| 
         
          
        
        Maria Elsa Marinho Aleluia da Costa 
        
        
          
        
        
        Já falaram de manhã algumas pessoas do grupo de gestão 
        que eu integrei, a Lucinda, o Matos dos Santos, e que já fizeram as suas 
        memórias desse tempo. Eu integrava esse grupo e exercia a minha acção 
        mais no Conselho Nocturno, porque eu era sua Representante nessa altura. 
        
        
        Não fui de vontade, e foi por uma questão moral que 
        aceitei. 
        
        
        O que aconteceu nesse ano, e com esse grupo, e a maneira 
        como tudo aconteceu, a distribuição dos cargos, o intercâmbio, a relação 
        que se estabeleceu foi altamente gratificante na minha passagem pela 
        Escola e foi aí que eu me inteirei realmente de todos os problemas; é a 
        ideia que guardo e além disso fiz amizades. 
        
        
        A Presidente, Joana Vaz, não está cá. Quando nos 
        encontramos falamos disso, é um relembrar desse ano que passámos pelo 
        Conselho Directivo. Funcionámos em regime colegial, esse foi logo o 
        ponto de partida, e penso que foi o ano em que na escola José Estêvão se 
        atenuaram aquelas tensões entre grupos de ideologias. Estávamos em 1980 
        e acho que foi mesmo o primeiro ano em que as pessoas que tinham 
        perspectivas diferentes conseguiram ajustar-se. Foi realmente um diálogo 
        bastante proveitoso. Retiro desse ano esta sensação... 
        
        
        Eu tinha sido delegada sindical logo na altura do 25 de 
        Abril, de 1974 a 1976, 
        
        / 47 / 
        iniciava a carreira e portanto estava munida de um certo rigor, aliás eu 
        posso dizer que foi um período em que me empenhei entusiasticamente... 
        Um período de tensões em que houve reuniões que promoveram bastante o 
        diálogo. Estava nessa plataforma ainda nessa altura e apareceram pessoas 
        que não tinham tido essa vivência. Congratulei-me muito por poder haver 
        comunicação pela primeira vez com pessoas que tinham ideias 
        completamente diferentes a respeito da vivência democrática. Fiquei 
        vogal e responsável pelo Curso Nocturno, dei assim seguimento a 
        preocupações que já vinha tendo desde que o mesmo fora criado na escola. 
        Nunca deixara de participar e tinha algumas expectativas relativamente 
        ao melhoramento do seu funcionamento. No ano anterior tinha sido 
        assessora do Dr. Caldeira, uma pessoa com quem gostei imenso de 
        trabalhar, aliás como muitas pessoas que aqui estão devem compreender. E 
        nesse ano fui responsável do Curso Nocturno e tive como assessores o Dr. 
        Caldeira e o Dr. Luís Marques, que se encontra presentemente na 
        Universidade. Foi um ano muito gratificante, inteirei-me dos problemas 
        que havia no interior da escola a todos os níveis: os aspectos 
        administrativos e pedagógicos (administrativos menos, sempre me dei mal 
        com os "números" e continuo a dar). Envolvi-me intensamente nos 
        problemas inerentes à relação pedagógica, domínio que sempre me ocupou, 
        quer em relação ao curso diurno, quer em relação ao curso nocturno... 
        Participei ainda na resolução de problemas pedagógicos relacionados com 
        professores, houve efectivamente alguns e com processos instaurados, e 
        que foram encaminhados de uma forma sempre não dramática, não radical. 
        Enfim, eu passei por aí... 
        
        
        Recordo este período, que já é 80... E posso 
        referenciá-lo porque foi o ano da morte do Sá Carneiro. Na noite do 
        acidente, eu estava precisamente na direcção nocturna... Tínhamos 
        reavivado o rádio que à noite ligávamos e de repente a música clássica 
        foi interrompida com a informação da notícia. No dia seguinte 
        assustei-me... Aquela Escola ficou em polvorosa, inclusivamente onde é 
        hoje o bar dos alunos, um grupo que queria fazer uma tal "revolução" e 
        pegar fogo à escola... Foi assim uma coisa... Por causa dessas 
        determinantes políticas... Estava-se em período de eleições. Foi a única 
        vez em que vi aquela escola tensa, mas muito mais tensa que no 25 de 
        Abril, houve necessidade de chamar o Governador Civil 
        
        / 48 / 
        para ir amainar os alunos numa noite, para já não falar no assalto pelos 
        mesmos à reitoria e ao cofre forte (1974). 
        
        
          
        
        
        Bom, a Joana Vaz, uma pessoa que realmente sempre tinha 
        revelado um bom senso extraordinário e uma calma, sendo ao mesmo tempo 
        determinada e decidida, conseguiu intervir de maneira a acalmá-los no 
        bar e alargou a sua acção à escadaria por onde os alunos circulavam em 
        tensão nos intervalos. 
        
        
        É a lembrança que guardo entre outras da passagem por um 
        CD com marcas positivas, bem gratificantes. 
        
        
        Voltando atrás, na mudança de regime, o único ano em que 
        apareceram listas, (a minha memória não costuma ser curta, mas admito 
        erros), em que apareceram listas e nada mais nada menos do que cinco, 
        isso à volta de setenta e cinco, lembro-me que tinha de integrar uma... 
        ou mais. Estava no grupo dos dez mais votados, de resto, vá lá um 
        bocadinho de modéstia, não fiquei nos dez, fiquei nos onze, porque a 
        Isolete Pato, professora de Matemática na altura, é que ficou no décimo. 
        Por qualquer motivo, teve que desistir e entrei eu que vinha a seguir. 
        Isto numa eleição proposta pelo representante do Ministério no impasse 
        eleitoral. 
        
        
        Pronto e lá fui convocada, eu não queria, não queria de 
        maneira nenhuma, como estão a ver pela dificuldade em pegar no microfone 
        e pôr-me à frente... Apesar do Teatro em formação, mas isso é diferente, 
        aprendo a colocação de voz, vou para o palco e represento e aqui estou 
        no real... Mas é exactamente isso que me faz lembrar, que eu tive que 
        estar presente, participante. Como tinha sido delegada sindical, tinha 
        apanhado algumas ensaboadelas, foi tenso, como sou um bocado para o 
        emotivo, enfim nem sempre tenho a "diplomacia" que se impõe. Mas 
        pronto... 
        
        
        Dizia-me o Dr. Aurélio: Tem de ser... E além disso é uma 
        oportunidade única de pôr em marcha o infantário. Tinha havido sondagens 
        às necessidades da Escola ao nível de todos os funcionários da Escola, e 
        andávamos mesmo a pensar nisso (aquelas ideias que se nos metem na 
        cabeça)... Uma das pessoas que também estava envolvida era a Manuel 
        Candal: muitos filhos... e tão preocupada com essas causas, não podia 
        estar fora disso. 
        
        
        O que é verdade é que fiquei nas listas que não tinham 
        probabilidades de ser eleitas porque não integravam o colega Lapa, (uma 
        pessoa que apareceu na altura 
        / 49 / 
        e tinha assim grandes audiências e provavelmente lista em que ele 
        aparecesse... ganhava). Não sei se têm a mesma ideia, eu fiquei com 
        esta, mas pode ser a minha imaginação a trabalhar. E paro por aqui as 
        memórias de emoções cruzadas... 
        
        
        Foram momentos fortes, mas as energias não cessaram, nem as emoções com 
        que sempre colori a minha existência... E continuo a apelar à ecologia 
        dos afectos no virar do milénio. 
           |