Mais adiante, à esquerda, encontra-se a
*
notável capela do Senhor das Barrocas (PI. n.º 1),
um dos monumentos mais interessantes de Aveiro e o seu mais agradável e
coerente exemplar de arquitectura.
Em 15 de Novembro de 1722 lançou-se a primeira pedra e em
16 de Novembro de 1732 foi mudada para ela em procissão, o cruzeiro do
silveiral das Barrocas (obra popular de 1707).
O bispo D. António José Cordeiro, tendo-a encontrado
muito desconcertada pelo tempo e incúria dos párocos da Esgueira, mandou
(entre 1816 e 1837) reparar os estragos, cobrir a capela com telha
vidrada e fabricar os retábulos e púlpitos da nave.
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A sua arquitectura é de tipo clássico. Nela se registam,
porém, duas singularidades: a do barroco do campanário e a das
decorações bastante aparatosas dos três portais, que se opõem à fria
correcção arquitectural (maior no exterior que no interior). Dieulafoy
classificou-a de «transcrição neo-manuelina, muito elegante, dos
baptistérios de Pisa e Florença». Ora a verdade é que o que de
ornamental figura na capela tem a feição clara do rocócó. A opinião de
ser cópia dos baptistérios italianos emitiu-a em 1883 Bernardes Branco e
depois a repetiram Marques Gomes e Ferreira Neves
(1), sendo de
crer que Dieulafoy se limitou a repetir o parecer, livre da observação
directa. Não há de facto analogias entre a capela e esses baptistérios,
antes largas divergências. Teria movido B. Branco a firmar tal
identidade a planta octogonal daquela? Pisa tem-na circular. Confiado
nessa influência, por certo, ainda ele asseverou que a obra foi riscada
por um arquitecto italiano. Daí e dos reflexos de Mafra (notados por
Marques Gomes), mais de algumas similitudes do portal principal da
capela com os portais da Biblioteca Universitária de Coimbra e do Museu
de Artilharia (bem apontados por outros) o enunciar Ferreira Neves o
nome de João Frederico Ludovice. Mormente com o portal coimbrão (alguns
atribuem a Ludovice a obra da dita Biblioteca) (pág. 278) verificam-se
bem as ditas parecenças. No entanto, deve lembrar-se que as linhas
gerais dessas obras eram um tanto as da época. No portal de Coimbra não
há corpo de remate, acima do entablamento, e a sua composição é toda
arquitectural, sóbria de ornatos, ao passo que na capela aveirense se
nota um sumptuoso remate e, nos seus portais, avulta decoração
demonstrativa de um artista amigo da escultura, da maleabilidade
plástica. Ora Ludovice foi sempre um arquitecto puro, um engenheiro,
adepto afeiçoado do classicismo, contrário às pompas ornamentais (a
plástica decorativa das torres de Mafra é julgada como obra do filho,
João Pedro). Não é de inferir, pois, que tenha sido o arquitecto da
capela.
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(12)
– O primeiro, aliás, fê-lo com prudentes reservas apontando a capela
aveirense como uma «recordação pálida e fugitiva" dos referidos
baptistérios.
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