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        Lídia Maria Saraiva Correia  
        
        
        Agora estou na n.º 1. A experiência que tive foi um 
        primeiro mandato em 89/91 na Secundária de Anadia e o segundo mandato 
        foi de 93 a 96 na n.º 1 de Aveiro. Agora em termos de mandato, acho que 
        não têm nada a ver um com o outro. O contexto foi no início um 
        Pedagógico extremamente quente. Cinco caloiros de vinte e poucos anos 
        que decidem fazer uma lista e pronto. A caloira mais jovem, talvez 
        porque era a mais tapada não é? Decidiu ser presidente. Decidiu, não. 
        Decidiram por ela e aí temos cinco pessoas com idades compreendidas 
        entre os 23 e os 26 anos numa escola quente. Pronto, nós ganhámos numa 
        eleição quente também contra uma outra lista de velha guarda da escola e 
        eu na altura fiquei muito feliz por achar que era uma coisa muito boa, 
        não é? Se eu tivesse reflectido bem, achava que devia ter juízo, não é? 
        E então ficámos os cinco. Abdicámos das nossas férias, porque nenhum de 
        nós tinha experiência de gestão; então ficámos lá os cinco plantados na 
        Secundária de Anadia, assim com um calor como o de hoje a fazer 
        horários. Depois, na verdade, eu acho que estes dois anos que passei em 
        Anadia me ensinaram muita coisa e criaram em mim o vício da gestão, 
        porque eu acho que isto é um vício. Nós viciamo-nos nestas coisas não é? 
        
        
        Erradamente eu acho que comecei mal. Primeiro, eu era 
        demasiado jovem e uma pessoa com 24 anos não tem a racionalidade para 
        gerir as coisas como deve ser, nem a nossa casa, quanto mais a escola; e 
        nunca deveria ter começado como presidente. Pronto, acho que não, mas 
        ensinou-me muita coisa. Porquê? Primeiro, tinha uns serviços 
        administrativos e uma chefe dos serviços administrativos muito boa, que 
        nós sabemos em termos legais, por exemplo, aqui o meu colega Corga tem 
        formação para isso, mas uma pessoa com 24 anos que tirou uma 
        licenciatura em Português/Francês nunca tinha visto um "Diário da 
        República" a não ser para concorrer, não é? Então, ler o "Diário da 
        República" era uma hora interessante em que eu me juntava à Chefe dos 
        serviços administrativos e líamos profundamente. Isto foi uma 
        aprendizagem muito boa. Depois, a Associação de Pais era super 
        interveniente, seja para o bom, seja para o mau. Os Pedagógicos eram 
        interessantíssimos, porque a secundária de Anadia, a escola é na vila, 
        as pessoas conheciam-se demasiado 
        
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        bem. Um exemplo: recordo-me de um recurso do 12.º ano de um aluno em que 
        por ironia do destino eu tive de utilizar o meu voto de qualidade e a 
        nota é passada de 9 para 10. Entretanto vou de férias para S. Jacinto, 
        onde não tinha telefone para ninguém me aborrecer e por acaso fui 
        comprar o jornal, lá na variante, lá na marginal de S. Jacinto e vejo na 
        zona da Bairrada: Secundária de Anadia – Presidente do Conselho 
        Pedagógico reprova professora. Eu apanhei o maior susto da minha vida, 
        porque eu era a presidente do Conselho Pedagógico e não tinha reprovado 
        ninguém. Houve uma fuga de informação; o pai foi para o jornal, a colega 
        de matemática contactou a inspecção – foi uma confusão muito gira para 
        as férias. 
        
        
        Também a imprensa era super interveniente na escola. Ou a 
        pedido da associação de pais ou a pedido dos professores ou a pedido dos 
        alunos, havia sempre uns artiguitos sobre a escola secundária de Anadia. 
        Entretanto também tem faceta boa. Talvez pelo facto de não ter filhos na 
        altura dava-me ao luxo de às três horas da manhã de me ligarem o guarda 
        nocturno a dizer-me que havia água a descer pelas escadas abaixo como em 
        cascata. Há água a descer pelas escadas abaixo e às 3 horas da manhã ia 
        para lá, tiravam-se umas fotografias; e no dia seguinte aparecia tudo no 
        jornal com umas declarações bombásticas da presidente; nem disse nada 
        daquilo, mas pronto, ficava sempre muito bem. A Direcção Regional 
        telefonava logo a seguir e era interessante. Não há dúvida que me deu um
        background. A disponibilidade na altura era muita; eu vivia para 
        a escola. Eu penso que o maior problema foi a alteração do sistema 
        remuneratório dos funcionários públicos, a mudança das fases para os 
        índices, depois ninguém se entendia, o problema do vencimento dos 
        estagiários. Sem dúvida que foi gratificante pela relação com a própria 
        câmara, a câmara era muito interveniente, a câmara de uma vila é 
        diferente nas relações humanas, é engraçado eu acho que é óptimo com 
        essa ideia agora depois da experiência da n.º 1. É muito fácil fazer 
        inimigos quando se está no Directivo. É uma coisa facílima. Uma pessoa 
        arranjar uns inimigos que ainda agora quando uma pessoa entra na casas 
        de banho, saem. Mas também é muito fácil fazer amigos. Eu comentava aqui 
        com o Carlos Dias, há bocado, que nós ficamos a conhecer bem as pessoas, 
        os colegas, os alunos. Entretanto termino o mandato em Anadia e é 
        engraçado eu só me recordo que terminei o mandato e vim 
        
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        para Aveiro de uma imensa angústia como quem deixou de ter alguma coisa 
        para fazer, vim completamente perdida para dar aulas; entretanto 
        arranjei qualquer coisa para fazer, tive um filho e descansei um ano. 
        Entretanto estive um ano parada. O Carlos Dias estava cansado, queria 
        sair, descansar um pouco, chamou-me ao Directivo assim como a outras 
        pessoas (posso dizer não é Carlos?) e perguntou se eu estava interessada 
        em continuar, eu disse que não na altura, mas juro-vos estava 
        completamente dividida entre a criança de um ano que eu tinha nas mãos e 
        a gestão da escola, é que eu acho que é um vício, muita carolice e 
        vício. Entretanto fomos a uma votação nominal, na reunião geral de 
        professores, uma assembleia e, claro, voltei às lides: fiz uma equipa de 
        cinco elementos. Acho que isto de fazer equipa também foi interessante, 
        tanto da primeira como da segunda. Eu acho que fundamental no sistema é 
        trabalhar bem em equipa, que a equipa em si é a base de tudo, não é? Nós 
        conhecemos Conselhos directivos que rebentaram, deram errado, não é? Às 
        vezes, as pessoas não se conheciam. Na altura, trabalhei com pessoas que 
        não conhecia e tive sorte também com isso. Aqui na n.º 1 tive um ano em 
        que fui nomeada e depois apresentei lista exactamente a mesma. Eu acho 
        que há aqui pessoas da n.º 1 que conhecem melhor a escola que eu. Que 
        posso eu dizer? Para o final do mandato, que foi há três anos, em 
        1995/96, estava completamente desgastada, o que não é uma característica 
        minha, eu não me desgasto facilmente, porque cumulativamente tivemos 
        aquela fantochada dos exames do 12.º. Vocês desculpem-me a palavra, mas 
        foi uma fantochada com aqueles erros constantes, alteravam-se coisas, 
        aquela primeira experiência dos exames do 12.º ano e cumulativamente uma 
        inspecção financeira também muito interessante. Pronto isso na parte 
        final de mandato não me deixou a saudade que me deixou quando saí de 
        Anadia. De qualquer maneira, passados uns tempos, recordo-me que fui a 
        uma acção de formação de estudos portugueses, aqui na Universidade de 
        Aveiro, e juro-vos que estava completamente perdida, sentada a assistir 
        ao seminário, porque achava que não estava no sítio certo, percebem? 
        Pronto, estava completamente desenraizada. Eu acho que era só isto que 
        eu queria dizer em termos de trabalho, não me recordo de mais nada. 
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