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Praia do Farol (Barra) e Costa Nova

… à Praia do Farol (assembleia, ténis, casas mobiladas de aluguer, pensões na época balnear de Julho a Novembro; Posto Telefónico da Barra de Aveiro; banho santo na noite de S. João).

Uma pequena via, à direita, leva ao Farol da Barra situado quase na extremidade Noroeste da flecha Sul da ria, a 100 m. do mar.

É um farol de 1.ª ordem, montado numa elevada torre listrada, projecto do eng.º Paulo Benjamim Cabral (1884), construção de Melo e Matos (obras de 1885-1893), tendo importado em 51 contos. [Aditamento: Os trabalhos iniciais da construção do farol foram dirigidos pelo eng.º Silvério Pereira da Silva, homem de grande competência e dedicadíssimo a todas as obras da Ria de Aveiro.] Uma escadaria de caracol de 288 degraus conduz ao lanternim (aparelho dióptico de luz cintilante, com 4 grupos de 4 clarões brancos, dum período de 24 segundos; alcance geográfico, para um observador colocado a 5 metros acima do nível do mar, 20 milhas; alcance luminoso, 43 milhas). A altura do fuste é de 44,5 metros, elevando-se o foco a 61,23 metros acima do nível médio do oceano (é um dos faróis mais elevados de Portugal). A plataforma que circunda o lanternim domina um * vasto horizonte de terra e mar, desde a montanha do Buçaco à de Buarcos. Em dias de temporal a parte superior da torre afasta-se da vertical cerca de meio metro. O sinal sonoro ou «sirene», conhecido pela designação de ronca da Barra, e que dava aviso aos navios em dias de nevoeiro, foi destruído pelo mar em 12 de Agosto de 1936. O sinal sonoro funciona, hoje, no edifício do farol. Há no local uma central termoeléctrica (33 kW).

A actual Barra de Aveiro é a Barra Nova, aberta em 1808 pelos engenheiros Reinaldo Oudinot e Luís Gomes de Carvalho (pág. 476). O eng.º Adolfo Loureiro descreveu o facto nestes termos:

«No dia 3 de Abril desse ano (1808) pelas 7 horas da noite, quando o desnível das águas era mais de 2 metros do interior para o exterior, arrancando ele próprio Luís Gomes e o desembargador Verney as estacas e fachinas que revestiam a areia, e empunhando enxadas e pás, abriram uma vala através do areal... As águas começaram logo a correr, primeiro mansamente, para bem depressa saírem em torrente arrebatadora para o mar, arrastando massas enormes de areia. A acção da corrente foi tão repentina e o sucesso tão feliz que as águas dos bairros inundados de Aveiro e da praia baixaram 3 palmos (0,66 m.) em 24 horas e outro tanto no dia seguinte, apesar da grande distância da cidade à barra. Imagine-se qual seria a velocidade da corrente das águas? A barra apresentou-se com 20 a 30 palmos de água e com 120 braças de largura».

O projecto das obras realizadas na barra (concepção do engenheiro João Henrique von Hafe) recebeu algumas alterações, com a visita de uma missão de peritos ingleses: o molhe Norte, que deveria prolongar-se 250 metros relativamente ao do Sul, foi cortado pela testada deste, e o canal em vez de ser de margens paralelas, foi construído em leve convergência, na direcção ao oceano. As correntes muito fortes (chegam a atingir a velocidade horária de 6 milhas) determinaram, para defesa da base dos molhes, o emprego / 529 / de extensos tapetes de fachinagem. Utilizaram-se na fabricação desses tapetes rolos com o comprimento de 170 km. e fio de ferro galvanizado com o comprimento de 970 km. Nas obras de alvenaria aplicou-se pedra de Eirol e granito. Verificou-se, porém, ulteriormente que a pedra de Eirol tem o defeito de ser pouco durável quando se mantém permanentemente submersa e ainda o de ser perfurada por alguns moluscos provenientes da Terra Nova, agarrados aos cascos dos lugres da pesca.

O aumento da entrada das águas salgadas, em cada fluxo da maré enchente, está computada em 60 milhões de metros cúbicos em 24 horas. Com as obras efectuadas, o Canal da Barra passou a permitir a entrada na ria de navios com 17 pés de calado (1).

Mesmo assim a ria nunca atinge, na preia-mar, o nível das águas de fora da barra. O topo do cais do Canal da Cidade, por exemplo, é 1,20 metros mais baixo que o nível do mar, na enchente. Com uma barra mais ampla, não só muitas das ilhas da ria como a parte baixa da cidade de Aveiro seriam periodicamente submersas. Por esta razão, já Luís Gomes, em 1908, entendeu não dever dar ao canal de entrada mais de 300 metros de largura.

Tanto a Barra da Vagueira, que uma cheia reabriu em 1838, na altura aproximada do paralelo de Vagos, como outra, também antiga, a Oeste de Mira, a Barrinha (pág. 127), se encontram hoje obstruídas. A obstrução da primeira, em 1878, foi determinada pelo sistema valvular de comportas colocado pelo eng.º Silvério Pereira da Silva no sítio que ainda hoje se chama Portas da Água. Esse dispositivo permitia o trânsito das águas de Mira para a Barra Nova só na vazante.

Na Barra, a estrada inflecte para o Sul; ao cabo desse troço de estrada fica a (11,2 km.) Costa Nova do Prado, ou simplesmente Costa Nova, como é mais vulgarmente conhecida, centro de pesca e praia bastante frequentada (pensões; telegr. e Posto Telefónico; luz eléctrica), à beira do braço de Mira, a que alguns chamam hoje Cale ou ria da / 530 / Costa Nova, na estreita língua de areia que o separa do oceano.

A estrada tem o seu termo a 12,3 km de Aveiro, um pouco mais para além da Praça do Arrais Ançã.

A povoação foi fundada nos princípios do século passado por gente de Ílhavo, que lhe teria dado o nome de Costa Nova para a distinguir da antiga Costa de S. Jacinto, habitada muito antes dela; só a partir de 1822 há, porém, notícia de começar a ser utilizada como praia de banhos, sendo já bastante frequentada em 1840. Ao princípio o limite Norte da estância ficava no chamado Palheiro de José Estêvão. Foi por influência do tribuno que se construiu a estrada da Barra. A povoação, recentemente, tem-se modernizado e urbanizado; os palheiros, pintados de vermelhão, que ainda há bem poucas dezenas de anos, se alinhavam à beira da ria, têm sido substituídos por casas de alvenaria. Actualmente possui uma esplanada, avenida, assembleia, teatro, cinema (na época balnear: Julho a Novembro), etc. No último domingo de Setembro faz-se uma festa que atrai grande concurso de gente.

No palheiro de José Estêvão foram hóspedes de Luís de Magalhães, filho do tribuno, muitos homens ilustres do século passado, entre eles Oliveira Martins e Eça de Queirós.

Entre o cais da Costa Nova e o da Mota da Gafanha da Encarnação efectua-se uma carreira regular de barca. (Pensões: Azevedo, Figueiredo, Silva; garagem; teatro). Daí parte, para o Sul, ao longe da orla Oeste da Mata Nacional, uma estrada florestal que actualmente se interna já bastante pela Gafanha da Boa Hora, em direcção a Mira. Da Mota da Encarnação parte para Este, em linha recta, através da Gafanha, um ramal que conduz a Ílhavo, passando à ponte chamada de João Calancho (corruptela, talvez, de juncal ancho, dum grande juncal que há naquele lugar), lançada, em 1862, sobre o braço da ria de Vagos. É uma interessante variante de regresso do passeio à Costa Nova.

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(1) Algumas destas informações são devidas aos serviços técnicos da Junta Autónoma da Barra, outras ao comandante Rocha e Cunha.
 

 

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