Uma das muitas possibilidades de intervenção que as redes
de comunicação, como o Apple Link - AGE, oferecem consiste na
participação em Grupos de Discussão ou mesmo em Congressos Mundiais sem
sair da nossa Escola. Como exemplo, disso, apresentamos aqui os textos
(versão portuguesa) dos textos que enviámos para um Congresso sobre a
integração dos deficientes nos sistemas escolares. Céu Cruz, Maria do
Rosário Ruivo, Carmo Leitão e Teresa Granjeia apresentaram uma
comunicação sobre o assunto, partir da realidade da nossa escola e não
só, ao Congresso Independence'92.
Apesar de neste momento decorrerem as férias da Páscoa e
a escola estar fechada, não queremos deixar de participar, embora
limitados, enviando a nossa solidariedade, num pequeno contributo, a uma
conferência tão importante para o prosseguimento do encontro da
Humanidade consigo mesma.
1.
A Escola Secundária José Estêvão é uma escola pública, sendo o ensino
estatal dominante e o de melhor qualidade no nosso país.
2.
Há anos que a nossa escola é frequentada por alunos com graus diferentes
de necessidades educativas especiais e que estão integrados em classes
regulares.
Até agora, não se registaram casos de marginalização ou
de rejeição por parte dos outros alunos.
3.
No decurso deste ano lectivo, foram introduzidas alterações na lei da
integração dos alunos portadores de "incapacidades" no ensino
regular. Estas alterações visam identificar a "deficiência" como
diferença e não como estigma. Ao substituir-se a designação de
deficiências por dificuldades, introduziu-se o direito à diferença no
sistema normalizado.
4. Actualmente frequenta a escola
um número significativo de alunos com necessidades educativas especiais
ligadas a casos de:
a. dislexia
b. deficiências auditivas e visuais
c. disfunções cerebrais mínimas
d. privação cultural
e. alunos que tendo feito uma aprendizagem mecânica até
ao 7.º ano de escolaridade apresentam dificuldades em se integrarem numa
aprendizagem da significação simbólica mais complexa.
f. alunos com dificuldades de aprendizagem motivadas por
problemas de desenvolvimento, avolumadas pela ausência de referentes
familiares e sociais.
5. Estratégias implementadas:
a. Apoio pedagógico acrescido, individual ou em pequenos
grupos, que se traduz por uma maior proximidade com o professor.
b. Adaptação dos curricula e instrumentos de trabalho.
c. Condições especiais de frequência e avaliação do
aproveitamento perspectivado em termos de desenvolvimento de
competências, de capacidades e de aquisição de valores.
d. menor número de alunos por turma.
6. Adesão dos professores ao actual projecto:
a. Há os que ao longo dos anos olharam os alunos como
objectos de ensino e não como sujeitos da aprendizagem e são resistentes
à necessária mudança de atitudes.
b. Há os professores recém-formados que, embora se lhes
reconheça uma certa heterogeneidade, evidenciam uma deficiente formação
humanista e uma falta de convicção nos seus projectos profissionais e
pessoais, o que lhes dificulta a compreensão da complexidade do processo
educativo. Os conflitos daí decorrentes não são assim tão raros.
c. Há os outros que, não tendo perdido a utopia e
acreditando que só vivendo a diferença se cresce, asseguram na prática a
sobrevivência do projecto, apesar dos obstáculos que permanentemente se
levantam.
Incomoda-nos a tendência recente de formação de "ghetos"
de natureza variada, onde a coberto do direito à diferença, se esconde a
perpetuação de uma sociedade normalizada e intolerante. ■
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