Acesso à hierarquia superior.

Manuel J. G. Carvalho - Nação, nacionalismo e democracia em Jaime de Magalhães Lima - 1999

3. Conclusão

PENSANDO por si e respeitando os valores que arvorou, desde cedo, como seus, Jaime de Magalhães Lima passou a vida a ouvir os outros e a absorver intelectualmente os contributos que, em sua opinião, o enriqueciam. Mas só esses, que de imediato compartilhava, assumindo uma permanente intervenção cívica e não recusando companheiros de jornada, mesmo quando deles discordava. Crítico e lúcido, sacrificou muito de si próprio, da sua propensão para o recolhimento, para o estudo e para o convívio com a natureza, bastando-lhe para tal reconhecer a necessidade da mediação e a excelência das causas.

Concordemos ou não com ele, participemos ou não do seu idealismo e religiosidade, dificilmente deixaremos de admirar a sua coerência, a elevação do seu pensamento e a coragem da sua actuação cívica. A justeza do seu carácter e a sinceridade dos valores democráticos que o inundavam ficam, pensamos nós, nas páginas que agora se encerram, mas, bem mais vivas e belas, repletas de humanidade, na sua vasta bibliografia hoje postergada e esquecida.

Quanto tumultuava, em Portugal, a ditadura militar, e pouco depois de Salazar abraçar a pasta das Finanças, Jaime Lima, discursando em Aveiro, nas comemorações do primeiro centenário da revolução de 1828, não deixava, mais uma vez, com intrepidez e desassombro, de zurzir o autoritarismo, a / 83 / ditadura e as agressões à liberdade:

«O liberalismo é a vida fundada em liberdade na sua totalidade e indivisibilidade, por esse princípio guiando e aferindo a dignidade da cada qual – assim como o autoritarismo, que nos seus infinitos modos e dissimulações se opõe ao liberalismo e o aborrece, é a ablação radical da personalidade e do exercício da consciência, é a vida coada pela opressão e pela irresponsabilidade – à qual irresponsabilidade os sectários do autoritarismo chamarão tranquilidade, doçura, quietação majestosa, ordem e disciplina, moeda corrente do mercado moral e político com que o despotismo usa embalsamar a aviltante prostração sonolenta dos que por natural inércia se lhe submetem de boa mente e entre esses anestésicos se sonham no paraíso.» (Lima, 1969: 32)

 

 

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