Anabela Cunha
Estou na escola EB 2+3 de Cacia, mas a minha experiência
de gestão foi na então escola preparatória de Albergaria-a-Velha. Tomei
posse em 23 de Outubro de 1990 e estive na gestão até 15 de Julho de
1993.
Entrei para a gestão no meu terceiro ano de trabalho e
portanto vocês devem imaginar que eu era uma garota com vinte e cinco
anos, que não percebia muito bem a nível da gestão. E foi por convite do
presidente e do Vice-Presidente na altura, porque o secretário tinha
sido convidado para a profissionalização em serviço. Eles convidaram-me,
eu disse que não, que não, porque enfim, não tinha experiência, ainda
gostava muito dos meninos, vinha com aquela ilusão do estágio, de fazer
muitas coisas mas depois acabei por dizer que sim, porque acabava por
ser um desafio, uma coisa diferente, para ver se aprendia alguma coisa e
gostei bastante. Estive lá três anos. Saí porque entretanto efectivei em
Cacia e era substancialmente mais perto, porque morava em Aveiro e
gostei muito. As principais dificuldades que eu senti logo de início
tiveram que ver com a minha falta de experiência pois era o terceiro ano
que trabalhava. Tinha feito estágio, tinha estado um ano na Gafanha e
depois tinha ido para Albergaria; e além disso ressenti-me um pouco da
idade que eu tinha, porque os colegas mais velhos não aceitavam muito
bem que uma
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garota que tinha chegado ali de repente e que nem sequer já estava na
escola há muito tempo, porque eu estava na escola há meia dúzia de dias
tivesse que tomar decisões e isso dificultou-me um pouco a vida. E isso
porque havia que em termos de cumprimento de horários era um pouco
complicado, porque vivia do outro lado da escola e entendia que para ter
aulas às oito e trinta podia levantar-se às nove menos vinte e cinco. E
nós entramos um bocadinho em choque e isso foi chato, foi complicado
esse tipo de situações. A falta de formação na área também foi um
problema, pronto. Eu olhava para um "Diário da República" e aquilo era
complicado no início, mas lá fui aprendendo. E nisso presto homenagem
aos meus colegas da gestão, que foram muito dedicados. Eles já tinham
experiência de gestão, já estavam na gestão há mais de dois anos,
ajudaram-me em tudo e formámos uma equipa. Nunca houve ninguém que
tomasse decisões para seu lado, portanto o que estava decidido. Às vezes
estava mal decidido mas o que importava mesmo na altura era decidir e
depois, entre nós, acertávamos agulhas. Portanto, isso foi bastante bom.
Experiências negativas, para além daquela que falei com o colega, que
foi realmente uma situação muito constrangedora, tivemos uma vaga de
vandalismo na escola, já no meu segundo ano de mandato, em que dois
alunos da escola, veio-se a saber pela policia judiciária, destruíram
tudo quanto havia na escola, desde arquivos de secretaria até tudo
quanto era máquinas de cantina, bar, reprografia,. Destruíram-nos tudo.
Tivemos que equipar a escola de novo e perderam-se arquivos dos alunos,
o que foi irremediável. Só para terem uma ideia.
Isto passou-se num fim-de-semana alargado de Junho,
naquela altura em que se juntou o fim de semana com o 10 de Junho e nós
chegámos à escola e tínhamos água pelo tornozelo, porque entretanto
tinham aberto as torneiras, tínhamos água pelo tornozelo, e tínhamos
marmelada colada ao texto e tínhamos peixes a nadar lá na água. Foi
muito complicado. Deu-nos muito trabalho, sobretudo porque tivemos a
Judiciária durante muito tempo, que não nos deixava propriamente muita
liberdade de acção, porque nos compartimentava espaços e não nos deixava
falar livremente sobre o assunto para não transpirar cá para fora.
Felizmente isso foi resolvido. Já foi resolvido depois de eu ter saído
de lá, o que me obrigou e ir lá mais algumas vezes mas, pronto, isso foi
resolvido. Outra das dificuldades que eu encontrei foi
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a nível do pessoal auxiliar. Deram-me a parte do pessoal. Em termos de
relações humanas foi bastante enriquecedor e foram experiências muito
engraçadas, porque eu tinha funcionárias que não sabiam ler nem escrever
e eu não sabia que era possível um funcionário público a trabalhar numa
escola não saber nem escrever. Eu tinha uma senhora que pura e
simplesmente era com o dedo e, além disso, em vez de colaborar connosco,
não, era extremamente desconfiada. E então quando lhe pedíamos para
assinar a classificação de serviço ou outra coisa qualquer, ela tinha
sempre de levar os documentos a uma pessoa da confiança dela para os ler
e só depois é que vinha ter connosco a dizer que sim ou que não. Essa
senhora criou outro tipo de problemas, porque a determinada altura
decidiu não gostar de mim e decidiu que fazia bem ir fazer uns certos
bruxedos do género de eu ter ido encontrar um altarzinho com velas e
umas rezas atrás de uma porta de uma casa de banho. Foi uma experiência
um bocado estranha. Mas pronto deu para, dá para recordar, e para ver
que as pessoas, em termos de relações humanas são incríveis e há desde o
muito bom até ao muito complicado, para não dizer mau. O balanço que eu
faço da experiência, tirando estes picositos, que às vezes criavam uma
certa angústia, foi uma balanço bastante positivo. Positivo ao ponto de
eu ter sido eleita na sexta-feira passada como membro da nova comissão
executiva da escola onde estou. E espero que agora, nos próximos três
anos, as coisas corram bem. Daqui a três anos eu digo-vos.
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