Aveiro como porto de comércio
Nas duas actividades de pesca longínqua e pesca costeira, atrás
mencionadas, o porto de Aveiro atingirá facilmente o tráfego previsto,
só pelo prolongamento dos Molhes, que garantem um fácil acesso à laguna.
A laguna, por si só, está apta a dar desenvolvimento bastante à pesca
longínqua e está também apta a dar certo desenvolvimento à pesca
costeira, com obras de pequena monta.
Quanto ao porto de comércio, se é certo que uma vez prolongados os
molhes se facilita a entrada de navios de comércio, é também certo que a
laguna pode permitir um amplo desenvolvimento sob este ponto de vista.
A laguna, só por si, é um esplêndido veículo de transporte das
mercadorias, ligando, pelos seus ancoradouros naturais e pela sua
extensa rede de canais, uma população de mais de 100.000 habitantes, com
as embarcações que demandem a barra e entrem na laguna. Duas vias de
caminho de ferro servem a laguna, e uma importante e densa rede de
estradas põem-na em comunicação com todo o resto do país, especialmente
com a Beira Alta.
As condições de desenvolvimento industrial − vastas áreas de terrenos
planos, cortados por canais que conduzem ao ancoradouro − tornam-se
ideais, uma vez que esses ancoradouros se tornem acessíveis, em todas as
condições, à navegação marítima.
Sendo estas as condições em que se encontra a laguna, daqui resulta que
o seu desenvolvimento como porto de comércio, embora mais lento do que o
desenvolvimento que terá a pesca nas duas modalidades referidas, será
inevitável.
Pelas condições óptimas que a laguna reúne como porto de abrigo seguro,
pelo desenvolvimento industrial a prever, pela sua privilegiada situação
em relação ao centro do país, pela importante população que serve
directamente, e até pela actividade comercial que o seguro
desenvolvimento da pesca acarretará, não deixará esse desenvolvimento de
se dar. Se, à medida que for aparecendo o tráfego, de que a zona de
influência do porto necessita, se forem construindo obras interiores que
facilitem esse tráfego, o movimento aumentará certamente, pela criação
de novas actividades.
---o-O-o---
Num porto onde, pelas dificuldades de acesso da barra, o tráfego é
diminuto, embora em época já distante tivesse sido elevada a sua
importância comercial, é difícil fazer uma previsão rigorosa.
Das estatísticas oficiais não podemos lançar mão para este efeito,
porque não nos fornecem elementos.
A única forma que temos de fazer uma avaliação da
quantidade de produtos que se servirão do porto de Aveiro, desde que o
seu acesso seja facilitado, é calcular, mediante elementos de informação
tirados perante as diversas actividades existentes, essas quantidades,
actualmente consumidas na zona de influência do porto e que têm
facilidades de por ele transitar. Desta maneira, pondo de parte
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todas as previsões legítimas sobre o futuro
desenvolvimento comercial e industrial, para considerar apenas o que,
existente já, está, por assim dizer, à espera de que a barra se abra,
conseguimos apurar que podem transitar, desde já, pelo porto de Aveiro,
com manifesto benefício para as diversas actividades, as seguintes
quantidades de mercadorias:
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Carvão para a indústria local, para os caminhos-de-ferro do Vale
do Vouga e C. P.
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30.000 T. |
Toros de pinho em retorno, visto que a região está ainda por
explorar e tem grande abundância desta mercadoria
............................................................... |
20.000 T. |
Vinho, dada a circunstância da proximidade da região da
Bairrada, que exporta em precárias circunstâncias por outros
portos o seu vinho ....... |
1.000 T |
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Cimento necessário ao distrito de Aveiro e parte do de Viseu,
embora o seu consumo seja muito superior, calculamos que apenas
transitem pelo porto de Aveiro
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10.000 T. |
Cerâmicas, adubos, folha de flandres, chicória, minérios, etc.,
etc. ................ |
15.000 T. |
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76.000 T. |
Sal da Ria de Aveiro em exportação pela barra, dado que a sua
produção é de 85.000 T
.......................................................................................................... |
30.000 T. |
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106.000 T. |
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O eminente engenheiro Sr. Von Hafe, sempre cauteloso e prudente em tudo
o que fazia, computava, comparando o porto de Aveiro com o do Douro, sem
lançar mão de avaliações sempre, incertas e, apenas, pelo seguro
conhecimento que tinha destes assuntos, em 100.000 toneladas o seu
próximo movimento. Vemos que as 100.000 estão em harmonia com as
necessidades actuais da zona de influência do porto de Aveiro e que,
portanto, deverá ser este o seu movimento inicial, desde que se assegure
um acesso fácil.
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