Henrique J. C. de Oliveira - Aveiro

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  «Qual era a filosofia de trabalho do computador Spectrum? Quais as suas características? Como é que o púnhamos a trabalhar? Como era o teclado?»

2 - Se o teu computador se transforma em Spectrum quando clicas nos ficheiros «SPECTRUM.EXE» ou «CARREGAR.EXE» é porque ou não tiveste problemas com os atributos destes ficheiros ou já os desactivaste. Por isso, vamos agora ver como funciona o Spectrum e como se carrega um programa.

Segundo cremos, a filosofia que terá presidido à criação e lançamento deste tipo de computador terá sido a de fornecer uma máquina relativamente acessível às bolsas domésticas, compacta e de fácil utilização. No fundo, facilitar a divulgação das tecnologias informáticas, tornando este computador popular e também lucrativo para o seu criador.

O Spectrum era (e continua a ser, para quem ainda o conserva e utiliza) uma máquina compacta, levíssima e fácil de levar para qualquer lado. É preciso que nos lembremos que, na época em que ele fez sucesso, ainda não existiam os actuais computadores portáteis, com ecrã de TFT incorporado e com elevada capacidade. Só precisávamos de levar o computador, a cassete com os programas e o alimentador, desde que no local onde o íamos pôr a trabalhar existisse um aparelho de televisão e um vulgar gravador de cassetes monofónico. Sim, monofónico! Se utilizássemos um estereofónico arriscávamo-nos a que os programas não fossem correctamente carregados na memória do computador.

Além de ser pequeno, leve e fácil de transportar, o Spectrum podia ser programado por nós, desde que aprendêssemos o «Basic Sinclair», uma linguagem de programação extremamente acessível, intuitiva e fácil de memorizar, porque utiliza comandos na língua inglesa, tais como RUN, GO TO, GO SUB, RANDOMIZE, LIST, LOAD, LET, PRINT, etc.

Eu próprio, que nunca frequentei nenhum curso de informática, entrei facilmente nesta forma de comunicar com a máquina. Como? Muito simplesmente transcrevendo, na fase inicial, algumas listagens de programas lúdicos, que surgiam publicados em revistas e livros, e observando os resultados. Ao fim de alguns dias a dar à tecla, a transcrever aquelas listagens de instruções e a divertir-me com os resultados, estava já capaz de me sentar à mesa de um café, imaginar um programa ou um jogo, escrevê-lo directamente no papel e, mais tarde, digitá-lo no computador. Funcionava quase sempre à primeira, sem erros, apenas necessitando de retoques para aperfeiçoamento e melhoria do aspecto e dos resultados.

A grande dificuldade inicial em trabalhar com o Spectrum está no teclado. Não porque a posição dos caracteres seja diferente das máquinas de escrever ou dos actuais computadores, mas simplesmente porque cada tecla pode desempenhar várias funções.

Queres fazer uma experiência e ver o que acontece, se carregares em algumas teclas?  Se a tua resposta é afirmativa, será melhor que imprimas estas linhas. Não terás acesso directo a elas enquanto estiveres a seguir as nossas instruções.

Vamos então ver como funcionam as teclas. E talvez, até, brincar um pouco, escrevendo uma pequena rotina em basic. Isto é vantajoso, se quiseres aprender a carregar um programa. Caso contrário, nunca poderás passar um programa da cassete para o computador e pô-lo a funcionar nos actuais computadores.

Vamos à experiência, Segue as etapas.

1º - Abre a pasta Spectrum e clica sobre o ficheiro «Spectrum.exe» ou «Carregar.exe». Embora sejam dois emuladores diferentes, permitir-te-ão entrar no ambiente do Spectrum.

2º - Carrega na tecla [ R ] e vê o que surge no ecrã do monitor. Então? Estás a ver? Um simples toque fez surgir o comando RUN, um comando importante, porque permite correr toda a listagem e pôr o programa em funcionamento.

3º - Carrega na tecla [ P ] e vê o que surge. O comando PRINT permite escrever textos no ecrã, devendo estes ser colocados entre aspas. Por exemplo, se quisermos que seja impresso no ecrã do monitor uma mensagem, deveremos digitar a seguinte ordem directa: PRINT "Este texto será impresso na primeirra linha do ecrã." Geralmente, num determinado programa, o comando PRINT vem junto com a indicação da linha e da coluna onde o texto deverá ser visualizado. Por exemplo, esta linha de programação

    50 PRINT PAPER 7; INK 9; BRIGHT 1; AT 12,5; "Estou no centro do ecrã."

permitirá que o programa, ao correr, escreva no centro do monitor, com fundo branco, tinta preta e em modo brilhante a frase «Estou no centro do ecrã».

Se quisermos que a listagem de um programa ou um texto seja impresso numa impressora, o comando terá de ser LPRINT.

4º - Vai experimentando diferentes teclas. De cada vez que premires uma, carrega em seguida na tecla de «Backspace» [<—], para que possas obter outro comando. Observa as palavras que surgem. 

Se reflectires um pouco, verás que a letra da tecla coincide por vezes com a primeira letra do comando, o que facilita a memorização. Mas, como os comandos são inúmeros, quase correspondendo um a cada tecla, não é possível fazer com que esta coincidência seja permanente.

5º - Carrega agora na tecla [ J ] e observa. — Qual é a palavra que surge?

Tens na tua frente um comando importante. É com o comando LOAD que se podem carregar os programas para dentro do computador. Para isso se poder fazer, é necessário carregar na tecla J e, imediatamente a seguir, digitar o nome do programa, o qual deverá ser colocado no meio de aspas. Por exemplo, para passar o programa HeliHJCO da cassete para o computador, tivemos que escrever a seguinte linha de comando:

LOAD "helihjco"

Uma vez escrito, carregámos na tecla ENTER e pusemos o gravador em marcha. 

Assim que a cassete começa a correr, ouve-se um ruído numa frequência elevada, ao mesmo tempo que surgem nos bordos do ecrã diversas riscas, em perfeita sintonia com o som audível, muito semelhante ao que acontece quando nos conectamos à Internet e o MODEM começa a funcionar. Quando acaba o ruído e não há erros, o programa arranca automaticamente.

Queres simular o carregamento do programa e digitar a instrução que apresentámos antes do parágrafo anterior? Experimenta digitá-lo sem as nossas instruções. Para isso, em vez do ficheiro «Spectrum.exe», utiliza o outro, que está mais completo e é de mais fácil utilização. Carrega no ficheiro «Carregar.exe» e, em seguida, procura digitar a linha de comando. Vê se consegues sem a nossa ajuda.

Então? Qual foi o resultado? Conseguiste? Foi tarefa fácil? Ou será que andaste às aranhas, a experimentar carregar em várias teclas, à procura das aspas?

É mais fácil descarregar da Internet os programas que te disponibilizámos nas páginas anteriores e pô-los a correr, do que passar da cassete para o computador. E, além disto, ainda terás de possuir o cabo de ligação do gravador ao computador, que iremos, lá mais para diante, ensinar-te a construir. Mas não adianta ter este material se não soubermos depois trabalhar com o computador.

O localizar a função LOAD é relativamente fácil, porque basta carregar na tecla [ J ]. O problema vem depois. Necessitamos de localizar as aspas. Estas obtêm-se premindo simultaneamente as teclas [Alt Gr] + [ P ]. E o maior problema ainda não é este, mas sim o de localizar as cerca de 99 funções indispensáveis para podermos programar em «basic». Além disto, temos ainda de prestar atenção ao aspecto do cursor, porque é ele que nos diz em que modo de escrita nos encontramos. Por exemplo, observa o que acontece ao cursor depois de carregares numa tecla e também quando carregas simultaneamente nas teclas [Shift] + [Alt Gr].

O cursor pode piscar mostrando um K, um L, um E  ou um G. De acordo com o aspecto por ele assumido obteremos resultados diferentes. Por isso, para nos facilitar a rápida localização das funções, quando nos dedicávamos a programar em Basic Sinclair, fomos obrigados a criar uma tabela com todas as funções ordenadas alfabeticamente. Deste modo podíamos rapidamente localizar qual a fiada de teclas e a posição, poupando-nos imenso tempo.

— Queres escrever um mini programa em Basic Sinclair para veres o resultado e como funciona o computador? 

Digita a seguinte linha de programação. Repara que colocamos um número antes da linha, porque, quando se programa, as linhas devem ser devidamente numeradas. Nós, por exemplo, com programas demasiado extensos, numerávamos de 5 ou de 10 em 10, para o caso de querermos inserir, mais tarde, linhas intermédias.

Aqui tens a linha simples de programação:

10 FOR n=1 TO 25 : PRINT "Palavras e mais palavras. "; : BEEP 0.1,RND*20 : NEXT n

A tua grande dificuldade, tal como aconteceu connosco ao escrevermos esta simples linha, vai residir na localização das teclas com as funções.

Tens aqui a lista das dificuldades, ou seja, quais as teclas que nós utilizámos e que podem não coincidir rigorosamente com o teu teclado.

            FOR <> [ Tecla F ]

            = <> [Alt Gr] + [ L ]

            TO -  [Alt Gr] + [ F ]

            : (dois pontos) <> [Alt Gr] + [ Z ]

            PRINT <> [ P ]

            " (aspas) <> [Alt Gr] + [ P ]

            . (ponto final) <> [Alt Gr] + [ M ]

            ; (ponto e vírgula <> [Alt Gr] + [ O ]

BEEP <> Para esta função, temos de premir [Alt Gr] + [Shit] e, sem tirar o dedo de [Alt Gr] carregar em seguida na tecla [ Z ].

RND (Randomize) <> [Alt Gr] + [Shift] e depois, mudado o cursor para um L maiúsculo, carregar apenas na tecla [ T ]

            NEXT <> [ N ]

 

Depois de digitada toda a linha, carrega na tecla ENTER, para o computador aceitar o teu mini-programa. Para verificares se ele trabalha, carrega na tecla [ R ] = (RUN) seguido de ENTER.

 

Efectuada esta pequena abordagem sobre o que é o Spectrum, utilizando um emulador que não é rigorosamente a mesma coisa que trabalhar directamente com o bichinho, nas próximas páginas iremos ver qual o material indispensável e como o utilizar para passar os programas das cassetes para dentro dos modernos computadores.

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