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Maria Dulce de Oliveira Pato
A maior parte dos presentes conhece-me, aliás, já foi
referido até por uma antiga aluna que eu não tinha identificado, é
sempre mais fácil o aluno identificar o professor do que o professor
passado uns anos conseguir identificar...
Curiosamente, portanto, os colegas acabam de falar da
Escola Secundária mais recente de Aveiro e eu e a Maria do Rosário
temos, de facto, algum testemunho a dar, como muitos dos presentes que
aqui estão que trabalharam também na Homem Cristo, que foi exactamente a
primeira Escola Secundária criada no papel e, portanto, se calhar vale a
pena começar por aí.
A Escola Secundária de Aveiro, a primeira em 1975, foi
criada em "Diário da República", apenas com um grupo de professores, e
estão aqui alguns dos primeiros, portanto, não é só a Maria do Rosário e
eu, penso que o Nelson Mota foi também dos primeiros professores
nomeados, logo a seguir penso que o Remédios, o Arsélio, a Rosa
inclusive, portanto, passaram também pela Homem Cristo, menos anos do
que eu, aliás a Maria do Rosário ainda consegue ultrapassar-me, uma vez
que eu agora já não estou na Homem Cristo, mas estou em Coimbra, e é de
facto uma situação particular, por isso mesmo, penso que totalmente
diferente de qualquer das outras realidades, porque eu fui tendo
oportunidade de ouvir alguns relatos, exactamente dada a situação
temporal, 1975/76, e, como eu referi também, foi nomeado apenas um
quadro de professores e, de facto, a Escola não tinha edifício,
portanto, não tinha sítio, não tinha alunos, não tinha pessoal nem
administrativo, muito menos auxiliar, foi, de facto, esse grupo de
professores que inicialmente foi nomeado, que era mais ou menos aqui da
zona, e se foi conhecendo, foi contactando e preocupado, naturalmente,
porque estava nomeado para uma Escola, Escola essa que não existia, como
eu acabei de referir, fomo-nos reunindo, fomo-nos encontrando
informalmente, é evidente, e a determinada altura resolvemos ir a
Lisboa, e daí a situação começou, digamos assim, a avançar um pouco
mais, muito devagar, e é evidente que só a vontade de trabalhar, fazer
nascer a Escola, havia que arranjar sítio, daí desde contactar o Quartel
que estava na altura desocupado, casas em construção, enfim, todas as
hipóteses que nos pareciam, a nós, possíveis e, portanto levando já
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essa informação para Lisboa, portanto, o recado que trouxemos de lá foi
esse, e, portanto, havia de facto que partir desse princípio. Voltamos a
Lisboa.
Edifício existia – antiga secção do Liceu, embora,
evidentemente, com as condições que nós sabemos que não eram as ideais,
mas pronto eram as que estavam disponíveis; havia, enfim, que arranjar
alunos. E aí começaram os primeiros contactos com o então Liceu Nacional
que também, por sua vez, seria o Liceu que ficaria a dar algum apoio
administrativo. Os Serviços Administrativos seriam os do Liceu e podia
contar-se apenas com esse apoio dado à distância, que era pouco, porque
o Liceu continuava a funcionar com os problemas inerentes a qualquer
Escola. E assim começámos com os professores dispostos, naturalmente, a
tudo. Aqui hoje já se falou de não preparação, de não formação; agora
penso que qualquer de nós é capaz de imaginar esta situação um pouco
mais dramática, digamos assim, do que algumas que já foram aqui
referidas. Ao fim de várias reuniões, foi possível destacar os alunos,
fazendo reuniões com outras Escolas também, tentando distribuir os
alunos de acordo com a área de residência.
Na altura foram destacados apenas quatro elementos de
pessoal auxiliar para um edifício com uma estrutura conhecida de alguns
de vós, funcionando num único bloco. Mas é evidente que quatro
funcionários era pouquíssimo; não era pouco, era pouquíssimo.
No que respeita a Serviços de Secretaria, ainda o
problema era maior, porque não havia nenhum funcionário, era apenas o
apoio à distância. Por isso, toda a parte administrativa tinha
forçosamente que ser feita também pelos professores da casa. Houve todo
um percurso e toda uma estrutura humana contando com a colaboração de
alunos. Penso que o espírito do ano também o permitiu, pesou muito; se
calhar hoje não era possível pôr a Escola de pé. Tivemos, de facto, uma
colaboração muito grande dos alunos, dos próprios encarregados de
educação que, inicialmente também se mostraram naturalmente receosos. A
certa altura conseguimos ganhar não só a confiança, como a colaboração
de muitos pais, até porque houve uma preocupação da nossa parte que foi
fazer reuniões com os pais e encarregados de educação, não na Escola,
mas nas áreas de residência dos respectivos alunos. Cobríamos uma área
bastante alargada, exactamente pela situação da Escola,
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recebemos muitos alunos de fora do perímetro da cidade, vindos de S.
Jacinto, das Gafanhas, etc., etc., etc.
Penso que isso, por um lado, poderia ter alguns aspectos
negativos, mas eu penso que os aspectos positivos eram bastante maiores
do que os negativos e penso que isso terá ajudado bastante a criar um
espírito de inter-ajuda entre todos os utentes da Escola, tornando
possível pôr a Escola a funcionar, iniciando o ano lectivo ao mesmo
tempo que as outras escolas.
Eu julgo que não cheguei a dizer, mas posso acrescentar
que do grupo que foi a Lisboa, entre os vários colegas (quatro ou cinco,
salvo erro), eu vim de Lisboa como encarregada da direcção com a
responsabilidade de associar a mim mais dois elementos. Um desses
elementos que eu seleccionei foi exactamente a Maria do Rosário. Depois,
a determinada altura, essa informação seguiu para Lisboa e de Lisboa
dizem-nos que é necessário associar mais um elemento, senão eu teria que
assumir sozinha toda a responsabilidade. Acabámos por funcionar como
Comissão Instaladora, penso que a certa altura se passou a chamar
Comissão Instaladora, já com quatro e não só três elementos. E a Escola
começou por ser Escola Secundária de Aveiro, depois Escola Secundária
n.º 2, até que se arranjou um patrono, que ainda hoje se mantém, Escola
Homem Cristo. E, enfim, foi-se conseguindo manter de pé.
Quanto a mim conseguiu-se, de facto, dar vida e dar um
certo envolvimento de toda... enfim, de toda a comunidade da cidade,
penso que colaborou bastante, nomeadamente os pais e encarregados de
educação, porque eu penso que os filhos sentiam um certo calor na
Escola, portanto, uma Escola relativamente mais pequena que as outras, e
penso que isso também tem, com certeza, alguma influência no tipo de
trabalho que é possível desenvolver e também por ser uma Escola criada
de raiz, digamos assim... pelo menos, para mim, isso pesou muito e
significou, de facto muito, de tal modo que mesmo hoje, estando em
Coimbra, em conversa com os amigos a minha Escola é a Escola Homem
Cristo, e não aquela onde trabalho actualmente.
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