Sintra, princípio de Setembro de 1997. Um pequeno
grupo de alunos de diversos países sentam-se num quarto na
pousada da juventude. Com eles estão uns voluntários da
Intercultura. Eu sou um desses alunos. Uma coisa muito
importante foi dita naquela conversa que ainda lembro hoje:
«Este não vai ser o melhor ano da tua vida. Será talvez o ano em
que vocês aprendem o máximo, mas é só um ano.» Ninguém disse que
nós gostaríamos ou que íamos aproveitar ao máximo este ano.
Também ninguém me disse que estaria tão sozinha. Mas aprendi
muito sobre mim própria, tal como deste país e a sua cultura.
«Não é bom, não é mau – é diferente,» é outra
coisa que ainda lembro ter sido dito e que está sempre comigo.
Também é verdade – este ano aprendi que todos somos iguais como
seres humanos, e todas as culturas também. É assim: há coisas
estúpidas, idiotas, e coisas más e feias em todo o mundo, mas
cada sítio também tem os seus encantos. Existem pessoas abertas,
paisagens lindas e coisas boas. Apesar de tudo é igual em toda a
parte. Cada um deve escolher o seu próprio ponto de vista.
Nós escolhemos vir para cá, e também fomos nós
que escolhemos estar alegres ou tristes, aproveitar ou estragar
o ano. Muitas vezes escolhi estar triste, porque estava sozinha.
Mas, estar sozinho não é sempre uma coisa má. Assim, as pessoas
descobrem muita coisa sobre si próprios. Pode ser útil, mesmo
quando não gostamos de tudo o que aprendemos.
É muito importante tentar sempre. Ninguém pode
exigir mais de ti. Temos que andar sempre em frente, porque não
podemos voltar para trás. «Aproveita o dia,» esse tipo de
coisa…; no entanto, muitos de nós também aproveitaram a noite. (:-)
Mas para mim, como não fumo e não bebo, não tive
muita vida social aqui em Portugal. Na minha escola os alunos
eram um pouco fechados, isto é, tinham os seus grupos e não me
deixaram entrar... Além disso, estavam sempre a estudar e não
saíam muito. Mas, pelo menos, as aulas eram interessantes. Tinha
aulas com anos e turmas diferentes. Os outros alunos não
perceberam bem isto, e acharam que era muito estranho.
Pois, não posso dizer tudo aqui... Estou a pensar
em coisas interessantes que aconteceram durante o ano. Fui a
Barcelona com a minha turma de História da Arte. Foi divertido.
Ficámos num hotel de 3 estrelas. Ficaram dois alunos em cada
quarto, mas só nos davam uma chave. Precisávamos de deixar a
chave numa abertura na parede para ter luz. Então, isto era um
grande problema, porque a minha colega
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queria sair durante a noite e eu queria ficar. Mas ela descobriu
que podia deixar o seu cartão jovem na abertura, e havia luz.
Quando queria entrar no quarto, deixava a porta exterior aberta,
e entrava pelo quarto ao nosso lado, porque as minhas colegas
também não saíram muito. Eu escalei a parede que separou as
nossas varandas e entrei no quarto daquela maneira. Pois os
nossos quartos eram no 5.º andar...
A outra coisa que fiz este ano foi uma peça de
teatro com a minha turma de OED (Oficina de Expressão
Dramática). Nós criámos personagens, agrupámo-nos, e depois
escrevemos a nossa peça. Apresentámos esta peça para os alunos
na escola e para a outra turma de OED; ainda falta uma
apresentação para o público em geral. Foi muito divertido,
porque estava mais unida com os alunos daquela turma do que
todas as outras. Escolhi esta disciplina porque pensei que
melhoraria o meu Português, mas foi boa por outras razões.
Também andei no karaté durante alguns
meses e aprendi muito. Fi-lo porque precisei de gastar alguma
energia. Os treinos por vezes eram muito duros, mas é por isso
que os alunos deste dojo ganham quase todos os
campeonatos.
O ano está quase a acabar, e estou contente por
ter vindo. Mas quero ir para a casa! Sei que vou ter saudades de
Portugal, mas este país nunca foi e nunca será a minha terra. Eu
penso de uma maneira diferente dos portugueses, porque sou
Americana, mas também penso de uma maneira diferente da maior
parte dos Americanos. Isto tomou as coisas ainda mais difíceis
para mim.
Queria ficar, porque gosto do estilo de vida
aqui, gosto da comida. Gosto de estar à vontade. Tenho algum
medo de voltar, porque sei que as coisas nunca vão ser as
mesmas. A partir de agora, a minha vida é realmente a minha
vida. Mas não vou ter saudades de estar mais sozinha do que fui
na minha vida aqui, das pessoas que não me compreendem e que não
querem compreender... Estou pronta para outra mudança. Isto tem
que ser. A mudança é boa e não se pode ter medo.
Pronto, agora que todos começavam a compreender a
mente da Stacy, vai acabar. Na verdade, não tinha ideia nenhuma
do que devia escrever. Escrevo e digo o que penso, não posso
fazer mais nada. Portanto, boas férias para todos, e boa sorte
na vida!
DON'T PANIC
MAY THE SCHWARTZ BE WITH YOU!!!
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Stacy L. Atchison
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Temos saudades da Stacy
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