Um Retrato Marítimo de Ílhavo, 2021, 144 páginas

Nota Prévia

A história das cidades e da arquitetura é muitas vezes tratada como uma questão de terra firme. Quando o território é litoral, o oceano é visto como uma fronteira e a linha de costa como um limite para o desconhecido. Este ensaio procura contrariar essas narrativas, abordando a história urbana de Ílhavo – situada na costa atlântica portuguesa – da perspetiva do mar. Este retrato marítimo oferece uma nova visão da história urbana, contrapondo às origens agrícolas, que definiram o seu crescimento até ao século XVIII, relatos que explicam transformações territoriais impulsionadas por outras dinâmicas que até hoje foram pouco exploradas.

Este ensaio é o resultado de uma encomenda do Município de Ílhavo feita em 2019 ao centro de investigação da Universidade do Minho, elaborada no quadro do inventário do Património Marítimo, Militar, Industrial da Costa Atlântica (Maritime, Military and Industrial Heritage of the Atlantic Area Coast – MMIAH), que por sua vez foi produzido no contexto do programa Interreg Espaço Atlântico, com o financiamento da União Europeia.

A encomenda incluía um estudo evolutivo da paisagem de Ílhavo que servisse de enquadramento ao inventário do património realizado nesse âmbito, sendo as entradas do MMIAH fornecidas pelo Município. Esse inventário é listado na cronologia que se encontra no final deste livro e ilustrado nas imagens e respetivas legendas. Gostaríamos de agradecer ao Município por nos ter incumbido da responsabilidade do estudo evolutivo, assim como o apoio, o estímulo e as observações e correções perspicazes feitas pela equipa municipal, pelo Centro de Documentação de Ílhavo e pelo Museu Marítimo de Ílhavo ao nosso texto.

Esta não é uma história definitiva de Ílhavo e da sua paisagem marítima. O seu objetivo é, sim, encetar o que antecipamos ser uma linha de investigação frutífera, capaz de reposicionar a perspetiva sobre a sua história urbana. O oceano, em vez de ser um espaço em branco em contraposição à terra, é um ambiente complexo e animado, que molda – ao mesmo tempo que é moldado - os territórios que habitamos.

No confronto com dilemas ambientais, somos obrigados a reinventar a relação entre arquitetura, planeamento urbano e o planeta como um todo. A capacidade de compreender os fenómenos físicos e a transformação de territórios terrestres no que diz respeito aos principais fatores ecológicos e ambientais – como no caso do oceano e das suas culturas marítimas – é um passo crucial para a reconsideração da nossa relação com os lugares em que vivemos. Apesar da sua modéstia, esperamos que este retrato marítimo sirva como contributo nessa direção.

André Tavares

Ortografia do original

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22-03-2021