Em Beja com o Coral Polifónico de Aveiro 2/2

 

DIA 8 DE JULHO DE 1990 ‑ DOMINGO

SEGUNDO DIA DO CORAL POLIFÓNICO EM BEJA

Eram oito e trinta da manhã quando a minha anfitriã bateu à porta do quarto. Eram horas de levantar. Após o duche matinal e respectiva "toilette", fui apresentado ao dono da casa, que se encontrava numa saleta a ver televisão. Conversámos um pouco, falámos das nossas actividades profissionais já que estávamos ali três professores eu e os meus anfitriões. Entretanto chegou o colega Jaime. Após breve conversa, fomos para a sala de jantar. Deparámos com uma mesa cheia. Mais parecia um almoço que um pequeno-almoço.

Às nove horas encontrámo‑nos todos para uma visita guiada à cidade. Munido de toda a aparelhagem fotográfica, seguimos o excelente guia que teve o cuidado de nos explicar pormenorizadamente e com todos os dados históricos tudo quanto nos era dado observar.

Antes de descrever a visita, efectuo uma breve referência de todas as imagens captadas durante o dia de ontem, no rolo que estava já a meio.

Foto 25 ‑ Igreja do Carmo, onde se efectuou o concerto.

Fotos 26 e 27 ‑ Elementos do grupo Coral Polifónico de Aveiro, no bar existente no Centro Comercial em frente à Igreja do Carmo. A primeira foto foi tirada pelo condutor da nossa camioneta.

Passo agora as referir as fotos tiradas durante a visita guiada a Beja. Darei logicamente maior importância à visita, indicando aquilo que registei fotograficamente.

Antes de me juntar ao grupo, tirei uma foto mostrando os restos da antiga muralha de Beja. Em seguida, fui com o grupo visitar o delapidado e adulterado convento de S. Francisco, posto a saque no século XIX após a extinção das ordens religiosas em Portugal. Da vasta igreja foi feito um quartel. A meia altura, foi colocada uma placa de cimento e, deste modo, arranjado mais um andar. Todo o corpo da igreja foi subdividido em três vastíssimas salas; e todo o recheio, desde objectos de culto em ouro e prata até às talhas dos altares, levou sumiço. Os elementos que constituíam algumas das capelas foram preservados graças à acção de um religioso da época e encontram‑se dispersos por outras igrejas. Todo o convento, que devia ser imponente, está reduzido a uma lamentável ruína, revelando a quem o quiser ver a mentalidade portuguesa.

Fomos, em seguida, visitar o Museu Regional de Beja, instalado no antigo Real Convento de Nossa Senhora da Conceição. Tirei uma foto do exterior. O museu merece uma visita demorada e atenta, dada a riqueza do seu recheio.

Passámos à Igreja de Santa Maria, provavelmente assente numa antiga mesquita. É um monumento em gótico manuelino, mais conhecido por gótico alentejano. Tirei uma foto do exterior.

Algumas imagens de Beja: Casa da Torrinha e um aspecto de uma rua da cidade, visto da Igreja de Santa Maria.

No interior da igreja, que visitei com certa atenção, fotografei (com flash) o altar lateral com a árvore de Jessé.

Casa de Beja de antigas famílias nobres. Pertence actualmente à família Biker da Costa.

Rua das Ferrarias.

Torre de Menagem, vista a partir de uma das ruas de Beja.

Castelo de Beja. (última imagem do rolo que ia a meio - foto 37)

 

Visita à Sé de Beja, que fica junto do Castelo. Aproveitei para meter um novo rolo na máquina, antes de ir visitar o castelo de Beja, do qual e no qual tirei diversas fotografias, que descrevo sumariamente:

Foto 1 ‑ Torre de Menagem do Castelo

Foto 2 ‑ Interior do Castelo

Foto 3 ‑ Escada de acesso à torre de menagem

Fotos 4 a 8 ‑ Alguns aspectos de Beja, obtidos do cimo da torre de menagem. O castelo merece uma visita atenta, tanto mais que nele existe um museu militar.

Foto 9 ‑ Sé de Beja, vista do exterior

A visita continuou através das ruas da cidade, que fui documentando com diversas imagens, cujos comentários se devem à atenção do nosso guia, sempre pronto a prestar‑nos todos os esclarecimentos.

Foto 10 ‑ Uma das saídas da cidade de Beja.

Foto 11 ‑ Capela do sagrado Coração de Jesus, no Paço Episcopal de Beja.

Fotos 12 e 13 ‑ Igreja da Misericórdia, cuja história é interessantíssima. Foi o edifício mandado construir por D. Manuel I e mais tarde aproveitado para a actual Igreja da Misericórdia. Fica esta igreja mesmo no topo da Praça de D. Manuel, actualmente com o nome de Praça da República. Ao centro da praça, um elegante cruzeiro manuelino. Desta praça obtive as imagens 14 e 15.

E de Beja não pude obter mais imagens, por falta de tempo. Eram 13 horas. Eram horas de irmos directos ao Seminário, onde uma vez mais nos esperava uma magnífica refeição, servida por elementos do Coro do Carmo.

A seguir a um substancial repasto, o nosso digníssimo maestro teve a brilhante ideia de nos levar para uma sala de aula. De facto, uns exercícios vocais poderiam ser excelentes para ajudar a fazer a digestão. Pretendia ele efectuar um ensaio e experiência à última da hora. Pretendia alongar a apresentação de O Redemptor. Sem as partituras, com os estômagos cheios e alguns possivelmente com vontade de uma "siesta", foi um valentíssimo fiasco, que desagradou a todo o grupo. Como protesto, todo o coral começou a cantar o Kumbaia, secundado por alguns elementos de outros grupos que, ouvindo‑nos, se acercaram das janelas laterais e acompanharam o grupo em alguns dos nossos cantos sem maestro. Este, pior que um peru em véspera de Natal, tinha saído da sala, só regressando passados alguns largos minutos. Voltou, procurou efectuar a experiência de repetir segunda vez o cântico O Redemptor e acabou por se convencer que a experiência não deveria resultar, pelo que foi interpretado durante o encontro de coros da maneira que lhe é própria e habitual.

Como explicar estas ideias da última da hora por parte do nosso digníssimo maestro?

Ao que parece, o mesmo dormiu mal, a magicar no problema; é que, ontem, quando interpretámos o cântico, que se caracteriza pela sua reduzida dimensão, quando terminámos, o público não aplaudiu logo, pensando que o mesmo seria mais longo. Este facto deve ter provocado um certo impacto no nosso insigne maestro, tendo‑lhe perturbado o nocturno descanso. Mas deixemos este episódio e voltemos ao assunto.

Depois do episódio do ensaio,demos uma volta pela cidade e fomos até ao Jardim do Bacalhau. Imagine-se o nome que deram ao jardim! Ainda estou a pensar na razão desse nome, tanto mais que do fiel amigo nem o cheiro se sentia. A única coisa que nos chegava, de vez em quando, era um vento quente que de vento até nem tinha nada, pois não passava de uma ligeira aragem. Sentámo‑nos numa esplanada e tomámos algumas bebidas frescas, já que o elevado calor só a isso convidava. Aí fizemos horas até ao momento do encontro dos vários coros na Igreja do Carmo.

Participaram no 11 encontro de Coros, integrado nas festas em honra de Nossa Senhora do Carmo, seis coros, provenientes de diversas partes do país. Além do Coro do Carmo de Beja, o primeiro a abrir o espectáculo, actuaram por ordem de apresentação:

 CORAL POLIFÓNICO DE AVEIRO

In that Beautiful World on High

O Redemptor

A Senhora d'Aires

Stabat Mater

 

CORO DE CÂMARA da Academia de Música de Beja

Locus Iste

Pater Noster

Salve Regina

Psallite Deo Nostro

 

GRUPO CORAL DE LAGOS

Oração a Santo António

Senhora Santa Catarina

O Magnum Mysterium

Soon All Will Be Done

Jubilate Deo

Hallelujah

A actuação deste coro foi muitíssimo boa. Apresenta algumas vozes excelentes.
 

CORO DE CÂMARA DE BEJA

Mary and Martha

Fa una Canzone

Stabat Mater ‑ (foi trocado por outra)

Coral Final da Missa Alemã

 

CORO "LAUDATE" de S. Domingos de Benfica

Exulta de Alegria, Ó Santa Mãe de Deus

Natal de Aldeia Nova de S. Bento

Hodie Christus

Regina Coeli

Ave Maria

Christe (Final do "Stabat Mater")

O encontro terminou por volta das 19 horas. Pode‑se dizer que o saldo foi francamente positivo. Um encontro de coros com alto valor artístico, oferecendo um espectáculo magnífico a todo o imenso público que enchia a igreja.

Após o espectáculo,  verificou‑se um segundo encontro de todos os coros... mas, desta vez, no refeitório do Seminário. As partituras encontravam‑se repartidas por diversas mesas que ocupavam a vasta sala, permitindo uma execução agradável e variada a todos os presentes. Desde o saboroso queijo amanteigado da região, que alguns espalhavam gulosamente sobre fatias de pão alentejano, até leitão, arroz tipo à valenciana, diversas qualidades de carnes, rissóis, croquetes, e uma  grande variedade de sobremesas, todas as composições apresentadas permitiam saborosas vocalizações a todos os presentes.

Infelizmente, a distância de Beja a Aveiro é bastante grande, pelo que os insignes artistas visitantes tiveram de interromper a sua actuação mandibular para se despedirem e levantarem ferros. Antes, porém, apresentámos a nossa última aquisição da Galiza: O Voso Galo, Comadre. Agradou a todos os presentes.

Passavam poucos minutos depois das 20 horas quando a nossa camioneta se fez ao caminho, após uma despedida calorosa dos nossos ilustres e inesquecíveis anfitriões. Até o Jorgito, o nosso elemento mais novo, que por sinal até é de Beja, estava com a comoção da despedida, o que o inspirou, levando‑o, já na camioneta e à saída de Beja, a mostrar, ao micro, a sua tristeza pela partida.

A viagem até Aveiro decorreu sem mais nenhum incidente.

Parámos a meio do caminho, antes de Vila Franca de Xira, para tomar umas bebidas. Chegámos a Aveiro por volta da uma e quarenta e cinco da manhã.

Tirando o rebentamento do pneu durante a ida, único percalço para não fugir à tradição, a viagem a Beja pode-se considerar como mais um marco histórico a juntar ao já largo currículo do Coral Polifónico de Aveiro

NOTA: Das actuações nestes dois dias (ontem e hoje) existem programas impressos.

Henrique J. C. de Oliveira, Registos da minha pena. Beja, 8 de Julho de 1990.

 

 

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05-12-2024