Sem me deter nos vários tipos de famílias (patriarcal,
matriarcal, monoparental, civil, religiosa ou reconstruída), julgo
importante descobrir a força determinante no desenvolvimento de cada ser
humano, que se encontra no seio da cada agregado Familiar. O humano é,
por definição, algo que encerra, de uma forma única, a harmonia
consciente do universo. A vida organizada toma foros de consciência na
mulher e no homem. Seres débeis e limitados têm dentro de si capacidades
de fortaleza e rasgos ilimitados de criatividade e progressividade.
Embora essas potencialidades estejam presentes no projecto humano, elas
só serão plenitude quando encontram o ambiente adequado para se
manifestarem. É na família que isso poderá acontecer naturalmente. É que
a família nem é estufa que acelere as manifestações nem o ambiente
agressivo que destrói as potencialidades presentes em cada ser.
Importa repensar a família. Podá-la das aderências
nefastas; incentivá-la com leis adequadas; protegê-la sem reducionismos;
escutá-la como parceiro social e solicitá-la como órgão fundamental do
desenvolvimento harmonioso, numa sociedade em mutação... A nova família
tem rosto. Não o rosto do vestuário de marca, do apartamento de luxo, da
conta bancária, tantas vezes conseguida à custa da destruição de outras
famílias. O NOVO ROSTO É O DA FRATERNIDADE. O irmão pai, a irmã mãe, o
irmão filho, e por aí adiante... Este é o traço individualizante de cada
célula familiar. Não gosto de dizer: ANTIGAMENTE É QUE TÍNHAMOS
FAMÍLIAS! Julgo que seja uma frase destituída de sentido. Cada época tem
uma resposta, muitas vezes ensaiada dentro de parâmetros possíveis, para
o tempo e, por conseguinte, também hoje deveremos repensar a Família, em
ordem à descoberta de caminhos a percorrer. Os modelos são sempre
incompletos. Por isso, naturalmente, insinuam que a mediocridade dos
outros precisa de se aperfeiçoar segundo o modelo do novo rosto familiar
– a fraternidade.
Neste Ano Internacional da Família, acho necessário
refontalizar a família no amor, isto é, naquilo que faz crescer na
verdade das relações, sentir a justiça na participação e no descobrir a
admiração e a contemplação no belo de cada indivíduo. Neste horizonte
cai imediatamente o individualismo hedónico, a independência
irresponsável e a singularidade atrofiada. A Família de hoje tem
potencialidades fantásticas.
Vejamos! Como nunca, hoje é possível: a capacidade de
interrogar; o dinamismo partilhado; a renovação que acolhe; o respeito
dialogante; a comunicação sem subterfúgios e ainda o usufruir do
progresso tecnológico e científico que nos oferecem tantos benefícios e
aos quais temos acesso. Importa olhar estas realidades
/
7 / e utilizá-las com gradualidade criativa
e libertadora.
Sei
que isto na linha existencial é terreno que precisa de ser arroteado.
Todavia é importante o esforço de alguém que, ao tomar consciência de
recriar uma família feliz, força esse acontecer. Os primeiros a
usufruírem desses benefícios são os intervenientes no processo desta
constante aprendizagem.
O Ano Internacional da Família é interpelação ao Estado,
às Igrejas e naturalmente às outras comunidades.
A Escola está neste número e com redobradas
responsabilidades.
Podemos afirmar que a Escola é verdadeiramente o lugar
privilegiado, em ordem à educação para o novo tipo de família. A
interdisciplinaridade deverá ajudar a criar no adolescente uma forte
abertura aos valores, não como pautas comportamentais, mas como suportes
de atitudes em permanente questionamento. O questionar não significa
cair no relativismo existencial mas, bem ao contrário, abre ao espírito
critico, gerador da novidade que deve modelar toda a vida.
Será que na inter-ajuda ou melhor, na abertura mútua da
Família e da Escola que o elo de comunhão familiar se irá convertendo
sucessivamente no acto que empenha na prossecução da felicidade de cada
indivíduo, resultando, assim, a paz desta pequena democracia que vive no
coração da Sociedade? A Escola tem uma importante responsabilidade na
vida feliz de cada professor aluno.
Neste Ano Internacional da Família, a família e a Escola
não podem deixar de activar todos os mecanismos ao seu alcance, sob pena
de não cumprirem a sua missão, em ordem à influência que estas
instituições têm na transformação da Comunidade Portuguesa. ■
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