Provas globais & exames nacionais
o tempo de todas as provas que consomem todo o tempo
Desde
Fevereiro que é ponto de ordem (que não de honra) de todos os Conselhos
Pedagógicos o tema da organização própria para as provas globais e os
exames. Considerados os calendários das provas globais e dos exames, não
se vislumbram hipóteses de haver aulas depois do dia 3 de Junho e vai
ser precisa muita ginástica, havendo exames de manhã e de tarde, para
realizar as entregas das provas globais e as correspondentes discussões.
Mas, Ana Benavente, Secretária de Estado da Educação e Inovação, ainda
tem dúvidas sobre o peso da coisa:
«Até
pode ser que o processo dos exames corra muito bem, pode ser que se
considere que o processo é demasiado pesado e precise de ser revisto.
São decisões que só podem ser tomadas depois de uma análise atenta de
todo o processo e desde que haja consensos.»
O
sistema desenha de si mesmo uma caricatura. Por um lado, ameaça-se
sistematicamente por ter um reduzido número de aulas e inventa aulas
sobre todas as folhas do calendário. Por outro lado, inventa enxames de
provas globais e exames por sobre as folhas do calendário onde colocou
as aulas absolutamente necessárias. Pelo papel se fica a saber que
Portugal tem aulas em quantidade e até Julho. Mas em muitas escolas,
essas aulas não saem do papel em que foram previstas, para serem
substituídas pela deambulação trágica dos alunos a prestar exames de
todas (e são muitas) as disciplinas. Obedecendo a directivas nacionais,
o calendário escolar de cada escola garante que, em Junho, há aulas de
cada uma das disciplinas. Ao mesmo tempo, os calendários nacionais de
provas globais e exames marcam outros ofícios para as mesmas pessoas.
Transcrevem-se, em seguida, com a devida vénia, algumas trocas de
opiniões que, sobre o assunto dos exames, aparecem nas caixas de correio
electrónico:
«Como é possível?
Há
dias foi publicada uma pequena brochura do Ministério da Educação sobre
o acesso ao ensino superior. Sendo o primeiro documento público, sobre
assunto tão controverso, do novo ministério de um governo cuja
prioridade é (ou era) a Educação, abri-o com rapidez. Pouco depois,
apeteceu-me deitá-lo para o lixo. Não quero discutir este documento.
Isto é, não quero dar a minha opinião sobre se é melhor acabarem as
específicas e começarem os exames nacionais, haver disciplina-base ou
não e assim por diante. Essa é a grande ratoeira destes documentos e
destas discussões. Em pouco tempo, toda a gente está envolvida na
discussão das percentagens, das notas mínimas, dos numerus clausus – os
explicadores à espera das provas-tipo, os pais à espera das notas
mínimas, e os alunos sabe-se lá à espera de quê... Porventura o
Ministério não quer senão isto mesmo. Está talvez a seguir a máxima dos
donos da SIC, que dizem que a sua estação é como é porque apenas quer
ser o reflexo do povo português: se o Big Show SIC e os outros programas
são um verdadeiro tele-lixo, se as piadas dos seus apresentadores são
baseadas na ordinarice mais rasteira, isso é porque os portugueses não
apenas gostam disso, mas são isso mesmo, rasteiros e ordinários, um
verdadeiro lixo.
Talvez o Ministério pense também que a sua missão é ser igual, ser bem
representativo "do seu povo', ou seja, dos pais, dos explicadores, da
generalidade dos professores. E como os pais, e os explicadores, e
muitos professores, não podem imaginar um ensino sem exames, sem
específicas mas também sem provas nacionais, e já agora, sem testes, sem
exames de frequência... O Ministério o que tem a fazer, de cada vez que
se pronuncia sobre este tema magno, é dizer quais são as novas regras do
jogo: agora já não há PGA mas há aferições e logo já não há específicas
e há nacionais e amanhã já não haverá estes exames mas sim aqueles, e os
de ontem não servem para hoje, e os de hoje talvez sirvam para amanhã,
mas depois diremos! A adaptação à "vontade popular" é de tal ordem que
mesmo as longas justificações educativas e sociais da necessidade
imperiosa de fazer estes e não aqueles exames já tombou completamente de
moda. Isso é talvez a única coisa que se compreenda: para quê justificar
uma mudança se amanhã temos que justificar provavelmente a mudança em
sentido inverso? Não percamos então tempo com esses pormenores, vamos às
regras que é o que interessa na prática! Como é possível estarmos ainda
neste estado? Como é possível não haver uma compreensão geral de que
toda estas trocas e baldrocas dos exames e dos seus nomes é absurda,
sobretudo se não for para dizer em voz bem alta, ao mesmo tempo, que
tudo isto é transitório! É preciso alguém exprimir, e a direcção da APM
[Associação de Professores de Matemática) devia ter a coragem de avançar
nesse sentido, uma nova maneira de ver as questões do acesso ao ensino
superior e da avaliação, assente nos seguintes pontos:
► o
objectivo a atingir e atingível é o de permitir a todos os jovens que o
desejem, e que terminaram normalmente o ensino secundário, prosseguir os
seus estudos num estabelecimento de ensino superior;
►
terminar normalmente o ensino secundário não é fazer qualquer espécie de
exame final – isso será terminar anormalmente – mas sim ser possuidor de
um relatório, de carácter qualitativo, produzido pela escola que
frequentou;
► de
resto, isto devia ser norma sempre que o aluno terminasse um ciclo de
estudos – ele iria transportando consigo, de ciclo para ciclo e de
escola para escola um dossier relativo à sua vida escolar;
/
16 /
►
através do exame desse dossier – e dos seus eventuais resumos e sínteses
– seria possível perceber, à escola superior que apreciasse a admissão
desse aluno, as suas características, as suas forças e as suas
fraquezas, e se aquela escola teria as melhores condições para ser o
local onde ele fosse prosseguir os seus estudos;
► uma
das vantagens do dossier qualitativo é eliminar de uma vez por todas as
classificações numéricas; as diferenças importantes entre os jovens são
de natureza qualitativa e não quantitativa – são as suas tendências, os
seus gostos, as suas inclinações e interesses, os tipos de trabalho e
actividades que tem desenvolvido com maior êxito e interesse, que
constituem a melhor fonte de informação para a escola onde o aluno vai
prosseguir os seus estudos; o ponto de partida do trabalho da escola e
dos professores deve ser o conhecimento qualitativo dos alunos, pois é a
escola que tem de procurar corresponder às características dos seus
alunos e não os alunos que têm de se uniformizar perante as
idiossincrasias da escola e dos professores;
► o
fim dos exames e dos testes corresponde a levar até ao fim as tendências
inovadores da moderna pedagogia; os exames constituem um processo de
avaliação completamente inadequado para compreender e apreciar a
evolução dos alunos em muitos aspectos hoje considerados relevantes: as
qualidades de trabalho em grupo, as capacidades de comunicação escrita e
oral, de argumentação, de persistência perante as dificuldades, de
imaginação, de criatividade. Quanto à avaliação de conhecimentos, os
exames apenas a podem fazer de modo estereotipado, uniforme – e isto é
contrário à ideia de que os alunos constroem o seu próprio conhecimento,
que o fazem em ritmos diferentes, e muitas vezes explicitando esse
conhecimento de maneira pessoal, diferenciada, original.
Tudo
isto é controverso, eu sei. Mas era o que devíamos andar a discutir, e
não se os exames finais devem valer 60 ou 70%. A escola, como disse um
dia Ubiratan D. Ambrosio aos alunos da Faculdade de Ciências, destina-se
a educar, e não a classificar, a seriar. É natural a sociedade pedir
isso à escola, e é natural também que o ensino superior faça o mesmo em
relação à escola secundária. Isso facilita o trabalho dos empregadores e
dos reitores. Não têm que pensar, é como a escolha das maçãs na CEE –
entram as que têm um certo calibre, ficam de fora as de calibre
inferior. Mas nós devemos recusar-nos a ser uma máquina de calibrar,
somos capazes de fazer melhor do que isso.
Mas
quereremos?
Eduardo Veloso, Lisboa"
«Gostaria agora de dizer apenas umas pa1lavras sobre os desabafos do
Eduardo Veloso. Ele se calhar já não se lembra de mim... Sobre a questão
dos exames e da educação gostaria de dizer que estou de acordo com as
interrogações e desabafos do Veloso. Aliás não deixo de achar
interessante o tema, pois apesar de já há muitos anos estar afastado do
ensino, desde que deixei a Faculdade de Engenharia do Porto, tive na
altura com outras pessoas, entre elas o Luís, o Raimundo e a Branca,
estes 2 últimos Xises, a ilusão de transformar os métodos de avaliação
das escolas em Portugal: avaliação contínua, trabalho de grupo, ligação
teoria-prática, etc. Mas a verdade é que apesar de tudo o que se
conseguiu de positivo na altura, com erros e limitações é certo, a
verdade é que em pouco tempo a avaliação contínua foi transformada em
testes contínuos, e por fim existe na faculdade um sistema de avaliação
idêntico no fundamental ao de anteriormente. Porquê?
Limito-me a apresentar mais uma interrogação:
As
coisas a funcionar como o Veloso pretende, para além de uma profunda
transformação de mentalidades, que até poderia ser encetada, (?? será
ingenuidade da minha parte???), é com toda a certeza muito mais cara,
pois exige turmas mais pequenas, uma relação mais próxima com os
professores, escolas mais bem apetrechadas, etc. Pergunto, à excepção de
exemplos isolados, baseados em experiências piloto, haverá algum sítio
onde as coisas se passem como o Veloso preconiza? Se não, porque não?
Renato Roque, Porto»
"E eu
respondo:
A
questão das turmas mais pequenas é uma exigência que tem várias origens
e não apenas esta. Seja com que sistema for de avaliação, o próprio
ensino não pode ser feito com turmas de 33 alunos, isso é já hoje
evidente para toda a gente. É preciso ver que a população escolar está
em diminuição e que deveria ser possível certamente com dinheiro – mas
onde pode ele ser mais bem empregue... – diminuir as turmas para vinte e
poucos alunos. Isto seria uma exigência razoável. Muito mais vai custar
a abolição do sistema de turnos e isso tem que ser mais tarde ou mais
cedo. Poucos países ou nenhuns, possivelmente na CEE, têm o sistema das
três revoadas de alunos por dia, de manhã, de tarde e à noite. A maior
parte das escolas nas grandes cidades portuguesas funciona assim e isto
é intolerável. Não há ambiente de estudo, não há intervalos para os
alunos irem para a biblioteca trabalhar, não há locais para os
professores fazerem reuniões, trabalharem em projectos de autoformação,
etc., etc. Falar de aumento da qualidade do ensino sem referir estas
deficiências como ataque principal mas sim a nota mínima é pura
demagogia, é virar o problema ao contrário. Deve dizer-se que hoje em
dia a maior parte dos alunos que frequentam as escolas não tem qualquer
condição de trabalho em casa – muitas vezes na barraca onde vive em vez
de casa. Se a escola não proporciona estas condições, e em vez disso
institui a nota mínima, então estamos caídos certamente na selecção
social, está claro. Portanto não é o tipo de avaliação que exige as
condições, e o próprio ensino, se quisermos ser honestos. É
/
17 / evidente que a alteração radical desta
situação não pode ser feita de um dia para o outro. Mas se não há
consciência de qual é o objectivo, então a caminhada necessariamente
longa nessa direcção não se vai nunca começar. Eu julgo que nenhum país
tem hoje um sistema decente. Mas existem nos países anglo-saxónicos
alguns avanços no sentido da existência do portfolio – o tal dossier de
que eu falo. O aluno em conjunto com o professor escolhe as suas
produções ao longo do ano que mais revelam aquilo que ele bem sabe
fazer, os seus interesses, aquilo para que tem queda, e esse conjunto é
o seu portfolio, a apresentação daquilo que ele é. Isto é feito como
complemento dos exames, e não em sua substituição. Mas como se vê, é uma
introdução de um pequeno cavalo de Tróia no sistema. Um sistema que se
preocupava principalmente a descobrir aquilo que ele não sabia fazer,
através dos exames, agora aceita valorizar aquilo que ele faz melhor.
Isto é uma pequena revolução, sem dúvida. Não se podem infelizmente
abolir os exames de um dia para o outro, mas pode-se ao menos instituir
avaliações paralelas de outro tipo para irem entrando em competição. A
avaliação contínua de que se fala tanto agora, quando se diz que vale
tantos por cento e o exame outros tanto por cento, não é nada disto. E a
nota dada pelo professor, que continua a baseá-la nos velhos testes com
tempo limitado e sem consulta. Na Dinamarca não há exames nem testes,
nem nada deste tipo de avaliações, até pelo menos ao nível do décimo
ano. Em alguns estados dos Estados Unidos só quem não quer é que não
prossegue estudos para os colleges, uma espécie de ensino
politécnico. Para mim, o mais importante é aceitar o princípio de que o
prosseguimento dos estudos é um direito dos alunos e o estado tem
obrigação de fazer esforços para que esse direito possa vir a ser
exercido o mais depressa possível.
Enquanto não há lugar para quem quiser poder prosseguir estudos nos
institutos politécnicas ou nos colleges – que nós devíamos ter em
vez de termos apenas opções de cursos de cinco ou seis anos em muitas
áreas – põe-se o problema de como se faz a selecção. Num sistema
educativo que se recusasse a classificar os alunos quantitativamente o
sistema mais justo seria uma espécie de mistura entre a sorte e os tais
portfolios e entrevistas. O tirar à sorte é o sistema mais justo, quando
há mais candidatos do que vagas. Com este sistema, acabam-se as
explicações que o menino rico pode ter para fazer os truques do exame de
admissão. E deixa de haver o efeito pernicioso que os exames têm em todo
o ensino a montante – com exames, tudo passa a ser gerido em função da
preparação para um determinado tipo de perguntas tipo e isso é como se
percebe a morte de qualquer sistema correcto de ensino não uniformizante.
Bom, vou jantar...
Veloso, Lisboa”
"Veloso
Nem
queiras saber o que eu penso sobre os exames e afins. Este ano, os
exames e afins vão estragar meses de escola. Tenho para mim que deve
começar a fazer-se uma campanha imediata contra o actual sistema de
exames e provas globais no ensino secundário e no básico. O terceiro
período não existe a não ser para fazer exames em vez de qualquer outra
coisa útil. Tem de acabar esta marmelada que é inimiga de todo o
conhecimento.
Sou
radicalmente contra o actual sistema que é, além de tudo o resto, uma
ofensa à dignidade dos professores e um impedimento ao ensino e a
aprendizagem. Na artigalhada que escrevi sobre o assunto, só estava a
discutir uma parte da realidade real e a tentar convencer os governantes
da incomparabilidade dos resultados do ensino secundário com os
resultados dos exames e provas especificas e, caso insistissem nos
exames, que então dessem à estampa provas modelo.
Não
sou a favor de acabar com as provas no ensino secundário. Mas não creio
que este sistema de exames e provas globais tenham alguma utilidade como
prova do que quer que seja, a não ser impedir aprendizagens e deslocar a
avaliação para o campo da parvoíce e do utilitarismo do "seleccionador".
Cada vez me convenço mais que este sistema sobrevive para a
avaliação/selecção.
O meu
desespero é maior pois tenho de viver e organizar (ao meu nível esse
trabalho miserável do sistema do ensino secundário. A partir do dia 3 de
Junho deixa de haver ensino em Portugal (ou pelo menos nas cidades).
Para governos que passam a vida a queixar-se do baixo numero de aulas
anuais, que representam os exames? O dito pelo não dito? O fim da
picada? Uma picada?
Posso
usar o teu texto?
Renato
As
escolas do Veloso podem existir. Estamos numa situação em que podemos
começar a baixar o número de alunos por turma e a aumentar as relações
dos alunos com os professores, em trabalho autónomo e verdadeiro. Não há
nada que justifique o actual sistema estúpido e imoral. As provas que eu
defendo que os alunos e os professores devem prestar não têm nada a ver
com esta marmelada, que vive de alguns preconceitos sociais recentes e
da tradição das escolas superlotadas (antes e depois de cada
subsistema). Sobrevive tal sistema imoral baseado em gerações e gerações
de pais e filhos e professores que viveram neste simulacro de escolas e
que pensam serem estas as escolas de ontem, de hoje e de amanhã... pois
nunca conheceram outras. Vai ser difícil instalar uma cultura de escola
diferente da actual falta de cultura de escola. Dentro e fora da escola.
Vai ser der difícil por dentro destas gerações que tropeçaram neste tipo
de escolas, talvez aceitáveis temporariamente, mas inaceitáveis. É uma
discussão que não pode ser feita só dentro da escola. A mudança que
passa pela escola ultrapassa a escola.
/
18 /
Queres saber de que provas falo quando falo de provas? Algumas podem ser
as provas que podem vir a preencher o portfolio. Mas há outras
necessárias provas que devem ser o portfolio da escola. Temos de
discutir isso. Nem todas as provas são provações.
Arsélio Martins, Aveiro"
Sobre o peso dos exames nacionais nas classificações.
"Uma questão (não só) de contas...
No
"Público" do dia 23 de Fevereiro passado, numa reportagem sobre os
exames nacionais do ensino secundário, é referido que estes "contam
pouco para as reprovações do ensino secundário", e que "será preciso ter
3 para chumbar" com um 10 na avaliação continua (isto é, na CI –
classificação interna da disciplina). Ora isto não corresponde à
verdade: basta fazer os cálculos para concluir que um aluno que tenha 10
na CI precisa de tirar pelo menos 9 no exame para obter aprovação. Mas
mais, se o aluno tiver 11 na CI precisa de pelo menos 8 no exame para
obter aprovação, um que tiver 12 na CI precisa de 6, um que tiver 13 na
CI precisa de 5, um que tiver 14 na CI precisa de 3 e um que tiver 15 na
CI precisa de 2. Apenas um que tiver 16 na CI pode tirar zero e mesmo
assim ser aprovado no Ensino Secundário. Poderia apresentar aqui quadros
completos com as classificações, mas ocupariam muito espaço; por isso
disponibilizo-os através da Internet no endereço http://
www.mat.uc.pt/~jaimecs/exam/exnac.htm
Tudo
isto significa que a nota do exame tem na realidade um peso considerável
na aprovação no Ensino Secundário. E se a media nacional do exame rondar
os 30%, isto é, 6 valores, o que é credível se atentarmos nas médias dos
últimos anos, então, poderemos concluir, numa aproximação grosseira, que
metade dos alunos se arrisca a reprovar no Ensino Secundário.
Isto
significa que o exame precisa de ser encarado de uma forma muito séria,
mesmo que se trate apenas de discutir o ensino secundário. Neste
sentido, um dos pontos que me parece ter sido menos focado é o seguinte:
se os alunos obtiverem menos de 5 ou 6 valores no exame nacional não se
vislumbra o que terão afinal aprendido ou o que irão fazer no ensino
superior. Mas é preciso que o exame mereça confiança para que estas
conclusões possam ser tiradas. Não me parece que um exame de 1h:30m sem
tolerância seja um bom ponto de partida para essa confiança. Penso que
deveria existir pelo menos uma meia hora de tolerância e que os alunos
deveriam ter a possibilidade de fazer duas chamadas e reter apenas a
melhor nota, para ter a certeza de que um mau momento não iria resultar
numa má apreciação da sabedoria do aluno.
O
texto anterior foi carta enviada para o jornal "Público" e publicada na
sua edição do dia 2 de Março.
Nota:
a classificação final de cada disciplina é obtida com 60% da
classificação interna da disciplina (que poderá ser a nota do 12.º ano,
ou a média dos 10.º, 11.º e 12.º anos conforme a disciplina for anual ou
trienal) e 40% da classificação do exame nacional.
Com
nota de 10 na classificação interna da disciplina, os alunos apenas
obterão positiva na classificação final da disciplina se obtiverem pelo
menos 9 na classificação do exame. Com nota de 11 na classificação
interna da disciplina, os alunos apenas obterão positiva na
classificação final da disciplina se obtiverem pelo menos 8 na
classificação do exame. Com nota de 12 na classificação interna da
disciplina, os alunos apenas obterão positiva na classificação final da
disciplina se obtiverem pelo menos 6 na classificação do exame. Com nota
de 13 na classificação interna da disciplina, os alunos apenas obterão
positiva na classificação final da disciplina se obtiverem pelo menos 5
na classificação do exame. Com nota de 14 na classificação interna da
disciplina, os alunos apenas obterão positiva na classificação final da
disciplina se obtiverem pelo menos 3 na classificação do exame. Com nota
de 15 na classificação interna da disciplina, os alunos apenas obterão
positiva na classificação final da disciplina se obtiverem pelo menos 2
na classificação do exame.
(Jaime Carvalho e Silva)
E agora?
Agora
temos de nos preparar para aceitar que as aulas começam o seu fim, não
em fins de Junho mas em fins de Maio e temos de nos preparar para
organizar da melhor forma (e de uma forma que não provoque ainda mais
ansiedade a estudantes e professores) o sistema ambiente das provas
globais e dos exames nacionais.
Na
última semana de Maio, começam as provas das disciplinas das componentes
de formação técnica e tecnológica e a partir do dia 3 de Junho as provas
globais do 10.º e 11.º ano que antecedem os exames nacionais a começar
em 17 de Junho. Até entregar as provas globais corrigidas vai ser
difícil. E este ano só há uma prova global do 8.º ano. Para o ano, com o
9.º ano a entrar no sistema, como vai ser?
Afinal as aulas vão acabar no dia 1 de Junho. Ou não é? Que culpa têm os
alunos do ensino básico de estar numa escola em que a maioria dos alunos
é do ensino secundário? ■ (Arsélio Martins)
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