DO CINEMA PARA O VÍDEO - II

Nos princípios da década de 1980, demos início à nossa incursão pelo universo do vídeo. Por essa altura, vimo-nos confrontados com alguns problemas: que sistema eleger, face às propostas surgidas no mercado europeu? Foi o que se pode considerar um trilema.

 

Ao todo, são lançados três sistemas concorrentes: o Vídeo 2000, da Philips; o Betamax, da Sony; o VHS, comercializado por várias marcas.

Em termos económicos, o sistema mais favorável para o consumidor seria o Vídeo 2000, devido ao elevado número de horas de gravação por cassete. Cada uma, semelhante às cassetes de som lançadas pela Philips na década de 1960, delas diferindo pelo maior tamanho e maior largura da fita, permite cerca de quatro horas de gravação de cada lado. À semelhança das cassetes de som, a gravação faz-se nos dois sentidos. Gravada a face A, retira-se a cassete e volta-se a inserir no lado B, dando mais quatro horas de gravação.

Se o Vídeo 2000 é económico e amigo dos utilizadores, não o é dos vendedores. Cada cassete dá para demasiado tempo de gravação. Interessam mais as cassetes que durem menos e que obriguem a adquirir um maior número. Quanto mais vendas, maior o lucro. À partida, um sistema económico acaba por nascer com os dias contados, porque não é comercialmente rentável. Por isso, ficaram dois sistemas em concorrência durante alguns anos.

Perante a questão de saber qual adquirir, optei por aquele que ainda hoje consegue agradar-me mais que o VHS, apesar de há já alguns tempos ter passado para os sistemas digitais. Optei pelo sistema Betamax, porque apresentava melhor qualidade de imagem e um formato mais compacto e mais fácil de arquivar. E para me ajudar a tomar a decisão final, a Sony acabara de lançar no mercado modelos de videogravadores funcionais e compactos no sistema Betamax. Ao contrário dos primeiros videogravadores, que eram máquinas pesadas e de grandes dimensões, com as cassetes inseridas pela parte superior, os novos modelos eram compactos e semelhantes aos actuais sistemas modernos de VHS e vinham dotados de funcionalidades já bastante avançadas para a época.

Hoje, o sistema que adoptei, à excepção da utilização profissional, está completamente posto de lado. Ironicamente, venceu o sistema VHS, um sistema de menor qualidade, mas economicamente mais lucrativo para os produtores de aparelhagens e de suportes magnéticos.

Durante mais de dez anos, fui constituindo um arquivo videográfico de filmes e documentários educativos, tudo devidamente registado e lançado numa base de dados, que permitia, em poucos segundos, localizar os temas pretendidos. Mas, como quase sempre acontece, e dizemos quase para não ficar apenas o sempre, a «febre» de gravar e arquivar foi progressivamente baixando. Hoje, nos começos do século XXI, possuo umas largas centenas de cassetes arrumadas nas estantes, à espera que alguém decida retomá-las e desvendar-lhes os conteúdos.

É a lei da vida moderna. Novos sistemas estão permanentemente a substituir os anteriores e a tornar o material arquivado pelo Homem completamente obsoleto, sem qualquer utilidade. O único sistema que se vai mantendo fiável e útil ao longo dos séculos são os registos escritos, os livros, que permanecem sossegados nas nossas estantes e sempre disponíveis para, em qualquer momento, nos fornecerem os seus conteúdos, sem necessidade de energia eléctrica e de sofisticados aparelhos de leitura. Apenas exigem a utilização dos nossos olhos e a vontade de lhes saborear os conteúdos.     >>>

 

 

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08-04-2019