O
ENSINO TECNOLÓGICO
NAS
ESCOLAS SECUNDÁRIAS DE AVEIRO
Carlos
Alberto Corga de Barros *
Carlos Alberto Rodrigues Dias *
Carlos Augusto Vasconcelos Pinheiro" ** e
Maria
Teresa Beirão Costa Pinto ***,
professores das Escolas Secundárias N.º 1(*), Homem Cristo (**) e Jaime
Magalhães Lima (***)
Este
estudo sobre o ensino tecnológico foi apresentado no Círculo de Estudos
“A Associação de Escolas de Aveiro e o seu Centro de Formação”
1.
Introdução
2.
Objectivos
3.
Contextualização histórica e teórica
4.
Construção do modelo de análise
5.
Metodologia utilizada
6.
Análise dos dados do inquérito
6.1.
Caracterização geral da oferta e da procura
6.2.
Características sociais da procura
a)
Análise dos dados de um ponto de vista global
–
Caracterização geral dos alunos de um e de outro tipo de curso
–
Caracterização social: habilitações e profissões dos pais
b)
Análise dos dados tendo em conta as especificidades de cada escola
–
Caracterização geral dos alunos de um e de outro tipo de curso
–
Caracterização social: habilitações e profissões dos pais
6.3.
Um primeiro balanço: a opinião dos professores e orientadores escolares
7.
Conclusões
8.
Gráficos
9.
Bibliografia
10.
Anexos
1.
Introdução
É
hoje sobejamente conhecida a estreita relação entre o desenvolvimento
das sociedades e os respectivos sistemas educacionais. A evolução social
não se confunde mais com o mero crescimento económico, exigindo
alterações a vários níveis, por forma a permitir às populações a
possibilidade de compreensão e resolução dos novos desafios, bem como a
busca de sistemas de equilíbrio material, espiritual e ecológico que
dignifiquem a pessoa humana.
A
inovação tecnológica operada nas últimas décadas tem introduzido
profundas alterações nos sistemas produtivos dos países avançados, pondo
em causa os conhecimentos tradicionais nas áreas da Sociologia e da
Economia do Trabalho.
A
adesão plena do nosso país à Comunidade Europeia veio exigir uma tanto
quanto possível rápida convergência da nossa economia e de todo o
sistema social aos níveis da Comunidade, daí resultando um certo número
de inovações que se afiguram necessárias e que se pretende tornar
possíveis.
Catapultado para uma área económica bastante avançada, Portugal recebe,
dado o seu alto nível de internacionalização e dependência, os impactos
das alterações verificadas nos outros países. Aliás, a tendência para a
internacionalização das economias é tão forte que, de uma forma ou
outra, o nosso país sempre se veria confrontado com os choques
resultantes do exterior.
A
cidade de Aveiro, situada numa zona de forte
/
27 / dinamismo económico e de confluência
de vias de comunicação, é altamente permeável a todos os choques
resultantes dessa situação.
Os
sistemas de ensino sempre foram influenciados pelos sistemas sociais,
embora contendo em si mesmos alguma capacidade de influência sobre a
dinâmica daqueles. Dentro dos sistemas de ensino, a área da formação
profissional e tecnológica tem tido, de algum modo, o funcionamento de
inter-relação privilegiada com outros subsistemas sociais na medida em
que se liga directamente com as necessidades produtivas.
O
abandono recente dos tradicionais paradigmas sobre formação e
qualificação profissional, vindo chamar a atenção para a precariedade
das especializações, constantemente ultrapassadas pelo fortíssimo
desenvolvimento técnico, permitiu o eclodir de uma nova filosofia sobre
a formação, nomeadamente a tecnológica.
A
Organização Maleável do Trabalho, derivada das inovações a nível da
automação e informática veio atenuar as fronteiras entre trabalho de
concepção e execução e entre trabalho de produção e manutenção: o
trabalho individual é definido sem rigidez verificando-se, normalmente,
a sua integração em grupos e colectivos (SANTOS, A. R, 1988).
Assim, e de acordo com estas perspectivas, foram recentemente lançados
os novos Cursos Tecnológicos, substituindo os Cursos
Técnico-Profissionais criados em 1983.
Um
dos pólos da nossa investigação é precisamente tentar verificar até que
ponto as expectativas dos alunos e professores desses cursos estão
marcadas ou não, por esta nova perspectiva. O outro é procurar saber se
vai haver alguma evolução no que diz respeito à valorização social deste
tipo de ensino.
Pretendemos, portanto, acompanhar a implementação dos Cursos
Tecnológicos (CSPOVA) na cidade de Aveiro numa dupla perspectiva de
análise em que serão observados os comportamentos e as expectativas quer
da escola quer da comunidade. Nesta primeira fase, procuraremos apenas,
por um lado, identificar as ofertas de formação de Cursos Tecnológicos
de cada uma das Escolas Secundárias (Escola Secundária N.º 1, Escola
Secundária Homem Cristo, Escola Secundária José Estêvão, Escola
Secundária Jaime Magalhães Lima), e, por outro, caracterizar de um
ponto de vista social os alunos que frequentam este tipo de ensino, bem
como as razões que os levaram a optar pelos Cursos Tecnológicos.
Tentaremos igualmente uma primeira avaliação da opinião dos professores
bem como das condições materiais disponíveis para a implementação destes
cursos.
2.
Objectivos
1.
Caracterizar, de um ponto de vista quantitativo, os seguintes aspectos
relativos à evolução do ensino tecnológico nas Escolas Secundária n.º 1,
José Estêvão, Homem Cristo e Jaime Magalhães Lima:
a)
volumes de frequência por escola e curso no ano lectivo de 1994/95;
b)
Origem geográfica dos alunos;
c)
Percurso escolar dos alunos;
d)
Composição social dos alunos.
2.
Identificar as principais motivações dos alunos no que se refere à opção
por um curso tecnológico.
/ 28 /
3.
Caracterizar o perfil de formação dos professores das áreas
tecnológicas.
4.
Avaliar a opinião dos professores da área tecnológica, dos membros dos
Conselhos Directivos e das equipas de Orientação Escolar e Profissional
sobre as opções de oferta e as motivações de procura tendo em conta os
perfis dos cursos tecnológicos e os recursos materiais disponíveis.
3.
Contextualização histórica e teórica
Embora se tenha verificado um crescimento significativo dos cursos
técnico-profissionais, o ano lectivo de 1989/90 marca o início de um
processo que conduzirá a grandes transformações. Logo em Janeiro são
criadas pelo Decreto-lei n.º 26/89 as escolas profissionais e em 29 de
Agosto o Decreto-Lei n.º 286/89 estabeleceu o novo plano curricular que
iria permitir alterações no ensino técnico e profissional e a criação
dos actuais cursos tecnológicos.
Estas
alterações resultaram da conjugação de vários factores: Avaliação
feita ao ensino técnico-profissional e do conjunto de propostas
formuladas; Determinações da Lei n.º 46/86 de 14 de Outubro (L.B.S.EJ;
Necessidade de diversificar a oferta de formação para dar resposta a um
conjunto de condicionalismos que o modelo de formação existente não
satisfazia (MARTINS, A.,1991).
Assim, a avaliação sistemática do E.T.P. realizada em 1986 e 1987
revelou os seguintes pontos críticos:
Insuficiente articulação entre as três componentes de formação geral,
específica e técnico-profissional dos cursos, com repercussões no
acumular de insucesso escolar nas duas primeiras;
Número exagerado de cursos, com fronteiras frequentemente difusas,
emergindo, sem lógica aparente, no pressuposto, nada óbvio, da
capacidade de descriminação do mercado de emprego e tornando mais
aleatórias as escolhas dos alunos;
Dispersão curricular, com multiplicação desmedida de disciplinas na
componente de formação técnico-profissional, disciplinas com contornos
por vezes imprecisos, dando não raro origem a sobreposições (e omissões)
de conteúdos programáticos e dificultando, por isso, a gestão do
processo de ensino/aprendizagem tanto a professores como a alunos
(M.E./G.E.T.A.P., 1993).
Por
outro lado, a Lei de Bases do Sistema Educativo estipula no seu Artigo
10º que: «Os cursos do ensino secundário têm a duração de três anos e
(...) organiza-se segundo formas diferenciadas, contemplando a
existência de cursos predominantemente orientados para a vida activa ou
para o prosseguimento de estudos, contendo todas elas componentes de
formação de sentido técnico, tecnológico e profissionalizante e de
língua e cultura portuguesas adequadas à natureza dos diversos cursos».
Finalmente, outro factor tem a ver com a necessidade de normalização,
isto é, resolver as disfuncionalidades propiciadas pela unificação do
ensino, pela escola de massas e pela grande heterogeneidade, a todos os
níveis, dos alunos e de adequar o ensino/formação quer à estratificação
social quer às necessidades funcionais do sistema social,
particularmente do subsistema de emprego (MARTINS, A., 1991).
Neste
sentido, na estruturação dos cursos tecnológicos foram tidos em conta os
seguintes pressupostos:
A
evolução técnica, que se processa a um ritmo vertiginoso, apela para uma
formação sólida e assente não já em especialidades mas sobretudo em
áreas (ou famílias de profissões) com bases científico-tecnológicas
comuns;
/ 29 /
A
realização pessoal e social dos jovens exige que a todos seja
proporcionado, na faixa etária 16-19 anos, um período de aprofundamento,
de orientação e de escolha de um percurso sócio-profissional, o que
implica que todos tenham acesso não só a uma formação sócio-cultural,
científica e técnica, mas também à aprendizagem e ao desenvolvimento de
capacidade de empreendimento, de criatividade, de resolução de problemas
novos, de comunicação, de trabalho em equipa, de planificação e de
tratamento de informação.
A
necessária flexibilidade que é preciso introduzir na organização
curricular, abrindo o leque de escolhas dos jovens, criando um conjunto
limitado de disciplinas ou áreas que deverão ser orientadas com a marca
que as escolas queiram atribuir aos cursos.
A
necessidade de reforçar a procura dos percursos tecnológicos do ensino
secundário como preparação para o ensino superior, dadas as enormes
carências de quadros superiores em várias vertentes tecnológicas
(M.E./G.E.TAP., 1993).
Com
base nos pressupostos acima referidos foram criados para funcionar em
1992/93, os seguintes cursos tecnológicos: Informática; Construção
Civil; Electrotecnia/Electrónica; Mecânica; Química; Design; Artes e
Ofícios; Serviços Comerciais; Administração; Comunicação; Animação
Social.
Assiste-se, assim, a uma grande redução de cursos, pois de 33 existentes
no Ensino Técnico Profissional passou-se para 11 nos Cursos
Tecnológicos.
A
própria coerência interna das formações é reforçada quer pelo tipo de
disciplinas propostas quer pela interligação das componentes de
formação.
A
formação geral comum a todos os cursos do ensino secundário é composta
das seguintes disciplinas: Português, Introdução à Filosofia, Língua
Estrangeira I ou lI, Educação Física, Desenvolvimento Pessoal e Social
ou Educação Moral e Religiosa Católica (ou de outras confissões);
A
formação especifica é constituída apenas por duas ou três disciplinas,
escolhidas de entre as indicadas pelo Decreto-Lei 286/89 e tendo como
critério de escolha a fundamentação científica das disciplinas técnicas,
com uma carga horária global constante ao longo dos 10.º, 11.º e 12.º
anos de escolaridade (ou com pequenas variações, resultantes das
particularidades das disciplinas e das suas interligações ou
precedências). Estas disciplinas especificas formam um núcleo duro comum
ao CSPOPE da mesma área de formação e contribuem para garantir a
permeabilidade entre ambos os tipos de cursos, conforme exige o n.º 4 do
art.º 10.º da LBSE, e, também, para facilitar o prosseguimento de
estudos aos alunos que o desejem;
A
formação técnica é constituída apenas por quatro disciplinas com a
lógica de desenvolvimento do próprio curso (...) A carga horária da
componente de formação técnica é constante nos 10.º e 11.º anos e
aumenta no 12.º ano de escolaridade, diminuindo então a componente de
formação geral
(M.E./G.E.T.A.P., 1993).
A
reestruturação dos Cursos Técnico-Profissionais e a criação dos Cursos
Tecnológicos, corno já foi dito, decorre do novo enquadramento
institucional resultante da aprovação da Lei de Bases do Sistema
Educativo, que consagrou definitivamente a existência de cursos,
permeáveis entre si, predominantemente orientados para o prosseguimento
de estudos e cursos predominantemente orientados para a vida activa.
Regista-se igualmente, corno também já foi referida, a convergência de
vários factores, nomeadamente, a avaliação da experiência levada a cabo
no biénio 1986/88 pela
/ 30 /
Direcção Geral do Ensino Secundário, por uma equipa coordenada pelo Dr.
Joaquim de Azevedo, então técnico da Comissão de Coordenação da Região
Norte e dos trabalhos da Comissão de Reforma do Sistema Educativo que
conduziu à elaboração da Proposta Global de Reforma. Do mesmo modo,
documentos oficiais da UNESCO, CEE e OCDE convergem na orientação de
que a formação profissional deve visar a polivalência, (...) a
mobilidade (...) e a diversidade (MARTINS, J., 1992).
A
necessidade de garantir a permeabilidade dos diversos tipos de cursos
(art.º 10.º da L.B.S.E.) e a integração na C.E.E. terão desempenhado um
papel decisivo na reestruturação do Ensino Técnico-Profissional, uma vez
que com os Cursos Tecnológicos se procura não só induzir profundas e
positivas modificações no tradicional estatuto de menorização dos
percursos escolares dirigidos para a inserção mais rápida no mercado do
trabalho e do emprego" mas também "responder à procura quer do
mercado interno quer do mercado de trabalho europeu (MARTINS, J.,
1992).
A
rapidez das mutações tecnológicas, com implicações no perfil das novas
profissões, na procura de mão-de-obra, no tipo da sua formação e nos
métodos de organização do trabalho, implicam também uma nova filosofia
de organização curricular. Pretende-se agora uma formação de base mais
generalista, valorizando uma formação geral humanística, científica e
tecnológica mais ampla em detrimento de uma maior especialização
profissional. Pretende-se formar pessoas para a incerteza, para a crise,
para a mutação permanente, disponíveis para a reconversão, dotadas da
autonomia, criatividade, iniciativa e responsabilidade necessárias numa
sociedade em que a polivalência e a mobilidade são valores fundamentais.
Os
progressos do sector terciário, a estagnação do secundário e o declínio
da população activa no sector primário, provocaram mutações sociais
importantes; uma taxa de urbanização cada vez maior produziu alterações
na procura social de educação e uma pressão mais acentuada sobre o
sistema escolar. Trata-se, nestas condições, de uma procura mais
exigente, com expectativas mais elevadas de mobilidade social
ascendente. Daí também a necessidade de revalorizar e dignificar o
ensino técnico relativamente ao ensino humanístico e científico,
atribuindo-lhe um estatuto idêntico através da aproximação dos
currículos, pela permeabilidade entre os cursos, pela garantia de
condições idênticas de acesso ao ensino superior.
Procura-se também alargar e diversificar a oferta de formação na
perspectiva de, por um lado, aliviar a pressão para o ingresso no ensino
superior e, por outro, ajustar o sistema às necessidades sociais,
deixando cair o mito igualitarista da capacidade da escola de via única
para combater a estratificação social.
Houve
igualmente a preocupação de dar maior coerência ao sistema, assente
nalguns princípios básicos tais como a iniciação da formação técnica e
profissional apenas no ensino secundário, evitando escolhas
profissionais demasiado precoces, o princípio da unidade institucional e
da diversidade das formações, bem como o da equivalência das
certificações.
Finalmente, procura-se responder às novas necessidades do mercado de
emprego, carenciado de quadros intermédios que, no entanto, irão exercer
a sua actividade profissional num contexto simultaneamente mais exigente
e mais volátil. Numa situação em que as
/
31 / indústrias de base tradicionais estão
em declínio (siderurgia, construção naval, petroquímica, têxtil, etc.) e
novas indústrias e serviços estão em ascensão (micro-electrónica,
telecomunicações, fibras ópticas, robótica, computadores, bancos de
dados, serviços de informação), a estrutura das empresas, o mercado de
emprego, as concepções de organização do trabalho e as relações entre a
indústria e os serviços mudaram profundamente. Na base desta
transformação está o enorme potencial das tecnologias de informação
para recolher, armazenar, processar e difundir enormes quantidades de
informação a custos mínimos (SALAVISA, I., 1991). O paradigma da
organização industrial são os sistemas de produção flexíveis, em que se
procura através do controlo electrónico e da integração da concepção, da
produção e do “marketing”, produzir economias de gama, aproveitando a
polivalência e flexibilidade dos equipamentos, e racionalizar a
utilização conjunta de capital, mão-de-obra, matérias-primas e energia
(SALA VISA, 1.,1991). As consequências são profundas ao nível da
formação, mesmo dos quadros intermédios. Em vez de uma formação
técnicoprofissional demasiado sectorial, demasiado especializada,
exige-se uma formação mais abrangente, mais integradora de saberes e
competências diversas para resolver situações cada vez mais complexas.
Tentaremos seguidamente analisar a evolução recente da economia
portuguesa e problematizar desde já a inter-relação entre a dinâmica
sócio-económica e a reforma do Ensino Técnico.
Em
termos macro-económicos, o período posterior a 1986 representa uma
ruptura com o passado recente. Destacam-se algumas alterações,
nomeadamente:
–
ganho nos termos de troca
–
novas expectativas, claramente mais optimistas, dos agentes económicos,
–
apreciação do escudo, no sentido de reduzir a inflação, a par da
integração da nossa moeda no mecanismo europeu de taxas de câmbio,
–
crescimento da pressão concorrencial da oferta externa no mercado
interno,
–
modernização das estruturas empresariais,
–
modernização dos modelos de consumo
O
processo de internacionalização da economia e de modernização da
sociedade portuguesa tem-se revelado, no entanto, bastante desigual, com
diferentes velocidades internas de participação e adaptação.
A
análise da evolução pode ser organizada em torno de quatro constatações.
Em primeiro lugar, a verificação de um crescimento rápido, embora
desequilibrado. Este desequilíbrio manifesta-se fundamentalmente no
facto de a Procura ter crescido a um ritmo superior ao do Produto e no
facto de o crescimento do Emprego se ter verificado sem ganhos de
Produtividade. Este último ponto leva a supor que a lógica de
crescimento adoptada tenha sido a extensiva o que, embora tenha efeitos
sociais positivos sobre o Emprego, conduz ao adiamento das
transformações estruturais necessárias. Em segundo lugar, a aceleração
da abertura global da economia, analisada quer ao nível da abertura ao
Investimento Directo Estrangeiro, quer a nível da abertura comercial. Em
terceiro lugar, a conservação de uma especialização industrial
vulnerável, num contexto de concorrência acrescida. Finalmente, a
alteração das condições de relacionamento entre o sector real e o sector
financeiro. O decréscimo da rendibilidade dos investimentos na indústria
e na agricultura e o aumento da rendibilidade do sector financeiro leva
a supor o desenvolvimento de lógicas financeiras em detrimento
/ 32 / de
lógicas produtivo-comerciais (MATEUS, A., 1992).
Esta
breve caracterização da evolução macro-económica permite constatar a
mudança que se tem vindo a verificar desde a adesão de Portugal à
Comunidade Europeia, e permite levantar outras questões, mais profundas,
que se prendem com a evolução estrutural que se afigurava necessária e
que se revela particularmente difícil.
Com
efeito, constata-se um crescimento sem modernização que deveria ser
transformado numa dinâmica auto sustentada de desenvolvimento económico
e social. Porquê as dificuldades de implantação dessa dinâmica?
As
barreiras organizacionais que impedem a sociedade portuguesa de operar o
salto da modernização não são em si mesmas intransponíveis quando as
consideramos isoladamente. O principal obstáculo reside na dificuldade
de as remover simultaneamente de maneira a assegurar a conversão
(MEDEIROS, F., 1992). Segundo este investigador, constituem obstáculos
organizacionais à modernização:
– a
incapacidade do sector bancário e financeiro de orientar os
investimentos para sectores de produção que não os tradicionais,
favorecendo uma proliferação mimética de pequenas empresas. Não se pode
atribuir a causa desta incapacidade à escassez de capital, uma vez que
Portugal apresenta uma das taxas de poupança mais elevadas da Comunidade
e recebeu, a partir de 1986, verbas substanciais provenientes de Fundos
Comunitários.
– o
recurso à mão-de-obra juvenil pouco escolarizada e desprovida de
possibilidades de acesso à formação profissional
– a
ligação funcional entre o baixo custo da mão-de-obra, a crise da
habitação, o subdesenvolvimento urbano e o crescimento muito lento do
terciário superior.
Isolando um dos factores, os recursos humanos e o seu estádio de
formação, verifica-se uma situação de lamentável atraso que não será
fácil de ultrapassar, não tanto por falta de meios financeiros ou
vontade política, mas antes devido à era como os membros da sociedade
concebem e valorizam os objectivos do sistema escolar e da qualificação
profissional (MEDEIROS, F., 1992). Esta variável será, por sua vez,
função das mudanças das estruturas sociais e do desenvolvimento cultural
que ocorrem de forma lenta e não linear.
O
sistema de ensino e o sistema de formação profissional têm-se revelado
incapazes de recuperar os atrasos educacionais portugueses, talvez
devido ao facto de o segundo "roubar" ao primeiro jovens de uma faixa
etária muito baixa (o grupo dos 15 aos 19 anos tem sido preferenciado
pela políticas de formação, em detrimento do grupo seguinte, dos 20 aos
24), numa perspectiva de encaminhamento, para o sistema económico, de
mão-de-obra de baixo custo que tem alimentado, juntamente com a
mão-de-obra feminina, o trabalho precarizado, ruja taxa atingiu no nosso
país os 18%, dobro da média europeia.
Outros estudos revelam a manutenção, no nosso país, de um hiato cultural
muito forte entre as elites e as massas, o que constituirá a "diferentia
specifica" portuguesa no contexto da Comunidade e poderá explicar
muitas das atitudes perante a cultura e a participação política. Segundo
Manuel Villaverde Cabral, nem a historiografia
nem
/ 33 / a
sociologia estão em condições de contribuir, de forma definitiva, para
elucidar os termos exactos da relação entre esta segmentação
político-cultural e o desenvolvimento sócio-económico. Em todo o caso, a
evidência empírica comparativa aponta para uma clara associação positiva
entre a integração cultural e a participação política, por um lado, e a
performance do sistema sócio-cultural, por outro. E há boas razões,
sejam de ordem cognitiva, sejam de ordem histórica, para pensar que a
difusão dos dispositivos modernos de instrução universal não só têm
tendência para preceder, como condicionar, a performance global do
sistema tal como ela pode ser aferida, a posteriori, pelo crescimento do
rendimento per capita.
O
conjunto de predisposições sociais e de preferências nacionais de várias
estruturas económicas, políticas e culturais que se exprimem ao nível da
representação política
está patente nas atitudes e comportamentos dos vários agentes sociais
que protagonizaram os primeiros passos da integração demonstrando um
sentido de oportunidade e interesse imediato, mas poderá, em nosso
entender, ser responsável por uma resistência à introdução de um tipo de
ensino tecnológico que retardará a entrada de jovens no mundo do
trabalho e não formará "profissionais acabados" como tradicionalmente se
solicitava ao Ensino Técnico.
Sujeitos a fortes pressões resultantes da adesão ao espaço comunitário,
o sistema económico-social português e o próprio sistema de ensino e
formação profissional carecem de uma actualização urgente, a qual se
concretiza, a nível deste último, e a par de outras inovações, pela
criação dos Cursos Tecnológicos, cuja expansão a todas as Escolas
Secundárias ocorreu já a partir do ano lectivo de 1993/94.
Assiste-se hoje a uma mudança de mentalidade do patronato mais dinâmico
que o leva a defender um modelo de formação assente numa filosofia de
construção de homens com capacidade de se tornarem bons profissionais e,
ao invés, a rejeitar a formação de "profissionais acabados". No entanto,
será que os vectores de mudança são suficientemente fortes para vencer
as resistências profundamente instaladas nas mentalidades de alguns dos
protagonistas sociais desta alteração?
Em
torno desta questão construímos o nosso trabalho, com a convicção de que
a investigação levada a cabo com rigor metodológico e uma paralela e
sistemática fundamentação teórica é o caminho para o conhecimento e a
compreensão (ainda que parcelares e provisórios) da rica e complexa
realidade social que nos cerca.
4.
Construção do modelo de análise
Para
esta fase da nossa investigação formulámos as seguintes hipóteses:
1. Os
cursos tecnológicos são procurados por alunos de origem social mais
desfavorecida.
2. Os
cursos tecnológicos são procurados por alunos com maior número de
repetências.
3. Os
públicos discentes que frequentam os Cursos Tecnológicos nas Escolas
Secundárias de Aveiro são hierarquizados.
4. Os
professores mais directamente ligados às disciplinas da formação técnica
consideram insuficiente a preparação tecnológica e prática dos actuais
cursos orientados para a vida activa.
/
34 /
■
Metodologia utilizada
O
método utilizado foi o de análise extensiva e a técnica de inquérito por
questionário.
Foram
objecto de inquérito 172 alunos dos CSPOPE e 309 dos CSPOVA de um
universo constituído pelos alunos do Ensino Secundário Oficial
integrados na Nova Reforma, matriculados no ano lectivo de 1994/95 nas
quatro escolas secundárias da cidade de Aveiro, perfazendo um total de
2004 alunos, dos quais 1391 dos CSPOPE e 613 dos CSPOVA.
As
amostras utilizadas foram obtidas da seguinte forma:
Cursos Tecnológicos
Escola Secundária José Estêvão
– 2
turmas de Informática
– 2
turmas de Arte e Design
– 2
turmas de Comunicação
Escola Secundária Homem Cristo
– 2
turmas de Animação Social
Escola Secundária n.º 1
– 2
turmas de Serviços Comerciais
– 2
turmas de Administração
– 2
turmas de Elec./Electrónica
– 1
turma de Construção Civil
Escola Secundária Jaime Magalhães Lima
– 2
turmas de Serviços Comerciais
Cursos Gerais
Escola Secundária José Estêvão
– 2
turmas (1.º e 2.º agrupamento)
Escola Secundária Homem Cristo
– 1
turma (1.º e 2.º agrupamento)
Escola Secundária N.º 1
– 2
turmas (1° e 3° agrupamento)
Escola Secundária Jaime Magalhães Lima
– 2
turmas (3.º e 4.º agrupamento)
6.
Análise dos dados do inquérito
6.1. Caracterização geral da oferta e da procura
A
generalização da reforma curricular na escolas secundárias da cidade de
Aveiro tem vindo a provocar um conjunto de reajustamentos na oferta
pública de formação com implicações ao nível dos quadros docentes, do
equipamento das escolas e da recomposição social da procura de cada uma
delas, como veremos mais adiante.
Em
primeiro lugar, a redução a quatro grandes áreas de formação ao nível
dos CSPOPE, com características necessariamente mais generalistas e
abrangentes, alterou um pouco uma lógica de complementaridade que se
verificava sobretudo nas escolhas das opções vocacionais a oferecer,
para dar lugar a uma lógica de maior sobreposição ou de concorrência –
os agrupamentos um (dominante Científica e Natural) e quatro (dominante
Humanidades) funcionam nas quatro escolas da cidade, o agrupamento três
(dominante Económico-Social) funciona em três delas e só o agrupamento
dois (dominante Artes) funciona apenas numa delas, a Escola Secundária
José Estêvão. A introdução de CSPOVA em todas as escolas da rede é
igualmente um factor homogeneizador relativamente ao passado, mas, por
outro lado, não deixa de reflectir a permanência de algumas
características diferenciadoras anteriores.
/
35 /
Assim, se a tendência homogeneizadora ressalta num conjunto de cinco
disciplinas de formação técnica dos CSPOPE que funcionam em todas as
escolas – Técnicas Laboratoriais de Química, Técnicas Laboratoriais de
Biologia, Técnicas de Tradução de Francês, Técnicas de Tradução de
Inglês e Tecnologias da Informação – a tendência diferenciadora é já
evidente num outro conjunto de nove disciplinas, que funcionam apenas
numa das escolas, ou em duas, como é o caso das Técnicas de Organização
Empresarial e das Aplicações de Electrónica. A composição dos quadros
docentes, os equipamentos disponíveis e algumas tradições anteriores
terão tido certamente um peso decisivo.
Quando analisamos as ofertas de formação ao nível dos CSPOVA, as
tendências diferenciadoras acentuam-se ainda mais. Aqui a
complementaridade e divisão de tarefas é quase total: de oito Cursos
Tecnológicos em funcionamento – num conjunto de onze possíveis apenas um
curso, o de Serviços Comerciais, funciona em mais do que uma escola,
dividindo-se os restantes sete cursos cada um por sua escola de acordo
com as suas especificidades em recursos humanos e equipamento.
O
primeiro facto a registar no que diz respeito à história recente é o
significativo aumento da oferta de formação de cursos tecnológicos
relativamente aos cursos técnico-profissionais agora em fase de
extinção. No presente ano lectivo (1994/95) as quatro Escolas
Secundárias consideradas – José Estêvão, N.º 1, Jaime Magalhães Lima e
Homem Cristo – têm no seu conjunto, no 10.º e 11.º ano, 29 turmas nos
cursos tecnológicos contra 58 nos cursos predominantemente orientados
para o prosseguimento de estudos. Frequentam os cursos tecnológicos 613
alunos contra 1391 nas áreas de prosseguimento de estudos, o que
corresponde a uma percentagem de 30,5%.
No
que se refere à distribuição dos alunos por escola e cursos e da análise
dos dados recolhidos, podemos retirar as seguintes conclusões :
Destaca-se a Escola Secundária N.º 1 com o maior número de alunos a
frequentar cursos tecnológicos, recuperando deste modo alguma da sua
imagem tradicional de "escola técnica" – não só porque 58,1% dos seus
alunos frequentam CSPOVA, mas também porque os cursos que ministra,
podem, de certo modo, considerar-se desenvolvimentos lógicos das
tradicionais áreas de administração e comércio, por um lado, e de
electricidade e construção civil, por outro. Perdeu-se a área de
mecanotecnia, não só por falta de procura sistemática nos últimos anos,
mas também porque não foi objecto de oferta no momento da definição da
rede dos novos cursos tecnológicos, já que a proposta da escola não
obteve acolhimento junto dos responsáveis (na época, o GETAP).
Embora represente apenas 28,9% do total, é também bastante significativo
o número de alunos dos cursos tecnológicos da Escola Secundária José
Estêvão, cuja tradição nesta área é recente e está essencialmente ligada
ao curso técnico-profissional de informática. No entanto, quer as opções
da escola quer a procura por parte dos alunos vai de encontro a áreas de
formação tradicionais naquele estabelecimento de ensino, uma vez que 76%
desses alunos frequenta os cursos de Comunicação e de Design, dominante
Humanidades e Artes, com 49,7% e 26,3%, respectivamente.
/
36 /
No
que se refere à Escola Secundária Jaime Magalhães Lima, cujo número de
alunos dos cursos tecnológicos é bastante inferior, apenas 70 alunos,
14,2% do total, parece-nos que a relativa juventude da escola, um
processo de secundarização mais longínquo que nos dois casos anteriores
e a ausência de tradições específicas de formação tecnológica, portanto
de quadros docentes e de equipamentos, permitirão uma primeira
explicação para o facto. A Escola Secundária Homem Cristo tem 19,6% dos
seus alunos nos cursos tecnológicos; a natureza dos seus quadros humanos
e materiais, a sua menor dimensão e alguma instabilidade e incerteza
quanto ao futuro poderão ter condicionado as opções feitas e o tipo de
procura recente.
5.2. Características sociais da procura
a)
Análise dos dados de um ponto de vista global
–
Caracterização geral dos alunos de um e de outro tipo de curso
Procurar-se-á, de seguida, caracterizar os alunos que frequentam os
cursos Gerais e aqueles que frequentam os Tecnológicos, sem ter a
preocupação em os especificar por escolas. Partimos, como foi referido,
da hipótese de os Tecnológicos serem procurados por alunos de origem
social menos favorecida, no que toca quer às possibilidades económicas
das famílias (analisadas apenas em função das profissões, e portanto,
mais da perspectiva do presumível rendimento do que da do património)
quer ao seu "capital cultural". Tal hipótese obrigava-nos à pesquisa
sobre a existência, ou não, de traços homogeneizadores dentro de cada
grupo e ao mesmo tempo diferenciadores entre os dois conjuntos.
Assim, as perguntas base neste ponto serão:
– Que
tipo de alunos frequenta os CSPOPE e que tipo de alunos frequenta os
CSPOVA?
–
Existirão algumas diferenças entre eles? Quais?
É o
resultado desta pesquisa que a seguir se sintetiza.
Variáveis seleccionadas:
–
Idade
–
Sexo
–
Residência (cidade – concelho - concelho limítrofe)
–
N.º de repetências anteriores (0/1/2/3 ou mais)
–
Perspectivas de futuro (Ensino Superior/Emprego)
–
Razões de escolha do curso (só aplicado ao CSPOVA)
Idade
– Os dados obtidos permitem afirmar que os alunos dos CSPOPE são, de
forma geral, mais novos que os dos CSPOVA As percentagens mais elevadas
no primeiro tipo de cursos situam-se nos 15/16/17 anos, enquanto no
segundo tipo verificam-se nos 16/ 17/18 anos.
Sexo
– Os dados obtidos permitem afirmar que os CSPOPE são, de forma geral,
mais procurados por raparigas do que por rapazes, alterando-se um pouco
esta situação nos CSPOVA, onde os rapazes surgem com um peso superior
àquele com que surgem nos CSPOPE, igualando ou mesmo dominando
ligeiramente o peso percentual do sexo feminino.
Residência
– Embora os dados obtidos quanto a esta variável não nos mereçam grande
confiança, uma vez
/ 37 / que
verificámos, aquando da aplicação do inquérito, que os alunos tiveram
dificuldades na selecção dos vários tipos de residência, não queremos
deixar de referir que não constatámos, a este nível, nem grande
identificação intra nem grande oposição inter grupos. De facto, o tipo
de povoamento da zona e o tipo de habitação predominante justificam a
dispersão dos vários grupos sociais por variadíssimos lugares de cidade
ou de arredor nos quais não é fácil a identificação espaço
geográfico/espaço social. No entanto, e de forma muito cautelosa,
parece-nos existirem ligeiros indícios de uma maior urbanidade por parte
dos alunos dos CSPOPR
Número de repetências anteriores
– Foi em relação a esta variável que encontrámos claras diferenças entre
um e outro tipo de alunos, uma vez que os alunos com um passado escolar
sem repetências predominam claramente nos CSPOPE, o que naturalmente
explica o que foi dito quanto à variável idade e poderá relacionar-se
com o que se verificou ao nível da distribuição dos dois sexos pelos
dois tipos de cursos.
Apesar deste último facto poder ser influenciado pelo tipo de cursos
tecnológicos que funcionam nas escolas da cidade, nomeadamente na
Secundária José Estêvão e na Secundária n.º 1, também está demonstrado
por estudos empíricos que actualmente no nosso país, e na maioria dos
cursos superiores, predominam as raparigas, o que já foi alvo de
tentativas de explicação por parte de várias ciências sociais.
Esta
tendência verificada no Ensino Superior poderá ter já as suas raízes nas
escolhas dos alunos do 9.º ano, podendo as raparigas, por várias razões,
de ordem psicológica e sociológica estar mais predispostas para
trajectórias escolares mais prolongadas.
Perspectivas de futuro
– Embora não directamente testados sobre esta questão, pensamos que os
alunos CSPOPE, pela própria escolha, se orientam maioritariamente para o
Ensino Superior. Este tipo de orientação surge também com bastante peso
percentual nos alunos CSPOVA (sendo, nalgumas Escolas, superior à do
Emprego), o que pensamos poder enquadrar-se na situação global do
mercado de trabalho o qual, praticamente paralisado, vai "empurrando" os
alunos para a continuação dos estudos. Para além do mais, parece-nos ser
convicção cada vez mais generalizada a ideia de que só um curso superior
abrirá caminho para determinado tipo de lugares profissionais que
permitam manter/alcançar um posicionamento social possibilitador do
conjunto de consumos e de um lugar de classe identificável com os
veiculados pelos media. A "vocação" surge, em todos os cursos, como a
razão principal da opção por um CSPOVA; surge mesmo citada em primeiro
lugar em mais de 50% dos inquiridos de todos os cursos tecnológicos, à
excepção do de Comunicação em que apenas surge em primeiro lugar em
37,9% dos inquiridos.
Das
razões apresentadas aos alunos, a "vocação" é a menos racional (por
comparação com a facilidade do curso, a melhor preparação e a facilidade
de emprego), e logo a que abre mais espaço à afectividade e a que melhor
permite a afirmação do adolescente perante o mundo dos adultos (por
comparação com a influência da família e dos serviços de orientação
escolar). A afectividade e alguma recusa dos argumentos racionalizadores
(mesmo que eles sejam a facilidade dos próprios cursos), assim como a
quase completa / 38 / negação da influência da Família ou dos Serviços
de Orientação Escolar parecem-nos consentâneos com os comportamentos e
representações habituais nos nossos alunos.
No
entanto, a "escolha" do curso está mais "socialmente" determinada do que
aparentemente os estudantes possam pensar, como no decorrer do nosso
trabalho procuraremos demonstrar.
–
Caracterização social: profissões e habilitações dos pais
Nota
metodológica:
Foram
tidas em conta para esta caracterização as informações relativas à
profissão dos pais dos alunos e ao seu grau de instrução.
Como
é tradicional nas pesquisas sobre origens/lugares de classe, foi
considerada como determinante a informação relativa ao pai. Embora as
teorias mais recentes chamem a atenção para os enviesamentos que podem
advir da utilização desta metodologia, pareceu-nos que a profunda marca
cultural do pai "chefe de família" e o elevado peso de "domésticas"
(grupo social muito diversificado e difícil de caracterizar em termos de
estrato social) entre as mães sustentavam a decisão tomada.
Variáveis seleccionadas:
–
Profissão do Pai
–
Habilitações académicas do Pai
Profissão do Pai – A percentagem de Pais "quadros" (designação na qual
incluímos os professores e que é enquadrável nas classes médias,
especificamente "média e pequena burguesia de enquadramento") entre os
alunos dos CSPOPE é claramente superior à representatividade percentual
do mesmo tipo de profissões entre os pais dos alunos dos CSPOVA.
Da
mesma forma, o conjunto profissional "Empregados de
escritório/Funcionários Públicos", igualmente enquadrável nas classes
médias (especificamente "pequena burguesia de execução"), surge com
maior peso percentual entre os pais dos alunos dos CSPOPE.
O
conjunto "empresários", que nesta zona, como é sabido, predominantemente
constituído por pequenos e médios industriais/comerciantes (classe média
tradicional de baixo capital escolar?) é aquele que mais equitativamente
se encontra representado.
O
conjunto "operários", embora também envie uma percentagem significativa
de estudantes para os CSPOPE encontra-se bem representado nos pais dos
alunos CSPOVA.
Apesar de ser considerada a possibilidade, não nos surgiu nenhum
inquirido filho de agricultor, o que também nos parece enquadrável no
tipo de agricultura praticada na zona, "em tempo parcial".
De
salientar, como já foi referido, a grande percentagem de domésticas
entre as mães, ligeiramente mais forte no que toca aos alunos dos CSPOVA.
Habilitações académicas do Pai
– É acentuada a diferença entre os pais dos alunos dos cursos de
prosseguimento e os pais dos alunos dos cursos para a vida activa, sendo
os primeiros possuidores de um maior capital escolar que os segundos. A
percentagem de pais
/ 39 / com a
escolaridade obrigatória entre os alunos dos CSPOVA chega a ser o dobro
da percentagem de pais de alunos dos CSPOPE com o mesmo grau de
escolaridade.
As
diferenças que os agrupamentos profissionais revelavam com alguma
dificuldade patenteiam-se nos dados obtidos através da pesquisa desta
variável, o que nos parece permitir afirmar estarmos perante mecanismos
inequívocos de uma certa "reprodução social" devidamente corrigida pela
passagem de uma geração e pelo fenómeno de massificação do ensino
secundário ocorrido em Portugal nos últimos vinte anos.
Assim, e sintetizando, o aluno do 10.º ano de um CSPOPE poderá com mais
facilidade ser do sexo feminino, relativamente novo, com cerca de 15 ou
16 anos, com zero ou uma repetência no seu passado escolar.
Aspira, em princípio, ao Ensino Superior. A sua origem social será
predominantemente a classe média, embora também possa provir do
operariado. Os pais podem apenas ter a escolaridade obrigatória, mas
também podem possuir uma escolaridade média ou superior.
O
aluno do mesmo ano de um CSPOVA será com mais probabilidade do sexo
masculino, com 16,17 ou mesmo 18 anos de idade, com bastantes hipóteses
de ter pelo menos uma repetência no seu passado escolar. Em termos de
aspirações futuras, divide-se bastante, oscilando entre o emprego ou o
prosseguimento de estudos. Em termos de origem social, terá mais
probabilidade de ser filho de "empresários" ou "operários". A mãe será
provavelmente doméstica. Os pais terão sensivelmente a escolaridade
obrigatória; muito dificilmente terão habilitações de grau superior.
Nota:
em vários dos aspectos estudados, os alunos inquiridos na Escola
Secundária Homem Cristo escapavam à tendência geral. Desta questão se
dará conhecimento mais pormenorizado na análise das especificidades de
cada escola analisada.
b) Análise dos dados tendo em conta as especificidades de
cada escola
–
Caracterização geral dos alunos de um e de outro tipo de curso
Variáveis seleccionadas:
–
Idade
–
Sexo
–
Residência (cidade/concelho/concelho limítrofe)
– N.º
de repetências anteriores (0/1/2/3 ou mais)
–
Perspectivas de futuro Ensino Superior/Emprego)
–
Razões de escolha do curso (só aplicado ao CSPOVA)
Idade
– Se hierarquizarmos as escolas no que se refere à idade dos alunos,
verificamos que a E. S. Homem Cristo tem a população escolar mais
envelhecida com apenas 20% na faixa etária dos 15 e 16 anos a frequentar
os CSPOVA (35% nos CSPOPE), seguida da a E. S. N.º 1 com 40% (69% nos
CSPOPE), da E. S. J. M. Lima com 41,8% (76% nos CSPOPE) e a E. S. J.
Estêvão com 52% (83% nos CSPOPE). Para além de se constatar que esta
ordenação é válida para os dois tipos de cursos, registamos um acentuado
envelhecimento dos alunos dos CSPOVA relativamente aos dos CSPOPE com
uma
/ 40 /
diferença que se situa aproximadamente na casa dos 30%, excepto no que
diz respeito à E. S. Homem Cristo onde as diferenças entre os dois tipos
de cursos não são tão acentuadas, sendo neste caso de apenas 15%.
Se,
por outro lado, seleccionarmos a faixa etária dos18 anos e acima dos 18,
ambas as tendências acima referidas se confirmam, com uma inversão de
posições entre a E.S. N.º 1 e a E.S.J.M. Lima – E. S. Homem Cristo com
45% nos CSPOVA (29,3% nos CSPOPE), E. S. J. M. Lima com 28% nos CSPOVA
(10% nos CSPOPE), E. S. N.º 1 com 24/6% nos CSPOVA (8,4% nos CSPOPE) e
E. S. José Estêvão com 18,6% nos CSPOVA (7% nos CSPOPE). Regisste-se
ainda um fosso relativamente acentuado entre a E. S. Homem Cristo e as
restantes escolas.
Sexo
– No que se refere à distribuição por sexos, os inquiridos do CSPOPE são
maioritariamente do sexo feminino, com destaque para a H. C. com 100% e
a excepção da J. Estêvão com 53% de homens. A situação tende a
inverter-se no caso dos CSPOVA em que a opção é maioritariamente
masculina na J. E. (60% e 40%) e N.º 1 (62% e 38%, exactamente igual na
J.M.L. e quase totalmente feminina na H.C. (90% e 10%). A procura é
exclusivamente masculina nos cursos de Construção Civil e
Electrotecnia/Electrónica (ES N.º 1) predominante no Curso de
Informática com 81% (ESJE), igual no caso do Curso de Design (ESJE) e
Serviços Comerciais (ESJML) e predominantemente feminina no Curso de
Animação Social com 90% (ESHC), Administração e Serviços Comerciais com
72% (ESN.º1) e Comunicação com 56% (ESIE). Em síntese, por um lado,
verifica-se a tendência para uma procura feminina nas áreas que apontam
para profissões no sector de serviços, animação sócio-cultural /
assistencial, uma procura equilibrada no campo das artes e, por outro
lado, a tendência para uma opção fortemente masculina nas áreas que
encaminham para profissões mais ligadas ao sector secundário e à
informática.
Residência
– No
que se refere à área de residência, a Homem Cristo e a José Estêvão são
aquelas que atraem mais os alunos da cidade 22,5% e 23% no CSPOVA e
35,3% e 35% no CSPOPE, respectivamente. Em todo o caso, o maior
contingente de alunos declara morar fora da cidade, no concelho – 89% da
JML, 47% da N.º 1, 45% da HC e 33% da JE no CSPOVA; os valores são
inferiores no que se refere ao CSPOPE no caso da HC e da JML,
significativamente inferiores nesta última (menos 40%) e superiores na
J.E. e N.º 1 – 35% e 58%/ respectivamente. Em síntese, podemos concluir
que os residentes na cidade optam preferencialmente pelos CSPOPE,
enquanto as opções dos residentes no concelho são relativamente
oscilantes nas diferentes escolas, muito embora o movimento global
aponte no sentido da predominância da opção pelos cursos tecnológicos,
onde se destaca o caso da JML (89% CSPOVA contra 58% CSPOPE).
Finalmente, é também significativo o poder de atracção sobre os
concelhos limítrofes sobretudo no que se refere aos alunos dos cursos
tecnológicos – 42% na JE, 32% na N.º 1 e 30% na HC, constituindo
excepção apenas a JML com 0%.
Número de repetências anteriores
– No que diz respeito ao percurso escolar dos alunos detectam-se
igualmente tendências concordantes com dados anteriores,
/
41 / nomeadamente no que se refere à idade,
verificando-se que há um percurso de insucesso aproximado entre os
alunos dos CSPOVA das escolas secundárias J. E., J.M. Lima e N.º 1, em
que 51%, 58% e 58,6% dos alunos, respectivamente, têm um ou mais anos de
repetência, facto que se agrava no caso da Homem Cristo, em que se
atingem os 82,5%. Se fizermos a comparação entre os dois tipos de
cursos, as diferenças são bastante acentuadas, uma vez que os alunos dos
CSPOPE têm uma história de repetência menos pesada – 18,3 na N.º 1,
25,1% na J. Estêvão e 42% na J.M. Lima – destacando-se também a Homem
Cristo com 76,5%, número que não se afasta muito dos dados referentes
aos alunos dos cursos tecnológicos, o que mais uma vez realça a relativa
homogeneidade dos alunos dos dois tipos de cursos do agrupamento 4 desta
escola.
Perspectivas de futuro
– À pergunta feita aos alunos dos cursos tecnológicos sobre as suas
intenções quanto ao futuro imediato após a conclusão do 12.º ano, apenas
na ESJML e ESN.º 1 exprimem maioritariamente a intenção de arranjar
emprego – 58% e 54%, respectivamente, enquanto na ESJE (55%) e ESHC
(50%) as preferências se orientam para o prosseguimento de estudos no
ensino superior, contra 40% e 45%, respectivamente, que declaram a
intenção de procurar ingressar na vida activa.
Razões de escolha do curso
– A escolha do Curso Tecnológico deve-se, fundamentalmente, à vontade
que os alunos têm de prosseguir um curso orientado para o mercado de
trabalho e consequentemente com uma estrutura de natureza mais técnica.
Essa
vontade é o reflexo de várias condicionantes, económicas, sociais e
psicológicas, que cria uma apetência, que podemos classificar de
Vocação. Desta forma, verificamos que na Escola Secundária N.º 1, no
agrupamento 1, 53,3% dos alunos escolhem o curso tecnológico, tendo em
conta essa tal vontade e no agrupamento 3, 35,3% escolhem o curso
tecnológico, tendo como base a Vocação.
Também na Escola Secundária José Estêvão a Vocação é a razão fundamental
que leva os alunos a optar pelo curso tecnológico, tendo levado a que
53,6% de todos os alunos tivessem escolhido o curso tecnológico.
No
agrupamento 1 são 37,9% dos alunos que fazem a escolha devido à Vocação,
no Agrupamento 2 aquela razão atinge os 70,3% e no Agrupamento 4 alcança
os 50%.
Na
Escola Jaime Magalhães de Lima a Vocação é igualmente a causa principal
da escolha dos cursos tecnológicos, pois atinge os 52,8% dos alunos, o
que nos leva a concluir que também nesta Escola a opção pelo curso tem
em conta o modo de pensar e a sua vontade em escolher os cursos
tecnológicos.
Na
Escola Secundária Homem Cristo a razão que leva os alunos a escolher o
curso tecnológico tem a ver com a Vocação, que atinge 60%.
Como
um dos objectivos dos cursos tecnológicos é a sua orientação para o
mercado de trabalho, podemos considerar que a Facilidade de Emprego ao
encontrar-se consubstanciada naquele objectivo, seja também uma das
razões que tenderá a assumir igualmente uma relevância considerável.
Assim, essa razão de escolha é manifestada por 23,3% dos alunos no
agrupamento 1 e por 21,1 % dos alunos
/
42 / do agrupamento 3, na Sec. N.º 1.
A
Facilidade de Emprego tem um peso relativamente considerável, já que é
causa de escolha de 14,5% do total dos alunos, distribuídos da forma
seguinte: agrupamento 1, 20,7%; agrupamento 2, 10,8% e agrupamento 4,
13,6%, na Sec. José Estêvão.
Na
Sec. Jaime Magalhães de Lima a Facilidade de Emprego também assume um
papel bastante importante dado que 22,2% dos alunos optam por esta
razão.
Podemos considerar dalguma forma natural esta posição, e não é de
estranhar que nos alunos das três escolas mencionadas aquela razão
assuma um papel importante na escolha do curso tecnológico, em virtude
deste estar fundamentalmente, como já se disse orientado para o Mercado
de Trabalho.
Somente na Escola Secundária Homem Cristo aquela razão não tem grande
relevância, atingindo 6,7% dos alunos.
A
Melhor Preparação também tem grande aceitação por parte dos alunos, das
Secundária N.º 1 e José Estêvão, que escolhem os cursos tecnológicos,
talvez porque ao seguirem um curso tendenciaImente virado para a prática
e para o trabalho sintam a necessidade de terem antecipadamente uma boa
preparação, porquanto a sua aprendizagem escolar termina no 12.º ano. Na
Sec. N.º 1 no agrupamento 1, 16,3% dos alunos optam por aquela razão e
no agrupamento 3, 24,6%.
A
Melhor Preparação nos estudos é a segunda razão mais invocada para a
escolha do curso, sendo a principal causa para 20% do total dos alunos,
na Escola Secundária José Estêvão.
No
agrupamento 1, 13,8% dos alunos escolhem a Melhor Preparação como
determinante para a escolha do Curso, no agrupamento 2, 16,2% e no
agrupamento 4, 27,3%.
Na
Sec. Jaime Magalhães de Lima a Melhor Preparação nos estudos é a segunda
razão mais invocada para a escolha do curso, sendo a principal causa
para 20% do total dos alunos.
Na
Sec. Homem Cristo esta razão é bastante reduzida, pelo que tem pouca
relevância na escolha do curso.
A
Família não tem praticamente influência na escolha do curso a seguir,
verificando-se que na Escola Sec. N.º 1 no agrupamento 1, nenhum aluno
escolheu o curso tecnológico por influência da família e no agrupamento
3, somente 3,5% o escolheram tendo em conta a família.
Na
Sec. José Estêvão a Família também praticamente não pesa na escolha do
curso, sendo, inclusive, nula a sua influência no agrupamento 1 e 2 e
pouco relevante no agrupamento 4, cuja influência não vai além de 2,3%.
Na
Sec. Jaime Magalhães de Lima o peso que a Família tem na opção é de
2,8%, e na Sec. Homem Cristo os alunos não referenciaram a Família.
Se
tivermos somente em conta a análise feita aos dados fornecidos pelos
alunos, podemos concluir que não existe influência, pelo menos directa,
porquanto os pais destes alunos tiveram a sua escolaridade em momentos
substancialmente diferentes, nomeadamente no tocante aos curricula, pelo
que é de presumir que não conhecem, de uma forma global, a estrutura do
ensino, o que leva a que tenham grandes dificuldades na orientação e
acompanhamento escolar dos seus filhos. O facto de a grande maioria dos
pais possuir habilitações literárias inferiores ao 9.º ano de
escolaridade, leva
/ 43 / os
filhos, porque têm habilitações superiores à dos pais, a não admitir as
suas opiniões como válidas na escolha do curso.
Relativamente a Orientação Escolar é importante que se refira o
seguinte: apesar de percentualmente a Orientação Escolar apresentar
níveis bastante baixos, 0% no agrupamento 1 e 10,5% no agrupamento 3, na
Sec. N.º 1, na Jaime Magalhães de Lima não ter qualquer referência na
escolha do curso, e na José Estêvão no agrupamento 1, 4,5%; no
agrupamento 2, 0% e no agrupamento 4, 3,4% e na Homem Cristo, 6,7%,
podemos considerar que tal não corresponde inteiramente àquilo que se
passa.
Na
verdade, e em primeiro lugar, nem todos os alunos tiveram Orientação
Escolar no 9.º Ano, sendo de cerca de 50% aqueles que a tiveram,
devendo, por isso, os dados ser lidos com esta correcção. Além disto,
também podemos considerar que quando os alunos dizem que escolheram o
curso por vocação também há que ter em conta que isso é devido à
informação que receberam nas sessões de Orientação Escolar.
A
Facilidade na obtenção do curso não é relevante na escolha, pois só 6%
dos alunos da Sec. N.º 1 escolhem esta razão.
Na
José Estêvão a Facilidade motivou a escolha do curso a 24% dos alunos do
agrupamento 4, ao passo que aquela razão é pouco significativa na
escolha do curso para os alunos dos outros agrupamentos, agrupamento 2,
2,7% e agrupamento 4, 2,3%.
Na
Homem Cristo esta razão motiva 20% dos alunos.
No
caso da Facilidade, nota-se que existe um grande contraste entre os
alunos do agrupamento 4 da Sec. Homem Cristo e da José Estêvão e os
alunos dos outros agrupamentos em que esta razão tem pouco peso. É de
admitir que esta situação tenha a ver, fundamentalmente, com a área de
estudos em causa, que pode aparentar, à primeira vista, ser uma área
mais fácil de se ter sucesso.
–
Caracterização social: profissões e habilitações dos pais
Variáveis seleccionadas:
–
Profissão do Pai
–
Habilitações académicas do Pai
Profissão do Pai
– Na Escola Sec. N.º° 1, 37% dos pais dos alunos que frequentam os
cursos tecnológicos são operários, 21% são empresários, 16%
empregados/funcionários públicos e apenas 7% são quadros
superiores/professores.
A
percentagem dos pais que são empregados/funcionários públicos dos alunos
que frequentam os cursos orientados para o prosseguimento de estudos
atinge 23%, a percentagem dos pais que são empresários é de 21%,
enquanto que os filhos de quadros superiores/professores é de 19% e
apenas 10% são filhos de operários,
Quer
nos CSPOVA, quer nos CSPOPE, nota-se que cerca de 20% dos pais são
empresários e empregados/funcionários públicos.
A
diferença reside ao nível das profissões de operário e quadros
superiores/professores, pois nos alunos dos cursos tecnológicos os pais
operários são 37% contra 10% nos pais dos alunos dos cursos gerais, e os
pais
/ 44 /
quadros superiores/professores são 7%, contra 19% respectivamente dos
CSPOVA e dos CSPOPE.
Na
Escola Sec. José Estêvão 38% dos pais dos alunos dos cursos tecnológicos
são operários, contra 21 % dos pais dos alunos do outro curso.
Os
pais quadros superiores/professores são nos CSPOVA 14% e nos CSPOPE 25%.
A
diferença ao nível empresários e empregados/funcionários públicos é
pouco sensível, 4% e 8% respectivamente, curso tecnológico e curso
orientado para o prosseguimento de estudos.
Na
Escola Sec. Homem Cristo a profissão que predomina em ambos os cursos é
a de operário que é de 47% para os CSPOPE e 45% para os CSPOVA.
Os
pais empregados/funcionários públicos distribuem-se sensivelmente da
mesma maneira pelos dois cursos, 18% nos CSPOPE e 15% nos CSPOVA.
Na
Escola Sec. Jaime Magalhães de Lima, 54% dos pais dos alunos dos cursos
tecnológicos são operários, contra 48% dos pais dos alunos do outro
curso.
Ao
nível dos pais empresários verificamos que 20% têm filhos nos cursos
tecnológicos, contra 16% que têm filhos nos CSPOPE.
A
grande diferença reside nos pais quadros superiores/professores, em que
nos CSPOPE 12% e 0% no CSPOVA.
Habilitações académicas do Pai
– Os pais dos alunos que frequentam a Escola Sec. José Estêvão e que
escolheram o curso tecnológico são portadores de habilitações académicas
bastante baixas, já que uma grande maioria, que atinge 67%, possui
somente a escolaridade obrigatória. Habilitados com o curso secundário
referenciámos 18% e apenas 12% possuem o curso superior.
As
habilitações literárias dos pais dos alunos que escolhem os cursos
orientados para o prosseguimento de estudos é bastante superior,
possuindo o curso secundário 42%, o curso superior 26% e apenas 28% dos
pais possuem a escolaridade obrigatória.
Na
Escola Sec. N.º 1 também se verifica que as habilitações dos pais dos
alunos que escolhem os cursos tecnológicos são bastante baixas, pois
74%, possuem a escolaridade obrigatória, 17% o curso secundário e 9% o
Curso Superior.
As
habilitações literárias dos pais dos alunos dos cursos orientados para o
prosseguimento de estudos, apesar de serem superiores à dos pais dos
alunos que escolheram os cursos tecnológicos, ainda se verifica que 50%
só possuem a escolaridade obrigatória, 25% serem portadores de um curso
superior e 25% possuírem um curso secundário.
Na
Escola Sec. Homem Cristo as Habilitações Académicas dos pais dos alunos
que escolhem o curso tecnológico, apesar de baixas, já que 60% possuem a
escolaridade obrigatória e 25% o curso secundário, são superiores às dos
pais dos alunos que querem prosseguir os estudos, onde se nota uma
grande percentagem de pais com a escolaridade obrigatória, que atinge os
88%, e uma pequena percentagem de pais que possui o ensino secundário,
que são de 6%.
Na
Escola Sec. Jaime Magalhães de Lima, uma grande maioria dos pais dos
alunos dos cursos tecnológicos, que atinge os 66%, possui a escolaridade
obrigatória, 29% possuem o curso secundário e somente 2,9% têm o curso
superior.
/ 45 /
Relativamente aos pais dos alunos dos cursos gerais, referenciámos 58%
que têm a escolaridade obrigatória, 46% o curso secundário e 12% o curso
superior.
Em
síntese, poderemos afirmar que a introdução dos CSPOVA, além de
representar um significativo alargamento da oferta de formação na área
tecnológica, contribuiu, comparativamente com os cursos
técnico-profissionais que os antecederam, para uma relativa
homogeneização dos processos de formação. No entanto, factores
homogeneizadores convivem com outros diferenciadores que resultam da
especificidade de cada escola – corpo docente, instalações, tradições de
formação, imagem social das escolas.
Assim, no conjunto das Escolas Secundárias de Aveiro, 30,5% dos alunos
frequentam cursos tecnológicos, mas o seu peso relativo em cada escola é
bastante diferenciado – 58,1%na E.S.N.º 1, 28,9% na José Estêvão, 19,6%
na Homem Cristo e 14,2% na J.M. Lima.
Na
generalidade das escolas, os alunos dos CSPOVA são significativamente
mais velhos que os dos CSPOPE e, do mesmo modo, com uma história de
repetência mais acentuada. É de salientar a existência de uma estrutura
de idades e de repetências bastante aproximada no conjunto das escolas,
excepto no que diz respeito à Homem Cristo onde a taxa de repetência e o
nível etário são bastante mais elevados, facto que se verifica quase sem
distinção nos alunos inquiridos dos CSPOPE desta escola.
A
diferenciação sexual parece resultar mais do curso frequentado do que da
escola, verificando-se maior masculinização na José Estêvão e na E. S.
N.º 1, onde o peso dos cursos tecnológicos é bastante maior, equilíbrio
na J. M. Lima e uma quase absoluta feminização na Homem Cristo. De uma
forma genérica, podemos dizer que há uma tendência mais masculinizante
nos CSPOVA.
No
que se refere à implantação geográfica, é de notar uma certa
homogeneidade no conjunto das escolas, tanto ao nível da frequência
urbana, com à do conjunto dos alunos dos arredores e dos concelhos
limítrofes, destacando-se neste caso a J. M. Lima onde os alunos
exteriores ao meio urbano são mais numerosos. As diferenças entre
escolas são, neste caso, mais evidentes ao nível dos alunos dos CSPOPE,
uma vez que os residentes na cidade se orientam preferencialmente para a
José Estêvão e Homem Cristo.
Quanto às opções para o futuro, é nas escolas "mais urbanas" que o
número daqueles que desejam seguir estudos superiores se acentua – 50%
na Homem Cristo e 55% na José Estêvão. Pelo contrário, na E. S. N.º 1 e
na J. M. Lima, os alunos orientam-se maioritariamente para o mercado de
emprego, de forma mais significativa nesta última, onde apenas 36%
daqueles que frequentam os cursos tecnológicos exprime o desejo de
prosseguir estudos superiores.
6.3. Um primeiro balanço: a opinião dos professores e orientadores
escolares
No
inquérito dirigido aos professores das disciplinas de formação técnica,
verificou-se que 73,3% são licenciados, 20% bacharéis, 6,6% não possuem
ainda nenhum daqueles graus académicos; embora 90% dos professores sejam
profissionalizados, apenas 433,3% são do quadro de nomeação definitiva,
o que indicia alguma juventude relativa destes docentes. Significativo é
/ 46 /
também o facto de 43,3% responderem que têm uma segunda profissão.
No
que diz respeito ao equipamento disponível nas escolas, as opiniões
dividem-se a meio – 50% consideram-no insuficiente e dos restantes acham
que é suficiente (40%) ou mesmo bom (10%). No entanto, há que referir, a
título de exemplo, o caso do equipamento para o curso de Construção
Civil, considerado muito bom, mas que está na sua maior parte
encaixotado devido a dificuldades financeiras e à necessidade de
previamente fazer obras de conservação e adaptação nas instalações.
No
que se refere ao valor formativo e ao modo como estão organizados os
cursos tecnológicos predominam as atitudes críticas: 63,3% dos
professores são de opinião que estes cursos não são adequados a nenhuma
profissão específica, facto que deve ser contrabalançado com o facto de,
por um lado, 53,3% entenderem que os cursos dão uma formação
profissional em sentido genérico e, por outro, a maioria dos inquiridos
ter dificuldade em encontrar exemplos concretos de profissões
correspondentes às respectivas áreas de formação, apesar de 83,3%
responder positivamente no que diz respeito ao conhecimento do
referencial de emprego. Quanto à estrutura dos cursos, as opiniões dos
professores são fortemente críticas, uma vez que 80% afirmam não
concordar com a sua organização, o que de certa forma é confirmado pelas
propostas de modificação que sugerem – o reforço da componente
tecnológica e da componente prática/estágios é defendido em primeiro
lugar por, respectivamente, 37% e 57% dos inquiridos.
Pensamos que as críticas se acentuam mais no grupo de professores com
experiência dos cursos técnico-profissionais, que consideram os novos
cursos mais generalistas, de menor qualidade que os anteriores, mais
orientados para um perfil profissional concreto.
Num
outro plano, tendo em conta a opinião e a experiência dos orientadores
escolares, pode afirmar-se que os cursos tecnológicos raramente aparecem
como uma escolha valorizada pelos alunos, esta é, pelo contrário,
considerada uma alternativa de segunda que anda normalmente ligada a
expectativas escolares limitadas, a alunos que se sentem diminuídos e
que admitem o abandono dos estudos.
7.
Conclusões
1.
Como verificámos, os dados permitem concluir que os Cursos Tecnológicos
são procurados por alunos de origem social mais desfavorecida.
Esta
situação patenteia-se nas profissões dos pais, mas sobretudo nas
habilitações académicas, o que permite concluir sobre a importância do
capital escolar dos pais na escolha efectuada pelos estudantes.
2.
Verificou-se também que os Cursos Tecnológicos são procurados por alunos
com maior número de repetências.
3. A
análise de diversas variáveis testadas permite concluir que existem
simultaneamente factores de semelhança e de diversidade no tipo de
estratificação social dos alunos dos cursos tecnológicos que frequentam
as escolas consideradas.
A
conjugação das variáveis idade e repetência determina uma hierarquia
uniforme em que os cursos ministrados na E.S.J. Estêvão surgem em
primeiro lugar, / 47 / uma vez que são frequentados por alunos mais
jovens e com menor índice de repetência; uma faixa média composta pelos
alunos da E.S.J.M. Lima e da E.S.N.º 1, com dados praticamente idênticos
e, por fim, os alunos do curso de Animação Social da E.S.H. Cristo com
nível etário e de repetência largamente mais elevados que qualquer das
outras.
Ao
nível das profissões dos pais e das respectivas habilitações verifica-se
também uma hierarquia semelhante.
Este
mesmo tipo de estratificação, vista em função das profissões e
habilitações dos pais, é ainda mais nítida ao nível dos alunos dos
C.S.P.O.P.E. inquiridos, não apenas porque reproduz a hierarquia já
referida, mas também porque torna mais claro o contraste entre os alunos
dos dois tipos de curso.
4. No
que se refere aos professores da formação técnica, verifica-se uma
atitude fortemente crítica quanto à organização dos cursos e à sua
adequação profissional, sendo frequentemente apontada a necessidade de
reforço da componente tecnológica e sobretudo da componente prática.
Podemos concluir que, embora o novo modelo de formação científica e
tecnológica implícito na filosofia da reforma curricular aponte no
sentido de uma formação mais abrangente e menos especializada, os
professores revelam em relação à sua formalização concreta um certo
distanciamento e cepticismo. Sendo os professores actores privilegiados
do sistema de ensino, esta constatação permite-nos levantar a questão da
não apropriação social deste novo paradigma da formação tecnológica e,
portanto, da permanência de "velhas" representações que denotam
resistência aos dinamismos de mudança.
GRÁFICOS (nas páginas seguintes)
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