ÁREA-ESCOLA
Uma Opinião
Cristina Borges,
aluna do 12.º ano e membro do Conselho Directivo
Área-Escola?!
Ninguém me pediu para escrever o texto que se
segue. Mas penso que, como estudante que sou, devo transmitir a minha
opinião, que é também a de muitos colegas, à restante comunidade escolar
acerca de um problema que a todos diz respeito: a área-escola. Dizer o
que pensamos, mais do que um direito, é um dever, Se a nossa escola é,
de facto, uma comunidade, é da maior importância que as diversas partes
dela constantes comuniquem entre si, tentando resolver os problemas com
que nos confrontamos.
Desde o
inicio da reforma educativa que a área-escola tem sido alvo de polémica
e discussão. As opiniões, de professores e alunos, divergem. Se é
verdade que encontramos os extremos – aqueles que defendem a sua
aplicação a todos os graus de ensino e aqueles que afirmam que deveria
ser totalmente abatida – há também pessoas que pensam que a área-escola
deveria ser entendida de modos diferentes consoante o grau de ensino em
questão.
Encontro-me agora a frequentar o 1.º° ano de escolaridade. Quer no 10.º,
quer no 11.º ano, a minha turma desenvolveu projectos de área-esco!a.
Quando, no 10.º ano, surgiu a ideia de tratarmos o tema «Geminação entre
as cidades de Aveiro e Arcachon – razões da sua existência», todos
pareceram bastante interessados, aliciados sobretudo pelo facto de no
projecto constar uma visita de estudo à cidade francesa em questão. Como
delegada de turma que era, coube-me a mim a elaboração do projecto. Devo
dizer que, apesar de muitas pessoas pensarem que nós só queríamos ir
passear, o projecto tinha objectivos legítimos e lógicos. Só que os
obstáculos cedo surgiram. Embora a legislação preveja a ocupação de 20%
da carga horária de cada disciplina com actividades da área-escola, a
maioria dos professores não se mostrou disponível para ceder aulas da
sua disciplina, alegando programas demasiado extensos. E, de facto,
assim é. Não podemos acusar os professores de falta de interesse ou
cooperação; os programas são, de facto, longos e raramente os cumprimos.
Por outro lado, da parte de muitos alunos havia a ideia de que a
área-escola era só a viagem e de que tudo o resto – trabalho de
pesquisa, contacto com entidades envolvidas no processo – (talvez os
objectivos que mais diziam respeito à ligação entre a escola e o meio
envolvente – não será esse o principal objectivo da área-escola?) – não
era importante e era deixado para "alguém fazer". Como é conhecido e já
habitual em processos do género, esses "alguéns" acabam por ser um grupo
restrito de 3 ou 4 pessoas que querem, de facto, viver o espírito da
área-escola. Eu fui um desses "alguéns". Na minha opinião, quando um
projecto é
/ 11 / elaborado, é para
ser realizado em todas as suas vertentes e até ao fim. Bem, elaborou-se
um relatório apressado, após a viagem, colámos umas fotografias para a
comunidade ver e ficámos muito felizes, porque não tivemos aulas durante
uma semana, pois fomos passear. No fim do ano, todos tínhamos já
concluído que a área-escola era apenas teoricamente uma boa ideia; na
prática, no nosso caso, tratou-se de, permitam-me a expressão,
"palhaçada". Um dos objectivos do projecto era levar a que as pessoas
tomassem contacto directo com as diversas burocracias do dia-a-dia:
enviar um fax, fazer um telefonema para o estrangeiro, ir a uma câmara,
escrever uma carta de pedido de patrocínio, ir a um banco e efectuar as
transacções mais básicas. Devo dizer que estas tarefas ficaram a cargo
das pessoas que já o sabiam fazer. Sem comentários.
No 11.º
ano, a ideia era ir a Londres. Embora um pouco na brincadeira e com a
maior parte das pessoas a pensarem que estávamos todos a gozar com a
área-escola, foi elaborado um projecto que consistia na elaboração e
desenvolvimento de um projecto de uma visita de estudo de 8 dias à
cidade de Londres. Pode parecer estranho, mas, e falo por experiência
própria, levar um projecto destes para a frente é bastante trabalhoso e
exige bastante empenho, podendo desta actividade retirarem-se
ensinamentos importantes no que respeita à relação entre a escola e o
meio envolvente. Mais uma vez, quem sabia como redigir uma carta formal
em inglês escreveu todas as que foram necessárias e as pessoas que não
sabiam não aprenderam, pois ninguém parecia interessado nem a ensinar
nem a aprender este tipo de coisas. Mais uma vez, uma grupo restrito
viveu a área-escola a "sério" – por "coincidência", o mesmo que no ano
anterior – e a todos os outros a área-escola passou ao lado. No fim do
ano, elaborou-se um relatório das actividades que serviram de base ao
projecto da área-escola e, mais uma vez, ficámos todos sem saber,
professores e alunos, para que é que servia a área-escola. E mais um ano
de "palhaçada" passou.
Este ano,
há um tema geral para toda a escola: "Comunicação"…
Foram
dadas sugestões, surgiram algumas ideias, mas nada de concreto ficou
decidido (refiro-me, é claro, às turmas de 12.º ano com quem tenho mais
contacto). Decerto não vamos inventar uma outra visita de estudo no
suposto âmbito da área-escola. Gostávamos de, finalmente, perceber o
espírito de área-escola e decidir se é ou não possível vivê-lo.
Na minha
opinião, não devemos encarar o 12.º ano como um ano tão diferente dos
outros que não nos deixe tempo para pensar em mais nada. Quem já tem
vindo a trabalhar, decerto que continuará; quem não tem.., em relação a
esses, tenho as minhas dúvidas se conseguirão obter a tão desejada média
para a entrada na Universidade, com um estudo feito à pressão (porque
sem saber o básico é difícil perceber o complexo). Penso, portanto, que
o problema não reside no facto de sermos estudantes do 12.º ano e de
termos exames nacionais no fim do ano. O problema, na minha opinião, é
um problema de definição. Há que, antes de mais, ver o que queremos
fazer, o que podemos fazer e se, de facto, estaremos assim a projectar a
área-escola ou não. Porque fazer projectos em nome de 30 alunos para 2
ou 3 terem o trabalho todo não vale a pena. É mais inteligente não haver
projecto à partida. Por outro lado, a área-escola deve ser um esforço
conjunto de professores e alunos. Se não há tempo para realizar
actividades da área-escola não vale a pena perder tempo a projectá-las.
Como
optimista e defensora de uma ligação mais forte entre a escola e o meio
que a rodeia que sou, penso que a área-escola é possível em todos os
graus de ensino. Há é que adequá-la a cada ano, não nos esquecendo de
que o básico e o secundário têm, de raiz, objectivos diferentes. Há que
pensar e que agir. Ficar à espera que alguém tenha ideias e que as
realize não é, de forma alguma, uma atitude a adoptar. A nossa
participação, – a de todos nós, professores e alunos – deve ser activa e
não, como tem sido na maior parte das vezes, passiva. A vida só se vive
uma vez; os anos que passamos nesta escola são únicos e não se repetirão
(tal é ainda mais flagrante no que respeita aos alunos); há que vivê-los
activamente para que possamos chegar aos fim da nossa passagem por esta
escola e dizer: «Fizemos alguma coisa de positivo. Não nos limitámos a
ser ovelhas de um rebanho sem rumo. Tomámos decisões. Assumimos
posições. Tomámos atitudes e responsabilizámo-nos por elas».
Este
texto não pretende ser uma repreensão a ninguém; apenas uma chamada de
atenção. Reflictamos, discutamos, tiremos conclusões. O Mundo não é
daqueles que se deixam ir na corrente; nem é desses que reza a história.
Neste momento, a área-escola parece, pelo menos para alguns, um problema
sem solução. E somos nós que o temos que solucionar. Ir passando a
«batata quente» não resolve nada....
Cristina Borges – 12.º A
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