SEUC
um sistema à procura dum caminho
Dando seguimento a uma nova estratégia para os Conselhos
Pedagógicos – Sessões Abertas à Comunidade Escolar com a discussão de
grandes temas – realizou-se no passado dia 26 de Fevereiro uma acção
sobre o SEUC – SISTEMA DE ENSINO POR UNIDADES CAPITALIZÁVEIS. Tratava-se
de não só discutir este sistema de ensino, mas, principalmente,
"adoptá-lo". É que o SEUC tem crescido sem que a maior parte da
Comunidade Escolar tenha, sequer, conhecimento do que se trata. Era,
pois, tempo de tomar conhecimento da "coisa".
Para fazer luz sobre o assunto arranjaram-se três
andarilhos da noite: a Luísa Catarino (como representante do Conselho
Directivo para o Ensino Nocturno), a Cristina Campizes e o Alcino
Carvalho (enquanto delegados ou representantes de Grupo que leccionam o
SEUC). É do trabalho então apresentado que aqui se dá notícia.
Para quem não esteja familiarizado com este sistema de
ensino, interessa defini-lo e caracterizá-lo de forma breve. O SEUC é um
sistema de ensino de tipo recorrente, logo de segunda oportunidade, cuja
experimentação começou no nosso país em 1981. O lançamento definitivo e
generalizado data, somente, de 1986/87, no caso do Básico, e de 1992/93,
no caso do Secundário. Nos anos iniciais de generalização dos novos
currículos coexistiram com o antigo Curso Geral Nocturno, estando ainda
hoje em funcionamento o 2.º ano do Curso Complementar Nocturno, bem como
o antigo 12.º ano, mas que acabarão até ao fim do milénio. Quer isto
dizer, que, a breve trecho, e caso não haja mudanças radicais, o SEUC
será o único tipo de ensino a ser leccionado em regime nocturno.
A estrutura curricular do SEUC é composta por um grupo de
disciplinas e áreas que constituem a formação geral e por uma área de
opção e/ou um área específica consoante se trate, respectivamente, do
Básico ou do Secundário. Os alunos inscrevem-se no curso por
disciplinas, sendo cada uma composta por unidades que o aluno
"capitaliza" à medida que vai tendo aproveitamento nos respectivos
exames, sem limite algum, impondo assim o aluno o seu próprio ritmo de
aprendizagem. O aluno termina com aproveitamento o curso quando
"capitalizar" todas as unidades de todas as disciplinas.
Para alunos que vêm doutros sistemas de ensino existem
equivalências que lhes permitem posicionar-se em unidades avançadas, ou
mesmo terem equivalência a uma determinada disciplina.
As aulas não são de frequência obrigatória. Mais, aos
alunos não são marcadas faltas, mas sim presenças. Estas presenças só
são importantes no caso de disciplinas eminentemente práticas ou na área
das línguas. Nestes casos, devido à sua assiduidade, o aluno pode ser
dispensado da parte oral do exame ou da sua componente prática. Aos
diversos tempos lectivos por disciplina acrescenta-se, ainda, uma aula
de apoio, que funciona ao mesmo tempo para diversas disciplinas, podendo
o aluno levantar material aqui, esclarecer uma dúvida além.
/
36 /
A cada professor são entregues, no inicio do ano, X
unidades que ele terá de acompanhar. Nesta perspectiva, é possível
encontrar na mesma sala de aula alunos em diferentes unidades
capitalizáveis (duas, três, quatro ou até mais). Este é um dos problemas
principais do sistema.
Com funções equivalentes aos Directores de Turma, existem
os Coordenadores Pedagógicos. Estes recebem 30 alunos, que terão
de acompanhar de forma continuada.
O Ministério da Educação, além de fazer aprovar os
programas das diversas disciplinas (sempre de âmbito nacional), também
tem a seu cargo a edição de GUIAS DE APRENDIZAGEM, que servem (ou deviam
servir) como manuais para as diversas unidades. A maior parte das
editoras escolares ainda não lançou no mercado materiais pedagógicos
alternativos a estes guias de aprendizagem oficiais. E parece que tanta
falta têm feito...
Ao longo dos onze anos que já leva de funcionamento o
SEUC Básico na nossa Escola, estiveram inscritos 657 alunos, dos quais
obtiveram aprovação final do curso 58. Parece, à primeira vista, uma
percentagem de conclusão miserável. Não é tanto assim. Esta percentagem
é superior à média nacional e certamente superior à percentagem de
aprovação no Curso Geral Nocturno. Em relação ao SEUC Secundário, por
razões óbvias, não podemos tirar ainda conclusões: o sistema só funciona
na nossa Escola há dois anos.
Para sabermos, com mais rigor, o que diversos
intervenientes do sistema pensam dele, foram elaborados diversos
inquéritos e distribuídos pelos alunos, professores e coordenadores. O
objectivo foi ouvir a totalidade dos universos docente e discente, ainda
que o número de respostas, em todos os segmentos ouvidos tenha ficado
aquém do razoável. Dos inquéritos então feitos fazemos aqui uma pequena
análise e transcrevemos as achegas mais importantes.
Inquérito aos alunos
GOSTA DO CURSO RELATIVAMENTE À SUA ORGANIZAÇÃO?
Ressalta, à primeira vista, a quantidade de alunos que
nem sequer respondeu à pergunta.
Dos que responderam a maioria são de Secundário e
responderam positivamente.
Gostam porque:
– Está bem organizado.
– É acessível.
– Permite ser trabalhador / estudante
– Permite fazer o curso em menos anos
Não gostam porque:
– São muitas unidades na mesma turma.
– Há falta de motivação por parte dos professores.
– As aulas são sempre de apoio.
– Os Guias de Aprendizagem são maus.
ENCONTRA NO CURSO O APOIO DESEJADO?
/
37 /
A esmagadora maioria dos alunos respondeu afirmativamente
quando a pergunta incidia sobre coordenadores, professores, bar,
auxiliares educativos. Já o mesmo não se passou quando inquiridos acerca
do material didáctico.
Em relação a este último item consideram que:
– Tem falhas.
– É insuficiente
– É confuso
– Não há para certas unidades
Em relação à secretaria a percentagem de Insatisfeitos é
significativa (40%) dado que:
– Omite informação.
– É muito burocrata.
– Está mal organizada.
– Tem pouco tempo de atendimento
CONSIDERA IMPORTANTE A AULA DE APOIO?
A esmagadora maioria dos alunos acha que é Importante
porque:
– Permite tirar dúvidas.
A NÃO MARCAÇÃO DE FALTAS…
Perante um cenário em que os alunos poderiam escolher uma
de três hipóteses (agrada, desmotiva e é necessária), os alunos
inclinaram-se, na esmagadora maioria, para respostas que consideram
positiva a não marcação de faltas (agrada e é necessária).
Agrada e é necessário, porque:
– Não se pode vir a todas as aulas.
– É menos uma preocupação.
– As pessoas já são responsáveis.
– Também se trabalha
Desmotiva, porque:
– Favorece o absentismo.
TODOS OS PROFESSORES UTILIZAM OS MESMOS CRITÉRIOS NA:
▪ MARCAÇÃO DE TESTES
▪ ORIENTAÇÃO DAS AULAS DE APOIO
▪ TEMPO DE ENTREGA DOS TESTES
Uma maioria de respostas positivas revela um certo grau
de coordenação por parte dos docentes, particularmente em relação a
aspectos de natureza burocrática. Relativamente à orientação da aula de
apoio, como era de esperar, as opiniões dos alunos dividem-se, o que nem
sequer é um aspecto negativo. Interessante também verificar que a maior
parte dos alunos não dá achegas para melhorar a acção dos professores.
/
38 /
ASPECTOS NEGATIVOS DESTA MODALIDADE DE ENSINO E PROPOSTAS
DE MELHORAMENTO
As críticas a este sistema de ensino vêm, acima de tudo,
do ensino secundário. A maior parte dos alunos do básico não faz
críticas, como também não propõe melhoramentos.
Aspectos negativos:
– Maus guias de aprendizagem.
– Excesso de horário escolar.
– Muitas disciplinas na mesma hora de apoio
– Muitas unidades na mesma turma
– Mais aulas de apoio do que expositivas
Propostas de melhoramentos:
– Trocar os Guias de Aprendizagem por livros
– Existir sistema de marcação de faltas.
– Existir mais informação.
– Dar mais equivalências.
– Não juntar os apoios.
– Organizar os alunos por unidades
Inquérito aos docentes
GOSTA DO CURSO RELATIVAMENTE A SUA ORGANIZAÇÃO?
As respostas positivas são em número bastante superior à
respostas negativas.
– Na teoria sim, na prática não funciona.
– Desaproveitado pelos alunos.
– Permite ao aluno trabalhar segundo as suas
possibilidades.
– Os novos professores no sistema não foram devidamente
elucidados.
– Processo muito burocrático e desmotivador.
– Só como metodologia.
– Para alunos efectivamente integrados a modalidade teria
bastantes potencial idades
– O anterior sistema era muito mais produtivo
HÁ ASSIDUIDADE? COMO RESOLVER?
Apesar da maior parte dos docentes achar que não há
assiduidade, nota-se um número razoável de professores que considera que
sim, contrariando assim uma das "verdades" do sistema.
– Exigência da justificação de abandono.
– Limites de matrículas na mesma disciplina para alunos
não comprometidos
– Construir turmas maiores.
/
39 /
– Marcação de faltas e consequente reprovação pelo
excesso das mesmas.
– Bonificação para os assíduos.
– A falta de assiduidade deve-se ao facto da Escola ser
pouco atractiva. Para resolver o problema devem os professores ter
formação acrescida.
– Exigência de compromisso escrito de assistência às
aulas.
– Obrigatoriedade de, pelo menos, 70% de presenças.
– Calendário escolar mais rígido. Alunos atrasados e
adiantados deveriam comparecer nas aulas de apoio.
– Aplicação do estatuto do estudante-trabalhador
– Estabelecimento de uma assiduidade mínima.
– Aulas de apoio em horários diferenciados.
– Possibilidade de os alunos terem mais aulas duma
disciplina numa altura e, naturalmente, menos aulas a outras
disciplinas. (Horários flexíveis)
A COORDENAÇÃO INTERDISCIPLINAR É IMPORTANTE?
É genericamente considerada útil, ainda que de difícil
execução.
– Necessidade de órgãos idênticos aos Conselhos de Turma,
com análise dos processos individuais e definição de estratégias para
cada aluno
– Permitiria uma melhor organização.
– Importante para rubricas similares.
– Sem importância no sistema.
– Evitaria repetição de matérias.
– Só ela pode levar ao sucesso escolar.
A PLANIFICAÇÃO DAS ACTIVIDADES LECTIVAS É IMPORTANTE?
Considera-se genericamente que sim, ainda que a prática
lectiva a possa dificultar.
– Como planificar actividades para 5 ou 6 unidades
diferentes, se não se sabe quem comparecerá nas aulas?
– Falta material didáctico mais adequado e competências
específicas para este sistema de ensino.
– Só possível com assiduidade e colaboração dos alunos.
– Deve ser fornecida a planificação de actividades aos
alunos no inicio da "leccionação" de cada unidade.
– Difícil quando a todo o momento se podem receber alunos
novos.
– Os programas já fazem a respectiva planificação.
SÃO OS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS ADEQUADOS PARA O CURSO?
Os professores dividem-se, claramente, nesta pergunta.
Parece, no entanto, que as maiores queixas vêm do Secundário.
– Até são mais modernos e mais bem concebidos que os do
Ensino Secundário Diurno Científico.
– Há repetição de conteúdos programáticos em disciplinas
diferentes.
/ 40 /
– Nem todos, devido à forma como são apresentados pelos
Guias.
– Não parece, a avaliar pelos do ME.
– Deixam muito a desejar, são rudimentares e
"infantilizados” para a classe etária a que se destinam.
– Adequados. apesar da má distribuição das unidades.
– São piores que os do Ensino Diurno.
– Deveriam ser equivalentes ao do Ensino Diurno.
– Pouco actualizados no caso da Informática.
– Nem sempre, sobretudo se considerarmos a forma como são
tratados nos Guias.
GUIAS DE APRENDIZAGEM
A maior parte dos professores, apesar de utilizar os
Guias de Aprendizagem Oficiais, considera-os de má qualidade e utiliza,
também, outro tipo de materiais.
– Insuficientes para a auto-aprendizagem.
– A produção de materiais de fraca qualidade por parte do
Ministério da Educação, é um dos problemas mais graves do Ensino
Recorrente.
– Há professores que consideram os Guias suficientes.
– Guias muito mal articulados.
– Guias com erros científicos e ortográficos.
– Sem qualidade de impressão.
– A nível do Básico são suficientes, o mesmo não
acontecendo com o Secundário.
SUGESTÕES / PROBLEMAS
– Manter os mesmos professores ao longo do processo de
aprendizagem.
– Criação de Centro de Recursos.
– Mau horário das aulas de apoio.
– Obrigar os frequentadores da Escola a identificarem-se.
– Publicação de uma brochura com informações úteis para
os alunos.
– Obrigar os alunos a apresentar justificação de
impedimento de frequência.
– Repensar o horário da Sala-Bar.
– Revisão dos textos (Guias de Aprendizagem).
– Limitação do número de unidades/professor.
– Resolver problemas de iluminação nas salas de aula.
– O sistema só beneficia alunos com maturidade, autonomia
e capacidades.
– Fixação de um tempo limite para a realização do Curso.
– Redução de horário para que o professor possa produzir
os seus próprios textos.
– Formação de equipas pedagógicas.
– Edição de Guias de Aprendizagem para o Secundário.
– Programas iguais no Diurno e no Nocturno.
/
41 /
Inquérito aos coordenadores
SUGESTÕES DE MATRÍCULA
– Matrículas feitas pelos professores do SEUC e pelos
coordenadores.
– Limitação do período de inscrição.
– Matrícula a dois tempos: 1.º tempo – Inscrição 2.º
tempo – Preenchimento do itinerário
COLABORAÇÃO INSTITUCIONAL (Direcção, Professores e
Funcionários)
– Não foi possível extrair conclusões – Todas as
perguntas obtiveram 50% de respostas positivas e 50% de respostas
negativas.
FORMAS DE ULTRAPASSAR ASPECTOS BUROCRÁTICOS (respostas
condicionadas pelo item anterior)
– Manter o Conselho Directivo aberto na hora da
coordenação.
– Reuniões de professores.
– Auxiliar administrativo disponível na hora da
coordenação.
CONTACTOS COM OS ALUNOS
– Existem, mas são poucos.
– Servem para resolver problemas pessoais.
– Causas da fraca frequência: Desinteresse dos alunos; Os
alunos estão nas aulas; Dificuldades de comunicação com o coordenador
(não o conhecem)
SUGESTÕES PARA MELHORAR O ACOMPANHAMENTO DOS ALUNOS
– Reuniões com os alunos (mensal ou uma por período)
convocadas pelo Conselho Directivo.
– Coordenadores serem professores dos alunos.
– Hora dos coordenadores deveria ser coincidente com
disponibilidades dos alunos.
Estas são as achegas possíveis, do trabalho possível. Se
formos capazes de entender os "recados" que todos nós fomos dando, tanto
melhor. O Sistema agradece e pode ser que melhor.
(Alcino Carvalho, Cristina Campizes, Maria Luísa
Catarino)
|