Escola Secundária José Estêvão, n.º 16, Jan.-Mar. de 1996

 


área escola


uma culpa formada sobre culpa nenhuma


A nossa tradição legislativa mais recente é constituída por complicações. É como se houvesse necessidade de escrever em forma de lei tudo aquilo que devemos fazer e não fazemos. Em muitos aspectos dos direitos, quanto mais pobre é a prática, mais rico é o legislado. Em vez de aprofundar o apoio e a generalização de práticas correctas no terreno da vida, há uma tentação de escrever em forma de lei de modo a obrigar a que todos façam o que poucos fazem e já faziam e a maioria não faz. A deficiência da formação de professores em certas áreas ou em grandes áreas integradoras, a organização escolar disciplinar, o sistema e as concepções dominantes de avaliação, as medições de existência das escolas e de trabalho de professores e alunos são obstáculos sérios (quando não intransponíveis) para a educação e ensino por grandes temas transversais. Ao medo assumido da ignorância especializada que o ensino disciplinar pode produzir, não correspondem medidas práticas para apoiar eficazmente as experiências existentes de integração de saberes e muito menos apostas na formação de professores baseadas nessas experiências, com o fito de as transferir para locais onde elas não nasceram ou onde elas feneceram por falta de adubo que uma perspectiva de futuro pode ser.

Ao invés, o sistema dá-lhes a forma de uma lei que não pode ser cumprida, ou que sendo aparentemente cumprida (!!) distorce e derrota as boas intenções que a lei pretende ser. Sobre grandes questões que exigem mudança de mentalidades e criação de novas medições, bastaria que a lei abrisse a possibilidade, apontando uma liberdade para lá chegar e a toda a organização do sistema educativo bastaria informar/formar sobre as experiências existentes ou sobre as condições propícias para o nascimento da mudança. Mas não é assim que acontece. Sem tradições de autonomia, a maioria das escolas fica na expectativa das ordens e os organismos centrais, incapazes de esperar pelo pensamento e pelas obras das escolas, desdobram-se em ordens de serviço regulamentadoras com esquemas de organização e actuação e instruções para o próprio exercício de liberdade e diversidade que as escolas devem e podem ser no uso da sua pouca autonomia.

Eis o quadro em que a área escola curricular se desenhou.
 

E por aqui?

Ao longo dos anos a situação da área-escola (aqui, nesta escola) foi mudando. Depois de vencer diversas resistências, nos primeiros anos, com a reforma só a influenciar o ensino básico, a escola passou por definições a nível de escola por escolha de um tema de escola que era depois adaptado e desdobrado em cada uma das turmas. Sempre muito dependente da iniciativa deste ou daquele professor, a área escola gerou sempre controvérsia e a iniciativa de escola foi-se esgotando. Quando as turmas do ensino secundário entraram em cena, porque os programas são compartimentados e extensos nos seus compartimentos e os professores aparentemente mais especializados e porque as expectativas dos estudantes mais activos e motivados para o trabalho escolar passam muito pelas notas, a situação da área escola tendeu a complicar-se. Sem que os professores soubessem como realizar projectos que não colidissem com aquilo que chamam de cumprimento do programa e sem estarem preparados para, ao nível secundário e sem parecer infantil, fazer participar os saberes disciplinares em propostas de estudo ou projectos de trabalho integradores, a área escola foi sendo recusada com todos os argumentos típicos do saber utilitário e necessário, disciplinarmente especializado e avaliado. Se os professores ainda por cima não conseguirem esclarecer bem como é que a participação da sua disciplina é isolada e como é que o trabalho da área escola é integrado na avaliação (e classificação) da disciplina, os alunos resistem a gastar o precioso tempo de uma vida em competição fora da competição. À míngua de fazerem participar conhecimentos científicos que possam avaliar com instrumentos clássicos (mas isso pode ser feito sem área escola) e incapazes de integrar uma grande diversidade de produtos na avaliação, os professores organizam-se para que toda a participação no trabalho de projecto seja referido a valores e atitudes que não servem como medida ou que não integram nas classificações. Os atletas de alta competição (3 anos com barreiras todas praticamente em cima da meta que o ingresso no ensino superior é) em que foram transformados todos os alunos do ensino secundário prejudicam muito todas as intenções transdisciplinares ou multidisciplinares que não tenham a utilidade à vista. Os estudantes têm, por / 9 / isso, tendência a propor fazer algumas coisas (jornadas de convívio. festas, visitas de estudo, etc.), cuja organização e promoção ocupam bastante do seu tempo livre na escola.

 

A área deste ano...

Neste ano, o Conselho Pedagógico não decidiu qualquer tema geral para a escola e insistiu na autonomia da turma, do director de turma e dos professores da turma, para decidir sobre o projecto. Bem assim insistiu na necessidade de cada um dos professores envolvidos procurar avaliar o trabalho, o processo, o produto da área escola, considerando o valor acrescentado pela sua disciplina e considerando as aprendizagens significativas que a área escola proporciona distintamente do ensino na sala de aula. Não foram adiantados procedimentos, tipos de instrumentos, só foi adiantado que a área escola não se podia constituir como mero instrumento de desgaste sobre urna carga horária já excessiva. E foi adiantado que as visitas de estudo poderiam e deveriam, sempre que possível, ser integradas dentro do projecto da área escola.

Como se pode ver da lista de temas da área escola, há ainda anos que trabalham com temas comuns e há turmas que se juntam para realizar coisas em conjunto (particularmente no ensino básico – 9.º ano). Há muita desconfiança relativamente a temas escolhidos para toda a escola – o texto dos alunos do 11.º ano que escolheram a SIDA como tema é claro nisso, quando referem a poluição da ria como maldição... Há muita integração de saberes feita por cada disciplina que não vive sem a sua história e sem a história e os problemas das suas aplicações, dependências e ligações. E convém dizer que, pelo menos este ano, as visitas de estudo tiveram (a maior parte delas) preparações cuidadas e organizações complicadas, tendo provocado muitas outras actividades criativas em torno delas e que foram bem visíveis na escola.

 

Culpa de quê? Porquê?

Concluindo, se não estivesse escrita em forma de lei, o balanço de todas as actividades integradoras de saberes era extremamente positivo e estávamos a dizer que a nossa escola, embora precisasse de introduzir algumas correcções e aprofundamentos em alguns aspectos, constituía um elevado exemplo. Estando escrita em forma de lei, não podemos deixar de assumir algumas culpas por não podermos dizer que as actividades integradoras da área escola foram universalmente aceites ou tiveram a participação de todas as disciplinas em diversos níveis.


Sobre a a área do próximo ano

Provavelmente, no próximo ano, teremos de constituir, dentro do Conselho Pedagógico, um grupo autónomo (secção?) em volta do coordenador dos directores de turma e ligado a um membro do Conselho Directivo, que trate da área escola. Não tanto para substituir a autonomia e o trabalho independente das turmas, mas mais para acompanhar sistematicamente o desenvolvimento dos diversificados projectos e para fazer uma avaliação do produto final.

(Arsélio Martins)

 

 

Projecto do 10.º F

Actividades para a semana da Escola

 

Tema: Informática – sua evolução e novas tecnologias Subtema: A máquina que modifica o mundo.

Objectivos: a) Cultivar o gosto e interesse pela informática; b) Dar a conhecer à comunidade escolar o papel do computador no mundo actual;

c) Fortalecer a relação sócio-afectiva através de espaços lúdicos e de socialização proporcionados ao longo da semana de exposição.

Actividades a realizar: a) Informática: evolução – serão abertos 4 computadores + 1 Pentium com caixa transparente.

b) Informática: tecnologias – estarão ao dispor de todos os alunos 2 computadores em rede com um jogo, 2 computadores em diferentes tipos de utilitários com diferentes tipos de rede, 1 computador com programas feitos pelos alunos ao longo do ano lectivo, 1 computador com o Windows 95, 1 computador com UNIX, 1 computador com multimédia e placa de vídeo, 1 computador ligado a um "scanner", 1 computador ligado a um "data display", impressoras (jacto de tinta, Iaser e plotter), cartazes de informação sobre as actividades a desenvolver

Recursos necessários: sala 27 – tecnologias; sala 33 – jogos de computador; sala RIA – ligação à internet

Data da realização: 26 a 30 de Abril, das 9h 30m às 12h.
 

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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