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        António José Pires Esteves Remédios 
        
        
          
        
        
        Bom, não sei por onde hei-de começar mas, pelos vistos, 
        já de manhã se fizeram algumas referências a várias situações ligadas à 
        Escola onde eu trabalhei. Nessa altura, em Janeiro de 1975, quando eu 
        cheguei aqui, fui colocado na Escola Secundária José Estêvão, embora eu 
        já tivesse sido professor, já me tinha ligado à carreira docente, mas é 
        ali que começa o meu primeiro contacto com os problemas da gestão e com 
        os órgãos de gestão e vou cair na José Estêvão, onde andava a fervilhar 
        um forte reboliço, na altura em que eu ainda não tinha muitos 
        conhecimentos, nem pormenorizados, nem aprofundados, porque nem sequer 
        era de Aveiro; portanto, tinha muito poucas referências. Apareço 
        completamente descontextualizado e, no fundo, acabámos, eu e outros 
        grupos de professores, por ser envolvidos na tentativa de ultrapassar 
        algumas perturbações, não só entre grupos de professores, mas também 
        entre professores e alunos, tanto quanto eu me lembro. 
        
        
        Mas isto tem, no fundo, uma forte raiz no contexto social 
        da época. Uma das coisas curiosas das Escolas da época é que, "avant 
        Ia lettre", estavam fortemente integradas na comunidade, numa outra 
        perspectiva, mas eram verdadeiros passadores, completamente permeáveis 
        aos problemas que havia no contexto social e político e cultural da 
        época; por isso as Escolas nesse aspecto estavam completamente abertas e 
        as influências eram permanentes e totais do contexto externo, das 
        movimentações políticas, culturais e sociais que influenciavam não só os 
        professores, mas influenciavam também os alunos. E eu creio que uma 
        grande particularidade que surgiu na altura, foi a de os alunos terem a 
        possibilidade de se manifestarem colectivamente em relação a algumas 
        decisões dos próprios órgãos de gestão, assim um pouco impulsivamente, 
        talvez até um pouco anarquicamente, mas com uma forte pressão colectiva, 
        que nos punha a todos a pensar na maneira de ultrapassar aquilo. 
        
        
        Há aqui uma pista no texto que foi enviado que eu acho 
        interessante, em que se pergunta qual é o curriculum, qual era a 
        preparação prévia que um individuo tinha para poder ir para este tipo de 
        funções. Nenhuma. Tanto quanto eu sei não havia preparação nenhuma. Os 
        meus únicos dois dados curriculares, e que me serviram 
        
        / 27 / 
        provavelmente de referência, foi o facto de ter sido dirigente 
        estudantil, nas lutas académicas, em Coimbra, e o facto de ter 
        pertencido às Comissões do MFA, e, como tinha acabado de sair da Tropa, 
        vinha também com fortes conotações com o MFA vigente e dominante no 
        país. Há aqui uma componente político-militar que é importante; isto é 
        tanto mais interessante quanto aquilo que a mim pessoalmente me levou a 
        envolver-me nos problemas de solução de gestão daquela escola foi o 
        momento em que nós vimos entrar dentro da Escola um Pelotão Militar 
        armado de G3 e que tinha sentinelas em cada esquina de cada corredor; 
        aliás, um oficial que lá estava, que é de cá de Aveiro, tinha sido meu 
        colega em Coimbra na altura da greve e estava ali de G3. Contra quem? 
        Foi uma forte situação escandalosa, que fez reagir todas as pessoas e 
        fez nitidamente retirar toda a base de apoio a uma Comissão de Gestão 
        que existia na altura na José Estêvão e que não tinha qualquer 
        possibilidade de ultrapassar aqueles problemas de uma maneira saudável. 
        Portanto, fizemos uma primeira reunião com as autoridades militares, 
        creio mesmo que na própria sala do Conselho de Gestão; e é portanto a 
        partir daí que há uma espécie de uma demissão; vem um Delegado do MEC e 
        um professor de Lisboa tentar mediar a situação e tentar arranjar alguns 
        mecanismos formais de novas eleições, de novas propostas de nomes, de 
        ultrapassagem da situação; os alunos, entretanto, tinham também feito 
        uma greve e uma ocupação da Escola durante uma noite ou duas, creio eu, 
        e há ali uma forte perturbação. E esta situação só ficou resolvida no 
        dia 11 de Março. Exactamente, por coincidência, no 11 de Março, que foi 
        quando esse Delegado do Ministério da Educação resolveu ir para Lisboa 
        com o problema mais ou menos solucionado; nós até já tínhamos feito uma 
        eleição, num Plenário de Professores; creio que a eleição já estava 
        feita, os alunos também já tinham parado o seu bloqueio das aulas, 
        portanto o campo estava aberto para podermos reiniciar. 
        
        
        Como explicar a greve dos alunos? Provavelmente devia 
        haver ali um acumular de tensões anteriores; uma Comissão Administrativa 
        que tinha sido eleita logo a seguir ao 25 de Abril, tanto quanto eu me 
        apercebi. Aquelas eleições também eram demasiado espontâneas e directas 
        para se poder distinguir o que é que era uma nomeação e o que é que era 
        uma eleição, mas, tanto quanto eu me lembro, 
        
        / 28 / 
        eu nunca falei disto com ninguém, aliás até seria interessante nós, os 
        próprios elementos desse Conselho de Gestão, fazermos uma espécie de 
        feed-back, à distância, e ver afinal o que é que nós fizemos e como 
        é que nós nos comportámos. É a primeira vez que estamos a falar em 
        público, a não ser uma vez que nos encontrámos, ali com o Dr. Aurélio 
        também, mas era com alunos, e foi mais anedótico do que assim 
        estruturado... Mas seria interessante fazer um feed-back deste 
        género, mais participado, para vermos os vários pontos de vista. 
        
        
        Tanto quanto me lembro, o que aconteceu foi que essa 
        situação dos alunos, ou essa luta dos alunos, que era fortemente 
        politizada também, muito influenciada pelas correntes também politizadas 
        dos alunos, pelo menos o MRPP estava nitidamente presente e na José 
        Estêvão o MRPP tinha muita força, mais que a própria UEC nas RGA's; 
        depois havia os grupos de um outro tipo de esquerda, mais o MES, a LUAR; 
        mas os dois grandes pólos da actividade dos alunos eram a UEC e o MRPP. 
        O movimento que eles quiseram não foi o único em Aveiro, creio que houve 
        em simultâneo noutras Escolas do País e creio que foi desencadeado um 
        pouco por um problema de notas: qual seria a nota que era necessário 
        para dispensar de exame, ou para dispensar da oral, já não me lembro; há 
        ali qualquer coisa ligada com a possibilidade de passagem administrativa 
        e eles reclamaram. 
        
        
        ……………………… 
        
        
         
        Fernando Lacerda interrompe: 
        
        
        Em 1975 situava-me eu no contra-ponto, no outro lado da 
        barricada relativamente ao poder na gestão, como aluno duma escola do 
        interior, em Bragança, e a terminar o 7.º ano do Liceu. 
        
        
        Por essa altura, uma das organizações políticas mais 
        activas era de facto o MRPP, sempre em grande choque com todas as 
        outras, nomeadamente com a força política que pretendia de certo modo 
        impedir de se instalar, que era a UEC. E a luta entre as organizações 
        políticas tinha, digamos, como motivo de base esta guerrilha que se 
        fazia entre as organizações estudantis. 
        
        
        Aquilo que motiva os alunos, e nós em Bragança fizemos 15 
        dias de greve às aulas, são várias peripécias possíveis de colocar em 
        R.G.A. de forma a dar consistência 
        
        / 29 / 
        a esta mesma guerra que se pretendia fazer no boicote fosse ao que fosse 
        e na criação de alguma movimentação dentro das Escolas, mas 
        essencialmente com uma componente política bastante submergente, ou 
        seja, estaria submersa essa ideia através das organizações políticas, 
        nomeadamente do MRPP. 
        
        
        Em Bragança o motivo concreto foi um tal Dr. Subtil, que 
        terá dado uma nota com a qual se discordava, mas como foi esse motivo 
        podia ter sido outro qualquer. Provavelmente, este tipo de situações 
        seria comum e era uma realização que não era pontual, seria um período 
        sensivelmente idêntico àquele que se vivia aqui em Aveiro e 
        provavelmente situar-se-á dentro do mesmo âmbito de actuação, que são as 
        organizações políticas ao nível dos estudantes que, por qualquer motivo, 
        seja ele qual for, procuram ampliar, dando-lhe corpo e transformando-o 
        em campo de batalha real de forma a pôr em causa a estabilidade.  
        ……………………… 
        
        
        [RGA = Reunião Geral de 
        Alunos] 
        
        
          
        
        
        Esse contexto político era visível em Aveiro também, mas 
        eu tinha ideia que teria havido uma medida administrativa concreta que 
        tivesse provocado... ou as faltas, ou a regulamentação das faltas; 
        talvez, uma dessas medidas que faz efervescer os alunos em pouca água. 
        
        
        Mas o mais grave, e eu nesse aspecto estou completamente 
        de acordo com a atitude que tomámos nessa época, foi o Conselho de 
        Gestão ter chamado os Militares para dentro da escola, isso é que foi, 
        pelo menos na José Estêvão, tanto quanto eu me lembro, aquilo que fez 
        explodir o barril e que levou todos os professores a isolarem a Comissão 
        de Gestão da época, porque não fazia sentido, era uma medida que não 
        tinha lógica, que subvertia todas as relações entre corpos docentes e 
        discentes dentro de uma Escola, que subvertia toda a actividade 
        pedagógica de aprendizagem, não tem nada a ver, não se estava em 
        situação de guerra, nem o MFA estava ali a ocupar o que quer que seja, 
        nem os objectivos políticos da presença do MFA eram claros, não estavam 
        lá só para mostrar as armas; portanto, isto transformava toda a relação 
        possível das pessoas dentro de uma instituição escolar que é uma relação 
        quase militarizada, de violência permanente ou de violência 
        institucionalizada. Portanto, isto é que creio que levou 
        
        / 30 / 
        todos os professores, colectivamente, no fundo, a quererem que se 
        demitisse a Comissão de Gestão da altura, que já não me lembro se foi 
        demitida ou se foi levada a demitir-se. Há, no entanto, um processo 
        curioso de eleição que nós propusemos que foi o de fazermos uma eleição 
        nominal, em Assembleia Geral de Professores; isso significa que não foi 
        feito nenhum grupo prévio, não foi combinado nenhum programa entre nós, 
        no fundo acabaram por pertencer a essa Comissão de Gestão os indivíduos 
        mais votados na Assembleia Geral de Professores, por eleição nominal, o 
        que significava que era um grupo heterogéneo de professores; dele faziam 
        parte a Dr. Teresa Caldeira, que era a senhora mais "vetusta" da Escola 
        e que já tinha experiência, o Énio Semedo, a Fernanda Neves, que fazia 
        parte da secção cá de baixo (a actual Homem Cristo, a antiga secção 
        feminina, mas ainda era uma secção da José Estêvão); um outro colega, de 
        que não me lembro o nome agora, e a Teresa Nifo também fazia parte desse 
        grupo; portanto, eram pessoas diferentes que pelo seu próprio percurso 
        no exterior têm perspectivas diferentes da Escola e de outro tipo de 
        actuações, mas que fizeram um trabalho em equipa que era inevitável ser 
        feito em conjunto, e foi isso que nós propusemos um pouco a prazo, 
        porque nós pusemos alguns limites, que aguentaríamos até ao próximo ano 
        lectivo para quando viesse a nova regulamentação das Comissões de Gestão 
        podermos passar a pasta; o certo é que penso que tivemos que aguentar 
        tudo até Janeiro, altura em que entra depois a Comissão já eleita 
        noutros moldes, em equipa, de que faz parte o Dr. Aurélio e o Lapa, etc. 
        
        
        Há aqui várias transições que são interessantes. Mas 
        estes são os dois momentos de que mais me recordo. 
        
        
        A participação dos alunos, tanto na luta como depois na 
        aceitação da nova proposta. Tanto quanto me lembro, os professores 
        eleitos foram comunicados aos alunos e eles tiveram oportunidade de se 
        manifestar, ou pelo menos tiveram conhecimento de quem tinham sido os 
        professores eleitos, de qual tinha sido a solução da Assembleia Geral de 
        Professores. 
        
        
        Esta participação dos alunos é importante, esta 
        diversidade da participação dos professores também é interessante e é 
        importante nessa fase, o que corresponde, na minha perspectiva, a uma 
        certa despolitização viável da Gestão Escolar, teve 
        
        / 31 / 
        um certo interesse, porque uma vez que eram professores de várias 
        formações permitiu descomprimir um pouco as tensões políticas e 
        ideológicas que estavam presentes na Escola, isso creio que até foi 
        benéfico em termos transitivos para as Gestões seguintes. 
        
        
        Agora, não tenho uma ideia muito clara de como a Escola 
        continuaria a funcionar para além destas lutas político-ideológicas ou 
        culturais da época, como é que funcionaria em termos pedagógicos. Não 
        tenho uma ideia muito clara. As coisas continuavam a funcionar na mesma. 
        Eu aí estava um pouco afastado, era mais a Dr.ª Teresa Caldeira que 
        acompanhava mais a área das questões administrativas, de execução, de 
        exames, não tenho uma ideia muito clara, sei que aquilo funcionava 
        sempre e que nós abríamos sempre no tempo que estava previsto, fazíamos 
        os exames; portanto a Escola não parava por isso, mantinha-se pelo menos 
        um funcionamento formal da Instituição, e não houve propriamente faltas 
        nem houve interrupções. 
        
        
        Em termos pessoais, teve uma consequência na carreira, é 
        que se eu não tivesse vindo para a gestão provavelmente não teria ficado 
        na carreira docente, porque como estava em transição, tinha acabado o 
        serviço militar e como tinha feito o estágio na Psicologia e por isso 
        estava hesitante entre optar pela carreira docente ou enveredar pela 
        especialização e pela profissionalização na Psicologia. O facto de ter 
        entrado para a Gestão agarrou-me muito à Escola, porque, entretanto logo 
        a seguir fiz estágio; fui membro do Conselho de Gestão ao mesmo tempo 
        que era estagiário; nos primeiros três meses era estagiário 
        simultaneamente, o que deve ser também uma coisa inédita; durante três 
        meses fui ao mesmo tempo estagiário e Presidente do Conselho de Gestão, 
        não sei se era Presidente, isso já não me lembro. Mas este efeito 
        pessoal para mim é visível, se não tivesse ficado na Gestão e 
        consequentemente não me tivesse integrado na própria Instituição Escolar 
        através da realização do estágio teria provavelmente mudado de carreira 
        e não teria ficado na carreira docente; portanto é um dos efeitos, 
        perverso ou não, que o facto de ter passado pela gestão teve no meu 
        percurso pessoal. 
        
        
        De resto não me ocorre nada de especial neste momento. 
        Pode ser que depois, durante a conversa, me lembre de mais alguma coisa; 
        são coisas que fazem parte 
        
        / 32 / 
        um pouco das memórias pré-históricas e que nunca foram propriamente 
        partilhadas colectivamente, nem em termos grupais. 
        
        
        Lembro-me sobretudo de uma forte ligação ao Ministério da 
        Educação, que nessa altura era mais centralista do que é agora; e em 
        relação ao qual nós tínhamos sempre uma forte dose de dependência 
        inevitável. E lembro-me, por exemplo, de uma grande divisão entre o 
        funcionamento do Conselho Directivo e os Serviços Administrativos; nos 
        Serviços Administrativos nada tinha mudado, para eles tudo continuava a 
        funcionar pela legislação antiga e pelos mesmos regulamentos, e havia um 
        corte muito nítido entre o funcionamento pedagógico ou institucional da 
        Escola e as regras administrativas, os funcionários administrativos que 
        tinham a sua lógica própria, sem grandes pontos de ligação, a não ser em 
        termos pessoais, com o velho amigo, Sr. Lança Pereira, com quem nós 
        íamos sempre partilhando alguma coisa; mas ele tinha o cuidado de quando 
        as decisões do Conselho de Gestão não estavam de acordo com os 
        Regulamentos, lembro-me perfeitamente, pelo menos numa Acta ou duas, de 
        ele dizer que não votava connosco e deixava expresso em Acta que não era 
        essa a sua opinião. 
        
        
        E nós dependíamos muito do Ministério da Educação. Estou 
        a lembrar-me de um incidente, acho que o único incidente, aqui podemos 
        falar nisso, que teve talvez uma situação mais crítica na José Estêvão; 
        foi uma tentativa de saneamento de um colega, de um professor, que já 
        desapareceu, já não está entre nós; creio que foi o único, pelo menos em 
        que eu participasse, o único processo especificamente para saneamento, 
        porque havia uma directriz do Ministério a dizer que os saneamentos só 
        podiam ser feitos por razões pedagógicas; ele tinha a sua opção e a sua 
        opinião própria, diferente dos outros professores, dos órgãos de gestão, 
        e portanto fazia a sua vida e dava as suas aulas e divulgava as suas 
        opiniões como quisesse, mas houve, creio que uma tentativa de, através 
        de uma turma dele, dar fundamento pedagógico a um saneamento, 
        nomeadamente em termos de métodos; houve uma turma que fez um grande 
        depoimento colectivo, e assinado por todos, sobre as suas práticas 
        pedagógicas mais ou menos criticáveis; e foi esse o único fundamento que 
        pôde ser utilizado para essa tentativa; depois o Ministério obrigou-me a 
        ouvi-lo em Auto, mas eu creio que aquilo depois não deu em nada, foi 
        tudo arquivado, 
        
        / 33 / 
        portanto, não evoluiu nem teve consequências mais graves. Foi o único 
        incidente ou a única consequência directa, em termos pessoais, das lutas 
        político-ideológicas dentro da Escola, que eu me lembre. Tudo o resto 
        que existiu, estava controlado, se quiserem, estava dentro do parâmetro 
        de convivência e de comunicação interpessoal; nessa situação atingimos 
        quase o limite, e que eu me lembre foi a única situação limite mais 
        chocante desse momento, pelo menos naquela Escola. 
        
        
        Outra coisa de que me lembro, a permeabilidade às lutas 
        político-ideológicas da época era tanta da parte da instituição escolar 
        que lembro-me perfeitamente de um incidente com uma certa gravidade, que 
        aconteceu no dia 11 de Novembro; foi na altura da independência de 
        Angola em que houve um grupo da UEC que, sem dizer nada à Comissão de 
        Gestão, resolveu içar a bandeira do MPLA juntamente com a bandeira 
        portuguesa nos mastros da Escola, eu estava em aula, isso deve ter sido 
        logo de manhã, oito e meia, nove e meia, não me lembro. É evidente que 
        isto provocou imediatamente o grupo dos MRPP que resolveram ir lá 
        retirar a bandeira e andar de sala em sala a chamar o "pessoal" para vir 
        fazer ali luta pública em frente; foram bater à minha porta, eu estava 
        em aula e não me tinha apercebido de nada, nessa altura havia alguns que 
        estavam a tentar sair pela janela, outros pela porta, portanto tivemos 
        mesmo que parar a Escola, eu contactei com um rapaz da UEC; eles ainda 
        chegaram a chamar a GNR, mas eu creio que não chegou a aparecer, porque 
        entretanto conseguimos que eles retirassem a bandeira ainda durante a 
        manhã, mas houve ali um "sururu" razoável e que nos pôs em sobressalto. 
        Isto é uma das coisas curiosas de que eu me lembro, sobretudo com a 
        incidência do MRPP e as lutas políticas juvenis, mais juvenis do que de 
        professores. Agora nós queixamo-nos que os alunos não têm qualquer 
        politização e não seguem ideologias... Nessa época não nos podíamos 
        queixar disso, quando muito podíamo-nos queixar do excesso de ideologia 
        e do excesso de politização... 
        
        
        Gostava só de fazer ainda uma referência em relação ao 
        MRPP, que é uma maneira curiosa das Escolas colaboraram entre si. 
        Lembro-me perfeitamente de que na nossa Escola, a partir de determinada 
        altura, conseguimos definir uma zona, já não me lembro onde era, se era 
        uma parede, se era um painel, onde eles podiam afixar a sua propaganda; 
        conseguimos delimitar algum espaço, algum rectângulo qualquer 
        / 34 / 
        de uma parede... Mas lembro-me perfeitamente da Dr.ª Cecília Sacramento, 
        que estava nessa altura na Comissão de Gestão da n.º 1, me telefonar 
        para lá porque tinha o MRPP dentro da sala da gestão a querer afixar 
        papéis em qualquer parte e ela estava exactamente a apontar-lhes o 
        exemplo da nossa Escola. 
        
        
        Não sei se alguém mais quer fazer a sequência. 
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