o que prova a sua pouca
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importância. Só a Reforma de Jaime Moniz de 1894/95, que introduz o
regime de "classes" e prevê que o reitor possa ser um elemento exterior
ao liceu, vai começar a alterar este estado de coisas. Esta reforma
«representa um marco decisivo na evolução do ensino liceal. Ela
constitui a primeira tentativa de construção, segundo preceitos
científico-racionais, de um currículo global para o ensino liceal e,
simultaneamente, de uma organização e administração para este tipo de
estabelecimento de ensino.»(10) Foi assim nomeado reitor o
oficial da Armada, em inactividade temporária, Francisco Regala, que
havia de estar à frente dos destinos do Liceu de Aveiro até ao Outubro
de 1910 e deixar marcas que perduraram muito para além do seu tempo.
É durante o reitorado de Francisco Regala que se começam a publicar os
Anuários, como tinha ficado estabelecido no Regulamento de 14 de Agosto
de 1895. Competia ao reitor "organizar e publicar em cada ano um
relatório" sobre os mais diversos aspectos da vida de cada liceu (artigo
129 [competências do reitor], § 19).
É também durante o reitorado de Francisco Regala que se assiste a uma
autêntica explosão na frequência do liceu e que este não só tem de volta
o andar ocupado pela administração pública, como ainda começa a pugnar
pelo seu alargamento e melhoria de instalações. É ainda no reitorado de
Francisco Regala que, sinal dos tempos, as primeiras alunas começam a
frequentar o ensino público liceal em Aveiro.
Duas notas ainda sobre Francisco Regala. O seu interesse pelo ensino
prático que o leva a dinamizar visitas de estudo, que estavam previstas
numa circular da Direcção Geral da Instrução Pública, de 25 de Outubro
de 1896, a fábricas, jardim público, salinas, ria, farol, alto de
Travassô e bacias hidrográficas da região. Estas visitas surgem «com
programmas redigidos, de accordo, entre a reitoria e os professores, e
previamente explicados nas aulas, para servirem de guia aos alumnos, nas
observações e estudos a fazer.»(11) Notável, sem dúvida, a
modernidade da prática... A outra nota tem a ver com o seu interesse
pela ginástica. Era Francisco Regala um "fanático" da educação física, a
que não será estranha a sua formação militar. Na sessão solene de
abertura das aulas de 1908, afirma :"Acho ocioso gastar tempo em
demonstrar a necessidade da educação physica, para o rebustecimento da
nossa definhada raça, porque hoje ninguém a contesta, e está vulgarisada,
entre nós, pela imprensa periódica em persistentes campanhas.»(12)
Para criar condições para a prática desportiva, além de permitir um
melhoramento geral do liceu, vai Francisco Regala encetar um luta sem
tréguas para a aquisição de espaços para onde o liceu se possa alargar
(isto numa instituição que ainda, há pouco tempo, ocupava apenas uma
parte do edifício porque lhe fora destinada).
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(8)
– Marques Gomes, Memórias de Aveiro, Aveiro, 1875, p.127.
(9)
– Idem, p. 128.
(10)
– João Barroso, Os Liceus - Organização Pedagógica e Administrativa
(18601960), Lisboa, 1995, p. 170.
(11) – Anuário do Liceu de Aveiro (1906/07), Aveiro, 1908, p.9.
(12)
– Anuário do Liceu Nacional de Aveiro (1908/09), Aveiro, 1910, p.11.
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