Escola Secundária José Estêvão, n.º 3, Abr. - Jun. de 1991

     

JOSÉ DE MELO

 

ANTÓNIO CAPÃO

SAÇÁ MUTAMA

Os alunos andam excitados, confusos. Talvez das férias, do frenesim de esgotarem de um trago toda a ânsia de liberdade que as férias lhes proporcionarão. E vêem tudo, e falam de tudo, dizem tudo o que, – malgré tout – normalmente não diriam nas nossas tão abertas aulas, umas aulas que não são já as do antigamente.

Que tinham lido num jornal que não havia mais acentos. Que cada um poderia escrever como pronunciava. Meu Deus! Uma confusão.

– Então a gente agora pode escrever, por exemplo, Sassá com cedilhado e Mutema, se for da Murtosa, com um a?

– Como?

Explicou que Saçá Mutama. E Abeiro. Tal como excecional.

Ri para dentro e para fora. Lembrei-me do Dr. António Capão e de uma conversa que tivemos, há semanas, sobre o "Acordo Ortográfico" e a sua falta de unidade, e percebi. Percebi que as pessoas não poderiam chegar ao que cérebros como o do Professor Costa Ramalho, – que frequentou Oxford, – como o do Professor Pinto de Castro, e etc., haviam congeminado, lá com um brasileiro que tem nome árabe e com outros assim. Percebi tudo.

Respondi, evasivo, que dessem tempo ao tempo. Fiquei a pensar na amargura dos Professores Óscar Lopes ou Vítor Manuel de Aguiar e Silva, e fiquei amargo também. E também confuso.

Mas o Dr. António Capão está de volta à escola, escreverá neste número, irá escrever mais de espaço, – e sempre bene, como dizem os italianos, – resolvi poupar-me, ficar-me por aqui. Nesta crónica que apenas o pretende ser.

Apenas, sem comentários.

<><><><><><><>

 



















































 
 

UM HOMEM,

UM PROFESSOR

Quando então o conhecemos pessoalmente, como orientador de Estágio na disciplina de Português, no Liceu D. Manuel II, no Porto, o Doutor Salgado Júnior era um Homem, um Professor, que se impunha pela natureza requintada das suas relações humanas, pela delicadeza do seu trato e pelo seu grande saber.

O Liceu de Aveiro teve a honra de o sentir passar por aqui e a revista liceal «Labor» o privilégio de publicar alguns dos seus mais notáveis trabalhos histórico-literários, como é o caso de "A Menina e Moça e o Romance Sentimental no Renascimento", que apresentou novas ideias sobre a obra de Bernardim Ribeiro e a evolução da novelística portuguesa.

Professor, conhecedor profundo do seu ofício, estudioso invulgar só de temas originais da nossa literatura, crítico arguto a quem não foram alheias as vicissitudes relacionadas com a ideologia política do seu tempo, António Salgado Júnior, o único professor do ensino secundário de então doutorado em Filologia Românica, preterido em concurso para professor da Universidade, veio também a frequentar a Escola Normal Superior para se habilitar ao magistério do ensino secundário a que se dedicou com grande proficiência.

Para além da obra que já citámos, Salgado Júnior publicou outros trabalhos de inegável valor: "História das Conferências do Casino" e o "Verdadeiro Método de Estudar" de Verney, em cinco volumes, com prefácios, comentários e notas de grande interesse informativo e cultural.

A sua bibliografia, porém, é muito mais vasta e revela sempre o toque peculiar da originalidade e uma visão científica do problema histórico-literário que o coloca a par dos maiores vultos da crítica literária nacional.

<><><><><><><>

 

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

Página anterior Índice de conteúdos Página seguinte

pág. 31