Escola Secundária José Estêvão, n.º 18, Fevereiro de 1997

O ENSINO TECNOLÓGICO

NAS ESCOLAS SECUNDÁRIAS DE AVEIRO

Carlos Alberto Corga de Barros *

Carlos Alberto Rodrigues Dias *

Carlos Augusto Vasconcelos Pinheiro" ** e

Maria Teresa  Beirão Costa Pinto ***,

professores das Escolas Secundárias N.º 1(*), Homem Cristo (**) e Jaime Magalhães Lima (***)
 

Este estudo sobre o ensino tecnológico foi apresentado no Círculo de Estudos “A Associação de Escolas de Aveiro e o seu Centro de Formação”


1. Introdução

2. Objectivos

3. Contextualização histórica e teórica

4. Construção do modelo de análise

5. Metodologia utilizada

6. Análise dos dados do inquérito

6.1. Caracterização geral da oferta e da procura

6.2. Características sociais da procura

a) Análise dos dados de um ponto de vista global

– Caracterização geral dos alunos de um e de outro tipo de curso

– Caracterização social: habilitações e profissões dos pais

b) Análise dos dados tendo em conta as especificidades de cada escola

– Caracterização geral dos alunos de um e de outro tipo de curso

– Caracterização social: habilitações e profissões dos pais

6.3. Um primeiro balanço: a opinião dos professores e orientadores escolares

7. Conclusões

8. Gráficos

9. Bibliografia

10. Anexos

 

1. Introdução

É hoje sobejamente conhecida a estreita relação entre o desenvolvimento das sociedades e os respectivos sistemas educacionais. A evolução social não se confunde mais com o mero crescimento económico, exigindo alterações a vários níveis, por forma a permitir às populações a possibilidade de compreensão e resolução dos novos desafios, bem como a busca de sistemas de equilíbrio material, espiritual e ecológico que dignifiquem a pessoa humana.

A inovação tecnológica operada nas últimas décadas tem introduzido profundas alterações nos sistemas produtivos dos países avançados, pondo em causa os conhecimentos tradicionais nas áreas da Sociologia e da Economia do Trabalho.

A adesão plena do nosso país à Comunidade Europeia veio exigir uma tanto quanto possível rápida convergência da nossa economia e de todo o sistema social aos níveis da Comunidade, daí resultando um certo número de inovações que se afiguram necessárias e que se pretende tornar possíveis.

Catapultado para uma área económica bastante avançada, Portugal recebe, dado o seu alto nível de internacionalização e dependência, os impactos das alterações verificadas nos outros países. Aliás, a tendência para a internacionalização das economias é tão forte que, de uma forma ou outra, o nosso país sempre se veria confrontado com os choques resultantes do exterior.

A cidade de Aveiro, situada numa zona de forte / 27 / dinamismo económico e de confluência de vias de comunicação, é altamente permeável a todos os choques resultantes dessa situação.

Os sistemas de ensino sempre foram influenciados pelos sistemas sociais, embora contendo em si mesmos alguma capacidade de influência sobre a dinâmica daqueles. Dentro dos sistemas de ensino, a área da formação profissional e tecnológica tem tido, de algum modo, o funcionamento de inter-relação privilegiada com outros subsistemas sociais na medida em que se liga directamente com as necessidades produtivas.

O abandono recente dos tradicionais paradigmas sobre formação e qualificação profissional, vindo chamar a atenção para a precariedade das especializações, constantemente ultrapassadas pelo fortíssimo desenvolvimento técnico, permitiu o eclodir de uma nova filosofia sobre a formação, nomeadamente a tecnológica.

A Organização Maleável do Trabalho, derivada das inovações a nível da automação e informática veio atenuar as fronteiras entre trabalho de concepção e execução e entre trabalho de produção e manutenção: o trabalho individual é definido sem rigidez verificando-se, normalmente, a sua integração em grupos e colectivos (SANTOS, A. R, 1988).

Assim, e de acordo com estas perspectivas, foram recentemente lançados os novos Cursos Tecnológicos, substituindo os Cursos Técnico-Profissionais criados em 1983.

Um dos pólos da nossa investigação é precisamente tentar verificar até que ponto as expectativas dos alunos e professores desses cursos estão marcadas ou não, por esta nova perspectiva. O outro é procurar saber se vai haver alguma evolução no que diz respeito à valorização social deste tipo de ensino.

Pretendemos, portanto, acompanhar a implementação dos Cursos Tecnológicos (CSPOVA) na cidade de Aveiro numa dupla perspectiva de análise em que serão observados os comportamentos e as expectativas quer da escola quer da comunidade. Nesta primeira fase, procuraremos apenas, por um lado, identificar as ofertas de formação de Cursos Tecnológicos de cada uma das Escolas Secundárias (Escola Secundária N.º 1, Escola Secundária Homem Cristo, Escola Secundária José Estêvão, Escola Secundária Jaime Magalhães Lima),  e, por outro, caracterizar de um ponto de vista social os alunos que frequentam este tipo de ensino, bem como as razões que os levaram a optar pelos Cursos Tecnológicos. Tentaremos igualmente uma primeira avaliação da opinião dos professores bem como das condições materiais disponíveis para a implementação destes cursos.

 

2. Objectivos

1. Caracterizar, de um ponto de vista quantitativo, os seguintes aspectos relativos à evolução do ensino tecnológico nas Escolas Secundária n.º 1, José Estêvão, Homem Cristo e Jaime Magalhães Lima:

a) volumes de frequência por escola e curso no ano lectivo de 1994/95;

b) Origem geográfica dos alunos;

c) Percurso escolar dos alunos;

d) Composição social dos alunos.

2. Identificar as principais motivações dos alunos no que se refere à opção por um curso tecnológico. / 28 /

3. Caracterizar o perfil de formação dos professores das áreas tecnológicas.

4. Avaliar a opinião dos professores da área tecnológica, dos membros dos Conselhos Directivos e das equipas de Orientação Escolar e Profissional sobre as opções de oferta e as motivações de procura tendo em conta os perfis dos cursos tecnológicos e os recursos materiais disponíveis.

 

3. Contextualização histórica e teórica

Embora se tenha verificado um crescimento significativo dos cursos técnico-profissionais, o ano lectivo de 1989/90 marca o início de um processo que conduzirá a grandes transformações. Logo em Janeiro são criadas pelo Decreto-lei n.º 26/89 as escolas profissionais e em 29 de Agosto o Decreto-Lei n.º 286/89 estabeleceu o novo plano curricular que iria permitir alterações no ensino técnico e profissional e a criação dos actuais cursos tecnológicos.

Estas alterações resultaram da conjugação de vários factores: Avaliação feita ao ensino técnico-profissional e do conjunto de propostas formuladas; Determinações da Lei n.º 46/86 de 14 de Outubro (L.B.S.EJ; Necessidade de diversificar a oferta de formação para dar resposta a um conjunto de condicionalismos que o modelo de formação existente não satisfazia (MARTINS, A.,1991).

Assim, a avaliação sistemática do E.T.P. realizada em 1986 e 1987 revelou os seguintes pontos críticos:

Insuficiente articulação entre as três componentes de formação geral, específica e técnico-profissional dos cursos, com repercussões no acumular de insucesso escolar nas duas primeiras;

Número exagerado de cursos, com fronteiras frequentemente difusas, emergindo, sem lógica aparente, no pressuposto, nada óbvio, da capacidade de descriminação do mercado de emprego e tornando mais aleatórias as escolhas dos alunos;

Dispersão curricular, com multiplicação desmedida de disciplinas na componente de formação técnico-profissional, disciplinas com contornos por vezes imprecisos, dando não raro origem a sobreposições (e omissões) de conteúdos programáticos e dificultando, por isso, a gestão do processo de ensino/aprendizagem tanto a professores como a alunos (M.E./G.E.T.A.P., 1993).

Por outro lado, a Lei de Bases do Sistema Educativo estipula no seu Artigo 10º que: «Os cursos do ensino secundário têm a duração de três anos e (...) organiza-se segundo formas diferenciadas, contemplando a existência de cursos predominantemente orientados para a vida activa ou para o prosseguimento de estudos, contendo todas elas componentes de formação de sentido técnico, tecnológico e profissionalizante e de língua e cultura portuguesas adequadas à natureza dos diversos cursos».

Finalmente, outro factor tem a ver com a necessidade de normalização, isto é, resolver as disfuncionalidades propiciadas pela unificação do ensino, pela escola de massas e pela grande heterogeneidade, a todos os níveis, dos alunos e de adequar o ensino/formação quer à estratificação social quer às necessidades funcionais do sistema social, particularmente do subsistema de emprego (MARTINS, A., 1991).

Neste sentido, na estruturação dos cursos tecnológicos foram tidos em conta os seguintes pressupostos:

A evolução técnica, que se processa a um ritmo vertiginoso, apela para uma formação sólida e assente não já em especialidades mas sobretudo em áreas (ou famílias de profissões) com bases científico-tecnológicas comuns; / 29 /

A realização pessoal e social dos jovens exige que a todos seja proporcionado, na faixa etária 16-19 anos, um período de aprofundamento, de orientação e de escolha de um percurso sócio-profissional, o que implica que todos tenham acesso não só a uma formação sócio-cultural, científica e técnica, mas também à aprendizagem e ao desenvolvimento de capacidade de empreendimento, de criatividade, de resolução de problemas novos, de comunicação, de trabalho em equipa, de planificação e de tratamento de informação.

A necessária flexibilidade que é preciso introduzir na organização curricular, abrindo o leque de escolhas dos jovens, criando um conjunto limitado de disciplinas ou áreas que deverão ser orientadas com a marca que as escolas queiram atribuir aos cursos.

A necessidade de reforçar a procura dos percursos tecnológicos do ensino secundário como preparação para o ensino superior, dadas as enormes carências de quadros superiores em várias vertentes tecnológicas (M.E./G.E.TAP., 1993).

Com base nos pressupostos acima referidos foram criados para funcionar em 1992/93, os seguintes cursos tecnológicos: Informática; Construção Civil; Electrotecnia/Electrónica; Mecânica; Química; Design; Artes e Ofícios; Serviços Comerciais; Administração; Comunicação; Animação Social.

Assiste-se, assim, a uma grande redução de cursos, pois de 33 existentes no Ensino Técnico Profissional passou-se para 11 nos Cursos Tecnológicos.

A própria coerência interna das formações é reforçada quer pelo tipo de disciplinas propostas quer pela interligação das componentes de formação.

A formação geral comum a todos os cursos do ensino secundário é composta das seguintes disciplinas: Português, Introdução à Filosofia, Língua Estrangeira I ou lI, Educação Física, Desenvolvimento Pessoal e Social ou Educação Moral e Religiosa Católica (ou de outras confissões);

A formação especifica é constituída apenas por duas ou três disciplinas, escolhidas de entre as indicadas pelo Decreto-Lei 286/89 e tendo como critério de escolha a fundamentação científica das disciplinas técnicas, com uma carga horária global constante ao longo dos 10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade (ou com pequenas variações, resultantes das particularidades das disciplinas e das suas interligações ou precedências). Estas disciplinas especificas formam um núcleo duro comum ao CSPOPE da mesma área de formação e contribuem para garantir a permeabilidade entre ambos os tipos de cursos, conforme exige o n.º 4 do art.º 10.º da LBSE, e, também, para facilitar o prosseguimento de estudos aos alunos que o desejem;

A formação técnica é constituída apenas por quatro disciplinas com a lógica de desenvolvimento do próprio curso (...) A carga horária da componente de formação técnica é constante nos 10.º e 11.º anos e aumenta no 12.º ano de escolaridade, diminuindo então a componente de formação geral (M.E./G.E.T.A.P., 1993).

A reestruturação dos Cursos Técnico-Profissionais e a criação dos Cursos Tecnológicos, corno já foi dito, decorre do novo enquadramento institucional resultante da aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo, que consagrou definitivamente a existência de cursos, permeáveis entre si, predominantemente orientados para o prosseguimento de estudos e cursos predominantemente orientados para a vida activa. Regista-se igualmente, corno também já foi referida, a convergência de vários factores, nomeadamente, a avaliação da experiência levada a cabo no biénio 1986/88 pela / 30 / Direcção Geral do Ensino Secundário, por uma equipa coordenada pelo Dr. Joaquim de Azevedo, então técnico da Comissão de Coordenação da Região Norte e dos trabalhos da Comissão de Reforma do Sistema Educativo que conduziu à elaboração da Proposta Global de Reforma. Do mesmo modo, documentos oficiais da UNESCO, CEE e OCDE convergem na orientação de que a formação profissional deve visar a polivalência, (...) a mobilidade (...) e a diversidade (MARTINS, J., 1992).

A necessidade de garantir a permeabilidade dos diversos tipos de cursos (art.º 10.º da L.B.S.E.) e a integração na C.E.E. terão desempenhado um papel decisivo na reestruturação do Ensino Técnico-Profissional, uma vez que com os Cursos Tecnológicos se procura não só induzir profundas e positivas modificações no tradicional estatuto de menorização dos percursos escolares dirigidos para a inserção mais rápida no mercado do trabalho e do emprego" mas também "responder à procura quer do mercado interno quer do mercado de trabalho europeu (MARTINS, J., 1992).

A rapidez das mutações tecnológicas, com implicações no perfil das novas profissões, na procura de mão-de-obra, no tipo da sua formação e nos métodos de organização do trabalho, implicam também uma nova filosofia de organização curricular. Pretende-se agora uma formação de base mais generalista, valorizando uma formação geral humanística, científica e tecnológica mais ampla em detrimento de uma maior especialização profissional. Pretende-se formar pessoas para a incerteza, para a crise, para a mutação permanente, disponíveis para a reconversão, dotadas da autonomia, criatividade, iniciativa e responsabilidade necessárias numa sociedade em que a polivalência e a mobilidade são valores fundamentais.

Os progressos do sector terciário, a estagnação do secundário e o declínio da população activa no sector primário, provocaram mutações sociais importantes; uma taxa de urbanização cada vez maior produziu alterações na procura social de educação e uma pressão mais acentuada sobre o sistema escolar. Trata-se, nestas condições, de uma procura mais exigente, com expectativas mais elevadas de mobilidade social ascendente. Daí também a necessidade de revalorizar e dignificar o ensino técnico relativamente ao ensino humanístico e científico, atribuindo-lhe um estatuto idêntico através da aproximação dos currículos, pela permeabilidade entre os cursos, pela garantia de condições idênticas de acesso ao ensino superior.

Procura-se também alargar e diversificar a oferta de formação na perspectiva de, por um lado, aliviar a pressão para o ingresso no ensino superior e, por outro, ajustar o sistema às necessidades sociais, deixando cair o mito igualitarista da capacidade da escola de via única para combater a estratificação social.

Houve igualmente a preocupação de dar maior coerência ao sistema, assente nalguns princípios básicos tais como a iniciação da formação técnica e profissional apenas no ensino secundário, evitando escolhas profissionais demasiado precoces, o princípio da unidade institucional e da diversidade das formações, bem como o da equivalência das certificações.

Finalmente, procura-se responder às novas necessidades do mercado de emprego, carenciado de quadros intermédios que, no entanto, irão exercer a sua actividade profissional num contexto simultaneamente mais exigente e mais volátil. Numa situação em que as / 31 / indústrias de base tradicionais estão em declínio (siderurgia, construção naval, petroquímica, têxtil, etc.) e novas indústrias e serviços estão em ascensão (micro-electrónica, telecomunicações, fibras ópticas, robótica, computadores, bancos de dados, serviços de informação), a estrutura das empresas, o mercado de emprego, as concepções de organização do trabalho e as relações entre a indústria e os serviços mudaram profundamente. Na base desta transformação está o enorme potencial das tecnologias de informação para recolher, armazenar, processar e difundir enormes quantidades de informação a custos mínimos (SALAVISA, I., 1991). O paradigma da organização industrial são os sistemas de produção flexíveis, em que se procura através do controlo electrónico e da integração da concepção, da produção e do “marketing”, produzir economias de gama, aproveitando a polivalência e flexibilidade dos equipamentos, e racionalizar a utilização conjunta de capital, mão-de-obra, matérias-primas e energia (SALA VISA, 1.,1991). As consequências são profundas ao nível da formação, mesmo dos quadros intermédios. Em vez de uma formação técnicoprofissional demasiado sectorial, demasiado especializada, exige-se uma formação mais abrangente, mais integradora de saberes e competências diversas para resolver situações cada vez mais complexas.

Tentaremos seguidamente analisar a evolução recente da economia portuguesa e problematizar desde já a inter-relação entre a dinâmica sócio-económica e a reforma do Ensino Técnico.

Em termos macro-económicos, o período posterior a 1986 representa uma ruptura com o passado recente. Destacam-se algumas alterações, nomeadamente:

– ganho nos termos de troca

– novas expectativas, claramente mais optimistas, dos agentes económicos,

– apreciação do escudo, no sentido de reduzir a inflação, a par da integração da nossa moeda no mecanismo europeu de taxas de câmbio,

– crescimento da pressão concorrencial da oferta externa no mercado interno,

– modernização das estruturas empresariais,

– modernização dos modelos de consumo

O processo de internacionalização da economia e de modernização da sociedade portuguesa tem-se revelado, no entanto, bastante desigual, com diferentes velocidades internas de participação e adaptação.

A análise da evolução pode ser organizada em torno de quatro constatações. Em primeiro lugar, a verificação de um crescimento rápido, embora desequilibrado. Este desequilíbrio manifesta-se fundamentalmente no facto de a Procura ter crescido a um ritmo superior ao do Produto e no facto de o crescimento do Emprego se ter verificado sem ganhos de Produtividade. Este último ponto leva a supor que a lógica de crescimento adoptada tenha sido a extensiva o que, embora tenha efeitos sociais positivos sobre o Emprego, conduz ao adiamento das transformações estruturais necessárias. Em segundo lugar, a aceleração da abertura global da economia, analisada quer ao nível da abertura ao Investimento Directo Estrangeiro, quer a nível da abertura comercial. Em terceiro lugar, a conservação de uma especialização industrial vulnerável, num contexto de concorrência acrescida. Finalmente, a alteração das condições de relacionamento entre o sector real e o sector financeiro. O decréscimo da rendibilidade dos investimentos na indústria e na agricultura e o aumento da rendibilidade do sector financeiro leva a supor o desenvolvimento de lógicas financeiras em detrimento / 32 / de lógicas produtivo-comerciais (MATEUS, A., 1992).

Esta breve caracterização da evolução macro-económica permite constatar a mudança que se tem vindo a verificar desde a adesão de Portugal à Comunidade Europeia, e permite levantar outras questões, mais profundas, que se prendem com a evolução estrutural que se afigurava necessária e que se revela particularmente difícil.

Com efeito, constata-se um crescimento sem modernização que deveria ser transformado numa dinâmica auto sustentada de desenvolvimento económico e social. Porquê as dificuldades de implantação dessa dinâmica?

As barreiras organizacionais que impedem a sociedade portuguesa de operar o salto da modernização não são em si mesmas intransponíveis quando as consideramos isoladamente. O principal obstáculo reside na dificuldade de as remover simultaneamente de maneira a assegurar a conversão (MEDEIROS, F., 1992). Segundo este investigador, constituem obstáculos organizacionais à modernização:

– a incapacidade do sector bancário e financeiro de orientar os investimentos para sectores de produção que não os tradicionais, favorecendo uma proliferação mimética de pequenas empresas. Não se pode atribuir a causa desta incapacidade à escassez de capital, uma vez que Portugal apresenta uma das taxas de poupança mais elevadas da Comunidade e recebeu, a partir de 1986, verbas substanciais provenientes de Fundos Comunitários.

– o recurso à mão-de-obra juvenil pouco escolarizada e desprovida de possibilidades de acesso à formação profissional

– a ligação funcional entre o baixo custo da mão-de-obra, a crise da habitação, o subdesenvolvimento urbano e o crescimento muito lento do terciário superior.

Isolando um dos factores, os recursos humanos e o seu estádio de formação, verifica-se uma situação de lamentável atraso que não será fácil de ultrapassar, não tanto por falta de meios financeiros ou vontade política, mas antes devido à era como os membros da sociedade concebem e valorizam os objectivos do sistema escolar e da qualificação profissional (MEDEIROS, F., 1992). Esta variável será, por sua vez, função das mudanças das estruturas sociais e do desenvolvimento cultural que ocorrem de forma lenta e não linear.

O sistema de ensino e o sistema de formação profissional têm-se revelado incapazes de recuperar os atrasos educacionais portugueses, talvez devido ao facto de o segundo "roubar" ao primeiro jovens de uma faixa etária muito baixa (o grupo dos 15 aos 19 anos tem sido preferenciado pela políticas de formação, em detrimento do grupo seguinte, dos 20 aos 24), numa perspectiva de encaminhamento, para o sistema económico, de mão-de-obra de baixo custo que tem alimentado, juntamente com a mão-de-obra feminina, o trabalho precarizado, ruja taxa atingiu no nosso país os 18%, dobro da média europeia.

Outros estudos revelam a manutenção, no nosso país, de um hiato cultural muito forte entre as elites e as massas, o que constituirá a "diferentia specifica" portuguesa no contexto da Comunidade e poderá explicar muitas das atitudes perante a cultura e a participação política. Segundo Manuel Villaverde Cabral, nem a historiografia nem / 33 / a sociologia estão em condições de contribuir, de forma definitiva, para elucidar os termos exactos da relação entre esta segmentação político-cultural e o desenvolvimento sócio-económico. Em todo o caso, a evidência empírica comparativa aponta para uma clara associação positiva entre a integração cultural e a participação política, por um lado, e a performance do sistema sócio-cultural, por outro. E há boas razões, sejam de ordem cognitiva, sejam de ordem histórica, para pensar que a difusão dos dispositivos modernos de instrução universal não só têm tendência para preceder, como condicionar, a performance global do sistema tal como ela pode ser aferida, a posteriori, pelo crescimento do rendimento per capita.

O conjunto de predisposições sociais e de preferências nacionais de várias estruturas económicas, políticas e culturais que se exprimem ao nível da representação política está patente nas atitudes e comportamentos dos vários agentes sociais que protagonizaram os primeiros passos da integração demonstrando um sentido de oportunidade e interesse imediato, mas poderá, em nosso entender, ser responsável por uma resistência à introdução de um tipo de ensino tecnológico que retardará a entrada de jovens no mundo do trabalho e não formará "profissionais acabados" como tradicionalmente se solicitava ao Ensino Técnico.

Sujeitos a fortes pressões resultantes da adesão ao espaço comunitário, o sistema económico-social português e o próprio sistema de ensino e formação profissional carecem de uma actualização urgente, a qual se concretiza, a nível deste último, e a par de outras inovações, pela criação dos Cursos Tecnológicos, cuja expansão a todas as Escolas Secundárias ocorreu já a partir do ano lectivo de 1993/94.

Assiste-se hoje a uma mudança de mentalidade do patronato mais dinâmico que o leva a defender um modelo de formação assente numa filosofia de construção de homens com capacidade de se tornarem bons profissionais e, ao invés, a rejeitar a formação de "profissionais acabados". No entanto, será que os vectores de mudança são suficientemente fortes para vencer as resistências profundamente instaladas nas mentalidades de alguns dos protagonistas sociais desta alteração?

Em torno desta questão construímos o nosso trabalho, com a convicção de que a investigação levada a cabo com rigor metodológico e uma paralela e sistemática fundamentação teórica é o caminho para o conhecimento e a compreensão (ainda que parcelares e provisórios) da rica e complexa realidade social que nos cerca.

 

4. Construção do modelo de análise

Para esta fase da nossa investigação formulámos as seguintes hipóteses:

1. Os cursos tecnológicos são procurados por alunos de origem social mais desfavorecida.

2. Os cursos tecnológicos são procurados por alunos com maior número de repetências.

3. Os públicos discentes que frequentam os Cursos Tecnológicos nas Escolas Secundárias de Aveiro são hierarquizados.

4. Os professores mais directamente ligados às disciplinas da formação técnica consideram insuficiente a preparação tecnológica e prática dos actuais cursos orientados para a vida activa. / 34 /
 

■ Metodologia utilizada

O método utilizado foi o de análise extensiva e a técnica de inquérito por questionário.

Foram objecto de inquérito 172 alunos dos CSPOPE e 309 dos CSPOVA de um universo constituído pelos alunos do Ensino Secundário Oficial integrados na Nova Reforma, matriculados no ano lectivo de 1994/95 nas quatro escolas secundárias da cidade de Aveiro, perfazendo um total de 2004 alunos, dos quais 1391 dos CSPOPE e 613 dos CSPOVA.

As amostras utilizadas foram obtidas da seguinte forma:

Cursos Tecnológicos

Escola Secundária José Estêvão

– 2 turmas de Informática

– 2 turmas de Arte e Design

– 2 turmas de Comunicação

Escola Secundária Homem Cristo

– 2 turmas de Animação Social

Escola Secundária n.º 1

– 2 turmas de Serviços Comerciais

– 2 turmas de Administração

– 2 turmas de Elec./Electrónica

– 1 turma de Construção Civil

Escola Secundária Jaime Magalhães Lima

– 2 turmas de Serviços Comerciais

Cursos Gerais

Escola Secundária José Estêvão

– 2 turmas (1.º e 2.º agrupamento)

Escola Secundária Homem Cristo

– 1 turma (1.º e 2.º agrupamento)

Escola Secundária N.º 1

– 2 turmas (1° e 3° agrupamento)

Escola Secundária Jaime Magalhães Lima

– 2 turmas (3.º e 4.º agrupamento)

 

6. Análise dos dados do inquérito

6.1. Caracterização geral da oferta e da procura

A generalização da reforma curricular na escolas secundárias da cidade de Aveiro tem vindo a provocar um conjunto de reajustamentos na oferta pública de formação com implicações ao nível dos quadros docentes, do equipamento das escolas e da recomposição social da procura de cada uma delas, como veremos mais adiante.

Em primeiro lugar, a redução a quatro grandes áreas de formação ao nível dos CSPOPE, com características necessariamente mais generalistas e abrangentes, alterou um pouco uma lógica de complementaridade que se verificava sobretudo nas escolhas das opções vocacionais a oferecer, para dar lugar a uma lógica de maior sobreposição ou de concorrência – os agrupamentos um (dominante Científica e Natural) e quatro (dominante Humanidades) funcionam nas quatro escolas da cidade, o agrupamento três (dominante Económico-Social) funciona em três delas e só o agrupamento dois (dominante Artes) funciona apenas numa delas, a Escola Secundária José Estêvão. A introdução de CSPOVA em todas as escolas da rede é igualmente um factor homogeneizador relativamente ao passado, mas, por outro lado, não deixa de reflectir a permanência de algumas características diferenciadoras anteriores. / 35 /

Assim, se a tendência homogeneizadora ressalta num conjunto de cinco disciplinas de formação técnica dos CSPOPE que funcionam em todas as escolas – Técnicas Laboratoriais de Química, Técnicas Laboratoriais de Biologia, Técnicas de Tradução de Francês, Técnicas de Tradução de Inglês e Tecnologias da Informação – a tendência diferenciadora é já evidente num outro conjunto de nove disciplinas, que funcionam apenas numa das escolas, ou em duas, como é o caso das Técnicas de Organização Empresarial e das Aplicações de Electrónica. A composição dos quadros docentes, os equipamentos disponíveis e algumas tradições anteriores terão tido certamente um peso decisivo.

Quando analisamos as ofertas de formação ao nível dos CSPOVA, as tendências diferenciadoras acentuam-se ainda mais. Aqui a complementaridade e divisão de tarefas é quase total: de oito Cursos Tecnológicos em funcionamento – num conjunto de onze possíveis apenas um curso, o de Serviços Comerciais, funciona em mais do que uma escola, dividindo-se os restantes sete cursos cada um por sua escola de acordo com as suas especificidades em recursos humanos e equipamento.

O primeiro facto a registar no que diz respeito à história recente é o significativo aumento da oferta de formação de cursos tecnológicos relativamente aos cursos técnico-profissionais agora em fase de extinção. No presente ano lectivo (1994/95) as quatro Escolas Secundárias consideradas – José Estêvão, N.º 1, Jaime Magalhães Lima e Homem Cristo – têm no seu conjunto, no 10.º e 11.º ano, 29 turmas nos cursos tecnológicos contra 58 nos cursos predominantemente orientados para o prosseguimento de estudos. Frequentam os cursos tecnológicos 613 alunos contra 1391 nas áreas de prosseguimento de estudos, o que corresponde a uma percentagem de 30,5%.

No que se refere à distribuição dos alunos por escola e cursos e da análise dos dados recolhidos, podemos retirar as seguintes conclusões :

Destaca-se a Escola Secundária N.º 1 com o maior número de alunos a frequentar cursos tecnológicos, recuperando deste modo alguma da sua imagem tradicional de "escola técnica" – não só porque 58,1% dos seus alunos frequentam CSPOVA, mas também porque os cursos que ministra, podem, de certo modo, considerar-se desenvolvimentos lógicos das tradicionais áreas de administração e comércio, por um lado, e de electricidade e construção civil, por outro. Perdeu-se a área de mecanotecnia, não só por falta de procura sistemática nos últimos anos, mas também porque não foi objecto de oferta no momento da definição da rede dos novos cursos tecnológicos, já que a proposta da escola não obteve acolhimento junto dos responsáveis (na época, o GETAP).

Embora represente apenas 28,9% do total, é também bastante significativo o número de alunos dos cursos tecnológicos da Escola Secundária José Estêvão, cuja tradição nesta área é recente e está essencialmente ligada ao curso técnico-profissional de informática. No entanto, quer as opções da escola quer a procura por parte dos alunos vai de encontro a áreas de formação tradicionais naquele estabelecimento de ensino, uma vez que 76% desses alunos frequenta os cursos de Comunicação e de Design, dominante Humanidades e Artes, com 49,7% e 26,3%, respectivamente. / 36 /

No que se refere à Escola Secundária Jaime Magalhães Lima, cujo número de alunos dos cursos tecnológicos é bastante inferior, apenas 70 alunos, 14,2% do total, parece-nos que a relativa juventude da escola, um processo de secundarização mais longínquo que nos dois casos anteriores e a ausência de tradições específicas de formação tecnológica, portanto de quadros docentes e de equipamentos, permitirão uma primeira explicação para o facto. A Escola Secundária Homem Cristo tem 19,6% dos seus alunos nos cursos tecnológicos; a natureza dos seus quadros humanos e materiais, a sua menor dimensão e alguma instabilidade e incerteza quanto ao futuro poderão ter condicionado as opções feitas e o tipo de procura recente.

 

5.2. Características sociais da procura

a) Análise dos dados de um ponto de vista global

– Caracterização geral dos alunos de um e de outro tipo de curso

Procurar-se-á, de seguida, caracterizar os alunos que frequentam os cursos Gerais e aqueles que frequentam os Tecnológicos, sem ter a preocupação em os especificar por escolas. Partimos, como foi referido, da hipótese de os Tecnológicos serem procurados por alunos de origem social menos favorecida, no que toca quer às possibilidades económicas das famílias (analisadas apenas em função das profissões, e portanto, mais da perspectiva do presumível rendimento do que da do património) quer ao seu "capital cultural". Tal hipótese obrigava-nos à pesquisa sobre a existência, ou não, de traços homogeneizadores dentro de cada grupo e ao mesmo tempo diferenciadores entre os dois conjuntos.

Assim, as perguntas base neste ponto serão:

– Que tipo de alunos frequenta os CSPOPE e que tipo de alunos frequenta os CSPOVA?

– Existirão algumas diferenças entre eles? Quais?

É o resultado desta pesquisa que a seguir se sintetiza.

 

Variáveis seleccionadas:

Idade

Sexo

Residência (cidade – concelho - concelho limítrofe)

N.º de repetências anteriores (0/1/2/3 ou mais)

Perspectivas de futuro (Ensino Superior/Emprego)

Razões de escolha do curso (só aplicado ao CSPOVA)

Idade – Os dados obtidos permitem afirmar que os alunos dos CSPOPE são, de forma geral, mais novos que os dos CSPOVA As percentagens mais elevadas no primeiro tipo de cursos situam-se nos 15/16/17 anos, enquanto no segundo tipo verificam-se nos 16/ 17/18 anos.

Sexo – Os dados obtidos permitem afirmar que os CSPOPE são, de forma geral, mais procurados por raparigas do que por rapazes, alterando-se um pouco esta situação nos CSPOVA, onde os rapazes surgem com um peso superior àquele com que surgem nos CSPOPE, igualando ou mesmo dominando ligeiramente o peso percentual do sexo feminino.

Residência – Embora os dados obtidos quanto a esta variável não nos mereçam grande confiança, uma vez / 37 / que verificámos, aquando da aplicação do inquérito, que os alunos tiveram dificuldades na selecção dos vários tipos de residência, não queremos deixar de referir que não constatámos, a este nível, nem grande identificação intra nem grande oposição inter grupos. De facto, o tipo de povoamento da zona e o tipo de habitação predominante justificam a dispersão dos vários grupos sociais por variadíssimos lugares de cidade ou de arredor nos quais não é fácil a identificação espaço geográfico/espaço social. No entanto, e de forma muito cautelosa, parece-nos existirem ligeiros indícios de uma maior urbanidade por parte dos alunos dos CSPOPR

Número de repetências anteriores – Foi em relação a esta variável que encontrámos claras diferenças entre um e outro tipo de alunos, uma vez que os alunos com um passado escolar sem repetências predominam claramente nos CSPOPE, o que naturalmente explica o que foi dito quanto à variável idade e poderá relacionar-se com o que se verificou ao nível da distribuição dos dois sexos pelos dois tipos de cursos.

Apesar deste último facto poder ser influenciado pelo tipo de cursos tecnológicos que funcionam nas escolas da cidade, nomeadamente na Secundária José Estêvão e na Secundária n.º 1, também está demonstrado por estudos empíricos que actualmente no nosso país, e na maioria dos cursos superiores, predominam as raparigas, o que já foi alvo de tentativas de explicação por parte de várias ciências sociais.

Esta tendência verificada no Ensino Superior poderá ter já as suas raízes nas escolhas dos alunos do 9.º ano, podendo as raparigas, por várias razões, de ordem psicológica e sociológica estar mais predispostas para trajectórias escolares mais prolongadas.

Perspectivas de futuro – Embora não directamente testados sobre esta questão, pensamos que os alunos CSPOPE, pela própria escolha, se orientam maioritariamente para o Ensino Superior. Este tipo de orientação surge também com bastante peso percentual nos alunos CSPOVA (sendo, nalgumas Escolas, superior à do Emprego), o que pensamos poder enquadrar-se na situação global do mercado de trabalho o qual, praticamente paralisado, vai "empurrando" os alunos para a continuação dos estudos. Para além do mais, parece-nos ser convicção cada vez mais generalizada a ideia de que só um curso superior abrirá caminho para determinado tipo de lugares profissionais que permitam manter/alcançar um posicionamento social possibilitador do conjunto de consumos e de um lugar de classe identificável com os veiculados pelos media. A "vocação" surge, em todos os cursos, como a razão principal da opção por um CSPOVA; surge mesmo citada em primeiro lugar em mais de 50% dos inquiridos de todos os cursos tecnológicos, à excepção do de Comunicação em que apenas surge em primeiro lugar em 37,9% dos inquiridos.

Das razões apresentadas aos alunos, a "vocação" é a menos racional (por comparação com a facilidade do curso, a melhor preparação e a facilidade de emprego), e logo a que abre mais espaço à afectividade e a que melhor permite a afirmação do adolescente perante o mundo dos adultos (por comparação com a influência da família e dos serviços de orientação escolar). A afectividade e alguma recusa dos argumentos racionalizadores (mesmo que eles sejam a facilidade dos próprios cursos), assim como a quase completa / 38 / negação da influência da Família ou dos Serviços de Orientação Escolar parecem-nos consentâneos com os comportamentos e representações habituais nos nossos alunos.

No entanto, a "escolha" do curso está mais "socialmente" determinada do que aparentemente os estudantes possam pensar, como no decorrer do nosso trabalho procuraremos demonstrar.
 

– Caracterização social: profissões e habilitações dos pais

Nota metodológica:

Foram tidas em conta para esta caracterização as informações relativas à profissão dos pais dos alunos e ao seu grau de instrução.

Como é tradicional nas pesquisas sobre origens/lugares de classe, foi considerada como determinante a informação relativa ao pai. Embora as teorias mais recentes chamem a atenção para os enviesamentos que podem advir da utilização desta metodologia, pareceu-nos que a profunda marca cultural do pai "chefe de família" e o elevado peso de "domésticas" (grupo social muito diversificado e difícil de caracterizar em termos de estrato social) entre as mães sustentavam a decisão tomada.

 

Variáveis seleccionadas:

– Profissão do Pai

– Habilitações académicas do Pai

Profissão do Pai – A percentagem de Pais "quadros" (designação na qual incluímos os professores e que é enquadrável nas classes médias, especificamente "média e pequena burguesia de enquadramento") entre os alunos dos CSPOPE é claramente superior à representatividade percentual do mesmo tipo de profissões entre os pais dos alunos dos CSPOVA.

Da mesma forma, o conjunto profissional "Empregados de escritório/Funcionários Públicos", igualmente enquadrável nas classes médias (especificamente "pequena burguesia de execução"), surge com maior peso percentual entre os pais dos alunos dos CSPOPE.

 

O conjunto "empresários", que nesta zona, como é sabido, predominantemente constituído por pequenos e médios industriais/comerciantes (classe média tradicional de baixo capital escolar?) é aquele que mais equitativamente se encontra representado.

O conjunto "operários", embora também envie uma percentagem significativa de estudantes para os CSPOPE encontra-se bem representado nos pais dos alunos CSPOVA.

Apesar de ser considerada a possibilidade, não nos surgiu nenhum inquirido filho de agricultor, o que também nos parece enquadrável no tipo de agricultura praticada na zona, "em tempo parcial".

De salientar, como já foi referido, a grande percentagem de domésticas entre as mães, ligeiramente mais forte no que toca aos alunos dos CSPOVA.
 

Habilitações académicas do Pai – É acentuada a diferença entre os pais dos alunos dos cursos de prosseguimento e os pais dos alunos dos cursos para a vida activa, sendo os primeiros possuidores de um maior capital escolar que os segundos. A percentagem de pais / 39 / com a escolaridade obrigatória entre os alunos dos CSPOVA chega a ser o dobro da percentagem de pais de alunos dos CSPOPE com o mesmo grau de escolaridade.

As diferenças que os agrupamentos profissionais revelavam com alguma dificuldade patenteiam-se nos dados obtidos através da pesquisa desta variável, o que nos parece permitir afirmar estarmos perante mecanismos inequívocos de uma certa "reprodução social" devidamente corrigida pela passagem de uma geração e pelo fenómeno de massificação do ensino secundário ocorrido em Portugal nos últimos vinte anos.

Assim, e sintetizando, o aluno do 10.º ano de um CSPOPE poderá com mais facilidade ser do sexo feminino, relativamente novo, com cerca de 15 ou 16 anos, com zero ou uma repetência no seu passado escolar.

Aspira, em princípio, ao Ensino Superior. A sua origem social será predominantemente a classe média, embora também possa provir do operariado. Os pais podem apenas ter a escolaridade obrigatória, mas também podem possuir uma escolaridade média ou superior.

O aluno do mesmo ano de um CSPOVA será com mais probabilidade do sexo masculino, com 16,17 ou mesmo 18 anos de idade, com bastantes hipóteses de ter pelo menos uma repetência no seu passado escolar. Em termos de aspirações futuras, divide-se bastante, oscilando entre o emprego ou o prosseguimento de estudos. Em termos de origem social, terá mais probabilidade de ser filho de "empresários" ou "operários". A mãe será provavelmente doméstica. Os pais terão sensivelmente a escolaridade obrigatória; muito dificilmente terão habilitações de grau superior.

Nota: em vários dos aspectos estudados, os alunos inquiridos na Escola Secundária Homem Cristo escapavam à tendência geral. Desta questão se dará conhecimento mais pormenorizado na análise das especificidades de cada escola analisada.

 

b) Análise dos dados tendo em conta as especificidades de cada escola

– Caracterização geral dos alunos de um e de outro tipo de curso

Variáveis seleccionadas:

– Idade

– Sexo

– Residência (cidade/concelho/concelho limítrofe)

– N.º de repetências anteriores (0/1/2/3 ou mais)

– Perspectivas de futuro Ensino Superior/Emprego)

– Razões de escolha do curso (só aplicado ao CSPOVA)

Idade – Se hierarquizarmos as escolas no que se refere à idade dos alunos, verificamos que a E. S. Homem Cristo tem a população escolar mais envelhecida com apenas 20% na faixa etária dos 15 e 16 anos a frequentar os CSPOVA (35% nos CSPOPE), seguida da a E. S. N.º 1 com 40% (69% nos CSPOPE), da E. S. J. M. Lima com 41,8% (76% nos CSPOPE) e a E. S. J. Estêvão com 52% (83% nos CSPOPE). Para além de se constatar que esta ordenação é válida para os dois tipos de cursos, registamos um acentuado envelhecimento dos alunos dos CSPOVA relativamente aos dos CSPOPE com uma / 40 / diferença que se situa aproximadamente na casa dos 30%, excepto no que diz respeito à E. S. Homem Cristo onde as diferenças entre os dois tipos de cursos não são tão acentuadas, sendo neste caso de apenas 15%.

Se, por outro lado, seleccionarmos a faixa etária dos18 anos e acima dos 18, ambas as tendências acima referidas se confirmam, com uma inversão de posições entre a E.S. N.º 1 e a E.S.J.M. Lima – E. S. Homem Cristo com 45% nos CSPOVA (29,3% nos CSPOPE), E. S. J. M. Lima com 28% nos CSPOVA (10% nos CSPOPE), E. S. N.º 1 com 24/6% nos CSPOVA (8,4% nos CSPOPE) e E. S. José Estêvão com 18,6% nos CSPOVA (7% nos CSPOPE). Regisste-se ainda um fosso relativamente acentuado entre a E. S. Homem Cristo e as restantes escolas.

 

Sexo – No que se refere à distribuição por sexos, os inquiridos do CSPOPE são maioritariamente do sexo feminino, com destaque para a H. C. com 100% e a excepção da J. Estêvão com 53% de homens. A situação tende a inverter-se no caso dos CSPOVA em que a opção é maioritariamente masculina na J. E. (60% e 40%) e N.º 1 (62% e 38%, exactamente igual na J.M.L. e quase totalmente feminina na H.C. (90% e 10%). A procura é exclusivamente masculina nos cursos de Construção Civil e Electrotecnia/Electrónica (ES N.º 1) predominante no Curso de Informática com 81% (ESJE), igual no caso do Curso de Design (ESJE) e Serviços Comerciais (ESJML) e predominantemente feminina no Curso de Animação Social com 90% (ESHC), Administração e Serviços Comerciais com 72% (ESN.º1) e Comunicação com 56% (ESIE). Em síntese, por um lado, verifica-se a tendência para uma procura feminina nas áreas que apontam para profissões no sector de serviços, animação sócio-cultural / assistencial, uma procura equilibrada no campo das artes e, por outro lado, a tendência para uma opção fortemente masculina nas áreas que encaminham para profissões mais ligadas ao sector secundário e à informática.

 

Residência – No que se refere à área de residência, a Homem Cristo e a José Estêvão são aquelas que atraem mais os alunos da cidade 22,5% e 23% no CSPOVA e 35,3% e 35% no CSPOPE, respectivamente. Em todo o caso, o maior contingente de alunos declara morar fora da cidade, no concelho – 89% da JML, 47% da N.º 1, 45% da HC e 33% da JE no CSPOVA; os valores são inferiores no que se refere ao CSPOPE no caso da HC e da JML, significativamente inferiores nesta última (menos 40%) e superiores na J.E. e N.º 1 – 35% e 58%/ respectivamente. Em síntese, podemos concluir que os residentes na cidade optam preferencialmente pelos CSPOPE, enquanto as opções dos residentes no concelho são relativamente oscilantes nas diferentes escolas, muito embora o movimento global aponte no sentido da predominância da opção pelos cursos tecnológicos, onde se destaca o caso da JML (89% CSPOVA contra 58% CSPOPE). Finalmente, é também significativo o poder de atracção sobre os concelhos limítrofes sobretudo no que se refere aos alunos dos cursos tecnológicos – 42% na JE, 32% na N.º 1 e 30% na HC, constituindo excepção apenas a JML com 0%.
 

Número de repetências anteriores – No que diz respeito ao percurso escolar dos alunos detectam-se igualmente tendências concordantes com dados anteriores, / 41 / nomeadamente no que se refere à idade, verificando-se que há um percurso de insucesso aproximado entre os alunos dos CSPOVA das escolas secundárias J. E., J.M. Lima e N.º 1, em que 51%, 58% e 58,6% dos alunos, respectivamente, têm um ou mais anos de repetência, facto que se agrava no caso da Homem Cristo, em que se atingem os 82,5%. Se fizermos a comparação entre os dois tipos de cursos, as diferenças são bastante acentuadas, uma vez que os alunos dos CSPOPE têm uma história de repetência menos pesada – 18,3 na N.º 1, 25,1% na J. Estêvão e 42% na J.M. Lima – destacando-se também a Homem Cristo com 76,5%, número que não se afasta muito dos dados referentes aos alunos dos cursos tecnológicos, o que mais uma vez realça a relativa homogeneidade dos alunos dos dois tipos de cursos do agrupamento 4 desta escola.

 

Perspectivas de futuro – À pergunta feita aos alunos dos cursos tecnológicos sobre as suas intenções quanto ao futuro imediato após a conclusão do 12.º ano, apenas na ESJML e ESN.º 1 exprimem maioritariamente a intenção de arranjar emprego – 58% e 54%, respectivamente, enquanto na ESJE (55%) e ESHC (50%) as preferências se orientam para o prosseguimento de estudos no ensino superior, contra 40% e 45%, respectivamente, que declaram a intenção de procurar ingressar na vida activa.

 

Razões de escolha do curso – A escolha do Curso Tecnológico deve-se, fundamentalmente, à vontade que os alunos têm de prosseguir um curso orientado para o mercado de trabalho e consequentemente com uma estrutura de natureza mais técnica.

Essa vontade é o reflexo de várias condicionantes, económicas, sociais e psicológicas, que cria uma apetência, que podemos classificar de Vocação. Desta forma, verificamos que na Escola Secundária N.º 1, no agrupamento 1, 53,3% dos alunos escolhem o curso tecnológico, tendo em conta essa tal vontade e no agrupamento 3, 35,3% escolhem o curso tecnológico, tendo como base a Vocação.

Também na Escola Secundária José Estêvão a Vocação é a razão fundamental que leva os alunos a optar pelo curso tecnológico, tendo levado a que 53,6% de todos os alunos tivessem escolhido o curso tecnológico.

No agrupamento 1 são 37,9% dos alunos que fazem a escolha devido à Vocação, no Agrupamento 2 aquela razão atinge os 70,3% e no Agrupamento 4 alcança os 50%.

Na Escola Jaime Magalhães de Lima a Vocação é igualmente a causa principal da escolha dos cursos tecnológicos, pois atinge os 52,8% dos alunos, o que nos leva a concluir que também nesta Escola a opção pelo curso tem em conta o modo de pensar e a sua vontade em escolher os cursos tecnológicos.

Na Escola Secundária Homem Cristo a razão que leva os alunos a escolher o curso tecnológico tem a ver com a Vocação, que atinge 60%.

Como um dos objectivos dos cursos tecnológicos é a sua orientação para o mercado de trabalho, podemos considerar que a Facilidade de Emprego ao encontrar-se consubstanciada naquele objectivo, seja também uma das razões que tenderá a assumir igualmente uma relevância considerável.

Assim, essa razão de escolha é manifestada por 23,3% dos alunos no agrupamento 1 e por 21,1 % dos alunos / 42 / do agrupamento 3, na Sec. N.º 1.

A Facilidade de Emprego tem um peso relativamente considerável, já que é causa de escolha de 14,5% do total dos alunos, distribuídos da forma seguinte: agrupamento 1, 20,7%; agrupamento 2, 10,8% e agrupamento 4, 13,6%, na Sec. José Estêvão.

Na Sec. Jaime Magalhães de Lima a Facilidade de Emprego também assume um papel bastante importante dado que 22,2% dos alunos optam por esta razão.

Podemos considerar dalguma forma natural esta posição, e não é de estranhar que nos alunos das três escolas mencionadas aquela razão assuma um papel importante na escolha do curso tecnológico, em virtude deste estar fundamentalmente, como já se disse orientado para o Mercado de Trabalho.

Somente na Escola Secundária Homem Cristo aquela razão não tem grande relevância, atingindo 6,7% dos alunos.

A Melhor Preparação também tem grande aceitação por parte dos alunos, das Secundária N.º 1 e José Estêvão, que escolhem os cursos tecnológicos, talvez porque ao seguirem um curso tendenciaImente virado para a prática e para o trabalho sintam a necessidade de terem antecipadamente uma boa preparação, porquanto a sua aprendizagem escolar termina no 12.º ano. Na Sec. N.º 1 no agrupamento 1, 16,3% dos alunos optam por aquela razão e no agrupamento 3, 24,6%.

A Melhor Preparação nos estudos é a segunda razão mais invocada para a escolha do curso, sendo a principal causa para 20% do total dos alunos, na Escola Secundária José Estêvão.

No agrupamento 1, 13,8% dos alunos escolhem a Melhor Preparação como determinante para a escolha do Curso, no agrupamento 2, 16,2% e no agrupamento 4, 27,3%.

Na Sec. Jaime Magalhães de Lima a Melhor Preparação nos estudos é a segunda razão mais invocada para a escolha do curso, sendo a principal causa para 20% do total dos alunos.

Na Sec. Homem Cristo esta razão é bastante reduzida, pelo que tem pouca relevância na escolha do curso.

A Família não tem praticamente influência na escolha do curso a seguir, verificando-se que na Escola Sec. N.º 1 no agrupamento 1, nenhum aluno escolheu o curso tecnológico por influência da família e no agrupamento 3, somente 3,5% o escolheram tendo em conta a família.

Na Sec. José Estêvão a Família também praticamente não pesa na escolha do curso, sendo, inclusive, nula a sua influência no agrupamento 1 e 2 e pouco relevante no agrupamento 4, cuja influência não vai além de 2,3%.

Na Sec. Jaime Magalhães de Lima o peso que a Família tem na opção é de 2,8%, e na Sec. Homem Cristo os alunos não referenciaram a Família.

Se tivermos somente em conta a análise feita aos dados fornecidos pelos alunos, podemos concluir que não existe influência, pelo menos directa, porquanto os pais destes alunos tiveram a sua escolaridade em momentos substancialmente diferentes, nomeadamente no tocante aos curricula, pelo que é de presumir que não conhecem, de uma forma global, a estrutura do ensino, o que leva a que tenham grandes dificuldades na orientação e acompanhamento escolar dos seus filhos. O facto de a grande maioria dos pais possuir habilitações literárias inferiores ao 9.º ano de escolaridade, leva / 43 / os filhos, porque têm habilitações superiores à dos pais, a não admitir as suas opiniões como válidas na escolha do curso.

Relativamente a Orientação Escolar é importante que se refira o seguinte: apesar de percentualmente a Orientação Escolar apresentar níveis bastante baixos, 0% no agrupamento 1 e 10,5% no agrupamento 3, na Sec. N.º 1, na Jaime Magalhães de Lima não ter qualquer referência na escolha do curso, e na José Estêvão no agrupamento 1, 4,5%; no agrupamento 2, 0% e no agrupamento 4, 3,4% e na Homem Cristo, 6,7%, podemos considerar que tal não corresponde inteiramente àquilo que se passa.

Na verdade, e em primeiro lugar, nem todos os alunos tiveram Orientação Escolar no 9.º Ano, sendo de cerca de 50% aqueles que a tiveram, devendo, por isso, os dados ser lidos com esta correcção. Além disto, também podemos considerar que quando os alunos dizem que escolheram o curso por vocação também há que ter em conta que isso é devido à informação que receberam nas sessões de Orientação Escolar.

A Facilidade na obtenção do curso não é relevante na escolha, pois só 6% dos alunos da Sec. N.º 1 escolhem esta razão.

Na José Estêvão a Facilidade motivou a escolha do curso a 24% dos alunos do agrupamento 4, ao passo que aquela razão é pouco significativa na escolha do curso para os alunos dos outros agrupamentos, agrupamento 2, 2,7% e agrupamento 4, 2,3%.

Na Homem Cristo esta razão motiva 20% dos alunos.

No caso da Facilidade, nota-se que existe um grande contraste entre os alunos do agrupamento 4 da Sec. Homem Cristo e da José Estêvão e os alunos dos outros agrupamentos em que esta razão tem pouco peso. É de admitir que esta situação tenha a ver, fundamentalmente, com a área de estudos em causa, que pode aparentar, à primeira vista, ser uma área mais fácil de se ter sucesso.

 

– Caracterização social: profissões e habilitações dos pais

Variáveis seleccionadas:

– Profissão do Pai

– Habilitações académicas do Pai
 

Profissão do Pai – Na Escola Sec. N.º° 1, 37% dos pais dos alunos que frequentam os cursos tecnológicos são operários, 21% são empresários, 16% empregados/funcionários públicos e apenas 7% são quadros superiores/professores.

A percentagem dos pais que são empregados/funcionários públicos dos alunos que frequentam os cursos orientados para o prosseguimento de estudos atinge 23%, a percentagem dos pais que são empresários é de 21%, enquanto que os filhos de quadros superiores/professores é de 19% e apenas 10% são filhos de operários,

Quer nos CSPOVA, quer nos CSPOPE, nota-se que cerca de 20% dos pais são empresários e empregados/funcionários públicos.

A diferença reside ao nível das profissões de operário e quadros superiores/professores, pois nos alunos dos cursos tecnológicos os pais operários são 37% contra 10% nos pais dos alunos dos cursos gerais, e os pais / 44 / quadros superiores/professores são 7%, contra 19% respectivamente dos CSPOVA e dos CSPOPE.

Na Escola Sec. José Estêvão 38% dos pais dos alunos dos cursos tecnológicos são operários, contra 21 % dos pais dos alunos do outro curso.

Os pais quadros superiores/professores são nos CSPOVA 14% e nos CSPOPE 25%.

A diferença ao nível empresários e empregados/funcionários públicos é pouco sensível, 4% e 8% respectivamente, curso tecnológico e curso orientado para o prosseguimento de estudos.

Na Escola Sec. Homem Cristo a profissão que predomina em ambos os cursos é a de operário que é de 47% para os CSPOPE e 45% para os CSPOVA.

Os pais empregados/funcionários públicos distribuem-se sensivelmente da mesma maneira pelos dois cursos, 18% nos CSPOPE e 15% nos CSPOVA.

Na Escola Sec. Jaime Magalhães de Lima, 54% dos pais dos alunos dos cursos tecnológicos são operários, contra 48% dos pais dos alunos do outro curso.

Ao nível dos pais empresários verificamos que 20% têm filhos nos cursos tecnológicos, contra 16% que têm filhos nos CSPOPE.

A grande diferença reside nos pais quadros superiores/professores, em que nos CSPOPE 12% e 0% no CSPOVA.

 

Habilitações académicas do Pai – Os pais dos alunos que frequentam a Escola Sec. José Estêvão e que escolheram o curso tecnológico são portadores de habilitações académicas bastante baixas, já que uma grande maioria, que atinge 67%, possui somente a escolaridade obrigatória. Habilitados com o curso secundário referenciámos 18% e apenas 12% possuem o curso superior.

As habilitações literárias dos pais dos alunos que escolhem os cursos orientados para o prosseguimento de estudos é bastante superior, possuindo o curso secundário 42%, o curso superior 26% e apenas 28% dos pais possuem a escolaridade obrigatória.

Na Escola Sec. N.º 1 também se verifica que as habilitações dos pais dos alunos que escolhem os cursos tecnológicos são bastante baixas, pois 74%, possuem a escolaridade obrigatória, 17% o curso secundário e 9% o Curso Superior.

As habilitações literárias dos pais dos alunos dos cursos orientados para o prosseguimento de estudos, apesar de serem superiores à dos pais dos alunos que escolheram os cursos tecnológicos, ainda se verifica que 50% só possuem a escolaridade obrigatória, 25% serem portadores de um curso superior e 25% possuírem um curso secundário.

Na Escola Sec. Homem Cristo as Habilitações Académicas dos pais dos alunos que escolhem o curso tecnológico, apesar de baixas, já que 60% possuem a escolaridade obrigatória e 25% o curso secundário, são superiores às dos pais dos alunos que querem prosseguir os estudos, onde se nota uma grande percentagem de pais com a escolaridade obrigatória, que atinge os 88%, e uma pequena percentagem de pais que possui o ensino secundário, que são de 6%.

Na Escola Sec. Jaime Magalhães de Lima, uma grande maioria dos pais dos alunos dos cursos tecnológicos, que atinge os 66%, possui a escolaridade obrigatória, 29% possuem o curso secundário e somente 2,9% têm o curso superior. / 45 /

Relativamente aos pais dos alunos dos cursos gerais, referenciámos 58% que têm a escolaridade obrigatória, 46% o curso secundário e 12% o curso superior.

Em síntese, poderemos afirmar que a introdução dos CSPOVA, além de representar um significativo alargamento da oferta de formação na área tecnológica, contribuiu, comparativamente com os cursos técnico-profissionais que os antecederam, para uma relativa homogeneização dos processos de formação. No entanto, factores homogeneizadores convivem com outros diferenciadores que resultam da especificidade de cada escola – corpo docente, instalações, tradições de formação, imagem social das escolas.

Assim, no conjunto das Escolas Secundárias de Aveiro, 30,5% dos alunos frequentam cursos tecnológicos, mas o seu peso relativo em cada escola é bastante diferenciado – 58,1%na E.S.N.º 1, 28,9% na José Estêvão, 19,6% na Homem Cristo e 14,2% na J.M. Lima.

Na generalidade das escolas, os alunos dos CSPOVA são significativamente mais velhos que os dos CSPOPE e, do mesmo modo, com uma história de repetência mais acentuada. É de salientar a existência de uma estrutura de idades e de repetências bastante aproximada no conjunto das escolas, excepto no que diz respeito à Homem Cristo onde a taxa de repetência e o nível etário são bastante mais elevados, facto que se verifica quase sem distinção nos alunos inquiridos dos CSPOPE desta escola.

A diferenciação sexual parece resultar mais do curso frequentado do que da escola, verificando-se maior masculinização na José Estêvão e na E. S. N.º 1, onde o peso dos cursos tecnológicos é bastante maior, equilíbrio na J. M. Lima e uma quase absoluta feminização na Homem Cristo. De uma forma genérica, podemos dizer que há uma tendência mais masculinizante nos CSPOVA.

No que se refere à implantação geográfica, é de notar uma certa homogeneidade no conjunto das escolas, tanto ao nível da frequência urbana, com à do conjunto dos alunos dos arredores e dos concelhos limítrofes, destacando-se neste caso a J. M. Lima onde os alunos exteriores ao meio urbano são mais numerosos. As diferenças entre escolas são, neste caso, mais evidentes ao nível dos alunos dos CSPOPE, uma vez que os residentes na cidade se orientam preferencialmente para a José Estêvão e Homem Cristo.

Quanto às opções para o futuro, é nas escolas "mais urbanas" que o número daqueles que desejam seguir estudos superiores se acentua – 50% na Homem Cristo e 55% na José Estêvão. Pelo contrário, na E. S. N.º 1 e na J. M. Lima, os alunos orientam-se maioritariamente para o mercado de emprego, de forma mais significativa nesta última, onde apenas 36% daqueles que frequentam os cursos tecnológicos exprime o desejo de prosseguir estudos superiores.

 

6.3. Um primeiro balanço: a opinião dos professores e orientadores escolares

No inquérito dirigido aos professores das disciplinas de formação técnica, verificou-se que 73,3% são licenciados, 20% bacharéis, 6,6% não possuem ainda nenhum daqueles graus académicos; embora 90% dos professores sejam profissionalizados, apenas 433,3% são do quadro de nomeação definitiva, o que indicia alguma juventude relativa destes docentes. Significativo é / 46 / também o facto de 43,3% responderem que têm uma segunda profissão.

No que diz respeito ao equipamento disponível nas escolas, as opiniões dividem-se a meio – 50% consideram-no insuficiente e dos restantes acham que é suficiente (40%) ou mesmo bom (10%). No entanto, há que referir, a título de exemplo, o caso do equipamento para o curso de Construção Civil, considerado muito bom, mas que está na sua maior parte encaixotado devido a dificuldades financeiras e à necessidade de previamente fazer obras de conservação e adaptação nas instalações.

No que se refere ao valor formativo e ao modo como estão organizados os cursos tecnológicos predominam as atitudes críticas: 63,3% dos professores são de opinião que estes cursos não são adequados a nenhuma profissão específica, facto que deve ser contrabalançado com o facto de, por um lado, 53,3% entenderem que os cursos dão uma formação profissional em sentido genérico e, por outro, a maioria dos inquiridos ter dificuldade em encontrar exemplos concretos de profissões correspondentes às respectivas áreas de formação, apesar de 83,3% responder positivamente no que diz respeito ao conhecimento do referencial de emprego. Quanto à estrutura dos cursos, as opiniões dos professores são fortemente críticas, uma vez que 80% afirmam não concordar com a sua organização, o que de certa forma é confirmado pelas propostas de modificação que sugerem – o reforço da componente tecnológica e da componente prática/estágios é defendido em primeiro lugar por, respectivamente, 37% e 57% dos inquiridos.

Pensamos que as críticas se acentuam mais no grupo de professores com experiência dos cursos técnico-profissionais, que consideram os novos cursos mais generalistas, de menor qualidade que os anteriores, mais orientados para um perfil profissional concreto.

Num outro plano, tendo em conta a opinião e a experiência dos orientadores escolares, pode afirmar-se que os cursos tecnológicos raramente aparecem como uma escolha valorizada pelos alunos, esta é, pelo contrário, considerada uma alternativa de segunda que anda normalmente ligada a expectativas escolares limitadas, a alunos que se sentem diminuídos e que admitem o abandono dos estudos.

 

7. Conclusões

1. Como verificámos, os dados permitem concluir que os Cursos Tecnológicos são procurados por alunos de origem social mais desfavorecida.

Esta situação patenteia-se nas profissões dos pais, mas sobretudo nas habilitações académicas, o que permite concluir sobre a importância do capital escolar dos pais na escolha efectuada pelos estudantes.

2. Verificou-se também que os Cursos Tecnológicos são procurados por alunos com maior número de repetências.

3. A análise de diversas variáveis testadas permite concluir que existem simultaneamente factores de semelhança e de diversidade no tipo de estratificação social dos alunos dos cursos tecnológicos que frequentam as escolas consideradas.

A conjugação das variáveis idade e repetência determina uma hierarquia uniforme em que os cursos ministrados na E.S.J. Estêvão surgem em primeiro lugar, / 47 / uma vez que são frequentados por alunos mais jovens e com menor índice de repetência; uma faixa média composta pelos alunos da E.S.J.M. Lima e da E.S.N.º 1, com dados praticamente idênticos e, por fim, os alunos do curso de Animação Social da E.S.H. Cristo com nível etário e de repetência largamente mais elevados que qualquer das outras.

Ao nível das profissões dos pais e das respectivas habilitações verifica-se também uma hierarquia semelhante.

Este mesmo tipo de estratificação, vista em função das profissões e habilitações dos pais, é ainda mais nítida ao nível dos alunos dos C.S.P.O.P.E. inquiridos, não apenas porque reproduz a hierarquia já referida, mas também porque torna mais claro o contraste entre os alunos dos dois tipos de curso.

4. No que se refere aos professores da formação técnica, verifica-se uma atitude fortemente crítica quanto à organização dos cursos e à sua adequação profissional, sendo frequentemente apontada a necessidade de reforço da componente tecnológica e sobretudo da componente prática.

Podemos concluir que, embora o novo modelo de formação científica e tecnológica implícito na filosofia da reforma curricular aponte no sentido de uma formação mais abrangente e menos especializada, os professores revelam em relação à sua formalização concreta um certo distanciamento e cepticismo. Sendo os professores actores privilegiados do sistema de ensino, esta constatação permite-nos levantar a questão da não apropriação social deste novo paradigma da formação tecnológica e, portanto, da permanência de "velhas" representações que denotam resistência aos dinamismos de mudança.

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