Sobre José Pereira Tavares e...
José Pereira Tavares nasceu em 1887, em Pinheiro da
Bemposta (Oliveira de Azeméis) e veio a falecer com 96 anos de idade, em
1983, na cidade de Aveiro. Habilitado com o Curso Superior de Letras da
Universidade de Lisboa, em 1916 inicia o exercício de funções docentes
no Liceu Alves Martins de Viseu. Ainda no mesmo ano passa para o Liceu
Nacional de Aveiro onde se mantém até que, em 1957, atinge o limite de
idade. Neste Liceu exerce o cargo de Reitor nos seguintes períodos: de
1925 a 1931 e de 1940 a 1957. Na cidade de Aveiro e no país, ele é o
"Reitor do Liceu", de tal modo a sua vida se confundiu com a vida do
Liceu de Aveiro.
Com Álvaro Sampaio, em 1926, José Pereira Tavares funda a
revista LABOR que vai dirigir desde a fundação até que interrompe a
publicação, de sua iniciativa, em 1973. Esta revista recolheu a
colaboração das mais variadas correntes e personalidades ligadas à
educação, ao ensino liceal (e também universitário) e, ao longo das
dezenas de anos da sua publicação, espelhou as vicissitudes dos
movimentos do "professorado liceal", bem como a evolução das correntes
pedagógicas, da organização curricular e gestão de programas, dos meios
e métodos de ensino, da avaliação e exames. Pela LABOR se pode seguir a
história do ensino e da organização dos professores liceais ou das
correntes da reforma do ensino em Portugal e no estrangeiro, etc.
Em 1935, com António da Rocha Madaíl e Francisco Ferreira
Neves, José Pereira Tavares funda a revista "Arquivo do Distrito de
Aveiro".
José Pereira Tavares afirma-se como conferencista e autor
de artigos, ensaios, peças de teatro, estudos literários; como
dinamizador do teatro escolar; como promotor de publicações de índole
literária e como autor de obras didácticas aprovadas para o ensino do
Português e do Latim - Livros de Leitura, Selectas Literárias e
Gramáticas...
... sobre o Exame de Consciência
Neste "Exame de Consciência" José Pereira Tavares dá
todos os elementos que permitem compreender a sua vida em todas as suas
dimensões. José Pereira Tavares pinta "de memória, conscienciosa e
conscientemente", todas as paisagens e todas as passagens: da infância
campesina à vida adulta citadina; da educação católica e conservadora ao
agnosticismo e ao republicanismo, à democracia e ao liberalismo.
José Pereira Tavares nasce e cresce ainda reina a
monarquia; torna-se republicano, democrata e liberal adulto com a
república, e assim se vai manter, apesar do golpe militar de 1926 e
durante o regime ditatorial de Salazar, mesmo quando é Reitor do Liceu e
autor de livros didácticos aprovados pelo regime.
Não se escondem, mas também não se "exibem" as
dificuldades da vida pessoal, os
/ 12 /
gostos e os desgostos, os sobressaltos do crescimento até à vida adulta
e os problemas da vida profissional.
Os apontamentos da amizade e da lealdade têm uma potência especial
nestes escritos, de tal modo que aguçam, em nós, a curiosidade para
conhecer mais profundamente a gente citada nesta obra reconstrutora. As
pessoas aparecem-nos carregadas de complexidade humana: como qualidades
e fragilidades individuais, mas também como agentes e parte de um
sistema, como relações afectivas e também políticas ou ideológicas, como
consciências e vontades em acção, '" e todas elas envolvidas numa teia
solidária com a vida de José Pereira Tavares.
O "Exame de Consciência" é um percurso perturbador pela
consciência cultural e profissional de um professor que vive "demais" em
todas as épocas deste século. Não há divagações, nem desculpas. José
Pereira Tavares é um honrado homem de bem: diz-nos os problemas, diz-nos
o que disse ou escreveu, descreve a atitude, a decisão e as
consequências. Deixa-nos uma linha de actos conscientes e coerentes, na
esperança de que ninguém se perca no labirinto da complexa vida que
viveu. Podem alguns de nós lamentar que nos tenha legado pequenos
comentários críticos quando preferíamos ler julgamentos sumários como
pontes entre o pretérito mais que perfeito (ontem visto pelos olhos de
hoje) e o futuro presente.
José Pereira Tavares escreveu uma simples lição de vida. Ao publicá-la,
esperamos que sirva de lição e exemplo.
"Exame de Consciência" é uma fonte que dá sede.
Arsélio de Almeida Martins
Aveiro, Maio de 1999
|