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A propósito da Área-Escola |
O Dec. Lei 286/89 no Art. 9.º refere que a Área Escola é uma
área disciplinar com os seguintes objectivos:
– concretização de saberes através de actividades
e projectos multidisciplinares;
– a articulação da Escola com o Meio;
– a formação pessoal e social dos alunos, A A.E.
serve também para Alunos e Professores redimensionarem o modo de
estar no Ensino.
Li aos alunos, com quem trabalhei no ano
transacto, algumas notas que recolhi enquanto assistia à
Conferência do Milénio "As pequenas coisas que irão mudar o
nosso dia a dia"; nessa Conferência Alvin Toffler referiu que
«…o Mundo divide-se entre os rápidos e os lentos...» e «na Ásia,
de economia florescente, se atribui muita importância à
diferença entre o amanhã e o imediatamente, porque o amanhã é
tarde demais.» As atitudes têm que ser rápidas senão podem
ocorrer dessincronizações, pelo que pensar em tempo e
sincronização vai ser muito importante no futuro.
Considerou o mesmo conferencista que, se os
livros de Economia não referirem como factores de produção a
Terra, o Trabalho, o Capital e o Conhecimento, estão
desactualizados, pois que se se tiver conhecimento no lugar
certo, precisa-se de menos Terra, menos Trabalho e menos
Capital.
Numa Acção de Formação em que tomei parte na
Universidade do Minho, um pedagogo espanhol referia-se aos
alunos portugueses nos seguintes termos: «...aos portugueses se
lhes marcar um prazo de quinze dias para a entrega de um
trabalho, eles farão esse trabalho no último dia tal como se
esse período fosse de oito dias, pelo que o melhor é pedir o
trabalho para o dia seguinte...»
Não me lembro quem se referiu no Séc. XIII aos
Portugueses como sendo um Povo extraordinário, que executa em
pouco tempo obras maravilhosas, e que ainda poderiam ser
melhores se a elas dedicassem mais tempo e atenção.
Não é fácil a adaptação em turmas do 10.º Ano, em
especial na disciplina de Técnicas Laboratoriais, onde é exigido
ao aluno o cumprimento de tarefas dentro e fora das aulas no
tempo proposto, atitudes responsáveis no manuseamento de
material, empenhamento, criatividade, iniciativa e autonomia,
parâmetros a que, na maioria dos casos, não foram obrigados até
ao Ensino Secundário.
O exemplo que relato é bem o paradigma do que é
ser aluno do Secundário numa Escola Portuguesa, e que mostra bem
a necessidade do redimensionamento a que aludi no início do
texto.
Um grupo de três alunas de uma "boa turma" optou
por desenvolver o subtema "A preservação da pele", integrado no
grande tema "O culto do corpo".
Na primeira reunião, tida no início de Janeiro,
acordou-se na metodologia de trabalho, e nas tarefas a
desenvolver em tempo útil.
Feito um inquérito a aplicar a uma esteticista,
(bem elaborado, segundo opinião da professora de Português), a
sua
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aplicação revelou-se infrutífera, já que a esteticista não
possuía, como se julgava, os conhecimentos científicos relativos
às implicações do uso dos cosméticos no atraso do aparecimento
das rugas, e outras manifestações de envelhecimento da pele.
Estávamos ainda a dois meses do dia D, mas de mãos vazias; havia
que procurar uma outra esteticista mais informada, o que seria
difícil, pois de fonte segura aquela era a mais conceituada da
cidade, com uma experiência de vinte e cinco anos.
Optou-se por contactar antes um dermatologista,
sem que se tenha conseguido, por indisponibilidade dos mesmos.
E estava-se em Abril, a uma semana do dia De, e
já em desespero de causa, mudou-se para nova estratégia, que se
traduziu num trabalho de pesquisa bibliográfica na biblioteca da
Escola; mas estávamos no final do período, as últimas provas
ainda por fazer, o cansaço acumulado em três meses de trabalho,
e, ainda por cima, a melhor bibliografia sobre o assunto era em
língua francesa, que os alunos não dominavam tão bem como a
inglesa.
Era preciso tempo para recorrer ao Clube de
Francês da Escola, mas era Quarta-feira e, na Segunda-feira
seguinte tudo tinha que estar em ordem.
Em "Educational Psychology – A cognitive view"
Ausubel exprime uma ideia-chave da sua teoria da assimilação no
seguinte extracto: «Se tivesse que reduzir toda a psicologia
educacional a um só princípio, diria simplesmente que o factor
mais importante para a aprendizagem é o que o aprendiz já sabe.
Certifique-se primeiro dos seus conhecimentos e ensine-o de
acordo com isso.»
Ora aqui residiu uma das minhas grandes falhas,
porque não me certifiquei à partida acerca dos saberes das três
jovens, relativamente ao domínio das línguas, e aos processos
informáticos de tratamento de dados, pois sugeri que o trabalho
fosse apresentado em "PowerPoint".
Passei grande parte do fim de semana a ajudá-las
na tradução de artigos, e na informática valeu-lhes a boa
vontade do Professor Moreira, que aceitou passar toda a tarde de
Segunda-feira na Escola, e parte da noite em sua casa, a tratar
o material que era necessário para apresentação no dia seguinte,
às dez horas.
Havia que "encenar" a apresentação, pois as três
jovens fariam a sua primeira "conferência", utilizando um
aparelho que até à data só tinham utilizado muito poucas vezes –
o retroprojector.
"O ensaio geral" (e único), teve lugar no
Laboratório de Biologia com os acetatos que dispunha no momento.
Chegou o dia D – 9 Horas e 30 Minutos os acetatos
são entregues pelo professor Moreira, e estão excelentes; mas
havia um 'conceptograma’ que uma das alunas fez em casa e não
estava conforme; foi preciso ir à reprografia ajustá-lo. Depois
havia o texto a memorizar pela última vez antes da apresentação
ao Grande Público...
O contra-relógio só acabou quando as três jovens,
por fim, se libertaram, e bem, da pesada responsabilidade que
foi trabalhar na A-E, assumindo tratar um tema que tinha que ver
com o funcionamento das células da pele e as agressões a que
estão
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sujeitas (Ver Caixa ?).
No terceiro período fez-se a avaliação do
trabalho desenvolvido; os seus pares acharam a Joana, a Jennifer
e a Diana excepcionais; sem deixar de as felicitar pelo
desempenho, recordei-lhes as leituras anteriormente feitas após
as Conferências do Milénio.
Esta A. E. permitiu realmente que os objectivos
enunciados no Dec. Lei 286/89 tivessem sido atingidos, mas ainda
fazer o levantamento das competências dos alunos da Turma acerca
da comunicação de Trabalhos.
Toffler defende que quem não aprender a aprender
se pode considerar um analfabeto funcional, mesmo que possua
muitos conhecimentos, e domine as aptidões básicas de ler,
escrever e calcular. Propus às jovens que aprendessem, para
ensinar posteriormente aos seus colegas, a trabalhar com o
"PowerPoint", para que, este ano, as apresentações que tivessem
de fazer o fossem já com imagens em movimento, muito mais
apelativas do que as imagens paralíticas que apresentaram nesta
sua Acção.
Aguarda-se o resultado das diligências que foram
feitas, ao nível do Departamento de Ciências, para colmatar esta
lacuna dos jovens desta Turma.
No Art. 8.º do mesmo Dec. Lei 286/89 lê-se que
«as Escolas podem ainda organizar actividades de complemento
curricular com carácter facultativo…». Eu acrescentaria, em
férias, porque durante todo o terceiro período não foi possível
conjugar as vontades das alunas e professores para as
aprendizagens neste domínio informático.
Trabalhar na A. E. parece-me ser um bom exercício
para ajudar professores e alunos a redimensionar a maneira de
estar no Ensino.
José Fontes
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