XI Antologia do Círculo Nacional d'Arte e Poesia, Portalegre, 2011, pág. 45.

Mulher

 

Foi o bom Deus que tu desafiaste
Comendo um dia, a fruta proibida
Que ditou o preceito em que ficaste
Condenada a sofrer por toda a vida.

Foram tantos os filhos que geraste
Com lágrimas de dor e sofrimento
Comido o pão que com suor regaste
Vergada sobre a terra ao sol e ao vento.

Sujeita ao homem e à sua vontade
Foste a serva, a escrava, a concubina
Privada de toda a liberdade
Só em sonhos pudeste ser menina.

Aniquilada foste na fogueira
P'los homens inchados de poder
Acusada de bruxa e feiticeira
Ao verem tanta argúcia e tal saber.

Foste odalisca em haréns da moirama
Na Índia nas piras t'imolaram
Te venderam na China 'inda de mama
Os que sem dó teus passos encurtaram,

Nas trevas dos conventos te fecharam
P'ra sufocar a voz de quem mais ama
Também teu corpo jovem mutilaram
Para apagar, com dor, do amor a chama.

Fernanda Fernandes Figueiredo - Tavarede

 

 

página anterior início página seguinte

01-02-2020