3. Conclusão
PENSANDO
por si e respeitando os valores que arvorou, desde cedo, como seus,
Jaime de Magalhães Lima passou a vida a ouvir os outros e a absorver
intelectualmente os contributos que, em sua opinião, o enriqueciam. Mas
só esses, que de imediato compartilhava, assumindo uma permanente
intervenção cívica e não recusando companheiros de jornada, mesmo quando
deles discordava. Crítico e lúcido, sacrificou muito de si próprio, da
sua propensão para o recolhimento, para o estudo e para o convívio com a
natureza, bastando-lhe para tal reconhecer a necessidade da mediação e a
excelência das causas.
Concordemos ou não com ele, participemos ou não do seu
idealismo e religiosidade, dificilmente deixaremos de admirar a sua
coerência, a elevação do seu pensamento e a coragem da sua actuação
cívica. A justeza do seu carácter e a sinceridade dos valores
democráticos que o inundavam ficam, pensamos nós, nas páginas que agora
se encerram, mas, bem mais vivas e belas, repletas de humanidade, na sua
vasta bibliografia hoje postergada e esquecida.
Quanto tumultuava, em Portugal, a ditadura militar, e
pouco depois de Salazar abraçar a pasta das Finanças, Jaime Lima,
discursando em Aveiro, nas comemorações do primeiro centenário da
revolução de 1828, não deixava, mais uma vez, com intrepidez e
desassombro, de zurzir o autoritarismo, a
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ditadura e as agressões à liberdade:
«O liberalismo é a vida fundada em liberdade na sua
totalidade e indivisibilidade, por esse princípio guiando e aferindo a
dignidade da cada qual – assim como o autoritarismo, que nos seus
infinitos modos e dissimulações se opõe ao liberalismo e o aborrece, é a
ablação radical da personalidade e do exercício da consciência, é a vida
coada pela opressão e pela irresponsabilidade – à qual
irresponsabilidade os sectários do autoritarismo chamarão tranquilidade,
doçura, quietação majestosa, ordem e disciplina, moeda corrente do
mercado moral e político com que o despotismo usa embalsamar a aviltante
prostração sonolenta dos que por natural inércia se lhe submetem de boa
mente e entre esses anestésicos se sonham no paraíso.» (Lima, 1969: 32)
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