Escola Secundária José Estêvão, n.º 3, Abr. - Jun. de 1991

É para mim uma honra poder falar em nome dos Conselhos Directivos da Área Educativa de Aveiro. Quem me dera que o pudesse fazer bem. Falo das escolas nos tempos de hoje, tempos de passagem entre os constrangimentos resultantes da massificação e democratização do ensino e as liberdades do futuro que queremos de consagração da democratização do ensino nas melhores condições do presente, condições consagradas pela construção dos novos edifícios, pela fixação dos quadros dos professores, e em geral pela reforma do sistema educativo. Podemos ter muitas discordâncias e dúvidas sobre diversos aspectos das reformas em curso, mas é bem verdade que elas consagram em letra de lei uma escola como comunidade dentro da comunidade. As escolas sempre prestaram serviços inestimáveis à população. E é verdade que sempre contaram com o apoio ou pelo menos com a compreensão da população para as grandes dificuldades que foi preciso viver.

Se foi difícil o combate travado para responder com pobreza, mas com dignidade, à procura de escolaridade pela população que cresceu a um ritmo muito superior à capacidade de crescimento do sistema, mais difícil foi o combate contra a insensibilização dos professores, dos estudantes e dos pais. Nas grandes cidades, mas também nas pequenas povoações uma geração de professores, de estudantes e de pais não conheceu outras escolas senão aquelas que não eram mais do que uma cadeira, uma mesa, um quadro, um professor por cada e para algumas horas do dia.

Preciso foi, preciso é mostrar uma outra escola feita de outras realidades para além das aulas e das correrias para o vazio fora das aulas.

Este ponto de encontro consagra as escolas que, apesar de todas as dificuldades, foram construindo as diversas construções que uma escola é. Hoje posso falar de escolas que, antecipando o preto no branco da lei, procuraram ser escola na comunidade e ter a comunidade na escola, ser banco de escola e ser banco de artesão para recuperar para a comunidade o que a comunidade corre o risco de perder, ser palco de escola e ser uma escola no palco da cidade. Estas escolas, estes magníficos estudantes que, eles mais do que ninguém, travaram tais combates merecem ser destacados da penumbra das actividades outras (quem disse menores?) em que se movem. Eles merecem o passo para a luz do dia claro que este ponto de encontro é.

E merecem ganhar esta luz todas as instâncias da Administração, desde a Coordenação da Área Educativa, que nos acompanharam, dando ajuda e compreensão que podiam dar. E como o caminho é para ser percorrido pelas escolas... ... Esperamos que, assim possam! Que nos acompanhem na caminhada, nos dêem amparo e ânimo, quando for caso disso.

Pelo nosso lado, que acompanhámos o sistema desde o tempo da 3.ª classe para a imensa maioria dos meus companheiros de infância de aldeia até estes tempos de hoje (que fazem os filhos dos meus companheiros marnotos de então?), vivendo, como professor, períodos de grandes sacrifícios e incertezas e vivendo as debilidades das crises de crescimento do sistema, só posso dizer que tenho orgulho de ter sido um professor para este tempo e manifestar o meu profundo optimismo em relação ao futuro, que eu quero melhor e mais bonito e o quero para viver hoje. Quem hoje é chamado a dar o passo em frente neste ponto de encontro constitui um "presente" para o futuro que queremos construir. Para os que hão de vir. Mas também para nós que tardaremos em morrer, em partir deste encontro com o nosso tempo. Muito menos morrerá a nossa esperança.

Aveiro tem muitas águas. Para afogar mágoas e, por nossa tradição, para arribar à Terra Nova. As nossas escolas pescam uma esperança de Terra Nova e quem nos dera que pudéssemos ajudar a construir uma Terra Nova, construindo o novo e reconstruindo a eterna novidade do "velho".

Assim faremos. Está prometido. (A.M.)

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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