Companhia Voluntária de Salvação Pública
«Guilherme Gomes Fernandes»
Pelo ano de 1908, Aveiro era cidade em franco crescimento
demográfico e, consequentemente, as edificações de toda a ordem
aumentavam em considerável ritmo. Estas circunstâncias teriam levado um
reduzido grupo de homens dos bairros da beira-mar, lá no extremo norte
da freguesia da Vera Cruz, à determinação de fundarem um novo corpo de
bombeiros na cidade. Ideal seria − pensavam eles quando pela primeira
vez se reuniram num armazém de pescado fronteiro ao Canal de S. Roque, à
luz duma vela cuja chama tremulava sobre um cabaz de sardinha − que um
quartel de bombeiros se implantasse no meio das gentes ribeirinhas,
assim tornando mais pronto o auxílio em emergências de sinistro naquelas
paragens: a casa da Associação Humanitária localizava-se a distância tal
que, no seu entender, bem se justificaria levar a efeito o que, em mera
hipótese, ali se gizava. E a hipótese concretizar-se-ia, afinal, em 30
de Novembro desse mesmo ano de 1908: somente que o primitivo quartel,
cuja localização teria sido a principal determinante do aparecimento
duma nova agremiação de Bombeiros − e por «Bombeiros Novos» viria a ser
mais conhecida a Companhia Voluntária de Salvação Pública GUILHERME
GOMES FERNANDES − houve que instalar-se, e por alguns anos ali se
manteve, na antiga Rua dos Tavares, na mesma freguesia, portanto, em que
se sediava a Associação Humanitária. Só mais tarde os «Bombeiros Novos»
se deslocariam para o seu actual quartel, no largo que hoje tem o nome
de Maia Magalhães, assim, e apenas então, se obedecendo ao primacial
escopo da criação em Aveiro dum segundo corpo de Bombeiros − e desse
modo os Bombeiros aveirenses ficaram repartidos por duas freguesias
citadinas.
A Companhia Voluntária de Salvação Pública GUILHERME
GOMES FERNANDES viria a ser reconhecida de Utilidade Pública, galardoada
com a Medalha de Prata da Cidade e − o que constitui o melhor prémio
para o seu espírito de camaradagem − eleita sócia de honra da sua
congénere aveirense, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários
de Aveiro. Outras benesses exornam a sua bandeira: mas as que se
referiram bastam para dar testemunho de que os «Bombeiros Novos» têm
cumprido a altruísta missão que se propuseram.
Bombeiros Voluntários de Esmoriz
A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de
Esmoriz celebrará em 26 de Abril do próximo ano quatro décadas de
vivência, pois foi fundada, rigorosamente, naquele dia e naquele mês de
1931.
Em escrito de 29 de Julho transacto, firmado
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pelo Sr.
Manuel Gomes de Oliveira, dinâmico elemento da prestimosa corporação,
lêem-se estas palavras de tocante modéstia e significado:
«Não obstante o nosso maior esforço e constante dedicação à causa que
servimos não fomos ainda suficientemente activos para justificar
qualquer condecoração;
«Ao longo da nossa actividade não conseguimos distinguir serviços. Para
nós, o toque da sirene significa apenas um pedido de ajuda. Damo-la
sempre com a melhor vontade e no máximo das nossas forças.
«Os serviços dos VOLUNTÁRIOS, quanto a nós, não justifica qualquer
distinção.»
Assim entendem, por uma das suas vozes autorizadas, os Bombeiros
Voluntários de Esmoriz, que elevam, ao máximo do seu puro conteúdo, a
palavra voluntariado.
Consolam-se numa certeza − que nos é dada no mesmo escrito:
«Felizmente, estamos apetrechados com material que consideramos
indispensável.»
Em Aveiro-litoral − água! água! água − o elemento líquido
é soberano. Mas também a água dá pão para a boca; ao que, por vezes,
aqui, o pão se conquista na iminência do drama. Numa terra assim, mais
água do que terra, o bombeiro, normalmente adestrado para o fogo, tem
ainda que preparar-se para as contingências da água, a qual água,
matando fogo e fomes, também mata. Por isso é que os homens-rã duma das
corporações aveirenses se treinam exaustivamente para poderem acudir, na
água, ao irmão em perigo. Não é caso para desafiarmos a tempestade; mas
porventura − por ventura! − será caso para confiarmos em que, na
tempestade, estará um bombeiro, um Anjo-Bom.
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