Escola Secundária José Estêvão, n.º 27, Março de 2001

 

A propósito da Área-Escola


O Dec. Lei 286/89 no Art. 9.º refere que a Área Escola é uma área disciplinar com os seguintes objectivos:

– concretização de saberes através de actividades e projectos multidisciplinares;

– a articulação da Escola com o Meio;

– a formação pessoal e social dos alunos, A A.E. serve também para Alunos e Professores redimensionarem o modo de estar no Ensino.

Li aos alunos, com quem trabalhei no ano transacto, algumas notas que recolhi enquanto assistia à Conferência do Milénio "As pequenas coisas que irão mudar o nosso dia a dia"; nessa Conferência Alvin Toffler referiu que  «…o Mundo divide-se entre os rápidos e os lentos...» e «na Ásia, de economia florescente, se atribui muita importância à diferença entre o amanhã e o imediatamente, porque o amanhã é tarde demais.» As atitudes têm que ser rápidas senão podem ocorrer dessincronizações, pelo que pensar em tempo e sincronização vai ser muito importante no futuro.

Considerou o mesmo conferencista que, se os livros de Economia não referirem como factores de produção a Terra, o Trabalho, o Capital e o Conhecimento, estão desactualizados, pois que se se tiver conhecimento no lugar certo, precisa-se de menos Terra, menos Trabalho e menos Capital.

Numa Acção de Formação em que tomei parte na Universidade do Minho, um pedagogo espanhol referia-se aos alunos portugueses nos seguintes termos: «...aos portugueses se lhes marcar um prazo de quinze dias para a entrega de um trabalho, eles farão esse trabalho no último dia tal como se esse período fosse de oito dias, pelo que o melhor é pedir o trabalho para o dia seguinte...»

Não me lembro quem se referiu no Séc. XIII aos Portugueses como sendo um Povo extraordinário, que executa em pouco tempo obras maravilhosas, e que ainda poderiam ser melhores se a elas dedicassem mais tempo e atenção.

Não é fácil a adaptação em turmas do 10.º Ano, em especial na disciplina de Técnicas Laboratoriais, onde é exigido ao aluno o cumprimento de tarefas dentro e fora das aulas no tempo proposto, atitudes responsáveis no manuseamento de material, empenhamento, criatividade, iniciativa e autonomia, parâmetros a que, na maioria dos casos, não foram obrigados até ao Ensino Secundário.

O exemplo que relato é bem o paradigma do que é ser aluno do Secundário numa Escola Portuguesa, e que mostra bem a necessidade do redimensionamento a que aludi no início do texto.

Um grupo de três alunas de uma "boa turma" optou por desenvolver o subtema "A preservação da pele", integrado no grande tema "O culto do corpo".

Na primeira reunião, tida no início de Janeiro, acordou-se na metodologia de trabalho, e nas tarefas a desenvolver em tempo útil.

Feito um inquérito a aplicar a uma esteticista, (bem elaborado, segundo opinião da professora de Português), a sua / 32 / aplicação revelou-se infrutífera, já que a esteticista não possuía, como se julgava, os conhecimentos científicos relativos às implicações do uso dos cosméticos no atraso do aparecimento das rugas, e outras manifestações de envelhecimento da pele. Estávamos ainda a dois meses do dia D, mas de mãos vazias; havia que procurar uma outra esteticista mais informada, o que seria difícil, pois de fonte segura aquela era a mais conceituada da cidade, com uma experiência de vinte e cinco anos.

Optou-se por contactar antes um dermatologista, sem que se tenha conseguido, por indisponibilidade dos mesmos.

E estava-se em Abril, a uma semana do dia De, e já em desespero de causa, mudou-se para nova estratégia, que se traduziu num trabalho de pesquisa bibliográfica na biblioteca da Escola; mas estávamos no final do período, as últimas provas ainda por fazer, o cansaço acumulado em três meses de trabalho, e, ainda por cima, a melhor bibliografia sobre o assunto era em língua francesa, que os alunos não dominavam tão bem como a inglesa.

Era preciso tempo para recorrer ao Clube de Francês da Escola, mas era Quarta-feira e, na Segunda-feira seguinte tudo tinha que estar em ordem.

Em "Educational Psychology – A cognitive view" Ausubel exprime uma ideia-chave da sua teoria da assimilação no seguinte extracto: «Se tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a um só princípio, diria simplesmente que o factor mais importante para a aprendizagem é o que o aprendiz já sabe. Certifique-se primeiro dos seus conhecimentos e ensine-o de acordo com isso.»

Ora aqui residiu uma das minhas grandes falhas, porque não me certifiquei à partida acerca dos saberes das três jovens, relativamente ao domínio das línguas, e aos processos informáticos de tratamento de dados, pois sugeri que o trabalho fosse apresentado em "PowerPoint".

Passei grande parte do fim de semana a ajudá-las na tradução de artigos, e na informática valeu-lhes a boa vontade do Professor Moreira, que aceitou passar toda a tarde de Segunda-feira na Escola, e parte da noite em sua casa, a tratar o material que era necessário para apresentação no dia seguinte, às dez horas.

Havia que "encenar" a apresentação, pois as três jovens fariam a sua primeira "conferência", utilizando um aparelho que até à data só tinham utilizado muito poucas vezes – o retroprojector.

"O ensaio geral" (e único), teve lugar no Laboratório de Biologia com os acetatos que dispunha no momento.

Chegou o dia D – 9 Horas e 30 Minutos os acetatos são entregues pelo professor Moreira, e estão excelentes; mas havia um 'conceptograma’ que uma das alunas fez em casa e não estava conforme; foi preciso ir à reprografia ajustá-lo. Depois havia o texto a memorizar pela última vez antes da apresentação ao Grande Público...

O contra-relógio só acabou quando as três jovens, por fim, se libertaram, e bem, da pesada responsabilidade que foi trabalhar na A-E, assumindo tratar um tema que tinha que ver com o funcionamento das células da pele e as agressões a que estão / 33 / sujeitas (Ver Caixa ?).

No terceiro período fez-se a avaliação do trabalho desenvolvido; os seus pares acharam a Joana, a Jennifer e a Diana excepcionais; sem deixar de as felicitar pelo desempenho, recordei-lhes as leituras anteriormente feitas após as Conferências do Milénio.

Esta A. E. permitiu realmente que os objectivos enunciados no Dec. Lei 286/89 tivessem sido atingidos, mas ainda fazer o levantamento das competências dos alunos da Turma acerca da comunicação de Trabalhos.

Toffler defende que quem não aprender a aprender se pode considerar um analfabeto funcional, mesmo que possua muitos conhecimentos, e domine as aptidões básicas de ler, escrever e calcular. Propus às jovens que aprendessem, para ensinar posteriormente aos seus colegas, a trabalhar com o "PowerPoint", para que, este ano, as apresentações que tivessem de fazer o fossem já com imagens em movimento, muito mais apelativas do que as imagens paralíticas que apresentaram nesta sua Acção.

Aguarda-se o resultado das diligências que foram feitas, ao nível do Departamento de Ciências, para colmatar esta lacuna dos jovens desta Turma.

No Art. 8.º do mesmo Dec. Lei 286/89 lê-se que «as Escolas podem ainda organizar actividades de complemento curricular com carácter facultativo…». Eu acrescentaria, em férias, porque durante todo o terceiro período não foi possível conjugar as vontades das alunas e professores para as aprendizagens neste domínio informático.

Trabalhar na A. E. parece-me ser um bom exercício para ajudar professores e alunos a redimensionar a maneira de estar no Ensino.

José Fontes
 

 

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